Os integralistas de Santa Catarina e a sucessão estadual de
1939
The integralists of Santa Catarina and the 1939
gubernatorial succession
GRAPER, Weslley dos Santos*
https://orcid.org/0000-0002-3382-0705
RESUMO: O objetivo do presente artigo foi
mapear a articulação dos integralistas para as
eleições de 1938 e, particularmente, de 1939,
além de avaliar as expectativas do corpo editorial
do jornal A Notícia, de Joinville, em relação às
movimentações da Ação Integralista Brasileira
(AIB) no estado e suas chances de vitória.
Metodologicamente, foram analisadas 29
reportagens publicadas pelo periódico entre
janeiro e novembro de 1937. Além disso,
mobilizaram-se algumas proposições teóricas
quanto ao fenômeno eleitoral e sua relação com
o tempo na ação política. A análise documental
revelou a preparação dos integralistas em Santa
Catarina para as eleições de 1938, sua
antecipação para a sucessão estadual de 1939 e o
temor da imprensa diante da possibilidade de
uma vitória da AIB no estado, chegando a sugerir
formas de intervenção no processo.
PALAVRAS-CHAVE: Integralismo; Imprensa;
Eleições de 1938; Eleições de 1939; Santa
Catarina.
ABSTRACT: The objective of the present article
was to map the articulatio of integralists for 1938
and, particularly, 1939 elections, and
furthermore to assess the expectations from the
editorial staff of the newspaper A Notícia, from
Joinville, regarding the Brazilian Integralist
Action’s (AIB) movements in the state and its
chances of electoral victory. Methodologically,
were analised 29 reports published by the journal
between January and November 1937. Besides,
some theoretical propositions were mobilized
concerning the electoral phenomenon and it’s
relationship with time and political action. The
documental analysis revealed the integralists’
preparations in Santa Catarina for 1938 elections,
their anticipation for the gubernatorial
succession of 1939, and the press’s fear of a
possible victory of AIB in the state, even
suggesting forms of intervention in the process.
KEYWORDS: Integralism; Press; 1938 Elections;
1939 Elections; Santa Catarina.
Recebido em: 24/10/2024
Aprovado em: 18/03/2025
* Graduado em História pela Universidade da Região de Joinville (Univille), Joinville - SC. Mestrando em História
pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), Florianópolis - SC. Bolsista da Fundação de
Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (Capes). E-mail: weslleygraper06@gmail.com.
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
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Considerações iniciais
A Ação Integralista Brasileira (AIB) instalou os primeiros núcleos em Santa Catarina no
primeiro semestre de 1934 pouco menos de dois anos depois da fundação oficial do
movimento por Plínio Salgado em outubro de 1932 e logo após o I Congresso Nacional da AIB,
realizado em fevereiro de 1934, em Vitória, Espírito Santo. Os núcleos catarinenses foram
criados em diferentes cidades sem nenhum tipo de conexão premeditada. Os primeiros
apareceram em Itajaí, Florianópolis e Joinville entre os meses de janeiro e maio. No segundo
semestre, por volta do mês de agosto, o movimento se encontrava bem distribuído por todas
as regiões do estado (Falcão, 1999; Hackenhaar, 2019).
Ainda que influenciado pela tradição do pensamento autoritário e nacionalista
brasileiro, bem como pela doutrina social da Igreja Católica (Gonçalves; Caldeira Neto, 2020),
o integralismo se desenvolveu especialmente em um contexto da circulação internacional de
ideias fascistas, em curso nas décadas de 1920 e 1930. As principais correntes políticas
internacionais que influenciaram a formação do movimento foram a Ação Francesa, o
integralismo lusitano e o fascismo italiano.
1
Representantes da AIB com frequência se
enxergavam como representantes no Brasil dos movimentos fascistas em voga na Europa,
embora se esforçassem para demonstrar sua originalidade (Gonçalves; Pacheco; Rosa, 2023).
O integralismo propunha a criação de um Estado Integral, um regime corporativista e
autoritário que rejeitava tanto o liberalismo quanto o comunismo. Inspirado no modelo
fascista, defendia um governo centralizado, com um chefe supremo, Plínio Salgado. Em março
de 1935, no congresso de Petrópolis, foi efetivamente transformado em partido político
(Gonçalves; Caldeira Neto, 2020).
Ainda em 1934, os camisas verdes em Santa Catarina resolveram disputar vagas para
a Assembleia Constituinte estadual vindoura. Apesar de não elegerem representantes, a AIB
foi o fiel da balança do pleito, com os votos recebidos pela agremiação configurando-se como
decisivos para o resultado, com a proeminência do Partido Liberal Catarinense (PLC), chefiado
pela família Ramos, oriunda do planalto de Lages (Zanelatto, 2009; Hackenhaar, 2019).
1
A Ação Francesa era um movimento católico e monarquista, precursor no conservadorismo organizado.
Influenciou fortemente o integralismo lusitano. Ambos se baseavam nos moldes de organização social propostos
pela doutrina social da Igreja elaborada pelo papa Leão XIII, cujo marco foi a encíclica Rerum Novarum de 1891.
O fascismo italiano era o movimento político criado por Benito Mussolini no pós-Primeira Guerra Mundial e
defendia bandeiras como o nacionalismo, corporativismo e o uso da violência contra o comunismo e o
liberalismo. Foi instaurado como regime político na Itália em 1922 (Gonçalves; Caldeira Neto, 2020).
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As elites do Vale do Itajaí, sobretudo a família Konder, identificada com o Partido
Republicano Catarinense (PRC), cujo eleitorado residia majoritariamente nas regiões de
colonização germânica e italiana (Vale do Itajaí e Norte do estado), desde o crescimento inicial
do integralismo perderam significativamente sua força de representação política. Essa perda
de força vinha ocorrendo desde o momento em que o PRC fora arrancado do poder em 1930
pelo partido. Adolpho Konder governara de 1926 a 1930 e seu sucessor, Fulvio Aducci, chegou
a assumir, mas em pouco tempo foi deposto. Logo, foram os republicanos os primeiros a
expressar seus desafetos pelos integralistas, especialmente ao longo de 1934 e 1935
(Hackenhaar, 2019).
Santa Catarina, em termos proporcionais, veio a ser um dos estados com o maior
número de adesões à AIB. As explicações para o integralismo ter angariado ampla aceitação
neste estado podem ser divididas entre motivações de caráter político, econômico e cultural,
discutidas de maneira aprofundada por diferentes autores dedicados ao tema (Cf. Trindade,
1979; Gertz, 1987; Zanelatto, 2007; Falcão, 1999; Hackenhaar, 2019). Essas motivações não
propriamente se hierarquizavam, mas se entrelaçavam e se sobrepunham. Era possível todos
esses fatores estarem presentes em um único integralista ou apenas um deles ser suficiente
para despertar o interesse pelo movimento.
Quanto aos fatores políticos, destaca-se o ostracismo do PRC desde 1930, junto de sua
incapacidade de impor-se como referência política para seu antigo eleitorado, localizado
majoritariamente nas “zonas coloniais”, bem como a incompatibilização deste mesmo
eleitorado com o PLC, representado pela família Ramos, em virtude de medidas retaliativas
promovidas em razão do resultado eleitoral para a Constituinte Federal. Tais medidas, levadas
a cabo pelo interventor Aristiliano Ramos no início de 1934 contra as regiões de colonização
eram: exigência de domínio da língua portuguesa em escolas particulares, aumento de
impostos sobre o capital e a divisão de Blumenau. Além do mais, promessas das lideranças de
1930 não foram efetivadas na região Norte e Vale do Itajaí, gerando sentimentos de desilusão
política na população. Muitos então passaram a desacreditar na capacidade de a democracia
liberal resolver os seus problemas. O integralismo, para esses grupos, surgiu como uma nova
opção de participação política, oposta às elites tradicionais do estado.
A respeito das motivações de caráter econômico, frações significativas dos
integralistas eram jovens pequenos proprietários em ascensão social, oriundos do meio rural
e urbano. Esses grupos passaram por um processo de dinamização econômica após a Primeira
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Guerra Mundial e ansiavam por maior participação política diante da dominação das elites
rurais e industriais do estado. Ao se apresentar como um movimento novo e contra a política
tradicional, o integralismo supriu esses desejos. Sua base em Santa Catarina era composta por
profissionais liberais (advogados, jornalistas, médicos, professores), funcionários públicos
(militares e civis), trabalhadores assalariados (sem vínculo fixo ou empregados no comércio),
assalariados de baixa qualificação (operários), pequenos empresários (farmacêuticos, por
exemplo), estudantes (particularmente do ensino superior de Florianópolis) e, sobretudo,
pequenos proprietários urbanos e rurais. Entre esses últimos, parte majoritária, havia uma
inclinação a ideias extremistas de direita embebidas de febril anticomunismo.
Referente às razões culturais, os descendentes de estrangeiros, ítalos e, em especial,
teuto-brasileiros (geralmente não pertencentes às camadas da elite industrial), eram vistos
politicamente como cidadãos de segunda classe. O integralismo, particularmente nas regiões
do Norte e Vale do Itajaí, permitiu uma integração desses grupos sem que eles
necessariamente precisassem abrir mão ou conservar intransigentemente seus costumes
tradicionais. A integração completa à nação brasileira era destinada ao futuro. Haveria um
lugar reservado para eles no Estado Integral. No integralismo, os descendentes de
estrangeiros poderiam ser bons patriotas, nacionalistas, sem deixar de conservar o
deutschtum (germanidade) ou a italianita (italianidade). Não se deve descartar também o
espiritualismo e o conservadorismo católico, mais forte nas regiões do litoral catarinense, com
predominância luso-brasileira.
