A produção e os usos de bebidas alcoólicas na América Portuguesa e nas praças da África Central Ocidental
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.3, nº2, p. 22-35, jul.-dez., 2016.
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Sousa, cujo objetivo era dar conta ao rei dos acontecimentos durante o seu governo
(de 1624 a 04 de Setembro de 1630), há informações sobre as melhores maneiras para
se proceder nas negociações com o Rei do Congo, para que se conseguisse o acesso
às minas de cobre e o alertando para um provável prejuízo na retirada de tal minério,
que poderia ficar sem lavrar na sua totalidade devido à falta de experiência do “gentio”,
pessoas, cabedais e oficias para realizar tal tarefa.
Sousa preocupava-se também, com a possível descoberta dessa atividade por
parte dos holandeses que poderiam facilmente apreender as canoas com cobres que
iam até a foz do Rio Ambriz e de lá seguiam em embarcações até o porto de Luanda
(MMA, Vol. VIII, 1960, p.150-151).
Ainda nesta mesma carta, Fernão de Sousa informa El-Rei a respeito da discussão
entre os das “cazas da Camera todos os da governaça e armadores” sobre a imposição
dos vinhos na cidade de Luanda e no Reino de Angola, que mesmo ocorrendo certas
divergências a respeito deste assunto, os argumentos de que a arrecadação serviria
para fortificar e proteger o porto e a cidade contra os holandeses, assim como, defender
[...] a sua terra, suas cazas, mulheres, e filhos; e com estas razões, e com outras
os persuadi a que aceitassem a dita imposição dos vinhos, de que se fizeram
autos de aceitação pelo escrivão da Câmara, no livro dela, em que assinaram,
o Ouvidor Geral, Juiz Ordinário, Vereadores, Procurador do Conselho [...]
(MMA, Vol. VIII, 1960, p. 151).
E sendo aceita a imposição, o governador mandou
[...] acabar as casas da Câmara e cadeia e mudar para elas os oficiais e presos,
e compor e adereçar as que se havia feito para a Câmara e cadeia, nas quais
se agasalhou o Governador Dom Manoel Pereira Coutinho, porque estão e
em conveniente sítio para viverem nelas os governadores; com o que se ficou
escusando paga V. Majestade cento e cinquenta mil réis cada ano, de bom
dinheiro, de aposentadoria ao Governador e o que faltava para se acabarem de
todo, se iria fazendo com o direto dos panos, que V. Majestade mandou aplicar
a esta obra, e acabada se gastará nas fortificações em que V. Majestade ficou
por dar todas as vias bem sentido e os governadores melhor agasalhados [...]
(MMA, Vol. VIII, 1960, p.152).
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A utilização do vinho na proteção contra o inimigo (holandeses), não ficava
restrita à arrecadação vinda das imposições, sendo usado também como presente, para
se conseguir alianças e/ou agradar os governantes dos territórios africanos.
Em uma carta enviada para o reino por Diogo Lopes de Faria, em 20 de Maio de
1636, explicava a situação política do Reino do Congo, sobre a presença dos holandeses
no porto de Pinda e informava que já havia sido enviado, a pedido do Governador Fernão
de Sousa, para negociar com “el rey do Congo” a retirada dos flamengos, onde há anos
possuíam feitorias que faziam grande dano àquela costa.
Concretizado este pedido, Diogo aconselha o rei que seria prudente de sua parte,
5. Em outra carta de Fernão de Sousa, de 21/02/1632, com o mesmo objetivo da anterior, encontra-se
uma descrição pormenorizada das fortificações e melhorias realizadas em Angola com a imposição dos
vinhos (MMA, Vol. VIII, 1960, p. 113-117).