Recebido em: 10/03/2019
Aprovado em: 24/05/2019
Memórias do Desastre Ambiental do Navio
Vicuña
(2004)
Memories of the Environmental Disaster of
Vicuña
Ship
(2004)
FIGUEIRA, Priscila Onório
*
Resumo: No dia 15 de novembro de 2004, o navio chileno Vicuña explodiu no Porto de
Paranaguá, localizado no município de Paranaguá, no estado do Paraná. O desastre
provocou um vazamento de 290 mil toneladas de óleo combustível que atingiu
manguezais, restingas e levou a proibição da pesca. A comunidade de Amparo, situada a
alguns metros do porto, foi uma das localidades mais atingidas. Nessa comunidade
residem cerca de 160 famílias que dependem da pesca. O presente trabalho analisa as
diferentes versões construídas em torno do desastre ambiental do navio Vicuña. Através
da metodologia da história oral, o texto pretende evidenciar as narrativas dos pescadores
e como os documentos oficiais descrevem o desastre. A análise das entrevistas indica
que as narrativas dos pescadores são permeadas pelos conflitos decorrentes das
negociações e dos impactos ambientais de longo prazo provocados na Baía de
Paranaguá.
*
Mestre em História pela UFPR, Curitiba PR. Doutoranda em História pela UFPR pelo Programa de Pós-
graduação em História da UFPR, Curitiba PR. Bolsista CAPES. Email: priscilahonorio90@gmail.com.
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.6, nº1, p.120-140, jan.-jun., 2019
Memórias do Desastre Ambiental do Navio
Vicuña
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Palavras-chave: desastre ambiental; pescadores; história oral.
Abstract: In November 15th of 2004, the chilean Vicuña ship exploded in the Paranag
Port, located in the city of Paranaguá, in the state of Para. The disaster caused a
leaking of 290.000 tonnes of fuel oil that impacted mangroves, restingas and caused the
prohibition of fishing. The community of Amparo, located a few meters from port, was
one of the most affected. In this community living 160 families that depend on fishing.
The present work seeks to analyze the different versions built around the environmental
disaster of the Vicuña ship. Through the methodology of oral history, the text seeks to
evidence the memories of fishermen and how the official documents describe the
environmental disaster. The analysis of the interviews indicates that the narratives of the
fishermen are permeated by the conflicts arising from the negotiations and the
environmental impacts caused in the Paranaguá Bay.
Keywords: environmental disaster; fishermen; oral history.
Introdução
No dia 15 de novembro de 2004, o navio chileno Vicuña explodiu durante uma
operação de descarga de óleo combustível no Porto Dom Pedro II, localizado no
município de Paranaguá, no estado do Paraná. O desastre ficou conhecido como o
acidente do navio Vicuña que ocasionou um vazamento aproximado de duzentos e
noventa mil litros de óleo combustível e provocou a contaminação de ecossistemas de
manguezais, restingas, praias e a proibição da pesca por sessenta dias. No total, trinta e
seis comunidades pesqueiras foram diretamente atingidas nos municípios de Paranag,
Antonina, Guaraqueçaba e Pontal do Paraná (LAUDO TÉCNICO, 2005). A comunidade de
Amparo, situada de frente para o porto, foi uma das localidades mais atingidas
(RELATÓRIO INICIAL DO NAVIO VICUÑA, 2005, p. 31). Após o acidente, foram
publicados relatórios de impacto ambiental, aplicadas multas as empresas envolvidas e
dadas compensações aos pescadores pelos danos materiais (LAUDO TÉCNICO, 2005).
Numa tentativa de compensar o acidente, a empresa Cattalini investiu parte da sua multa
na construção de um aquário marinho na cidade de Paranaguá (GAZETA DO POVO,
2010).
Apesar do evento ter sido noticiado e descrito como um acidente é pertinente
conceituá-lo como um desastre ambiental, pois não foi algo isolado e de caráter único,
levando em conta o histórico de eventos similares ocorridos no Porto de Paranaguá
1
.
1
Devido ao tráfego constante de navios no porto, outros eventos como o vazamento de nafta do Navio
Norma em 2001, o derramamento de óleo que causou a morte de peixes no ano de 2011, são eventos que
ocorrem de forma rotineira na cidade de Paranaguá.
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Define-se desastres ambientais fenômenos ao mesmo tempo físicos e humanos, sob a
perspectiva de que a natureza hoje existente é resultado também das relações e
representações dos seres humanos. Enquadram-se nesse grupo desde desastres com
impactos imediatos, como tornados, a desastres de impacto prolongado, como aqueles
em que há exposição a substâncias tóxicas (ESPÍNDOLA; NODARI, 2011).
No Brasil e no mundo, desastres envolvendo a poluição dos mares, rios e
estuários por substâncias tóxicas são rotineiros. Os atuais desastres ocorridos no estado
de Minas Gerais, nos municípios de Mariana e Brumadinho, demonstram a importância
de discutir publicamente os impactos ambientais, o dever de investigar e tutelar as ações
dos responsáveis e envolvidos, com o objetivo de promover o debate para que tais
eventos não caiam no esquecimento e, sobretudo, que as comunidades de pescadores e
extrativistas que dependem do mar, dos rios e dos ambientes afetados, sejam ouvidas e
verdadeiramente compensadas. Indo ao encontro dessa reflexão e, passados mais de dez
anos do desastre do navio Vicuña, as medidas veiculadas nos documentos escritos e em
notícias de jornais descrevem os pescadores atingidos em fator de conflitos e
negociações, não abordando sobre os impactos de longo prazo que o desastre assim
provocou. O presente trabalho busca analisar as diferentes versões construídas em
torno do desastre ambiental do navio Vicuña. Através de entrevistas realizadas com
pescadoras e pescadores de Amparo, entre os anos de 2011-2014, busca-se evidenciar as
memórias dos indivíduos que vivenciaram o desastre em questão.
Para fundamentar o trabalho, algumas proposições teórico-metodológicas foram
fundamentais. A metodologia da história oral permitiu privilegiar as lembranças dos
pescadores e assim, problematizar questões não contempladas nos documentos escritos.
A história oral, como define Paul Thompson (2002, p. 9), é a interpretação da história e
das mutáveis sociedades e culturas através da escuta das pessoas e do registro de suas
lembranças e experiências. Para Thompson (2002, p. 17), a pesquisa em história oral tem
a potencialidade de demonstrar as vozes ocultas e de nos propiciar acesso às
experiências daqueles que vivem às margens. Para Phillipe Joutard (2000, pp. 32-34,
grifo do autor), um dos desafios da história oral na contemporaneidade é o de respeitar e
ouvir a voz dos excluídos e esquecidos; trazer à luz as realidades “indescritíveis” e
testemunhar as situações de extremo abandono.