A AIB demonstrou sua força em Santa Catarina por meio de desfiles uniformizados e,
especialmente, no I Congresso Integralista das Províncias Meridionais, realizado em
Blumenau, em outubro de 1935. A escolha da cidade refletiu o crescimento do movimento no
estado. O evento mobilizou infraestruturas de transporte para garantir a presença de
militantes de diversas regiões do país, elevando o ânimo dos camisas verdes e impulsionando
a difusão integralista. O congresso ocorreu próximo às primeiras eleições municipais após a
Revolução de 1930, um marco para o regime supostamente democrático instaurado com a
Constituição de 1934. Em Santa Catarina, o pleito estadual foi definido para março de 1936.
No contexto eleitoral, os integralistas enfrentaram repressões do governador de Nereu Ramos
(eleito indiretamente ao fim da constituinte estadual, em maio de 1935), cujo objetivo era
dificultar a atuação da AIB. Inicialmente, o integralismo era a terceira maior força política do
estado, mas, após as eleições, superou o PRC, tornando-se a segunda maior e a principal rival
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das elites tradicionais os Konder, do Vale do Itajaí, e os Ramos, do planalto de Lages
(Zanelatto, 2007; Hackenhaar, 2019).
Além de vários juízes de paz e 72 vereadores eleitos em todos os cantos do estado, os
integralistas fizeram 8 prefeitos na região Norte e Vale do Itajaí nas eleições daquele ano. As
cidades onde conquistaram as prefeituras foram Jaraguá do Sul (Leopoldo Augusto Gerent),
Joinville (Aristides Largura), Blumenau (Alberto Stein), Rio do Sul (Mateus Conceição), Timbó
(Carlos Brandes), Hamônia (Frederico Schmidt), São Bento do Sul (Antonio Venera dos Santos)
e Brusque (Adolpho Walendowsky). De modo a fragmentar a força da AIB em Timbó, em 14
de março de 1937 foi emancipado o distrito de Rodeio. Novas eleições foram realizadas, mas,
para infelicidade do governador e do PLC, novamente vencerem os integralistas (Angelo
Tomelim), embora foram impedidos de assumir. Na região Sul, o integralismo se apresentou
bem articulado ao conseguir vereações e apresentar mero significativo de votos em
algumas cidades. Certas disputas só foram perdidas por uma margem relativamente baixa de
votos, como em Campo Alegre, Orleans e Araranguá (Gertz, 1987; Zanelatto, 2007, 2022;
Hackenhaar, 2019). Ao que tudo indica, a AIB encontrava-se em pleno processo de
crescimento no estado até o ano de 1937. Foi exemplar, em março, dois mil camisas verdes
teuto-brasileiros terem prestado juramento ao sigma (Hilton, 1977).
A título de comparação, nas eleições de 1935, no Paraná, os integralistas conseguiram
eleger 21 vereadores e apenas 1 prefeito, na cidade de Teixeira Soares (Athaides, 2022). Por
sua vez, no Rio Grande do Sul, houve apenas a eleição de alguns vereadores e nenhum prefeito
(Gertz, 1987). Em todo o Brasil, a AIB conseguiu fazer 22 prefeitos (Hilton, 1977). É notável
como, entre os estados do sul visto a partir da escala nacional, havia algo de particular em
Santa Catarina. Essa recepção positiva ao integralismo, de todo modo, não passou
despercebida.
Em setembro de 1936, Nereu Ramos intensificou a repressão aos integralistas: proibiu
uniformes e símbolos e ordenou o fechamento da sede da AIB em Florianópolis. Para legitimar
suas ações em um contexto pretensamente democrático, amparou-se no Estado de Guerra
decretado em março, em virtude do levante de 1935. Em outubro, confrontos violentos
resultaram na morte de integralistas pela polícia na cidade de Jaraguá. Desde as vitórias da
AIB em março, Nereu associava o movimento ao “hitlerismo”. Com o tempo, seus adversários
perceberam os interesses políticos por trás das medidas e passaram a criticá-lo na imprensa,
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enquanto ele recorria à mídia nacional para reforçar o discurso do “perigo nazista” em Santa
Catarina, do qual o integralismo, segundo ele, fazia parte (Hackenhaar, 2019).
Entre os conflitos de outubro de 1936 e o carnaval de 1937, os ânimos se acalmaram.
Em virtude de algumas discussões entre o chefe provincial da AIB, Othon Gama d’Eça, o
governador Nereu Ramos e o Secretário de Segurança Pública Claribalte Galvão, novas
medidas violentas ocorreram em fevereiro de 1937, desta vez em Blumenau, resultando em
algumas pessoas feridas (Hackenhaar, 2019). Foi nesse cenário marcado por tensões que os
integralistas catarinenses se mobilizaram para as eleições para presidente, Câmara e Senado
que iriam ocorrer em janeiro de 1938, e para a sucessão governamental do estado, que
ocorreria, sem data certa, em 1939 episódio não discutido por nenhum dos autores aqui
citados.
O debate em torno da sucessão presidencial foi aberto em princípios de 1936. As
eleições eram vistas como uma forma de transição para uma nova fase democrática após o
governo provisório que se seguiu à Revolução de 1930 e à constituição de 1934. O período,
entretanto, foi marcado por uma forte polarização política entre forças antagônicas. O pleito
estava marcado para janeiro de 1938 e até meados de setembro, a campanha dos
presidenciáveis seguia a todo vapor pelo país, com a realização de comícios e discursos. Em
dezembro de 1936, havia se apresentado como candidato o paulista Armando de Salles
Oliveira. Em janeiro, foi lançada a candidatura do paraibano José Américo de Almeida.
Somente em junho, o paulista Plínio Salgado entrou na disputa (Camargo et al, 1989). Em
diferentes regiões do país, integralistas se mexeram para a campanha do Chefe Nacional, mas
não se identificaram investigações que tenham demonstrado alguma antecipação dos camisas
verdes para as eleições que decidiriam os novos líderes dos executivos estaduais (Moraes,
2012; Fagundes, 2024).
Segundo as disposições transitórias da constituição estadual de 1935 (Santa Catarina,
1935, p. 39), o mandato do governador eleito indiretamente na assembleia constituinte se
encerraria, após quatro anos de administração, em de maio de 1939. Presume-se que as
eleições para a sucessão estadual iriam ser organizadas por algum decreto e, possivelmente,
ocorreriam entre janeiro de 1938 e maio de 1939. No fim do primeiro semestre de 1937
isto é, cerca de um ano antes do pleito , além de se engajarem na campanha de Salgado e
definirem nomes para a Câmara e Senado, alguns integralistas em Santa Catarina se
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anteciparam ao se mobilizarem nos bastidores para as ainda incertas eleições estaduais de
1939.
Para compreender esse episódio, metodologicamente foi necessário analisar edições
diárias do jornal A Notícia, sediado em Joinville, no recorte de fevereiro a novembro de 1937.
Os exemplares consultados se encontram na Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional. O
periódico não possuía coluna específica dedicada à política, logo, foi preciso
indiscriminadamente folhear cada página à procura do debate eleitoral, particularmente com
referência aos integralistas. Da análise de 29 reportagens consideradas pertinentes, buscou-
se mapear a articulação dos integralistas para os pleitos vindouros e medir quais eram as
expectativas do corpo editorial do periódico joinvilense quanto à organização e eventuais
sucessos da AIB.
A imprensa, com base nas considerações de Tânia Regina de Luca (2020), foi tomada
como um importante personagem que, mais que mero transmissor de informações, visava
intervir na vida política da sociedade. Ao mesmo tempo, ao passo das indicações da autora, o
jornal foi também utilizado como meio de acesso, ainda que filtrado por interesses editoriais,
à agência dos atores sociais pretéritos. Ademais, na esteira das sugestões teóricas de René
Rémond (2003), as atenções foram direcionadas aos comportamentos eleitorais, de modo a
revelar o “estado de espírito” dos integralistas e da imprensa de oposição, e à forma como
ambos buscaram projetar determinadas possibilidades de futuro, conforme ensinou Koselleck
(2006).
Boatos sobre a necessidade de um acordo político e a antecipação integralista
Na tarde de 27 de fevereiro, Tito Carvalho, jornalista e diretor do jornal Diário da Tarde,
de Florianópolis, esteve em Joinville e trocou algumas palavras com os representantes de A
Notícia (O jornalista [...], 1937, p. 8). Fundado em 1923, de propriedade e dirigido pelo
jornalista paranaense Aurino Soares, A Notícia era uma folha acostumada a emitir
posicionamentos políticos (Ternes, 1983). Ideologicamente, pelos seus editoriais se nota como
a Alemanha de Hitler era tratada com bastante entusiasmo e o integralismo atacado com
veemência. No ano de 1937, o governo de Nereu Ramos vinha recebendo elogios do jornal e
seu candidato à presidência era Armando de Salles. Aurino, conforme ex-funcionários (Ternes,
1983), tinha pouca instrução e embora ditasse seus textos aos colaboradores mais próximos,
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como Raul Fernandes de Heráclito Lobato, centralizava os posicionamentos da folha ao seu
gosto.
