Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 218-248, jan./jun., 2025
da conjuntura política estadual e, com isso, buscava interferir no processo da sucessão a
governador e agendar eventuais posicionamentos dos principais representantes políticos
catarinenses, os quais estavam todos fragmentados.
Ao observar o “panorama político” de Santa Catarina, segundo o jornal, “as
perspectivas que se nos oferecem são as melhores possíveis”. Poderia se constatar, “sem
grande esforço de análise”, o fato de neste estado de federação “não estarmos ameaçados
pelo comunismo”. Santa Catarina e sua população sentiam-se “felizes e contentes dentro da
democracia, não admitindo qualquer outra espécie de governo ou administração”. Assim, se
podia considerar, de modo confortável, que era o comunismo em terras catarinenses “um
inimigo integralmente desmoralizado, posto fora de combate sem mesmo haver terçado
armas. Entretanto, para a democracia catarinense, existe um inimigo comum, que a espreita
e se prepara à sua sombra para a conquista do poder” (Santa [...], 1937, p. 1 e 9).
Estas afirmações tinham fundo de verdade. O Partido Comunista do Brasil só
conseguiria fundar um comitê em Santa Catarina em 1940. A Aliança Nacional Libertadora,
quando esteve em atividade no estado durante o ano de 1935, não angariou muitos adeptos,
se restringindo a Florianópolis, Itajaí, Canoinhas, Lages, além de ter quase alcance nulo entre
os trabalhadores do Norte e Vale do Itajaí, em cidades como Jaraguá, Joinville, Blumenau, Rio
do Sul, Timbó, Indaial, São Bento do Sul e Brusque, logo onde grassava a AIB (Martins, 1995).
Mas, como diziam, um “inimigo comum” efetivamente representava perigo maior para
a “democracia catarinense”, e ele espreitava nas sombras para conquistar o poder.
Evidentemente, referiam-se ao integralismo, “irmão siamês do comunismo, tão perigoso para
as instituições e leis nacionais quanto o seu gêmeo”. Este deveria “ser combatido com a
mesma intensidade, com o mesmo ardor e entusiasmo”, quanto seu irmão de cor vermelha.
Devido a “fatores especiais”, “mais perigoso em nosso meio que o crime rubro” era a AIB. Isso
ocorreria, segundo o jornal, em razão da tolerância excessiva dos responsáveis pela
“estabilidade do regime” (Santa [...], 1937, p. 1 e 9). Parece que se referiam a Vargas.
Marcado por uma segunda grande onda anticomunista, — a primeira ocorrera no
contexto da Insurreição de 1935 (Motta, 2002) —, em virtude das particularidades da
constelação política catarinense, o segundo semestre de 1937 foi vivido neste estado da
federação às avessas: o perigo não era vermelho, mas verde, isto é, a extrema-direita. O
comunismo não causava temor nas elites e nem sequer possuía penetração entre os
trabalhadores urbanos das regiões mais industrializadas de Santa Catarina (Norte e Vale do