Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 66-82, jan./jun., 2025
governo Dutra foi instável, acarretando até mesmo em conflitos internos, o que convida a
compreender qual o projeto político que a UDN propunha para o país.
Eduardo Gomes conseguiu mobilizar boa parte da pequena burguesia, sobretudo
urbana, como seu partido pretendia, afinal, a UDN se colocava como o “partido das classes
médias”, bem como dos intelectuais e das Forças Armadas. Porém, não conquistou a classe
trabalhadora, que o via como um candidato dos ricos ou dos “grã-finos”, em contraposição
a Getúlio Vargas, que ainda era tido pelos trabalhadores como o “pai dos pobres”. A
derrota do Brigadeiro representou uma perda para a burguesia agrária e exportadora, que
via nele uma possibilidade de retomar o arranjo político federalista que vigorava antes de
1930, de poder dos Estados em relação à União, já que Dutra não rompeu com a estrutura
corporativista e centralizadora do Estado Novo (Mendonça, 2002). A campanha do
candidato Eduardo Gomes também
[...] tinha um forte apelo à constituição de 1934 ‘[...] na defesa intransigente do
conservadorismo moral, na apologia do papel suprapartidário dos militares, no
direito de greve e na liberdade sindical para trabalhadores, além da promessa de
um novo modelo econômico, capaz de conciliar os interesses da livre empresa e
do capital estrangeiro com papel do Estado [...] (Mendonça, 2002, p. 82).
Apesar da sua composição heterogênea, a UDN defendia com unanimidade a
liberdade de imprensa e a não intervenção estatal na economia – pontos bastantes
ambíguos –, valores sensíveis à pequena burguesia, uma vez que o partido tinha como
objetivo conquistar apoio eleitoral dessa camada da sociedade. No programa da UDN,
constava, basicamente, teses liberais, como o exercício da liberdade de expressão, por
exemplo. No que tange às questões de caráter econômico, o partido tinha um intenso apelo
ao capital estrangeiro, que presumia indispensável para a modernização do Brasil “[...] e,
sobretudo, para o aproveitamento das nossas reservas inexploradas, dando-lhe um
tratamento equitativo e liberdade para a saída de juros [...]” (Picaluga, 1980, p. 30).
Ademais, considerava uma reforma agrária contida e quanto à intervenção estatal na
economia, o partido até concordava com totalidade, desde que essa interferência
correspondesse com os interesses das classes que representava (Picaluga, 1980).
Em sua campanha, Eduardo Gomes tinha muita cautela quanto ao tema
industrialização do Brasil, e, por isso, pouco abordava o assunto. Aparecia nos jornais
como um candidato neutro, “nem de esquerda, nem de direita”, se colocava como um
democrata burguês, fazendo uma alusão de ser o oposto a Yedo Fiúza, que seria um
comunista ditador, assim como de Dutra, tido por ele como um fascista que continuaria a