O interesse do órgão joinvilense na entrevista com Tito Carvalho estava na
possibilidade de o jornalista fornecer informações sobre um suposto acordo na política
estadual”. Em tom camarada e com sorriso no rosto, Carvalho respondeu: “A notícia do acordo
de que me fala está em numerosos pontos do Estado. Na capital [Florianópolis], porém, não
passa de palestra de café, onde, em regra, as impressões têm a duração do cavaco
passageiro”. Dentro dos conhecimentos do jornalista do Diário de Tarde, nada existia em
torno de algum acordo entre os opositores (PRC) e o situacionismo estadual (PLC). A resposta
de Tito Carvalho ao repórter de A Notícia se estendeu nos seguintes termos:
É natural que se troquem impressões entre liberais e republicanos, ou coligados.
Impressões pessoais, de resto. Sei que se prevê essa união de forças em face do
integralismo. Diz-se mesmo que, se os partidos se mantiveram divididos, os camisas
verdes, que são uma força ponderável, vencerão no próximo pleito [estadual]. Assim,
pois, a união questionada formaria um bloco de resistência. Isso, quanto ao que se
fala. Mas, em relação a um acordo partidário efetivo, sou dos que pensam que não
negociações mínimas. A oposição catarinense mantém pontos de vista de
orientação político-administrativa inteiramente diferentes dos que o situacionismo
adotou. O caso não poderá, além disso, ser resolvido por A ou por B, isto é, por um
ou por outro chefe político isoladamente (O jornalista [...], 1937, p. 8, grifo próprio).
Desde o início da década de 1920, surgiram divisões dentro do PRC, o único partido
que predominava em Santa Catarina durante a Primeira República. Em 1927, Nereu Ramos,
do planalto de Lages, ao herdar a oposição política iniciada por seu pai, Vidal Ramos, fundou
o PLC. Já em 1926, a família Konder, do Vale do Itajaí, assumira a posição antes ocupada pela
ala do PRC liderada por Hercílio Luz, ala à qual os Ramos se opunham desde o começo da
referida década. Nesse período, Adolpho Konder fora governador e, nas eleições de 1930,
Fulvio Aducci, também do PRC, elegera-se governador, apesar de logo ter sido deposto. Na
segunda metade dos anos 1920, consolidou-se uma duradoura rivalidade entre essas duas
famílias. Nos anos 1930, após a Revolução, novas dissidências surgiram entre as principais
lideranças civis do movimento no estado Nereu Ramos, seu primo Aristiliano Ramos e
Henrique Rupp Junior (Corrêa, 1984).
As palavras de Carvalho deixavam evidentes as razões dos boatos em torno de um
possível acordo entre estes políticos dissidentes, liberais e republicanos: o temor quanto a
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uma possível vitória do integralismo no futuro pleito estadual de 1939. Porém, a possibilidade
de aliança encontrava entraves nos distintos projetos representados pelas mais proeminentes
correntes políticas estaduais, simbolizadas pelo PLC e o PRC, salvo o próprio integralismo. Tito
Carvalho alegava, em contrapartida, não existir mal “em que se aluda a um pseudo futuro
acordo. Nem mesmo tudo é impossível”. Porém, garantia qualquer alegação nesses tons
tratar-se unicamente de boato. Nas palavras dos editorialistas de A Notícia, aquele boato
circulava com cores sensacionalistas, porém, “à força de ser repetido, pode luzir, ainda, como
inesperada verdade...” (O jornalista [...], 1937, p. 8).
Àquela altura, Plínio Salgado nem sequer era candidato à Presidência da República
(Camargo et al, 1989) e A Notícia divulgava apenas a possibilidade do líder da AIB apoiar algum
dos presidenciáveis (Sensacional! [...], 1937, p. 1). Em fins de abril, o jornal divulgou o
plebiscito a ser realizado pela AIB, marcado para 23 de maio, que decidiria quem seria o
candidato a receber apoio do partido (O sr. Plínio [...], 1937, p. 1). No cenário político nacional,
os partidários de uma agremiação poderem escolher seu candidato era uma novidade. Isso
permitiu à AIB se apresentar como democrática na disputa eleitoral. Inegavelmente, “[...] o
plebiscito contribuiu para oxigenar o partido e despertou o entusiasmo da militância”
(Fagundes, 2024, p. 332).
Foi divulgado que, em Florianópolis, os votos do plebiscito variavam entre Salgado e
Gustavo Barroso (Da capital [...], 1937, p. 10). Para A Notícia, aquela votação nada mais
significou que uma homologação da candidatura sugerida pelo sr. Plínio Salgado, o que está
exatamente de acordo com a referida doutrina [da AIB], onde o chefe nacional decide
soberanamente” (Plebiscito [...], 1937, p. 1). Plínio Salgado entraria efetivamente na corrida
pelo pleito de 1938 a 15 de junho de 1937, conforme divulgou A Notícia no dia 3 daquele mês
(O futuro [...], 1937, p. 3). A AIB foi o primeiro partido a garantir registro junto ao Tribunal
Superior de Justiça Eleitoral, em 25 de junho. Estava lançado pela primeira vez um
presidenciável de extrema-direita no país (Fagundes, 2024).
No dia 13, um grupo de integralistas pertencentes à chefia provincial, acompanhados
de Othon Gama d’Eça, foi ao palácio do governo em Florianópolis para ter uma audiência com
o governador. O objetivo era comunicar a Nereu Ramos o lançamento da campanha de
Salgado. O chefe provincial, assim, esperava que “nos sejam asseguradas todas as garantias
que a lei outorga aos partidos políticos regulares”. Aproveitou para reiterar que os direitos
políticos da AIB seriam exercidos dentro da ordem e respeito aos poderes da República. Nereu
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agradeceu o comunicado e prometeu que, embora tivesse candidato e fosse um liberal-
democrata, as liberdades dos adversários seriam garantidas. “Sou visceralmente contra toda
e qualquer violência. [...] De antemão estou certo de que o pleito, em nosso Estado, correrá
sereno e em completa paz”, completou o governador (O governador [...], 1937, p. 1 e 6).
As campanhas eleitorais, conforme René Remond (1998, p. 49), são parte integrante
das eleições. Compõem seu “primeiro ato” e talvez sejam seu momento mais extenso. As
campanhas não são unicamente a “manifestação das preocupações dos eleitores ou a
explicação dos programas dos candidatos e dos temas dos partidos”, mas também a
operacionalização de “estratégias, a interação entre os cálculos dos políticos e os movimentos
de opinião”. A chefia provincial buscava assegurar um terreno confortável para a campanha,
ciente das investidas do governador desde o ano de 1935. Por trás da cordialidade daquela
audiência havia uma enorme tensão entre os dois grupos políticos ferrenhamente
antagônicos.
De acordo com o jornal A Notícia, após a definição das “correntes democráticas em
face da sucessão presidencial, e, consequentemente, em face das sucessões governamentais
e municipais”, entrava em jogo e começava a “articular-se, da mesma forma e pelos mesmos
processos, a corrente antidemocrática chefiada pelo sr. Plínio Salgado”. Desse modo, após
uma reunião realizada em Joinville, com a presença de partidários da AIB oriundos de
diferentes regiões do estado, na segunda semana de junho partiriam de automóvel para o Rio
de Janeiro Josino da Rocha Loures, Marinho de Souza Lobo e José de Carvalho Ramos (mais
conhecido por Juca Ramos). Os três eram membros do núcleo da AIB de Joinville.
Pelo que a imprensa conseguiu apurar, aqueles homens provavelmente iriam à Capital
Federal em razão do “Esperado”: “tratar da articulação dos elementos integralistas em torno
das sucessões presidencial, governamental e municipal, a fim de orientar a campanha em
nosso Estado” (Articulam-se [...], 1937, p. 1). A “Caravana Verde” — como se referiu A Notícia
—, se soube depois que tinha a intenção “de satisfazer um forte desejo do Chefe Nacional do
Integralismo”. Diante das movimentações para a sucessão presidencial, estadual e municipal,
Plínio Salgado manifestara interesse em tratar com Marinho de Souza Lobo,
2
um recém
ingresso nas fileiras AIB, por julgar ser este um dos mais capazes de orientar e dirigir a
2
Marinho de Souza Lobo era advogado e desembargador e pertencera ao PRC. Casou-se com uma das filhas do
histórico republicano de Joinville Abdon Baptista e atuou por muitos anos no serviço público, além de ter sido
prefeito de Joinville entre 1922 e 1926 (Memória Política de Santa Catarina, 2023).
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campanha do integralismo em Santa Catarina (Entre [...], 1937, p. 10). Embora cristão-novo,
era um nome experiente na política estadual, antes pertencente às fileiras do PRC e, com
pouca dúvida, isso pesou na decisão de Salgado.
A Notícia ironizou o fato de partirem juntos Juca Ramos e Marinho Lobo. O fato “se
tornou chocante para muita gente”. Isso ocorreu porque na ocasião da vitória do movimento
de 1930, Juca não poupou seus ataques a Lobo, que pertencia à então administração
municipal deposta em Joinville. “Qual será a apresentação que esse prócere integralista fará
do sr. Marinho Lobo ao Sr. Plínio Salgado?” — gracejavam os editorialistas. Os políticos, dizia
o jornal, acompanhavam “bem o tempo em suas constantes mudanças...” (Entre [...], 1937, p.