As entrevistas foram realizadas em dois momentos diferentes. Durante o trabalho
de conclusão de curso optou-se pela realização de entrevistas temáticas com foco na
lembrança do desastre e nas medidas ocorridas durante o período de paralisação da
pesca. Contudo, a análise das entrevistas demonstrou que para compreender os
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impactos que o desastre provocou seria também necessário compreender melhor a
trajetória dos entrevistados(as). Desse modo, entre os anos de 2013-2014, como parte da
pesquisa de mestrado, foi elaborada uma segunda rodada de entrevistas na qual
privilegiou-se as histórias de vida (FIGUEIRA, 2014). A possibilidade de realizar as
entrevistas novamente, permitiu conhecer melhor as interações dos entrevistados com o
espaço e de problematizar os impactos ambientais de longo prazo. Durante esse
percurso, optou-se também por entrevistar pescadores(as) ativos, ou seja, que exerciam
a pesca e estariam registrados nas Colônias de Pescadores, como os aposentados e sem
registro de pesca, ou seja, pesqueiros que não possuíam registro na Colônia, mas que
pescavam para complementar a alimentação. O roteiro enfatizou as seguintes questões:
Quando começou a pescar? Com quem aprendeu a pescar? Como realiza a sua
atividade? Onde costuma praticar a pesca e quais os tipos de pescados capturados? Em
relação ao desastre, as questões enfatizadas no roteiro foram: Como você se lembra do
acidente do navio Vicuña? Houve medidas emergenciais durante o período de
paralisação da pesca? Como o desastre em questão provocou mudanças na sua
atividade?
2
Em conjunto a metodologia da história oral, o debate teórico em torno da noção
de memória foi outro aspecto fundamental. Bergson (1999, pp. 88-89), distingue dois
tipos de memória, uma delas registraria imagens-lembranças e a outra, seria uma
memória voltada à ação. A memória do corpo, constituída pelo conjunto dos sistemas
sensórios-motores que o hábito organizou, é, portanto, uma memória quase instantânea
à qual a verdadeira memória do passado serve de base. Em outras palavras, é do
presente que parte o apelo ao qual a lembrança responde e é dos elementos sensório-
motores que a lembrança retira o calor que lhe confere a vida. Estes dois tipos de
memória se fundiriam intimamente (BERGSON, 1999, pp. 176-179).
Maurice Halbwachs (2006, pp. 30-33), afirma que nossas lembranças são
coletivas e devem ter algum significado para nos lembrarmos. Para Halbwachs (2006, p.
29), recorremos a testemunhos de outras pessoas para reforçar, enfraquecer ou
completar o que sabemos de um evento. Se por um lado Halbwachs trouxe contribuições
para entender as relações entre a memória coletiva e a individual, por outro, obscureceu
a imposição ou manipulação que a memória coletiva poderia impor sobre as memórias
das minorias (POLLAK, 1989, p. 3). Na análise dos excluídos, dos marginalizados e das
minorias, a história oral ressaltou a importância das memórias subterrâneas que como
parte integrante das culturas minoritárias opõe-se à memória oficial (POLLAK, 1989, pp.
2
Além das questões mencionadas no artigo, o roteiro original do trabalho privilegiou outras questões e
objetivos. Ver em: (FIGUEIRA, 2014).
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3-4). Os pressupostos teórico-metodológicos apontados foram importantes para
problematizar a construção da memória institucional do desastre e a construção das
lembranças dos entrevistados(as).
O artigo será dividido em quatro momentos. No primeiro momento, o objetivo é
apresentar a localidade estudada e as trajetórias dos pescadores. No segundo momento,
o intento é apresentar as principais informações encontradas nos documentos escritos,
dentre os quais, o Laudo Técnico do Navio Vicuña, documentos não publicados (atas das
reuniões e memória de reunião com lideranças dos pescadores) e notícias de jornais. No
terceiro momento, evidencia-se as lembranças dos em torno do desastre ambiental e,
problematiza-se a construção dos documentos escritos e das lembranças. Por fim,
apresenta-se as considerações finais do trabalho.
Amparo a quem naufragar
Quando um pescador ou navegante caía no mar, havia um lugar, uma ilha na qual
podia-se avistar pedras que serviam de amparo, pedras nas quais os náufragos e
pescadores à deriva podiam permanecer a salvo do mar. A Ilha do Amparo, como é
popularmente conhecida, está localizada no município de Paranaguá, no litoral do estado
do Paraná. Apesar de popularmente ser chamada de ilha, na verdade, ela está em um
espaço de continente que abrange a Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba -
(APA de Guaraqueçaba). A localidade pode ser acessada somente por via marítima e fica
a cerca de trinta minutos da cidade de Paranaguá. Cabe destacar que Amparo fica de
frente para Porto Dom Pedro II, que atualmente é um dos maiores portos exportadores
de grãos da América do Sul.
Um dos primeiros trabalhos acadêmicos a pesquisar a localidade de Amparo foi a
dissertação de Marília de Carvalho Kraemer. Em 1978, a autora analisou as condições de
vida dos pescadores e observou uma mudança nas relações sociais e no modo de vida
dos moradores em razão da proximidade com a cidade de Paranaguá (KRAEMER, 1983, p.
64). A autora aponta que por volta da década de 1940, famílias que moravam próximas ao
Rio Buquera, nos contrafortes da Serra do Mar, se mudaram para Amparo dando origem
a comunidade (KRAEMER, 1983, p. 64). José Milton Andriguetto na sua tese também
observou a característica da migração nas comunidades de pescadores-lavradores do
Litoral do Paraná. Andriguetto (1999, p. 83), identificou quatro tipos de migração. A
emigração permanente, na qual o pescador abandonava o lugar de origem para buscar
outra fonte de renda no meio urbano; a migração sazonal não pesqueira, na qual o
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pescador se deslocava para a cidade, para exercer atividades não pesqueiras; a migração
sazonal pesqueira, na qual o pescador passava parte do ano fora de sua vila para exercer
uma atividade de pesca em outro lugar e, a migração de proximidade permanente,
quando o pescador apenas trocava de vila, mas continuava a exercer a pesca
(ANDRIGUETTO, 1999, p. 83-84). A migração é uma característica presente nas
trajetórias dos moradores que residem atualmente em Amparo. Em concordância com
Kraemer (1983) e Andriguetto (1999), observou-se o caso de famílias de tradição de
lavradores que se estabeleceram na localidade para exercer a pesca; famílias que se
estabeleceram em Amparo devido à proximidade com a cidade de Paranaguá, famílias
que combinavam as atividades de lavoura e pesca nas vilas de origem e que após migrar
para Amparo, continuaram a exercer as mesmas atividades.
