A história nacional segundo o Visconde
de Porto Seguro
:
os dotes necessários
ao historiador
The national history according to the
Visconde de Porto Seguro
:
the
necessary skills of the historian
SÁ, Ana Priscila de Sousa
*
RESUMO: O artigo analisou o que o
paulista Francisco Adolfo de Varnhagen
entendia como os dotes necessários ao
historiador. No opúsculo Como se deve
entender a nacionalidade na história do
Brasil, o futuro Visconde de Porto Seguro
assinalou que o historiador precisava ser a
um tempo erudito, filósofo, literato e até
poeta. No essencial, as prescrições do
autor informam sobre um modelo de
escrita da história no Oitocentos brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE: Varnhagen; escrita da
história; Império do Brasil.
ABSTRACT: The article analyzed what the
paulista Francisco Adolfo de Varnhagen
understood as the necessary gifts to the
historian. As the nationality in Brazilian
history must be understood, the future
Visconde de Porto Seguro pointed out that
the historia
n had to be both a scholar, a
philosopher, a literary man, and even a
poet. Essentially, the author’s
prescriptions inform about a model of
writing history in the eighteenth century.
KEYWORDS:
Varnhagen; writing of
history; Empire of Brazil.
Recebido em: 08/08/2019
Aprovado em: 10/09/2019
*
Mestra em História pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA) São Luís, estado do Maranhão
(MA), Brasil. E-mail: priscilareds@hotmail.com
Faces da História
, Assis/SP, v.6, nº2, p.404-424, jul./dez., 2019
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Francisco Adolfo de Varnhagen, o Visconde de Porto Seguro, poderia ter iniciado
a História Geral do Brasil (1854-1857-1877, ou qualquer outra) como Jules Michelet o
fizera no “Prefácio” de 1868 de sua História da Revolução Francesa: “Uma palavra sobre
como se fez este livro. Ele nasceu no seio dos Arquivos” (MICHELET, 2010, p. 98). A
referência aos arquivos se apresentou logo no título da obra: História Geral do Brasil,
isto é, do descobrimento, colonização, legislação e desenvolvimento deste Estado, hoje
império independente, escrita em presença de muitos documentos autênticos recolhidos
nos arquivos do Brasil, de Portugal, da Espanha e da Holanda. Varnhagen investigava,
colhia, copiava, anotava, preparava sua obra. Na Correspondência ativa, que contém 242
cartas dirigidas a amigos, membros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB)
e do Ministério dos Negócios Estrangeiros e ao Imperador D. Pedro II, coligida por Clado
Ribeiro de Lessa, em várias ocasiões deu notícia de seu deslocamento por diversas
cidades e países em busca de documentação, inédita de preferência.
Varnhagen nasceu em Sorocaba/SP no dia 17 de fevereiro de 1816, nas terras da
Real Fábrica de Ferro de São João de Ipanema onde seu pai, o engenheiro alemão
Friedrich Ludwig Wilhelm Varnhagen, foi diretor e um dos pioneiros na fundição de ferro
no Brasil. Em 1823, a mãe D. Maria Flávia de Sá Magalhães e os filhos foram ao encontro
de Friedrich Varnhagen, agora nomeado administrador das matas portuguesas. No final
de 1825, Francisco Adolfo entrou para o Real Colégio Militar da Luz, em Lisboa,
concluindo-o em 1832. Em seguida, matriculou-se na Academia da Marinha e em 1834
findou seus estudos militares na Academia de Fortificações. Frequentou, entre outros,
cursos de Química, Botânica, Mineralogia, Física, Zoologia, Paleografia e Diplomática, o
que já demonstrava um interesse pela pesquisa de arquivo (LESSA, 1954, p. 89-99).
Colaborou em periódicos influentes no cenário das letras portuguesas como o jornal O
Panorama e a Revista Universal Lisbonense. Trabalhou mais de três décadas na
diplomacia imperial, prestando serviço em: 1842-1847: Lisboa/Portugal; 1847-1858:
Madri/Espanha; 1859: Paraguai; 1861-1863: Venezuela (cumulativamente com a
representação na Colômbia e Equador); 1863-1867: Peru (cumulativamente com Chile e
Equador); 1868-1878: Viena/Áustria, vindo a falecer em junho de 1878 na capital do
Império Austro-Húngaro, aos 62 anos de idade.
Do trabalho de décadas, ele fez sua História Geral. Mas que relato era esse e
como o historiador brasileiro deveria escrevê-lo? O artigo lançou algumas luzes sobre a
escrita da história segundo o historiador e diplomata paulista, importante artífice da
historiografia brasileira oitocentista.