10).
Além do mais, A Notícia divulgou que teriam se formado duas correntes dentro das
fileiras do integralismo em Santa Catarina ante a sucessão governamental: uma ala seria a
favor da candidatura de Souza Lobo e outra do também desembargador Heráclito Carneiro
Ribeiro, igualmente recém ingresso na AIB (Entre [...], 1937, p. 10). Heráclito havia certamente
ganhado prestígio entre os integralistas do estado quando, nas eleições de 1936, como
membro do Tribunal Regional de Justiça Eleitoral, fez decisões favoráveis aos integralistas e
contrárias aos interesses do governador e do PLC (Hackenhaar, 2019). Ao retornarem do Rio
de Janeiro, a caravana traria a decisão do Chefe Nacional do partido. Ao fim, os jornalistas
deixaram margem para os leitores questionarem a respeito do chefe provincial da AIB naquela
circunstância: “Porém, o sr. Gama d’Eça? perguntarão os do sul, sabemos lá!...” (Entre [...],
1937, p. 10).
Ao se despedirem de Salgado, talvez os camisas verdes catarinenses tenham retornado
ao seu estado um tanto decepcionados. Dizia uma reportagem que o Chefe Nacional se
encontrava “bastante esperançado em Santa Catarina” certamente porque sabia das
amplas adesões ao integralismo existentes neste estado do Sul. Entretanto, o Chefe se negara
“a discutir o caso da sucessão estadual”. A despeito dessa decisão, os nomes cogitados para a
possível candidatura ao executivo estadual ainda ficariam entre Heráclito Ribeiro, Marinho de
Souza Lobo e agora, era mencionado Othon Gama d’Eça. Sem dúvida, o anseio em
discutir a sucessão para o governo do estado partiu das lideranças e bases da AIB em Santa
Catarina. A Salgado, interessava mais naquele momento dirigir sua campanha para a
presidência da República que havia recém iniciado. A Notícia, em face da situação, alegou:
“Estão verdes!” (Os integralistas [...], 1937, p. 3).
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O tom galhofeiro escondia um temor quanto à possibilidade dessa organização
precoce concretizar sucessos futuros. Isso se revelou quando, em meados de julho, o jornal
divulgou uma entrevista concedida à Rádio Tupy, no Rio de Janeiro, pelo desembargador
catarinense Gil Costa. O magistrado, apoiador de Armando de Salles, condenou “a política de
campanário exercida pelos pequenos partidos da sua terra natal, que não querem
compreender a necessidade de uma junção para combater o surto extremista”. Ademais,
afirmou “com convicção” que em Santa Catarina se travaria “a maior batalha em prol da
democracia” e asseverou “que, jamais, este Estado será totalitário. À mercê de Deus, o surto
mórbido das ideologias verdes sofrerão ali a sua grande derrota” (“Sta [...], 1937, p. 1).
É evidente como, após as iniciativas dos integralistas se movimentarem para a
sucessão estadual, se intensificaram as críticas ao movimento por A Notícia. Desde o segundo
semestre de 1935 e ao se aproximar as eleições de março de 1936, o jornal atacava o
integralismo com o objetivo de enfraquecer sua campanha para a prefeitura municipal de
Joinville, a qual Aristides Largura era candidato. Ao ser vitorioso, as críticas arrefeceram um
pouco, fazendo com que até alguns elogios esporádicos fossem feitos à administração do
prefeito verde (Wendland, 2011). A abertura de um novo tempo da política, período no
qual se percebe mais intimamente o político como parte da vida social (Kuschnir, 2005, p. 8)
, trouxe de volta essas tensões.
A estratégia mais mobilizada não por A Notícia para provocar os integralistas era
divulgar as “defecções” nos quadros partidários. Em editorial de 4 de agosto, o jornal zombou
de uma “confissão espontânea” publicada no Anauê, folha do núcleo joinvilense da AIB, “de
que novas defecções se hão de verificar no integralismo local”. Isso era sinal, para o periódico,
“do enfraquecimento cada vez mais evidente das hostes sygmáticas”.
3
O periódico ainda
cobrou a divulgação dos nomes daqueles que teriam abandonado o partido. Ao fim,
sentenciou: “E... adeus oh! belo sonho de Presidência de Estado” (Confissão [...], 1937, p. 3).
Diante do espectro integralista que rondava o estado, desde pelo menos o segundo semestre
de 1934, era preciso o jornal de alguma forma intervir no processo político.
A escolha dos candidatos da AIB e a oposição de “A Notícia”
3
O termo “sygmáticas”, mantido aqui conforme registrado na documentação original, refere-se à letra grega
sigma (Σ). Esse símbolo era utilizado por membros da AIB em bandeiras, braçadeiras, uniformes e outros objetos
de uso político, representando a ideia de “unidade”.
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As articulações dos camisas verdes de Santa Catarina voltaram a ocupar as páginas de
A Notícia a partir da segunda metade do mês de setembro. No dia 16, o jornal divulgou que
no domingo, dia 19, os integralistas se reuniriam em Florianópolis para decidir os indicados a
deputados federais e senador; “Um nervosismo infrene domina as hostes cor de capim”, dizia
o editorial. “A hora é tgica e cômica ao mesmo tempo, pois, as poltronas são poucas e os
seus aspirantes são muitos”, complementavam. Uma “nuvem de divergências” tomava a dita
“concha verde” quanto à seleção dos candidatos. As escolhas, provocou o jornal,
inevitavelmente causariam “desgostos íntimos, anseios insatisfeitos, esquecimentos
imperdoáveis”.
A cadeira de senador, pelo que se especulava nos bastidores, ficaria com Heráclito
Ribeiro (antes cotado para governador), sem contar com competidores. Quanto aos
deputados, A Notícia recebeu um telegrama da capital informando que seriam indicados por
Plínio Salgado Rocha Loures (“com grande bagagem política e altos serviços prestados ao
estado”), Juca Ramos (“com acervos tão brilhantes quanto o outro, prestados a formação do
primeiro diretório liberal desta cidade”), além do dito “General Rosinha” (Vieira da Rosa, do
núcleo de Florianópolis) e “o Baby” (chefe provincial da AIB, Othon Gama d’Eça) (Os arraiais
[...], 1937, p. 1).
Uma espécie de ala B dos indicados a deputado, especulavam, contava com José
Ferreira da Silva (presidente da câmara de vereadores de Blumenau), Emílio Cardoso, Carlos
Sada (da ala estudantil da AIB de Florianópolis) e Antonio Dib Mussi (chefe do núcleo da AIB
de Laguna). Escreveram os jornalistas que algum leitor poderia indagar a ausência do nome
do “conspícuo advogado” Marinho Lobo nas indicações para deputado. Assim, outras vozes
responderiam: Para este, e o [Aristides] Largura, fica em jogo a cadeira de governador do
estado”. Era questão de dias para a decisão, afirmavam. “A procissão ainda vai na praça, mas
antes de chegar a porta do adro, a debandada será geral [...]” dizia A Notícia, dando a
entender que antes das decisões finais, tudo ainda poderia mudar (Os arraiais [...], 1937, p.
1).
Algum tempo depois da escolha dos candidatos, em matéria de 22 de setembro, o
jornal divulgou que, com o passar dos dias, mais se acentuava irrefragavelmente, de maneira
condigna e insofismável, a natural repulsa dos catarinenses livres contra os regimes de força
que se esboçam”. Caracterizavam o integralismo como portador de uma doutrina
“francamente subversiva e violenta”, o que o fazia se revelar como “o partido ditatorial,
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totalitário, absorvente da soberania e da opinião pública” (Um ultraje [...], 1937, p. 1). Essas
críticas, porém, tinham função distinta daquelas desferidas por movimentos de esquerda de
caráter antifascista de alguns anos antes (Cf. Prestes, 1997). Tal caráter autoritário do
movimento, conforme A Notícia, teria se mostrado no processo de escolha dos nomes da AIB
que representariam Santa Catarina na Câmara Federal. Os métodos teriam sido “um insulto à
opinião livre de Santa Catarina”. A razão disso fora porque o “povo, nem sequer os próprios
integralistas”, foram ouvidos ou consultados, em conformidade aos “mais rudimentares
princípios de Democracia”. Além do mais, a indicação dos nomes de Rocha Loures e Juca
Ramos por parte do “conluio absolutista”, mais que fruto de imposição abrigava um conjunto
de “imperfeições” (Um ultraje [...], 1937, p. 1).
Rocha Loures, matérias antes elogiadas por A Notícia, agora era dito despossuir
“credenciais para representar o Estado no Congresso Nacional”; “Que é de sua bagagem de
serviços prestados a Santa Catarina?”, questionavam. Loures era do Paraná e habitava Santa
Catarina apenas 3 anos e, portanto, não conhecia as necessidades do povo catarinense.
Assim, não poderia abrigar os anseios e sentimentos do estado. Feita “a ponta de dedo pelo
sr. Plínio Salgado”, igualmente desconhecedor e desinteressado no povo catarinense dizia
a matéria —, a escolha significava a incoerência da “democracia integral” integralista. Para A
Notícia, a democracia integralista era caricata e julgava ser Santa Catarina um “burgo
desmantelado e apodrecido, desmoralizado e sem vontade” (Um ultraje [...], 1937, p. 1).