No contexto atual, a pesca é a principal atividade ecomica exercida pelos
moradores, no entanto, os entrevistados mencionam que no passado, também exerciam
a agricultura de subsistência. Nazira Rosa, ou Zica, apelido pelo qual é conhecida em
Amparo, nasceu no ano de 1941, em Taquanduva, localizada no município de
Guaraqueçaba. Por volta da década de 1960, ela se casou e mudou-se para Amparo. Ao
narrar suas lembranças de quando começou a pescar, lembra-se que começou a
trabalhar na roça desde muito pequena:
Quando começou a pescar?
Eu pesco desde que trabalhei na roça, trabalhamos até se aposentar, desde que
casei com ele. Me casei com 19 anos, tive família e tive filho depois de um ano de
casada. Depois, eu tive um menino meu mais velho que mora lá no Rocio.
Depois nós fomos pescando assim, quando eu não ia para a roça, eu ia pescar
com ele. Eu mais pescava do que trabalhava na roça. Na roça era gostoso de
trabalhar, mas eu ia sozinha né. Depois, uma comadre minha do Valadares veio
trabalhar comigo na roça, Ah meu Deus, aí sim, eu trabalhei muito, porque daí
nós fazia até farinha, porque nós tínhamos mandioca, fazia de saco de farinha.
Daí depois vendia farinha também, eu vendia para o pessoal que vinha buscar
em casa e levava para vender no negócio [...] Eu gostava de trabalhar na roça,
fazia tempo, desde menina. Lá no sítio que eu morava com minha mãe era assim,
morava num lugar próximo do Itaqui, morava lá no Taquanduva. Com mamãe eu
plantava batata, plantava feijão, plantava de tudo. [...] Aprendi de tudo na pesca,
camarão meu marido caçava comigo e eu também aprendi a caçar. Ele me
ensinava [...] peixes pescávamos tudo que é tipo de peixe, era gueri grande.
De tarrafa, quando eu ia com ele lá para um rio, eu ia com ele para lá pescar
meu Deus, trazia a tarrafa cheia assim de peixarada na canoa. Era assim nossa
pescaria, nos pescava também de linha, até um dia depois que ele morreu, eu
tinha uma canoa e fui, peguei a linha, um camarãozinho e fui pescar lá no rio, fui
lá guria, parece uma coisa. Fui devagarzinho, cheguei lá e sentei, peguei um
monte de peixinho, tudo peixinho grande (Nazira Rosa, entrevista, 30 jan.
2013)
3
.
3
Todos os depoimentos presentes neste artigo foram concedidos à autora deste trabalho durante as
pesquisas de monografia e dissertação. A realização das entrevistas teve como objetivo evidenciar as
lembranças de pescadores(as) que vivenciaram o desastre do Navio Vicuña. Todas as entrevistas foram
realizadas na localidade de Amparo, na cidade de Paranaguá, no estado do Paraná. Ver em: FIGUEIRA
(2014) e FIGUEIRA (2011).
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Entre o mar e o mato consegue-se compreender o modo de vida de Nazira e de
seus familiares. Algo que ela delimita em sua narrativa é que desde a sua infância
trabalhava na roça. Depois de casada, já residindo em Amparo, continuou a praticar a
lavoura. No relato de outros pescadores de Amparo, também encontramos essa relação.
O pescador Mariano Lourenço nasceu no ano de 1959, em Amparo, Paranaguá. Mariano
vem de uma família de pescadores-lavradores e atualmente tem mais três irmãos que
pescam na família:
O pescador é um sobrevivente né, ele trabalha para sobreviver, para ganhar o
pão, para se alimentar. Claro, acorda cedo e vai trabalhar, sai para o mar,
trabalha e volta. Essa é a rotina do pescador, só não trabalha dia de chuva forte
e vento muito forte, mas durante o dia não tem feriado, trabalha para ganhar o
sustento [...] O meu pai primeiro ele me ensinou a fazer a rede, depois ensinou a
pescar de linha, pescar de espinhel e daí em diante, daí a gente foi aprendendo
já com a convivência da vida [...] Meu pai trabalhava na pesca como na lavoura
né, duas atividades, lavoura e pesca. Eles lavoravam
também, plantavam
mandioca, plantavam arroz e o mais que eles plantavam era a mandioca e o
arroz, os legumes também, cará, aipim, taiá vários legumes que eles plantavam
(Mariano Rodrigues Lourenço, entrevista, 16 fev. 2013).
José Paulo Honório Silva nasceu no ano de 1960, no município de Araranguá, no
estado de Santa Catarina. Mudou-se para a Ilha de Eufrasina, localizada em Paranaguá,
com nove anos de idade:
Quando eu cheguei de Santa Catarina, eu tinha nove anos, aí comecei a
trabalhar assim na lavoura, assim desde os nove anos mais ou menos, até uns 15
anos de idade. Depois de 15 anos pra frente eu comecei na pesca, a trabalhar na
pesca mesmo, direto. [...] O pescador como muita pessoa ele tem é curiosidade,
a pessoa, que a pessoa já vai viver daquilo, a pessoa não tem outro ramo para
viver, a pessoa vai aprender com os mais velhos que estão pescando, [...] A
minha natureza já foi mais de criação no mundo da pesca. Eu pescava ali no
Itimirim, Piaçaguera, tudo essa região aqui da costa, daqui de Piaçaguera para
cima, até Eufrasina eu pescava. Matava a pescada na época de reprodução dela
que era novembro, começava em novembro, comecinho de novembro, até
outubro. s caceiava pescada que era a safra dela [...] Aqui tem peixe de várias
marcas, tem pescada, tem pescadinha, tem robalo, tem garoupa, tem tudo que é
peixe, tainha, parati, saguá, linguado, tudo quanto é peixe (José Paulo Honório
Silva, entrevista, 28 set. 2011)
4
.
Nas narrativas conseguiu-se compreender as relações com a terra através das
lembranças do trabalho nas roças. Alguns resquícios dessa relação podem ser
observados em moradores que cultivam em seus próprios quintais árvores fruferas, tais
4
A palavra caceiava mencionada pelo entrevistado, se refere à técnica de pesca chamado caceio. O caceio
é uma técnica que consiste em deixar uma rede de emalho com boias e chumbos à deriva, presas ou não à
embarcação.