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Varnhagen e a escrita da história nacional
Escrever uma história geral foi ideia presente nos planos do Instituto Histórico e
Geográfico Brasileiro (IHGB) desde sua fundação em 1838. Contudo, já em 1839
Raimundo José da Cunha Mattos
1
, um dos sócio-fundadores, ponderou que por ora não
convinha, “nem é possível escrever de um só jato a história geral do império do Brasil,
que seja digna dele e faça honra aos membros deste Instituto, que de tal tarefa houverem
de ser encarregados” (MATTOS, 1863, p. 122), o que indicava as dificuldades com o
trabalho de coleta e armazenamento das fontes colhidas em vários pontos do Império e
enviadas ao Rio de Janeiro, sede da agremiação, bem como a falta de um padrão de
escrita e aparato crítico capaz de reconstituir o passado que se pretendia narrar. O
Instituto se deu conta de que seria um árduo e longo trabalho, mas, em algum momento,
destes esforços deveria surgir essa história, estabelecida e escrita por um brasileiro que
exaltaria, mais do que o seu próprio nome, a honra de todos os nacionais. Era preciso
reafirmar as diferenças entre uma história geral entendida em termos processuais e as
outras formas mais habituais de escrever história.
Uma alteração interessante na definição do vocábulo história foi apresentada pelo
Dicionário de Eduardo de Faria de 1859 que, mantendo a ideia de história como narração
escrita de sucessos políticos, civis, etc., acrescentou como sinônimos a história universal
e a geral. Enquanto a universal compreenderia todos os povos e nações conhecidas, em
todas as idades, narrando os sucessos de cada uma delas e suas relações entre si, a
história geral narraria todos os sucessos de uma nação ou povo, de seu princípio até os
tempos modernos (FARIA, 1859, p. 326). Escrever um exemplar deste segundo tipo foi a
pretensão de Varnhagen desde, pelo menos, 1840.
Em 1854, a História Geral foi publicada com grandes expectativas de seu autor,
mas recebida com apatia pelo Instituto, cujo nome figurou na capa. A epígrafe nela
apresentada já dava mostras do ânimo do autor: A importância de uma História Geral de
qualquer Estado independente é reconhecida em todo o país culto” (VARNHAGEN, 1854,
s/p). A frase do Visconde de Cairu (1756-1835), alto nome da intelectualidade luso-
brasílica setecentista, indicava a valorização da obra, uma história geral, como
Varnhagen ora oferecia, era necessidade reconhecida por autoridades letradas como
Cairu, apreciado como o primeiro economista brasileiro, no sentido de introdutor da
Economia Política no Brasil.
1
Junto com Januário da Cunha Barbosa, Cunha Mattos foi um dos fundadores do IHGB em 1838. Membros
da Sociedade Auxiliadora da Indústria Nacional (SAIN), órgão que visava a incentivar o progresso e o
desenvolvimento do país, propuseram a criação daquela que foi a principal instituição letrada do Império.
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Falando em epígrafes, a escolhida para iniciar o “Prefácio” do Tomo II (1857) foi
analisada por Taíse Quadros como indício de que Varnhagen se encontrava muito ligado
ao país no qual se formou intelectualmente. Sua relação com o insigne representante da
Ilustração portuguesa Conde de Ericeira produziria uma ponte até a historiografia lusa e
suas regras de erudição, apontando também para a tensa contradição de fazer parte de
duas nações distintas, separadas recentemente. Para a autora, o Brasil, como pátria de
nascimento e escolha intelectual, nunca atenuou em Varnhagen a presença da erudição
lusa adquirida em seus anos de formação e experiência nos meios aristocráticos daquele
país. Nesse sentido, o historiador ocupava uma posição difícil em um tempo de severa
recusa das heranças lusitanas e afirmação dos aspectos autóctones (SILVA, 2006, p. 14).
A epígrafe em questão, pertencente ao “Prefácio” do livro Portugal Restaurado (1698),
afirma:
“Uma das maiores empresas do mundo (dizia o conde da Ericeira, D. Luiz de
Meneses) é a resolução de escrever uma história; porque além de inumerável
multidão de inconvenientes, que é necessário que se vençam, e de um trabalho
excessivo... no mesmo tempo em que se pretende lograr os frutos de tantas
diligências, tendo-se obtido formar o intento, vencer a lição, assentar o estilo,
colher as notícias, lançar os borradores, tirá-los em limpo, conferi-los e apurá-
los, quando quem escreve se anima na empresa... - então começa a ser réu, e
réu julgado com... excessiva tirania” (VARNHAGEN, 1857, p. V).
