Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 198-217, jan./jun., 2025
Exemplos como a luta pela legalização do candomblé, o enfrentamento ao racismo
religioso nas escolas, e projetos educativos como o da Escola Municipal Eugênia Anna dos
Santos e a Escola Afro-Brasileira Maria Felipa ilustram como a Amefricanidade se materializa
em práticas de resistência e de reexistência. Além disso, a atuação de intelectuais no estado
de Goiás, como Thais Alves Marinho, Mary Anne Vieira Silva e Tânia Rezende, bem como o
resgate da trajetória literária de Leodegária de Jesus, evidencia que essa luta também se
expressa nas territorialidades do saber, na cultura e na produção de memória coletiva.
Destaca-se ainda a contribuição de Cirne (2020), ao evidenciar o papel histórico do
movimento negro brasileiro na construção de estratégias de enfrentamento à colonialidade,
desde o Teatro Experimental do Negro até a atuação da Frente Negra Brasileira e do
Movimento Negro Unificado, revelando como a resistência negra articula cultura, política,
religião e educação. Soma-se a isso a reflexão de Silveira (2019), ao defender que a construção
de uma cultura dos direitos, pautada na valorização das diferenças e na afirmação das
subjetividades historicamente marginalizadas, constitui um caminho fundamental para
transformar as estruturas sociais e promover práticas emancipatórias que rompam com a
lógica excludente do pensamento colonial.
A superação da colonialidade passa, portanto, por políticas educativas, culturais e
epistêmicas que reconheçam a centralidade das culturas afrodescendentes na formação das
Américas. Fortalecer a Amefricanidade é promover uma reconfiguração das relações de
poder, uma ruptura com a lógica da homogeneização cultural e uma afirmação do direito à
diferença, à memória e à dignidade. Ao articular teoria e prática, como propõem Quijano,
Mignolo, Mendoza e Gonzalez, a Amefricanidade abre caminhos possíveis para a construção
de sociedades mais justas, plurais e emancipatórias.
Referências
CHAVES, T. Veriato; CESTARI, M.; FRANÇA, G. Todo mundo fala pretuguês, principalmente
quem não fala. Revista Conexão Letras, [S. l.], v. 18, n. 29, 2023, p. 1–18.
CIRNE, A. Movimento negro, racismo religioso e multiculturalismo. In: Racismo religioso em
escolas da Bahia: autoafirmação e inclusão de crianças e jovens de terreiro. Ilhéus, BA:
Editus, 2020, p. 49–59.
FERREIRA REZENDE, T. Tensionamento geo-ontoepistêmico-linguístico entre o patriarcado e
a espiritualidade da mulher negra. Revista Mosaico - Revista de História, Goiânia, v. 16, n. 1,
2023, p. 57–71.