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como, s de mamão, banana, laranja e jambo. Na terra, aprenderam a cultivar frutas,
legumes e tubérculos adaptáveis ao solo da mata, a conhecer e utilizar plantas
medicinais. No mar, através do conhecimento aprendido com familiares e pescadores
mais experientes, aprenderam a observar o movimento das marés, a direção dos ventos,
os locais onde determinadas espécies de peixes se reproduzem e os perigos que
envolvem a profissão. As espécies de pescado mais capturadas são a pescada, camarão,
pescadinha, parati, garoupa, tainha, robalo, salteira, linguado, prejerava, cascudo,
sardinha, baiacu, coruvina, gueri, raia, bagre, badejo. Ostras, bacucus, siris e caranguejos
coletados nos manguezais e encostas também ajudam na complementação da renda das
famílias. O pesquisador José Milton Andriguetto realizou um calendário das principais
espécies de peixes capturadas nas vilas de Piaçaguera e Amparo. O autor demonstrou
que a captura das espécies robalão flecha, salteira e pescada amarela ocorrem entre os
meses de dezembro a março, a prejerava é capturada entre dezembro a janeiro, o parati
capturado o ano inteiro, a pescada branca entre os meses de maio a outubro, o gueri de
junho a outubro, o linguado de maio a agosto, o robalinho de junho a agosto, a
pescadinha membeca de junho a agosto (ANDRIGUETTO, 1999). De acordo com
Andriguetto (1999, p. 146), os meses de março, abril e setembro apresentam os pescados
de menor valor econômico.
Os pescados capturados encontram-se na Ba de Paranaguá, no Litoral do
Paraná. A Baía de Paranaguá faz parte do complexo estuarino lagunar Iguape-Cananeia-
Paranaguá que possui grande diversidade de ecossistemas. Estuário é uma massa de
água costeira semifechada que possui ligação livre com o mar aberto. Dentro dele a água
marinha se mistura com a água doce oriunda das áreas terrestres, como uma foz de rio,
um alagado, ou de massas de água atrás das restingas. Os estuários são locais de criação
para espécies importantes de mariscos, peixes e crustáceos utilizados na alimentação.
Ostras e caranguejos comestíveis permanecem nos estuários durante todo o seu ciclo
vital e vários tipos de camarões e peixes de alto mar passam parte de seu ciclo neles
(ODUM, 1988, pp. 370-380).
Para os pescadores, o mar configura-se como espaço envolto de significados, tais
como, vida, lugar de reprodução dos peixes, lugar de perigo, lugar aonde se obtém o
sustento diário. O pescador Gilberto Gonçalves do Rosário destaca que no mar é que
conseguiu criar seus filhos: “No mar é que eu criei meus filhos, minha vida é no mar”
(Gilberto Gonçalves do Rosário, entrevista, 26 jan. 2014). De acordo com Simone
Maldonado (1993, p. 35), muitos estudos que incorporam a percepção e organização do
espaço deixaram escapar uma de suas expressões mais vivazes, ou seja, a da
territorialidade. Territorialidade pode ser entendida como os processos e mecanismos
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pelos quais os grupos estabelecem, mantêm e defendem o usufruto de espaços
interessantes. A territorialidade se desenvolve através do tempo, passando de uma
geração a outra nos processos de socialização e transmissão da tradição. É uma
relevante dimensão da capacidade humana de conferir significado simbólico ao espaço.
Os seres humanos interpretam e compreendem a si mesmos e aos outros na interação
social. O tempo e o espaço lhe servem como pré-concepções para pensar a natureza e as
relações em que entrará com outros indivíduos neste mesmo processo. É nos modos
como movimentam-se, articulam-se e situam-se em termos espaciais e temporais que os
homens se distanciam e se aproximam, pertencem e se excluem (MALDONADO, 1993, p.
36).
As noções e significados presentes nas histórias de vida dos pescadores(as) são
fundamentais para entender o modo como eles lembram-se do desastre do navio Vicuña.
A seguir, analisam-se documentos e notícias de jornais publicados no contexto do
desastre.
O desastre nos documentos oficiais
Em 15 de novembro de 2004, ocorria na cidade de Paranaguá a festa de Nossa
Senhora do Rocio. Naquela data, como de rotina, o Porto Dom Pedro II funcionava
normalmente. Por volta das 19h45 min, duas explosões ocorreram no navio chileno
Vicuña que estava descarregando metanol no terminal de inflamáveis da Cattalini
Terminais Marítimos. Momentos após a explosão foram avistados fogo sobre o navio que
estava ao mar. O metanol, espalhado num raio aproximado de trezentos metros a partir
do navio, incendiou e permaneceu queimando por várias horas. Apesar de o metanol ser
o produto existente em maior quantidade no navio, foram os óleos combustíveis e
lubrificantes de dentro dos motores os principais causadores dos impactos ambientais
(LAUDO TÉCNICO, 2005, pp. 1-2).
As atas das reunes realizadas nos dias 15, 16, 17 e 19 de novembro de 2004,
trazem a discussão e tomada das decisões emergenciais. Das reuniões também foi
divulgado o Pre Release, documento com as principais informações a serem repassadas à
imprensa, dentre as quais, como reiterou o superintendente da Administração dos Portos
de Paranaguá e Antonina (APPA)
5
, Roberto Requião, “a de que o acidente não
5
A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina - (APPA) foi criada pelo Governo do Estado do
Paraná em 1947. No ano de 2014, o estado do Paraná através da Lei n.º 17.895, de 27 de dezembro de 2013,
regulamentada pelo Decreto n.º 11.562/14, transformou a Appa de autarquia para empresa pública.
Atualmente, a empresa pública é responsável por gerir os portos paranaenses através do Convênio de
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aconteceu no Porto de Paranaguá, mas num terminal privado e que deveriam ser
imputadas responsabilidades aos culpados pelo acidente” (ATAS DAS REUNIÕES, 15 e 16
nov. 2004). Outros pontos discutidos nas atas eram as ações de contenção das manchas
de óleo, combate ao incêndio, colocação de barreiras no local onde os destroços do navio
estavam e a elaboração da instrução normativa que proibiu a pesca por um período de
sessenta dias (ATAS DAS REUNIÕES, 2004).
No dia 16 de novembro, a notícia do desastre ganhou repercussão nacional.
Dentre as notícias destacam-se as publicadas nos jornais Folha do Litoral, O Estado do
Paraná e Folha de São Paulo. O jornal Folha do Litoral (2004, p. 4), destacava
informações da quantidade de combustível que o navio estava carregando, a quantidade
que estava no navio durante a explosão e comentários de autoridades. O jornal Estado do
Paraná (2004), trazia o comentário do superintendente da APPA, Roberto Requião, que
enfatizava que o acidente nada tinha a ver com o porto, por ter ocorrido em um cais
privado. A Folha de São Paulo (2004), destacava informações sobre as mortes e a
quantidade de metanol envolvido na explosão. O jornal reiterava que “a explosão ocorreu
no píer da Cattalini Terminais Marítimos, que é privado e não sofre ingerência direta da
APPA, controlada pelo governo do Estado” (FOLHA DE SÃO PAULO, 2004).