Ao lado de um “pertencimento” ao circuito historiográfico português, também é
possível que a escolha da citação de Ericeira tenha atendido a um procedimento
frequente em Varnhagen de recorrer a autoridades no assunto como argumento a favor
de seu trabalho. A frase era pontual e tinha o sentido explícito de se defender da censura
de seus leitores mais esclarecidos, dada a envergadura do trabalho que então tornava
público, além de informar um pouco sobre seu caminho metodológico de pesquisa. A
citação adiantava elementos que voltariam ao longo do “Prefácio”. Outro aspecto: para
alguém que recebeu educação esmerada e ocupou cargos de destaque, ser erudito era
requisito básico, independentemente de onde se desse essa formação. O silêncio com
que a obra foi recebida pelo IHGB se apresentou mais como questão de divergência de
“origem”, pelo autor ter uma postura diferente quanto aos índios. Varnhagen valorizou
muito essa aproximação, mas parece exagero conduzir a alguma reflexão segundo a qual,
de certa forma, ele visou escrever uma história de Portugal onde o Brasil figurasse como
parte importante, ou “excrescência portuguesa”, como anotou Armelle Enders (2014, p.
99).
Existiam muitas variáveis a serem consideradas a exemplo da formação
intelectual naquele país, a defesa da Monarquia como modelo de governo ideal para o
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Brasil, a dedicatória ao Imperador, mas afirmar algo desse tipo invalidaria, por exemplo,
as tentativas de construção de uma narrativa sobre o Brasil tomando a proclamação da
Independência como fio condutor, num esforço do qual Varnhagen não foi o único
participante. A razão para as escolhas de Varnhagen parece razoavelmente manifesta
levando em consideração o conjunto de sua obra: ele teceu um enredo de modo a
articular uma origem europeia que conferisse um ordenamento e civilização à jovem
nação brasileira que, até antes da chegada do colonizador, era habitada por sujeitos que
ele considerava selvagens e motivo de vergonha para um país que se pretendia poderoso
e respeitável no continente e diante da Europa. Certamente não há uma explicação
simplista, por isso as diferentes interpretações.
Em um horizonte ampliado, Taíse Quadros procurou questionar as supostas
raízes apenas nacionais da historiografia brasileira, preocupação dos autores
oitocentistas imersos num clima de negação e rechaço da lembrança colonial. O discurso
destes era de afirmação do verdadeiramente nacional, em contraposição ao que
recordasse a condição anterior, mas seria dificultosa uma cisão completa, cultural
principalmente, de um laço desse tipo, a situação era a de pouco mais de três décadas de
independente e passados mais de três séculos como Colônia. Ademais, a elite política
e/ou social brasileira tinha formação em Portugal, Coimbra, sobretudo. Houve em 1822 a
ruptura político-administrativa, o que não significava a inexistência, na prática, das
influências de formação que basicamente todo esse grupo de letrados teve, entre eles
Varnhagen.
Novamente a questão de fundo: não se estava engendrando uma escrita sob o
ponto de vista nacional? Não era questão de enjeitar completamente a herança lusa que,
além de ter constituído o irrevogável passado, formava seu elo com a civilização
europeia. Um passado como campo de experiências que, iluminado pelo presente, trazia
a figura de uma identidade (ARAÚJO, 2008, p. 155). O imperativo era, pois, afirmar um
presente e um futuro brasileiros.
Antes da História Geral, uma resposta ao imperativo da história pátria foi dada
pelo ex-general Inácio de Abreu e Lima
2
. No “Prefácio” do seu Compêndio da História do
Brasil (1843), declarou que seu objetivo era “lançar uma pedra no cimento do edifício”
que o Instituto estava construindo em prol da história pátria, e se apressou em informar
2
Inácio de Abreu e Lima foi um militar pernambucano que teve atuação destacada no processo de
Independência e instalação de Repúblicas na antiga América espanhola, embora no Brasil fosse
monarquista assumido. No início da década de 1840 publicou o Compêndio cuja premissa era, como o
nome revela, reunir escritos de outros autores que se ocuparam em estudar e escrever sobre história do
Brasil, aspecto esclarecido pelo próprio Lima no Prefácio da obra. Varnhagen escreveu um parecer sobre a
obra para a Revista do IHGB, acusando o militar de plágio, por seu trabalho ser bastante assentado sobre o
livro de Alphonse de Beauchamp que, segundo Varnhagen, copiou a obra de Robert Southey (LIMA, 1843).