Prometia o jornal que Salgado em breve teria mais notícias de Santa Catarina, de sua
“altivez e dignidade”, haja vista a manifesta indignação dos “co-estaduanos” da região serrana
contra a “cesariana” imposição do “Chefe Nacional” da AIB (Um ultraje [...], 1937, p. 1). O
periódico certamente se referia às elites políticas da região de Lages, representadas
especialmente pela família Ramos, do PLC. Esses grupos provavelmente incomodaram-se com
a intromissão externa de Salgado nos negócios políticos do estado. Porém, isso era algo
esperado pelo fato da AIB ser um partido nacional.
Juca Ramos (sobrinho do governador Nereu Ramos), a outra vítima da ‘escolha’
infeliz”, era elogiado pelo jornal como exemplar chefe de família, cavalheiro e figura alheia à
atitude de Salgado. Juca, porém, levado pelo PLC a ocupar a vaga de escrivão federal em
Joinville, era figura que nunca tivera contato com as massas. Não era estudioso e nem mesmo
conhecia as necessidades do mundo da política, dizia o editorial. Por essas razões, não era
capaz de ser guiado a representante de Santa Catarina nas poltronas do Palácio Tiradentes.
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Além do mais, diziam não ser idôneo da parte do integralista ser funcionário público (indicado
pelo partido do tio, como antes dito) e ocupar um cargo federal para defender suas ideias
verdes (Um ultraje [...], 1937, p. 1).
As escolhas de Plínio Salgado teriam acendido “uma flagrante reação no eleitorado
livre do Estado” aqueles ainda identificados com o PLC, o PRC e demais agremiações
políticas estaduais, pode-se supor. O jornal dizia acreditar que o eleitorado, integralista ou
não, demonstraria nas urnas que o povo catarinense se pretendia livre e desejoso de romper
com “a ‘cadeia’ com a qual o ‘chefe nacional’ pretende algemar a vontade alheia”. Isso porque,
“apesar dos pesares, Santa Catarina é um Estado livre, autônomo e soberanamente
democrático”. A tal democracia integralista, acusavam, era um objeto fabricado e imbuído de
incoerências por submeter-se aos “mandonismos” do chefe (Um ultraje [...], 1937, p. 1).
Em outra reportagem, publicada no dia seguinte, 23 de setembro, A Notícia voltava a
criticar a AIB alegando a “chapa integralista” afigurar-se “uma multicor colcha de retalhos”. O
candidato ao senado, desembargador Heráclito Ribeiro, era baiano. Rocha Loures era
paranaense e Juca Ramos “natural do Centro” (Lages), ambos candidatos à Câmara Federal.
Magoava e provocava revolta nas “tradições” catarinenses “o fato de se pretender consumar
em nosso Estado, flagrante intromissão estranha e desambientada na sua vida política e
social” (O integralismo [...], 1937, p. 8).
A matéria ainda confirmou o fato de Marinho de Souza Lobo ser o candidato à sucessão
do executivo estadual “uma das últimas aquisições do sigma”. Face a essa decisão, se
especulava em torno dos quadros a comporem o governo caso fossem eleitos os camisas
verdes: Aristides Largura (que chegou a ser especulado para concorrer ao executivo) ficaria
com a Secretaria do Interior e Justiça e o dr. Plácido Gomes de Oliveira, teria seu papel
designado para o Departamento de Saúde Pública (O integralismo [...], 1937, p. 8). Ambos
ocupariam funções para as quais tinham experiência prévia. Largura, de 1933 até 1935, foi
Inspetor de Ensino (Wendland, 2011). Plácido Gomes então ocupava a Diretoria de Higiene de
Joinville desde o início da década (Graper, 2023).
Com a saída de Largura da prefeitura, o espaço então ficaria vago. O núcleo joinvilense
da AIB não deixaria de competir pelo cargo nas eleições municipais vindouras: uma ala dos
camisas verdes, majoritária, pretendia apresentar o então vereador pela AIB Otto
Pfuetzenreuter como candidato a prefeito; outra ala, minoritária, acreditava ser José Koerbel
Junior (“também paranaense”, destacava o jornal) o nome ideal. “Mas, como tudo depende
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da palavra do ‘arcanjo’, em última instância, tudo o que se diz ou que se escreve não passa de
um balão de ensaio”, afirmava A Notícia em tom de crítica.
Por tudo depender das escolhas a dedo do “Chefe Nacional”, o periódico argumentava
não ser viável “levar a sério as ‘démarches’ que se vêm processando nos arraiais verdes”. As
iniciativas de projeção futura advindas das bases da AIB em Santa Catarina poderiam ser
facilmente dirimidas pela “escolha” por parte do líder do “partido totalitário”. “A opinião de
seus adeptos, não tem valor”, complementava. “A soberania popular é frase morta que se
na cartilha sigmática como tendo uma missão a de obedecer cegamente, votando sem
perguntar em quem”, sentenciava o jornal, peremptoriamente (O integralismo [...], 1937, p.
8).
Seja como for, independente das críticas de A Notícia, à contraluz dos editoriais
zombeteiros ditados por Aurino Soares, é perceptível como os integralistas catarinenses,
empolgados por suas vitórias no ano anterior cientes de seu espaço de experiência, diria
Koselleck (2006) , se esforçaram em projetar formas de alcançar o poder, não por meio
de cargos legislativos federais, mas também pelo executivo estadual. Auto apresentados
nacionalmente como um movimento cultural e espiritual com expressões partidárias, os
integralistas “sempre tiveram em vista a conquista do Estado, ou seja, o poder” (Bertonha,
2016, p. 70). Em acordo com as considerações de Koselleck (2006), tinham um horizonte de
expectativa bem delimitado e não vacilaram em se mexer para concretizá-lo. O presente era
rico de imprevisibilidade, mas o passado recente alimentava esperanças. Informados disso,
deram seu jeito para gerir o futuro.
Comício pró-democracia, a “crise salgada” e boicote eleitoral
No mesmo domingo em que seriam decididos os candidatos ao Senado, à Câmara
Federal e à sucessão estadual pelos integralistas de Santa Catarina, 19 de setembro, os
responsáveis por A Notícia decidiram organizar um comício na cidade de Joinville. Conforme
edição do dia 16 daquele mês, dizia-se que o “comício que se vai realizar domingo próximo,
nesta cidade, é puramente pró-Democracia”. Não se tratava de um evento em favor dos
“candidatos democráticos” Armando de Salles Oliveira e José Américo de Almeida, nem em
prol das “facções partidárias” de Santa Catarina, obedientes às orientações de Nereu Ramos
(PLC), Henrique Rupp Junior e Aristiliano Ramos.
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O comício tinha por objetivo “congregar a todos os elementos democráticos, sem
distinção de cores políticas”. O encontro representaria “a união de todos os bons patriotas
que mourejam sob a bandeira da Democracia”. A ideia da Democracia seria o denominador
comum que guiaria todos os presentes naquele domingo. Na acepção do editorial, a
democracia pressupunha “a existência de uma massa educada e culta”. Doravante, a tribuna,
a cátedra e a imprensa deveriam promover os ensinamentos necessários para a formação
dessa educação cultural democrática. Assim, reiteravam: “Não é partidário e nem de
propaganda eleitoral” (Evitemos [...], 1937, p. 3 e 12). Possivelmente, A Notícia buscou
inspiração em manifestações contrárias ao integralismo e favoráveis à democracia que vinham
ocorrendo, pelo menos desde o mês anterior, em outras regiões do país, como o estado do
Rio de Janeiro (Fagundes, 2024).
Um dia antes, divulgou-se o ponto de encontro do comício ser justamente em frente à
sede e redações do jornal A Notícia, na Rua Conselheiro Mafra, n.º 133. Às 19 horas, reunidos,
rumariam os manifestantes acompanhados de uma banda de música para a Praça Carlos
Gomes (atual Praça Nereu Ramos) para efetuar “o grande comício de propaganda
democrática”. Prometia-se o discurso de “brilhantes e eruditos tribunos conterrâneos”
membros da Câmara Federal e da Assembleia Legislativa de Santa Catarina (ALESC): dr. Ivens
de Araújo (líder da maioria na ALESC), Drs. Renato Barbosa, Paulo Medeiros, Carlos Gomes de
Oliveira, Plácido Olympio da Silveira, Ivo d’Aquino, Chichorro Netto e Leonel Costa, e os Srs.
Arnaldo Santhiago, Marcílio Santhiago, José Américo Dias Barreto e outros. Até aquele
momento, “importantes adesões” foram recebidas pela “Comissão de Propaganda
Democrática”. Portanto, previa-se que o comício seria “estrondoso, de uma alta expressão
política, que marcará época nos anais da Democracia joinvilense” (O comício [...], 1937, p. 9).
