Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 138-155, jan./jun., 2025
Nesse momento, um não sabe as intenções do outro, mas o público já entende que a
mulher estava causando antagonismo entre pai e filho. Lisímaco, ao saber dos interesses de
seu amigo, ridiculariza-o ao dizer que “[...] um velho decrépito é quase tão útil como um
quadro pintado na parede” (Plauto, Mercator, v. 314-315). À vista disso, os amores de pai e
filho aparecem com reações completamente diferentes: enquanto o de Carino aparece como
algo esperado, dentro das perspectivas culturais de gênero tencionadas na juventude; o de
Demifão é ridicularizado. Nesse sentido, marcamos que as expectativas romanas projetadas
nos homens mais velhos eram de amadurecimento quanto ao desejo sexual excessivo (Witzke,
2020, p. 333 apud Krauss, 2004, p. 88-182).
Defendendo-se do julgamento e desaprovação de seu amigo, Demifão argumenta que
não havia nada para ser censurado, afinal de contas, “[...] outros homens ilustres fizeram a
mesma coisa” (Plauto, Mercator, v. 319). A fala do senex, ao colocar a imagem de homens
romanos influentes como justificativa para seus atos, denota uma percepção diferente das
expectativas culturais de seu tempo. Além da questão tocante à idade, documentadamente,
o pai romano “[...] serviu de modelo para como um pater familias, um patronus, um
descendente de sua família com sua tradição distinta e um representante de como o senatus
populusque Romanus deveria andar, falar e agir” (Harders, 2010, p. 51). Todavia, aqui, os
rumos de sua vida aparecem guiados por cortesãs. Em suma, percebemos uma visível crítica
às preeminentes figuras patriarcais, engendradas por uma degradação que, manchando o
prestígio masculino, parte do feminino.
Pouco tempo depois dos acontecimentos do segundo ato, inicia-se o Ato III. Pela
primeira vez, vislumbramos uma mulher em cena: Pasicompsa, após ser comprada por
Demifão, está chorando e é acompanhada por Lisímaco. Até então, mesmo que todos os
acontecimentos tenham girado em torno de mulheres, nem uma única figura feminina havia
aparecido. Os dois personagens conversam sobre a compra e o amigo de Demifão repreende
a garota por estar chorando, afinal, acreditava que ela teria mais motivos para sorrir do que
para chorar (Plauto, Mercator, 499-501). O diálogo continua com um questionamento de
Pasicompsa, o qual leva a outras falas marcantes quanto à imagem das mulheres. A princípio,
a cortesã argumenta que, com sua sabedoria e seus recursos, iria fazer o que pensava ser
desejado por Lisímaco. Ele, então, argumenta que não exigiria nada difícil por parte da jovem.
Aliviada, Pasicompsa diz que não havia aprendido a realizar tarefas comumente
associadas a escravas, indicando como não conhecera uma vida com os afazeres de mulheres