Em 30 de novembro de 2004, duas semanas após o ocorrido, pescadores e
lideranças de comunidades pesqueiras organizaram uma manifestação em frente da
empresa Cattalini. Após a ação, foram realizadas duas reuniões com representantes de
pescadores, advogados das empresas envolvidas no desastre e representantes da APPA.
Essas reuniões foram transcritas no documento memória de reunião. Na reunião do dia
30 de novembro de 2004, o advogado da seguradora P&I
6
afirmou que cobriria as
despesas das comunidades pesqueiras atingidas, propondo inicialmente, o pagamento de
meio salário mínimo e de cestas básicas aos pescadores. No documento foram
transcritas as declarações dos representantes dos pescadores e das autoridades. Na
ocasião, diversos dos representantes dos pescadores ressaltaram que as comunidades
atingidas estavam passando por grandes privações (MEMÓRIA DE REUNIÃO, 30/11/
2004). O advogado dos pescadores lembrou que além do acidente do Vicuña, outros já
haviam ocorrido e os pescadores sempre estavam sofrendo. O representante do
Mercado de peixes afirmou que os comerciantes se encontravam numa situação
precária, pois ninguém estava comprando o pescado e sugeriu que a imprensa deveria
Delegação nº. 037/2001, celebrado em 11 de dezembro de 2001 entre o estado do Paraná e a União com
validade de 25 anos, que vigorará até 1º janeiro de 2027, com possibilidade de prorrogação. Ver
em: (ADMINISTRAÇÃO DOS PORTOS DE PARANAGUÁ E ANTONINA, 2018).
6
Cooperativa de armadores que auxilia seus associados sempre que estes têm algum problema cujo risco
não é coberto pelo seu segurador.
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colaborar com notícias mais positivas. Finalizou sua declaração perguntando se era certo
um filho de pescador passar fome (MEMÓRIA DE REUNIÃO, 30/11/2004). Outro ponto
discutido no documento deu-se em torno da contratação de pessoas para trabalhar nas
atividades de limpeza e colocação de barreiras durante as operações de contenção da
mancha de óleo:
O Major Pombo alertou para o fato de que todos devemos ser mais práticos.
Disse que a entrega de cestas básicas está acontecendo por conta dos
cadastros já existentes nas Colônias de Pescadores[...] Existem pessoas
trabalhando na limpeza, outras alugando embarcações, as cestas foram
duplicadas e pesam 50 kg, custando cada uma R$ 129,66. O cadastro existente
mostra que existem, aproximadamente, 4445 pescadores cadastrados (1110 em
Guaraqueçaba e 975 em Antonina). Por que então não se pede ao Governador
que encaminhe um ofício a COPEL, e Companhia de água para que as contas
sejam abonadas? [...] Um representante da P&I disse que tem plena convicção
de que o navio não tem culpa. Disse que conversaram com a Cattalini, mas esta
não está ajudando nas medidas para auxiliar as comunidades e nem para ajudar
a mitigar os impactos, por isso achou saudável a manifestação. Disse que os
pescadores precisam ser compensados e não humilhados e acha que a Cattalini
deveria estar presente nessa reunião (MEMÓRIA DE REUNIÃO, 30/11/2004).
Na segunda reunião, o processo de negociação foi mediado entre o advogado dos
pescadores e o advogado da seguradora P&I. Em vários trechos do documento, o
advogado da seguradora deixou subentendido que pagaria meio salário mínimo aos
pescadores se estes não entrassem com ações contra a empresa. A seguradora e a
empresa Cattalini declararam que iriam pagar um salário mínimo emergencial e que
distribuiriam cestas básicas aos pescadores cadastrados nas Colônias. O Secretário de
Pesca, que também estava presente na reunião, reiterou que seria pago um seguro
desemprego emergencial que beneficiaria os pescadores com menos de seis meses de
carteira e os pescadores de mar aberto (MEMÓRIA DE REUNIÃO, 01/12/2004).
Em maio de 2005 foi publicado o Laudo Técnico do acidente do navio Vicuña. De
acordo com Laudo Técnico (2005, p. 53), os danos ambientais decorrentes do acidente
aconteceram em dois momentos. O primeiro, no momento da explosão, quando ocorreu
o vazamento da carga de metanol do navio, e o segundo, durante o derramamento dos
óleos diversos contidos no navio (bunker, diesel, lubrificantes), ocorrido a partir da
explosão com o rompimento de alguns tanques. Esses vazamentos representaram aporte
significativo de material contaminante com impactos de médios e longos prazos. Foram
diretamente afetadas pelo acidente trinta e seis comunidades do município de Paranaguá,
Guaraqueçaba e Pontal do Paraná (LAUDO TÉCNICO, 2005, p. 54). Em relação ao
documento é interessante observar a seção efeitos na pesca e conflitos sociais. Nessa
seção, são descritos os conflitos em decorrência da Instrução Normativa que proibiu a
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Memórias do Desastre Ambiental do Navio
Vicuña
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pesca e as negociações entre os pescadores e as empresas envolvidas no desastre. O
Laudo reitera que houve a necessidade de pagamento de seguro desemprego por parte
do Ministério de Trabalho e de fornecimento de cestas básicas para o atendimento
emergencial dos pescadores atingidos. No entanto, o fato de os pescadores não poderem
exercer sua atividade econômica trouxe uma série de conflitos que essas alternativas
emergenciais não puderam satisfazer (LAUDO TÉCNICO, 2005, p. 55). Nem todas as
famílias receberam cestas básicas, pois foi uma estratégia para atender somente os
pescadores ativos. Em relação ao pagamento de um salário mínimo emergencial, somente
a Cattalini pagou, pois como os pescadores entraram na justiça contra o P&I Club, este
se viu impedido de efetuar os pagamentos até a retirada das ações ajuizadas (LAUDO
TÉCNICO, 2005, p. 55).
Nas conclusões, o Laudo Técnico afirma que o acidente ocasionou impactos de
curto, médio e longo prazo, ainda a serem dimensionados, “tarefa que exigirá estudos
complementares em longo prazo” (LAUDO TÉCNICO, 2005, p. 65).
