Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 83-109, jan./jun., 2025
estão em processo de desenvolvimento econômico, isto é, em amplo processo de
modernização e esse processo trazia problemas para a estabilidade e ordem política
(Huntington, 1975). Para o cientista político, a ordem política depende da seguinte equação:
o desenvolvimento das instituições políticas e a mobilização das forças sociais.
Nas suas reflexões, há um contexto conforme marcado por intervenções militares,
golpes castrenses e formação de juntas militares na América Latina, no Oriente Médio, na
África e sudeste da Ásia. De fato, a preocupação com o Terceiro Mundo é um dos elementos
da obra A ordem política nas sociedades em mudança. O objeto de Samuel Huntington
envolvia as nações periféricas do sistema capitalista a partir do processo de modernização:
As propostas políticas de Huntington surgiam de um corpo teórico então ascendente
no campo da ciência política internacional: a concepção do desenvolvimento como
um processo de modernização de estruturas socioeconômicas e políticas. A teoria
focava, em especial, nas novas nações surgidas do chamado processo de
descolonização da Ásia e da África, subsequente ao fim da Segunda Guerra Mundial.
Mas, contemplava, também, nações mais antigas situadas na periferia do sistema
capitalista mundial, como o Brasil (Lemos, 2015, p. 565)
Samuel Huntington, ao refletir sobre as intervenções militares, pretende responder
duas questões: quais as causas das intervenções militares e quais os desdobramentos dessas
intervenções para a modernização e a estabilidade política. O cientista político defende a tese
de que as frequentes intervenções militares são causadas pela “politização geral das forças
sociais e das instituições existentes” (Huntington, 1975, p. 206). Portanto, nas sociedades
pretorianas, em referência a uma sociedade politizada, todas as forças sociais, incluindo o
clero, universidades, estudantes, burocracias, corporações e sindicatos, atuam diretamente
na política. A existência de sociedades pretorianas é explicada pela “ausência de instituições
políticas capazes de mediar, refinar e moderar a ação política dos grupos” (Huntington, 1975,
p. 208), ou seja, nas sociedades pretorianas não há instituições políticas e nem lideranças para
moderar os conflitos sociais, sendo diferente das sociedades institucionalizadas, onde os
procedimentos adotados são aceitos como a solução das disputas e problemas políticos.
Assim, as intervenções militares são um contraponto às sociedades pretorianas. Um adendo
importante é de que no pensamento de Samuel Huntington é fundamental a existência de
da sua obra foi outro acadêmico e cientista político dos Estados Unidos, Robert Dahl, considerado um dos
grandes teóricos sobre a democracia (Huntington, 1975, p. 07).