Dia 26, o jornal replicou uma nota publicada pelo periódico de Florianópolis A
República, pertencente ao PLC de Nereu Ramos. Reportava a pequena matéria que o comício
organizado por Aurino Soares, proprietário de A Notícia, fez Joinville fremer horas a fio
sacudida da mais intensa e exaltada vibração patriótica, condenando em praça pública as
ideologias mórbidas e bastardas, que não condizem com as suas tradições de cultura e de
civismo”, apesar do “schisto integralista que lhe emperra e afeta a vida administrativa”, em
alusão à gestão municipal de Largura. A manifestação, além da Praça Carlos Gomes, desfilou
pela rua do Príncipe e adjacências, “dando vibrantes vivas à liberdade e às autoridades
constituídas, victoriando de contínuo o nome honrado do Governador Nereu Ramos” e
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repelindo publicamente de modo violento a política “preconizada pelos adeptos de Moscou,
bem como, a panaceia estadística” prescrita “pela charlatanice do sr. Plínio Salgado”. Ao que
foi dito pelos manifestantes, Salgado não tinha “saúde física nem mental” para orientar o
Brasil (Formidável [...], 1937, p. 1). Nota-se, a bem da verdade, como o comício tinha, apesar
de negar, suas preferências políticas. Seus promotores estavam em consonância com as
medidas e anseios do governo de Nereu Ramos.
Cerca de duas semanas depois do comício, o jornal Sul do Estado, de Laguna, em alusão
ao episódio ocorrido em Joinville, reivindicou que “paradas cívicas dessa ordem devem ser
realizadas em todo o território catarinense”. Portanto, aquele jornal patrocinaria “comício
democrático” similar a ser efetivado em sua cidade sede. A Notícia, com base naquelas
intenções, afirmava: “Toda a imprensa do Estado foi unânime em aplaudir essa iniciativa
magnífica que brotou em Joinville e se corporificou numa das mais formidáveis expressões
democráticas de nosso nobre Povo”. As intenções manifestadas pela direção daquele
estimado confrade da terra de Anita Garibaldi” provavam, dizia o jornal, “que a semente não
foi lançada em terra sáfara”. O editorial de A Notícia confiava que “nos demais municípios
catarinenses” realizar-se-iam manifestações de igual feitio, com a função de esclarecer aos
“patrícios” do estado acerca dos efeitos prejudiciais de credos alienígenas (Pró-democracia
[...], 1937, p. 3).
Santa Catarina, nas palavras de A Notícia, carregava “no atual momento uma das mais
graves responsabilidades na defesa do regime republicano”. Apesar de muitos argumentarem
que o estado não seria “cobaia” para experiências de caráter messiânico com ideologias
pretensamente salvadoras, não foi possível impedir o aparecimento, em “diversos municípios,
de operosas populações tristemente ludibriadas, entregues a administração duma facção
violenta e retrógrada, impregnada de fanático obscurantismo”. Essas administrações apenas
não teriam empregado “meios drásticos da totalização porque as Prefeituras não dispõem de
máquina policial e judiciária propícia”. Não obstante, A Notícia enfatizava um certo efêmero
espírito de união contra a referida situação que prevaleceu naquelas mobilizações:
Verifica-se, na hora presente, uma enérgica reação das correntes democráticas
catarinenses, no patriótico empenho de restringir, anular, até, o surto da extrema-
direita que nos ameaça. Governo e oposição, lutam ombro a ombro, esquecidos os
momentâneos desentendimentos políticos, para dominar a epidemia fascista. Nas
colunas da imprensa, na tribuna da Assembleia, nos comícios de propaganda,
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defende-se, acima de tudo, o regime e as instituições liberais-democráticas (Tudo
[...], 1937, p. 9).
Ainda, após o comício do dia 19, uma informação polêmica veio às páginas da
imprensa. Em edição do dia 23, os editorialistas de A Notícia mencionaram que, por
intermédio da esposa de um militar, uma “pessoa séria e digna de respeito”, foi tomado o
conhecimento de que, durante o comício de domingo, dois camisas verdes posicionados na
fachada da pensão Dona Francisca, localizada em frente à sede de A Notícia, “tramavam um
golpe hediondo para eliminar o nosso diretor, pela sua atividade incansável em favor da
coletividade na defesa desassombrada da Democracia”. Os jornalistas diziam não imaginar
que o “comício de propaganda democrática” viria a “acarretar tal soma de rancor e
mesquinhez contra o nosso diretor, jornalista Aurino Soares, de parte dos que vociferam e
ameaçam”.
Mesmo que o suposto plano dos integralistas se efetivasse, alegavam os jornalistas
que, naquela casa, Aurino Soares “teria os seus continuadores, mais implacáveis ainda contra
todas as infâmias e todas as felonias”. Ainda que não portassem “revolveres na cintura”, os
jornalistas de A Notícia, diziam eles próprios, continuavam “encouraçados na nossa estrutura
moral, defesos pela nossa causa que, intangível pelos verdes, encontram o recurso de
combate na pessoa de seus defensores” (No comício [...], 1937, p. 8).
Não se sabe o grau de factibilidade do boato. Mas, na certa, sua divulgação foi
instrumentalizada contra os avanços da AIB. Outra matéria publicada alguns dias depois
mencionava como pelo Brasil vinham se realizando encontros e comícios públicos cujos
objetivos eram fazer “volver para a Democracia aqueles elementos que se haviam dela
afastado, para abraçar os extremismos, seduzidos pela beleza exterior das ideologias verde-
rubras”. Tais ações vistas como eminentemente nacionalistas, “tem aberto formidáveis claros
nas fileiras integralistas, por meio das constantes defecções que a seita verde vem sofrendo
nestes últimos tempos”, afirmaram.
Em Joinville, a matéria afirmava que logo após o comício de domingo, 19, registraram-
se no estado “novas e numerosas defecções nas hostes verdes”. Uma delas teria sido a do
chefe do departamento dos plinianos da AIB em Santa Catarina, o qual “ingressou nas fileiras
democráticas, fazendo profissão de fé na União Democrática Brasileira” (partido de Armando
de Salles Oliveira). De fato, vários abandonos do partido foram divulgados no jornal naquelas
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semanas. Essas defecções, segundo o periódico, acentuavam “mais e mais o franco
desprestígio da doutrina integralista em Santa Catarina” e faziam os camisas verdes saírem
pelas colunas “de seus repelentes pasquins a vomitar calúnias e mentiras, num desespero
inútil e merecido”.
Assim, o “jornaleco” Anauê, pertencente aos quadros da AIB de Joinville, segundo A
Notícia, acusou Aurino Soares de subir no palanque durante o comício e vivar Armando de
Salles e depois vivar também José Américo de Almeida, para não contrariar o Dr. Nereu
Ramos” cujo apoio depositara no candidato paraibano. A Notícia pretendia desmentir tal
acusação, “pois o nosso diretor somente vivou aos Srs. Armando de Salles, Nereu Ramos e
Carlos Gomes”. Além do mais, afirmava o jornal que problema nenhum haveria caso o diretor
do jornal isso o fizesse, pois o fim do comício não era a candidatura de qualquer um daqueles
“dois eminentes brasileiros, tratando-se imensamente de um comício pró-Democracia e nós
os consideramos a ambos pertencentes a ela” (Uma bola [...], 1937, p. 1).
O conflito com os integralistas continuou em outubro. No dia 1º, uma manchete
afirmava: “Anuncia-se existir gravíssima cisão nas fileiras integralistas”. Corria entre os círculos
políticos a informação de que Plínio Salgado teria encaminhado uma carta a Othon Gama
d’Eça, “declarando querer a inclusão na chapa catarinense dos nomes de Miguel Reale e
Madeira de Freitas”. Portanto, ficavam escorraçados os Srs. Gama d’Eça e Rocha Loures da
chapa”. Em decorrência do desapontamento com a decisão de Plínio Salgado, “numerosos
integralistas” teriam abandonado as fileiras do partido, entre eles Emílio Cardoso e Arnoldo
Suarez Cuneo (Anuncia-se [...], 1937, p. 1).
No entardecer do mesmo dia, pelo centro de Joinville, após o anúncio por alto-falante
da referida notícia, estouraram no ar alguns foguetes. Como reação à sincronia daqueles dois
eventos, por “maldade” alguém atribuiu ao corpo editorial de A Notícia a responsabilidade do
lançamento dos fogos “em sinal de regozijo”. “Mas não, absolutamente, não fomos nós os
‘fogueteiros’ e sim os homens do Circo Americano que, por essa forma, anunciavam a sua
função de ontem à noite”, contrariava o jornal, em resposta àquelas acusações. Além do mais,
caracterizavam como “mesquinho esse espírito de intriga, essa prevenção idiota, esse ridículo
faro adivinhatório”. Prometia A Notícia não se curvar aos “processos de nossos adversários”
que “não nos seduzem para que nos abalançássemos a imitá-los” (Não [...], 1937, p. 1).
Em outras reportagens, o possível de ser lido era logo o oposto ao que prometiam. No
dia seguinte, uma nota provocava os integralistas do estado em face da decisão de Salgado:
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“nada mais lógico que um natural ressentimento nas hostes verdes locais que, seja como for,
preferem para a representação parlamentar por Santa Catharina, correligionários aqui
radicados, embora pouco tempo”. Mesmo antes tendo nutrido posição crítica aos nomes
de Rocha Loures e Juca Ramos, o jornal buscava alimentar o desgosto pela atitude do Chefe
Nacional e, eventualmente, provocar cisões. “Ao ‘onipotente arcanjo’, pouco se lhe a
opinião de seus correligionários. Dentro da seita, quem tem direito a querer é somente o
‘chefe’. O resto do ‘bando’, que obedeça ou debande”, reiterava o editorial.