As lembranças do desastre
Ah, no dia do acidente foi uma noite né, numa noite e o pessoal ficou um pouco
assustado pela explosão do navio e depois da explosão, prejudicou um pouco a
pesca do pescador. Daí o pescador parou, não pescou por um tempo
determinado e nós sofremos com o acidente também [...] Diferenciou bastante,
porque o óleo é um produto que ele mata, não mata só peixe, como mata os
moluscos, a ostra, o bacucu, o siri, tudo as criações do mar ele prejudica, ele
mata, aniquila com a poluição do óleo. Tinha mais produção, porque o mar é
limpo e os peixes e os moluscos eles sobrevivem melhor no meio ambiente,
porque o mar é uma coisa que tudo que ele traz recolhe, não o óleo, mas tudo
que joga na água o mar acolhe e aquilo ali vai prejudicando os peixes e os
moluscos. Esse impacto aí que ficou pra nós diferenciou bastante. [...] tinha a
salteira, tinha a prejerava, a pescada, tinha o baderno e tudo diminuiu bastante
(Mariano Rodrigues Lourenço, entrevista, 28 set. 2011).
A narrativa acima pertence ao pescador Mariano Lourenço. Mariano descreve
inicialmente, o susto provocado pela explosão, o período de proibição da pesca e,
sobretudo, como os pescadores sofreram com os impactos do desastre. Sua lembrança
permite explorar o vivido, algo tratado de maneira distanciada nos documentos oficiais
do desastre do navio Vicuña. A primeira
pergunta do roteiro questionava aos
entrevistados(as) como eles se lembravam do acidente:
Como você se lembra do acidente do navio Vicuña?
Olha aquele, aquele quando explodiu nós estávamos assistindo assim em casa,
parece que era uma novela das seis, não sei e foi na boquinha da noite. Aí nós
escutamos aquele barulho, foi um grande barulho, daqui a pouco veio outro
estalo. Nós saímos para fora para ver, deu outro estouro, chegou até a dar uma
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tremida aqui. s só olhamos para lá, estava aquele fogo. Aquilo foi um
desastre, o óleo foi demais e um óleo preto assim, um óleo queimado. Meu pai
do céu, a rede, quem tinha rede e tarrafa assim que deixou na água, perdeu.
Olha Deus o livre, todo mundo ficou com medo, porque se o vento fosse de lá
para cá, da cidade para cá é até perigoso o fogo, foi muito feio demais. E morreu
muito peixe, porque muita gente tinha salvado até garoupa, dessas garoupas
mortas com o espinhaço pra fora. [...] Aqui no Amparo eu digo, porque isso aí
pra limpar mesmo, isso aí não limpa, porque até hoje se pegar uma enxada e
cavoucar já começam a sair o óleo de baixo da areia. Aquilo ali nunca se seca,
aquilo fica sempre úmido, já que a água enxuga o óleo. Até esses tempos tinha
marca ali no trapiche ainda. Foi muito feio demais, meu Deus (José Paulo
Honório Silva, entrevista, 28 set. 2011).
José Silva descreve os barulhos, tremores, o pânico e lembra-se da imagem do
fogo, do óleo preto e queimado, de um óleo cujos vestígios ainda podem ser encontrados.
José utiliza a palavra desastre para descrever o que viveu. A pescadora Maria do Rosário
também ressalta em sua narrativa o barulho da explosão, as imagens da fumaça e logo
depois relata que o peixe parou:
Como você se lembra do acidente do navio Vicuña?
Nós vimos aqui, deu aquele negócio de estouro, depois veio aquela fumaceira
que pegou o Rocio inteiro lá, ficamos com medo daquilo ali. Invadiu tudo o óleo
aqui também e foi bem perto, na frente do Rocio. Fiquei com medo, meu Deus
do céu vai acontecer alguma coisa né com esse negócio da Petrobrás.
Aconteceu que o peixe parou e que não podemos pescar mais, vinha esse
dinheiro que era pra vim pra nós e até agora não apareceu. O peixe parou,
morria peixe por tudo por aí atravessado pela praia (Maria Santos do Rosário,
entrevista, 20 jan. 2014).
As lembranças dos pescadores não trazem a data ou horário exato no qual o
desastre ocorreu. As suas primeiras referências remetem ao que estavam fazendo no
momento da explosão e em seguida, tentam descrever a percepção do barulho, das
explosões, da imagem do fogo no Porto de Paranaguá, da fumaça e do óleo que
contaminou e atingiu a costa de Amparo. De acordo com Michael Pollak (1989, p. 11), nas
lembranças mais próximas, aquelas em que guarda-se recordações pessoais, os pontos
de referência geralmente são de ordem sensorial: o barulho, o cheiro, as cores. Outro
fator observado, foram as entonações nas falas e as expressões faciais e corporais dos
entrevistados(as) quando lembravam do desastre. Henri Bergson (1999, p. 263), reiterou
que se tratando da lembrança, o corpo conserva hábitos motores capazes de
desempenhar de novo o passado, tais quais as atitudes em que o passado irá se inserir,
ou ainda, a repetição de certos fenômenos cerebrais que prolongam antigas percepções.
Esse aspecto irá fornecer à lembraa um ponto de ligação com o presente, um meio de
reconquistar na realidade presente uma influência perdida (BERGSON, 1999, p. 264).
Talvez por isso, as pessoas troquem de expreso diante de uma lembrança triste e
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traumática, aumentem o tom de voz, tente reproduzir os gestos, ou mesmo, fiquem em
silêncio diante de determinadas lembranças. Acredita-se que tais dados são importantes,
pois foram observadas variações nas falas e nas expressões faciais e corporais dos
pescadores quando se questionava a respeito da lembrança do desastre.
Outra questão contemplada no roteiro de entrevistas foi sobre o período de
paralisação da pesca. Nesse momento, a realização de entrevistas com os pescadores
considerados ativos e os considerados não ativos, utilizando dos termos presentes no
Laudo Técnico, foi importante para problematizar as medidas emergenciais. O pescador
Josias Mendes do Rosário estava aposentado quando o desastre aconteceu:
Eles vieram aqui né, vieram, passou no jornal, na rádio tudo né, aí parou a pesca
um mês e deram uma cesta básica também para o pessoal, eu não peguei [...] Ah,
eles chamaram o pessoal na Colônia lá e fizeram, tiraram Xerox dos
documentos e fizeram para receber dinheiro, mas até agora, sai de pouquinho
né, que dizer já pagaram um pouco já pagaram, mas não tá saindo tudo de uma
vez, já faz uns quatro cinco ano já, mais. O óleo é uma coisa que caí na água
mata qualquer coisa né, o óleo do navio, do tanque do navio não é nada, o ruim
é o óleo de dentro dos motores né, o preto, o óleo preto que não pode deixar
uma embarcação ali, a canoa que nem aquele ali branco se vem o óleo preto ali o
já fica ruim, já mancha tudo a canoa (Josias Mendes do Rosário, entrevista, 28
set. 2011).
