FACES DA HISTÓRIA, Assis-SP, v.6, nº1, p.203-222, jan.-jun., 2019
LEITE, Francine Suélen Assis; FALCÃO, Jairo Luis Fleck
216
A concepção de educação, naquele período, estava voltada para a pedagogia
tradicional, que consistia na maneira como era organizada a escola e que cabia ao
professor transmitir as lições e exercícios para que os alunos pudessem realizar as
tarefas com disciplina. Diante desse cenário, o professor podia ser “razoavelmente”
capacitado. A gestão da escola não era democrática, uma vez que os gestores eram
escolhidos pelo gestor estadual. Desse modo, foi necessário superar muitos desafios
para que a democracia educacional tivesse seu espaço garantido, pois a gestão
democrática “[...] oferece as oportunidades educacionais necessárias para a educação
básica de seres sociais produzidos na relação” (WITTMANN e KLIPPEL, 2010, p. 129).
Ao se referir às escolhas de direção, por exemplo, o entrevistado afirma que os
escolhidos eram pessoas de confiança do prefeito ou do governador, eram indicados
para o cargo, sem ter um consentimento da população e dos próprios funcionários da
escola,
a irmã Lucianete saiu e deixou o professor Domingos na direção da escola
Oscar Soares, e aí era cargo de confiança, naquela época diretor não prestava
concurso, não fazia nada, era cargo de confiança de prefeito e governador, se o
prefeito falasse “esse é o que vai cuidar da escola lá”, era ele... Certo?! E na
época o Riva era prefeito em Juara e ele [...] queria colocar alguém lá no gabinete
da escola só para receber, pra trabalhar que era bom não aparecia, aí o
Domingos não aceitou [...]. Aí o Riva na época não quis aquela proposta que o
Domingos tinha feito né, pegou um avião e foi pra Cuiabá e lá já fez um Ato
Governamental lá, no mesmo dia que ele chegou, exonerando o Domingos do
cargo da direção da escola, queriam colocar um outro cidadão lá, que tava
vindo, parece que de Goiás pra Juara, a mando deles lá, pra ser o diretor da
escola. Então foi uma das primeiras greves que aconteceu em Juara em escola
foi esta que nóis fizemos, porque o Domingos tava saindo e a gente não queria,
tudo bem que já tinha sido um Ato Governamental então não tinha como voltar
atrás de mais nada né, o Domingos já não era mais diretor da escola, só que nóis
professores e alunos não aceitávamos aquela imposição que queriam colocar,
iria ser um cidadão lá que não tinha conhecimento nenhum da educação, nós
aceitaríamos sim uma pessoa que estivesse dentro do nosso meio na escola ali,
que conhecesse da educação, porque uma escola tão bem conceituada ia deixar
na mão de qualquer um? Não! (João Donizete Molina, entrevista, 01 ago. 2017).
Por meio desse fato, inicia-se a primeira greve de profissionais da educação, em
Juara, na Escola Oscar Soares. Segundo Wittmann e Klippel (2010, p. 132), “as práticas em
gestão escolar, inerentes ao próprio movimento pedagógico-didático da escola, são
tarefas de todos os agentes envolvidos e demandam compartilhamento”, professores e
alunos da escola pesquisada param suas atividades para exigirem o direito de escolha
para diretor, queriam o direito de voz, segundo nos relata o professor, à época:
[...] Rodrigues Palma, que era o secretário de Educação na época, veio de
Cuiabá, ele que veio em Juara, fez uma reunião com todos os professores, pais
de alunos, alunos e tudo, pra falar então quem que nóis apoiaria pra ser diretor