A situação, caracterizada como uma “crise”, àquela altura estava azeda e de maneira
fatal, viria a tornar-se “SALGADA!...”. Em virtude “dessa moderna concepção de disciplina
partidária” imposta pelo integralismo, os não habituados a tais moldes vinham percebendo
“tempo dos manejos despóticos absolutistas” do fascismo brasileiro; isso fazia coçar “as
orelhas” e “funcionar o cérebro”. O saldo da crise salgada era “a debandada”, a qual já havia
começado; “daqui a pouco estoura defecção geral”, diziam ou melhor, esperavam (Crise
[...], 1937, p. 8). Havia exagero naquelas afirmações.
Importante lembrar, em acordo com as considerações de Rémond (2003, p. 49): as
campanhas eleitorais não são rígidas e muito menos permanecem iguais do início ao fim. A
bem da verdade, se modificam “a cada dia as intenções e talvez a relação de forças”. Talvez
pela força do eleitorado catarinense, Salgado optou por colocar quadros de destaque da AIB
nacional para representar o estado. Esse parece ter sido o caso, quando retirou os nomes dos
integralistas de Santa Catarina à Câmara Federal (Rocha Loures e Juca Ramos). A imprensa,
evidentemente, usou o fato de pretexto para fazer polêmica e tirar seus dividendos políticos.
Em fins de setembro, ao retornar de Santa Catarina à Capital Federal, o deputado
Carlos Gomes concedeu uma entrevista ao Correio da Manhã. Entre outras coisas, o jornalista
do periódico carioca perguntou: E o integralismo?”. “— Quanto ao integralismo, ainda tem
ali certa força, mas vai perdendo o impulso. A ação do governo, bem orientada, haverá
fatalmente, de reduzir esse inimigo do regime”, respondeu (Fala [...], 1937, p. 3). Nas
entrelinhas de sua resposta, o deputado por Santa Catarina deixava ver as medidas que
vinham sendo empenhadas pelo governo estadual contra a AIB.
Ao longo do segundo semestre de 1937, não cessaram os esforços em boicotar as
atividades integralistas. Vale lembrar o assassinato de Ricardo Gruenwaldt (chefe local e
presidente da Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul pela AIB) pelas forças policiais do
estado em 13 de agosto. No início daquele mês, Nereu Ramos havia visitado a cidade com
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vistas a apaziguar a situação. O próprio A Notícia foi ameaçado de empastelamento pelo
governo caso prosseguisse na divulgação do episódio violento (Hackenhaar, 2019, p. 81-89).
Em 15 de outubro, A Notícia divulgou que em regiões como Jaraguá, Joinville e
Blumenau, com o argumento de não saberem falar “uma palavra sequer de português”,
estavam sendo indeferidas “inúmeras petições eleitorais” e outros títulos sendo caçados “sob
o fundamento de analfabetismo”, pois muitos naquelas cidades não sabiam “nem assinar o
nome”. Como era de “domínio público”, era justamente nestas regiões, especialmente entre
os teuto-brasileiros, que o integralismo mais angariava forças em Santa Catarina. Logo, com
as “hostes verdes” desfalcadas, “a grita foi grande e agora o sr. Plínio Salgado vem debater às
portas do Superior Tribunal de Justiça Eleitoral” com uma petição de cinco itens (Doeu [...],
1937, p. 10). Era evidente se tratar de um boicote eleitoral e o Chefe Nacional, rapidamente,
agiu contra.
“A Notícia” clama aos dissidentes, o perigo verde e o choque de expectativas do 10 de
novembro
Na capa da edição do dia 29 daquele mês, a questão da sucessão ao executivo estadual
voltou à tona: Para os camisas verdes o caso da sucessão governamental do estado é
questão aberta”. Apesar dos integralistas tentarem esconder “nas dobras de sua política
sinuosa”, as decisões feitas nos bastidores dizia A Notícia , àquela altura se sabia da
definição de Marinho de Souza Lobo como candidato da AIB a governador de Santa Catarina
(seu retrato constava junto à matéria). Reiterava-se, igualmente, o afastamento de nomes
como Othon Gama d’Eça e General Vieira da Rosa para disputar aquele cargo. Apenas Marinho
Lobo iria se incumbir “de enfrentar o candidato ou candidatos da democracia”. A matéria
terminava em tons tanto jocosos quanto herméticos: “A procissão, entretanto, anda ainda ali
na praça, não tardando, todavia, que chegue à porta da Igreja, quando então sechegada,
também, a hora das penitências. Xuxu não é melão [](A caminho [...], 1937, p. 1).
Na mesma primeira página da referida edição, foi publicado um longo texto intitulado
“Santa Catarina repudia o extremismo. Em defesa da democracia”. Abaixo do título e
subtítulo, foram estampados, lado a lado, da esquerda para a direita, retratos de Adolpho
Konder (líder do PRC), Aristiliano Ramos (dissidência do PLC), Nereu Ramos (governador e líder
do PLC) e Fulvio Aducci (ala dissidente do PRC e chefe da União Democrática Brasileira em
Santa Catarina, partido de Armando de Salles). Nesta reportagem, A Notícia fez uma análise
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da conjuntura política estadual e, com isso, buscava interferir no processo da sucessão a
governador e agendar eventuais posicionamentos dos principais representantes políticos
catarinenses, os quais estavam todos fragmentados.
Ao observar o “panorama político” de Santa Catarina, segundo o jornal, “as
perspectivas que se nos oferecem são as melhores possíveis”. Poderia se constatar, “sem
grande esforço de análise”, o fato de neste estado de federação “não estarmos ameaçados
pelo comunismo”. Santa Catarina e sua população sentiam-se “felizes e contentes dentro da
democracia, não admitindo qualquer outra espécie de governo ou administração”. Assim, se
podia considerar, de modo confortável, que era o comunismo em terras catarinenses “um
inimigo integralmente desmoralizado, posto fora de combate sem mesmo haver terçado
armas. Entretanto, para a democracia catarinense, existe um inimigo comum, que a espreita
e se prepara à sua sombra para a conquista do poder” (Santa [...], 1937, p. 1 e 9).
Estas afirmações tinham fundo de verdade. O Partido Comunista do Brasil
conseguiria fundar um comitê em Santa Catarina em 1940. A Aliança Nacional Libertadora,
quando esteve em atividade no estado durante o ano de 1935, não angariou muitos adeptos,
se restringindo a Florianópolis, Itajaí, Canoinhas, Lages, além de ter quase alcance nulo entre
os trabalhadores do Norte e Vale do Itajaí, em cidades como Jaraguá, Joinville, Blumenau, Rio
do Sul, Timbó, Indaial, São Bento do Sul e Brusque, logo onde grassava a AIB (Martins, 1995).
Mas, como diziam, um “inimigo comum” efetivamente representava perigo maior para
a “democracia catarinense”, e ele espreitava nas sombras para conquistar o poder.
Evidentemente, referiam-se ao integralismo, “irmão siamês do comunismo, tão perigoso para
as instituições e leis nacionais quanto o seu gêmeo”. Este deveria “ser combatido com a
mesma intensidade, com o mesmo ardor e entusiasmo”, quanto seu irmão de cor vermelha.
Devido a “fatores especiais”, “mais perigoso em nosso meio que o crime rubro” era a AIB. Isso
ocorreria, segundo o jornal, em razão da tolerância excessiva dos responsáveis pela
“estabilidade do regime” (Santa [...], 1937, p. 1 e 9). Parece que se referiam a Vargas.
Marcado por uma segunda grande onda anticomunista, a primeira ocorrera no
contexto da Insurreição de 1935 (Motta, 2002) , em virtude das particularidades da
constelação política catarinense, o segundo semestre de 1937 foi vivido neste estado da
federação às avessas: o perigo não era vermelho, mas verde, isto é, a extrema-direita. O
comunismo não causava temor nas elites e nem sequer possuía penetração entre os
trabalhadores urbanos das regiões mais industrializadas de Santa Catarina (Norte e Vale do
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Itajaí). Nessas regiões, era o integralismo a agremiação política com maior número de adesão
entre esses setores. A AIB, surgida como uma nova opção para jovens grupos em ascensão
social e com desejo de participação política, representava uma ameaça aos domínios das elites
tradicionais. Caso os camisas verdes tomassem a máquina pública na mão, possivelmente o
eventual enriquecimento ou favorecimento de empreendimentos pessoais por essas vias
poderia produzir um novo grupo com poder de dominação política no estado.
Doravante, na visão de A Notícia, a opinião pública democrática presente entre o povo
catarinense estaria pronta para se congregar unida, nas mesmas trincheiras, contra aquele
movimento. De acordo com o periódico, o maior exemplo disso teria sido o comício Pró-
Democracia do dia 19 de setembro que, inclusive, repercutira em outras regiões do estado.
Nesta direção, o jornal conclamou que, se “povo catarinense”, como verificado naquele
episódio, “já se congregou, sem destinação de partidos” com o objetivo de manifestar
“repulsa àquelas seitas, porque não se observar esse mesmo gesto de simpatia e patriotismo
entre os chefes políticos desta grande terra?”. Falando para nomes como Adolpho Konder,
Aristiliano Ramos, Nereu Ramos, Fulvio Aducci e Henrique Rupp Junior, A Notícia clamava por
uma união entre políticos dissidentes contra o integralismo:
Porque não se fazer essa união patriótica entre os maiorais da política democrática,
renunciando nobremente às desavenças do passado, para, no mesmo plano e com a
maior eficiência provinda de seus postos de chefes, preservarmos todos, gregos e
troianos, a nossa democracia, que é a felicidade da nação?