Gilberto Gonçalves do Rosário lembra-se que entre as medidas emergenciais
houve a entrega de cestas básicas e a contratação de pescadores com embarcações para
trabalhar na colocação de barreiras:
Teve ajuda, eles deram cesta básica, a maioria também tinha uma quirerinha
guardada que foram mantendo. E nós também ajudamos muito, porque pegaram
o pescador para trabalhar lá né, maioria, eu não, porque eu estava aposentado,
mas quem tinha embarcação lá ganhou, porque eles pegaram para ficar lá
(Gilberto Gonçalves do Rosário, entrevista, 26 jan. 2014).
As medidas emergenciais, ou seja, a entrega de cestas básicas, o pagamento de
um sario emergencial e o recebimento do seguro desemprego, exclram todos os
pescadores aposentados e aqueles que não estavam registrados nas Colônias de
Pescadores. Em relação aos pescadores considerados ativos, o pescador José Silva
lembra que houve a contratação de pescadores para realizar pequenos serviços como a
colocação de barreiras e a limpeza das praias atingidas:
Olha eu acho, que eu me lembre mesmo, foi que mandaram o povo pro mar para
um servicinho que até foi Maíco aqui que era o presidente, que nós estava sem
ganha nada aí que arrumo, que daí arrumou um servicinho pra turma
trabalharem lá. Estavam pagando pra por as proteções, pra não passar óleo,
vazar o óleo. Depois de uma semana, uma semana quase que vieram com uma
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cesta básica pra dar pro pescador [...] (José Paulo Honório Silva, entrevista, 28
set. 2011).
O pescador Mariano Lourenço lembra que a empresa Cattalini mandou uma cesta
básica e que os pescadores trabalharam um mês nas atividades de coleta de óleo para as
empresas:
Foi um impacto bem prejudicial ao pescador. Foi determinado os dias, no
mínimo um mês, um mês e meio por aí [...]. A Cattalini especialmente nos
mandou uma cesta básica e nós trabalhamos aí um mês na coletação do óleo,
porque o óleo encostou muito aqui na costa, não só aqui em Amparo mais em
todas as ilhas, encostou e trabalhamos pra Petrobras e pra Cattalini um mês só.
[...] teve alguns peixes mortos e ficou tudo, foi tudo sempre um lado ruim pro
pescador. O pescador como eu já citei, ficou uns dias parado e morreu muitos
peixes também na explosão. No momento minimiza um pouco, porque o
pescador trabalha hoje para comer a tarde né, de manhã, para comer a tarde
então minimiza, mas na produção do pescado diminui bastante, porque o óleo é
um produto que acaba né que mata que aniquila. (Mariano Rodrigues Lourenço,
entrevista, 28 set. 2011).
Correlacionando as narrativas aos documentos escritos tornou-se possível
explorar alguns pontos importantes relativos ao período de paralisação e aos conflitos
envolvendo as medidas emergenciais. Cabe lembrar que o documento memória de
reunião traz o processo de negociação entre representantes de pescadores e
autoridades (MEMÓRIA DE REUNIÃO, 01/12/2004). Conflitos e negociações são também
os principais temas ressaltados no Laudo Técnico. Reiterando que o Laudo Técnico
(2005, pp. 55-56), afirma que as medidas emergenciais foram pensadas para atender os
pescadores ativos, considerando que os aposentados e outros profissionais continuariam
recebendo seus salários normalmente. O pescador aposentado Josias Mendes do Rosário
lembra-se que observou a entrega de cestas básicas, contudo afirma que ele não recebeu
(Josias Mendes do Rosário, entrevista, 28 set. 2011). Gilberto Gonçalves do Rosário
lembra-se da contratação dos pescadores e afirma que ele não trabalhou, pois estava
aposentado. Gilberto relata que muitas famílias utilizaram de suas próprias economias
para se manter durante o período de paralisação, ou em suas palavras, “uma quirerinha
guardada que foram mantendo” (Gilberto Gonçalves do Rosário, entrevista, 26 jan. 2014).
As lembranças dos entrevistados demonstram que os pescadores aposentados passaram
por grandes privações, sobretudo, que foram excluídos das medidas emergenciais. Cabe
destacar que mesmo aposentados, esses indivíduos utilizam o valor da aposentadoria
para pagar contas, medicamentos, consultas médicas e, mesmo assim, foram excluídos,
com o agravante de que dependem do pescado obtido diariamente para se alimentar.
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Cabe mencionar também que além dos aposentados, os pescadores sem cadastro nas
Colônias também foram excluídos e ignorados, pois não receberam nenhum dos auxílios
durante todo o período de paralisação.
Em relação aos pescadores considerados ativos, o pescador José Silva lembra que
“chamaram o povo para o mar para um servicinho”, referindo-se à contratação de
pescadores para trabalhar nas atividades de limpeza e contenção e menciona, que o
presidente da Associação de Pescadores arrumou o referido serviço (José Paulo Honório
Silva, entrevista, 28 set. 2011). Identificou-se no documento memória das reuniões que o
representante de Amparo, Osmair, também conhecido como Maíco, participou da
reunião representando a comunidade. No documento, o representante de Amparo
apresentou as principais privações passadas pelas famílias, destacou a falta de auxílio e
mencionou que a contaminação afetou o cultivo de ostras da sua comunidade
(MEMÓRIA DE REUNIÃO, 30/11/2004). Como apontado anteriormente, foi necessária
uma manifestação para que as autoridades dialogassem com os pescadores. Durante a
reunião, os representantes das comunidades pesqueiras solicitaram que a contratação de
trabalhadores priorizasse os pescadores afetados (MEMÓRIA DE REUNIÃO,
30/11/2004). Nesse ponto, a narrativa do pescador José Silva remete a participação do
representante local no processo de negociação, levando em consideração também, que a
contratação dos pescadores só passou a ocorrer após a manifestação pública.
Outro ponto para destacar é que os pescadores contratados no contexto da
paralisação não tiveram direito ao seguro desemprego emergencial (LAUDO TÉCNICO,
2005, p. 56). O que leva a refletir que, em virtude das privações, muitos pescadores
aceitaram a contratação temporária. Nesse sentido, uma pergunta extremamente
importante para se refletir é: Até que ponto as medidas emergenciais compensaram os
pescadores? Em nenhum momento as autoridades e empresas responsabilizadas
debateram ou refletiram sobre tal questão. Mesmo assim, fica evidente que para os
pescadores afetados, particularmente, para os entrevistados(as) nesse trabalho que o
desastre não foi compensado. O pescador Mariano lembra-se que no contexto do
desastre as medidas ajudaram a minimizar: “No momento minimiza um pouco, porque o
pescador trabalha hoje para comer a tarde [...] mas na produção do pescado diminui
bastante” (Mariano Rodrigues Lourenço, entrevista, 28 set. 2011). Sua lembrança permite
pensar que durante o período de paralisação famílias inteiras foram privadas de exercer
sua atividade. Quando esses pescadores e pescadoras voltaram a pescar, perceberam a
diminuição e o desaparecimento de espécies de peixes.