Na visão do editorial, somente esta medida, de “congraçamento indispensável de
todos os elementos democráticos do Estado”, poderia barrar o avanço do integralismo em
Santa Catarina e evitar uma possível vitória do sigma no próximo pleito estadual (Santa [...],
1937, p. 1 e 9). As correntes políticas estaduais, na visão do jornal, deveriam evitar a repetição
daquilo que viram em 1936: no contexto do primeiro ensaio democrático pós 1930, nas
eleições municipais, as elites tradicionais viram seu poder escorrer de suas mãos em regiões
onde historicamente exerceram seu domínio. Nesse contexto, em Jaraguá, Joinville e
Blumenau as elites que antes competiam entre si pela administração local, republicanos e
liberais, uniram-se contra os candidatos da AIB. Nas três cidades, viram-se derrotados
(Wendland, 2011; Hackenhaar, 2019). Seria dramática a reedição desses episódios e se sabia
das chances de se repetirem. Não obstante, democracia era a palavra de ordem que dava
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sentido àquela luta política propalada pelo jornal. Todavia, evidentemente, um sentido
estritamente limitado de democracia. Ademais, por mais contraditório que fosse, a vitória da
AIB em 1939 seria sinal de um significativo avanço democrático, pois implicaria a quebra de
hegemonia e o deslocamento de elites que se revezavam no executivo estadual desde o início
da República.
As chances de vitória, conforme apontam alguns indícios, não eram desconsideráveis.
Um brasileiro em visita a Santa Catarina no ano de 1936 escreveu a Oswaldo Aranha que ficara
“tão impressionando com a popularidade do partido que chegou a predizer que o mesmo,
num futuro próximo, captaria o controle político do Estado inteiro” (Hilton, 1977, p. 31). Um
contemporâneo, anos depois, rememorou como a AIB “foi muito atuante” no estado.
Destacou o sucesso do movimento nas ditas colônias estrangeiras, visto que, nas eleições de
1936, conquistaram as prefeituras “com certa facilidade”. “Eu não sei se eles teriam
conquistado o Governo do Estado se não tivesse sido fechada a Ação Integralista”, completou;
“É possível, não é? Que a força era muito grande, principalmente, como eu diria, na
colonização alemã” (Lins, 1980, sem paginação). Soma-se a essas impressões, a fragmentação
das forças oposicionistas em quatro correntes distintas.
Fazia alguns anos que a empresa de Aurino Soares estava em ascensão vertiginosa. Em
1934 A Notícia adquiriu a primeira linotipo do estado e no ano seguinte o jornal possuía
sucursais em Florianópolis, Itajaí, Blumenau, Porto União e Mafra, onde certamente eram
vendidos exemplares. Ademais, matinha correspondentes por várias regiões. Embora tenha
passado por percalços em 1936, o ano de 1937 mostrou um revigoramento, pois a maioria das
suas edições circulou com 12 páginas (Ternes, 1983). Não dúvidas de que era um dos
periódicos de maior alcance em Santa Catarina no período. Tendo em mente essa sua
“capacidade de influenciar a opinião pública” (Barros, 2023, p. 57), o jornal não abdicou de,
naquele crítico momento, agir por meio de um “jogo de antecipações” (Barros, 2023, p. 54)
ao sugerir uma saída para o impasse da enorme força do integralismo no estado: a união das
correntes dissidentes. Era esse o horizonte de expectativa, para usar a categoria de Koselleck
(2006), que A Notícia vislumbrava e propunha para o devir.
De um jeito ou de outro, o ensaio de aliança clamado por A Notícia não teve tempo
hábil para avançar. Talvez, por parte de algumas figuras como Nereu Ramos, nem houvesse
interesse, pois, em agosto, o governador já havia participado da reunião em Poços de Caldas,
onde entre os governadores se combinou o Golpe de Estado (Camargo et al, 1989). Ademais,
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pouco depois veio o 10 de novembro, que contou com a colaboração dos integralistas na
produção de um clima propício à quebra do regime constitucional e na consulta a Plínio
Salgado sobre a nova constituição, a quem também foi prometido o Ministério da Educação
(Pacheco, 2023). Curiosamente, enquanto Vargas se aproximava de lideranças da AIB, como
Salgado, em muitos estados predominava um clima de conflito com os integralistas (Hilton,
1977).
Na edição do dia seguinte ao golpe, A Notícia falou do estado de espírito de alguns
integralistas. Ainda no dia anterior, quando chegaram por rádio as notícias, um frisson
desusado se apoderou dos camisas verdes, que não podiam ocultar o seu entusiasmo, a sua
desmedida alegria, na doce suposição de que a anunciada hora de seu triunfo havia chegado”.
Houve corre-corre “para os redutos onde se aglomeraram, a fim de ouvirem a palavra
autorizada dos chefes e receberem ordens de posição”. Foi tomada de imediato a medida do
toque de reunião nas sedes, em hora regimental, ao redor do alto-falante. Muitos vestiam
trajes de gala e ajuntavam-se na expectativa de ouvir o pronunciamento. Chegado o momento
tão esperado, à medida que avançava o discurso de Getúlio Vargas, responsável pelo golpe,
“sentiam-se decepcionados, ao perceberem que os acontecimentos não tinham em mira
extinguir o regime político vigente; ao contrário, as medidas patrioticamente adotadas
visavam fortalecê-lo”. No dia seguinte, 11 de novembro, “arrefecido o entusiasmo, não mais
manifestam aquela satisfação convictos de que a hora talvez jamais soará [...]”. (Decepção
[...], 1937, p. 1).
Alguns camisas verdes buscaram ainda fazer algumas demonstrações no Dia da
Bandeira, em 19 de novembro, nas cidades de Joinville e Florianópolis. No dia seguinte, o
chefe provincial foi chamado pelo Secretário de Segurança Pública para ser informado da
proibição de comícios e desfiles públicos. As ordens federais eram anteriores, mas chegaram
em Santa Catarina somente no dia 19. Em Joinville, foram recebidas ordens para remoção dos
cartazes da campanha de Plínio Salgado colocadas na fachada da sede do partido (Hackenhaar,
2019). Talvez os integralistas daquela cidade do Norte catarinense fossem os mais
empolgados com a sucessão presidencial e a campanha de Salgado, haja vista vários
representantes de Joinville terem sido indicados para concorrer aos pleitos de 1938 e 1939.
Porém, para muitos, pensando com Koselleck (2006), a experiência imposta com o 10 de
novembro entrou em contradição com as expectativas de tomar o poder. Dali em diante,
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algumas possibilidades de futuro se encerraram e outras se abriram. Outras escolhas
precisavam ser feitas.
Considerações finais
À altura da corrida eleitoral para o pleito de janeiro de 1938, os camisas verdes em
Santa Catarina se mostraram politicamente maduros e representavam a segunda maior força
política estadual, logo atrás do PLC de Nereu Ramos. O movimento se apresentou organizado
e com largas ambições políticas, haja vista as indicações de nomes para o Senado, Câmara
Federal, sucessão estadual de 1939 e, também, projetar, ao menos no município de
Joinville, possíveis candidatos para as vindouras eleições municipais. Quanto à eleição para
governador, também projetaram quadros que iriam constituir o governo, caso eleitos. Difícil,
porém, é avaliar as implicações das “defecções” ocorridas no movimento naquele ano de
1937. De todo modo, estavam, ao seu modo, tentando gerir o futuro político do estado.
Os frequentes ataques da imprensa contra a AIB e os clamores por uma união entre
políticos dissidentes podem ser vistos como indícios da aceitação do movimento em
determinadas camadas sociais do estado, do vertiginoso crescimento da AIB e de um enorme
mal-estar entre a imprensa e algumas frações das elites quanto às chances de o integralismo
vir a ocupar a cadeira do executivo estadual. Ademais, “democracia” era o conceito
amplamente mobilizado pela imprensa no ataque à AIB. A Notícia, igualmente, buscou intervir
no rumo futuro dos acontecimentos, inclusive, propondo antecipadamente saídas para o
dilema imposto diante da preparação dos camisas verdes. Contraditoriamente, o jornal, bem
como demais opositores aos “antidemocráticos” do sigma, receberam de bom grado o veto à
disputa política colocada pelo golpe de 10 de novembro de 1937.
Em diversas regiões do país houve divisão entre os integralistas em face do golpe:
alguns aceitaram a ordem imposta, outros se acomodaram à nova situação (em especial,
lideranças) e, uma fração optou pela revolta armada (Bertonha, 2014). Em Santa Catarina,
houve quem se mobilizou para a tentativa de golpe de 1938 e Nereu, como interventor, usou
a situação como subterfúgio para enfraquecer de vez o movimento (Hackenhaar, 2019). Não
parece ter sido suficiente. Isso porque o clima anti-integralista veio a ser reeditado com
ferocidade no contexto da Segunda Guerra Mundial, particularmente, no fremente ano de
1942. Do mesmo modo, naquele contexto, predominou a apreensão, sobretudo a antecipação
quanto à possibilidade de o integralismo vingar vitórias futuras. A imprensa e o situacionismo
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político, como era de se esperar, voltaram a se mexer. Esse debate consta em minha
dissertação de mestrado, atualmente em desenvolvimento.
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