Torna-se essencial discutir também o Laudo Técnico, relatório que foi escrito
com o objetivo de dimensionar os impactos ambientais. Uma das suas conclusões aponta
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que o monitoramento ambiental seria importante para se obter o real dimensionamento
dos impactos causados pelo acidente (LAUDO TÉCNICO, 2005). No entanto, a questão é
afirmada apenas como conclusão, não existindo um planejamento ou menção de como o
monitoramento seria feito. Por outro lado, as lembranças enfatizam justamente os
impactos de longo prazo provocados sobre o ambiente. José Silva afirma que ainda é
possível encontrar as manchas de óleo em Amparo: “até hoje se pegar uma enxada e
cavoucar já começam a sair o óleo de baixo da areia” (José Paulo Honório Silva,
entrevista, 28 set. 2011). O pescador Mariano também ressalta que a contaminação de
óleo provocou mudanças no mar “O óleo é um produto que mata [...] tinha a salteira,
tinha a prejerava, a pescada, tinha o baderno e tudo diminuiu bastante” (Mariano
Rodrigues Lourenço, entrevista, 28 set. 2011). De acordo com Michael Pollak (1989, p. 13),
indiduos e certos grupos podem teimar em venerar justamente aquilo que os
enquadradores de uma memória coletiva se esforçam por minimizar ou eliminar. Se a
análise do trabalho de enquadramento é uma chave para estudar de cima para baixo
como as memórias coletivas são construídas, desconstruídas e reconstruídas, o
procedimento inverso, aquele realizado com os instrumentos da história oral, faz
aparecer os limites desse trabalho de enquadramento e ao mesmo tempo, revela um
trabalho psicológico do indivíduo que tende a controlar as feridas, as tenes e
contradições entre a imagem oficial do passado e suas lembranças pessoais (POLLAK,
1989, p. 13).
Deve-se ressaltar que as lembranças são construídas e reinterpretadas pelas
motivações presentes. Conforme a circunstância, ocorre à emergência de certas
lembranças, sobretudo, as de guerras ou de grandes convulsões internas remete sempre
ao presente, deformando e reinterpretando o passado (POLLAK, 1989, pp. 8-9). Nesse
sentido, pode-se observar que mesmo quando a questão era direcionada ao desastre de
2004, os entrevistados(as) lembravam-se do evento através das motivações presentes,
sobretudo, relatando como o desastre ainda provoca impactos no ambiente e afirmando
que não receberam as indenizações. De acordo com Ecléa Bosi (1994, pp. 415-416),
muitas vezes a mente remodela a experiência em categorias cheias de sentido úteis para
o presente. Um desejo de explicar atua sobre o presente e o passado integrando
esquemas pelo qual a pessoa norteia sua vida.
Se as lembranças dos pescadores(as) são reinterpretadas pelas motivações
presentes, a memória oficial, ou seja, aquela divulgada nos meios e comunicação e
publicada nos documentos, também foi construída e passou por um processo de disputa
para ser organizada. As notícias de jornais trazem informações divulgadas pelos
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documentos expedidos e os relatos das autoridades envolvidas nas medidas
emergenciais do desastre. Entre as informações que se repetem estão a de que o
acidente ocorreu num cais privado e não no porto, que os responsáveis pelo desastre
seriam multados e que as comunidades atingidas seriam devidamente compensadas. Nas
atas das reuniões as preocupações giram em torno das atividades portuárias, das
medidas emergenciais, da imagem do Porto de Paranaguá (ATAS DAS REUNIÕES DOS
DIAS 15, 16,17 e 19 de nov. 2004). Outro ponto importante para ver os limites e a
construção dos documentos oficiais é pensar na ênfase do Laudo Técnico no
dimensionamento dos impactos ambientais e na responsabilização dos culpados. No
contexto atual, com certa distância temporal do evento, sabe-se que não houve
monitoramento. Em relação às empresas multadas e responsabilizadas, ainda
permanecem questões não respondidas, como exemplo, o caso da empresa Cattalini,
multada em 50 miles e que compensou a sua multa com a construção de um aquário
marinho no valor de 5 milhões (GAZETA DO POVO, 2010). Uma obra de grande vulto que
concretiza o silêncio em torno dos verdadeiros impactos e do desastre ambiental,
impactos que de fato, não foram compensados.
Considerações finais
Indo além do que foi escrito e noticiado, as lembranças evocam as exclusões, as
privações sentidas durante a paralisação da pesca e evocam os impactos ambientais
provocados no espaço onde exercem sua atividade econômica. Os pescadores constroem
uma clara oposição entre um antes e um depois do desastre ambiental. Em suas
narrativas, relatam mudanças observadas no mar, nas espécies de peixes que
desapareceram e diminuíram após o desastre. Como apontado no início do texto, suas
percepções tomam como marcos as experiências retiradas das suas histórias de vida.
Suas referências são norteadas pelos conhecimentos, significados e interações
estabelecidas com o lugar onde vivem. Referências e interações que foram deixadas de
lado na construção de relatórios de impacto ambiental.
Desconsiderados, os pescadores foram compensados com medidas que os
excluíram e o desastre compensado com uma obra de grande vulto, construída para
enaltecer uma suposta consciência ambiental. Muito além do que foi descrito e
documentado, o mar significa vida para os pescadores e na medida em que o desastre
provocou mudanças no mar, também provocou mudanças nas suas vidas.
FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.6, nº1, p.120-140, jan.-jun., 2019
FIGUEIRA, Priscila Onório
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Naturais Renováveis - (IBAMA), Paranaguá, Paraná, Brasil.
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FIGUEIRA, Priscila Onório
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Fontes orais
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José Paulo Honório Silva, entrevista, 28 set. 2011.
Josias Mendes do Rosário, entrevista, 28 set. 2011.
Maria Santos do Rosário, entrevista, 20 jan. 2014.
Mariano Rodrigues Lourenço, entrevista, 28 set. 2011
Mariano Rodrigues Lourenço, entrevista, 16 fev. 2013.
Nazira Rosa, entrevista, 30 jan. 2013.