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que muito pouco do trabalho era de “própria lavra”, porque se serviu “em grande parte
do trabalho alheio”, ou seja, o Compêndio se tratava de uma compilação de vários
autores que julgara mais habilitados, buscando reunir com eles o maior número de fatos
que lhe foi possível, organizando-os em série por meio de uma “muito exata dedução
cronológica”, dizendo contentar-se em “assinalar os fatos sem nenhuma reflexão”, pois,
[...] antes quis passar por simples cronista do que por historiador, reservando
minhas opiniões para não parecer temerário. E de certo, é quase impossível a
imparcialidade na história contemporânea; qualquer juízo acerca de um fato,
por imoral ou desonroso que seja, achará sempre quem o taxe de injusto, por
isso mesmo que, para quem o praticou, haverá sempre uma circunstância
favorável que o atenue. N’este conceito evitei, quanto me foi possível,
comprometer a honra ou ferir o amor próprio de qualquer homem, que
estivesse vivo, contentando-me com referir os acontecimentos, como se
passaram, e deixando à posteridade o direito de julgá-los (LIMA, 1843, p. XI-XII).
As confissões de Abreu e Lima demonstravam preocupação com o que seria uma
história do tempo presente, já que ser imparcial em tal situação lhe parecia impossível,
muitos atores dos eventos estavam vivos e era preciso resguardar a “arca do sigilo”
(GUIMARÃES, 1995, p. 516-522). Tentando fugir do possível embaraço, optou por se
apresentar como cronista e sem emitir muitas opiniões, o que indica que no início da
década de 1840 a escrita permanecia marcada pelo respeito à cronologia dos fatos, numa
história linear e contínua. Com essas precauções, acreditava narrar os acontecimentos
como eles se passaram e isso bastava. O Compêndio de Lima era um exemplo de sinopse
histórica, um trabalho que procurava registrar a sucessão dos eventos como um
processo finito e compreensível. Conforme Nelson Schapochnik, na tentativa de reverter
o quadro de dispersão documental e oferecer ao leitor da Revista do IHGB um panorama
da marcha da civilização brasileira, adotou-se esta forma de relato que forjava uma ideia
de processo histórico linear, tratando de fatos que ocorreram em momentos pontuais e
sem intervenção do locutor, como se falassem por si mesmos (SCHAPOCHNIK, 1992, p.
25).
Varnhagen também diferenciou historiador e cronista, declarando que “Como
cronista poderei ser mais adulador ou panegirista, como historiador produziria efeitos
negativos” (VARNHAGEN, 1961, p. 247, grifo do autor), o que pode ser mais bem
compreendido se observar o significado de ambos naquele momento. Tanto no
Dicionário de Moraes e Silva, quanto no de Silva Pinto, cronista era o escritor de crônica,
definida como uma “[...] história que se refere às coisas pela ordem dos tempos” (PINTO,
1832, p. 237). No Dicionário da língua portuguesa de Faria, historiador tinha
historiógrafo como sinônimo e mesmo ambos sendo “literatos” que escreviam história,
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difeririam as circunstâncias e os modos de fazer. Diferente de historiógrafo, fixado como
simples analista que reunia materiais e era pensionado do Estado ou de um príncipe para
escrever sua história, correspondendo basicamente ao que se chamava cronista; o
historiador compunha uma história, sem ser pensionado, quase sempre não
contemporânea. Era o que escolhia, punha em ordem, examinava os fatos, julgava os
homens e as coisas, costumando ser menos adulador e mais imparcial que o
historiógrafo (FARIA, 1859, p. 326).
A diferença entre historiador e cronista, residiria no fato de que, enquanto o
cronista se ocupava em ordenar a sucessão dos fatos e se permitia adular seu benfeitor,
o grande compromisso de um historiador era com a verdade. Varnhagen era patrocinado
por D. Pedro II, como tantos outros contemporâneos, mas segundo ele mesmo, jamais
adulador, pelo menos era o que repetidamente escrevia e talvez acreditasse. Uma rápida
olhada na Correspondência ativa derruba tal argumento.
A grande questão, porém, que uniu os nomes de Varnhagen e Abreu e Lima se deu
em torno da acusação, feita pelo primeiro, de que o Compêndio era fruto de um plágio.
Ferrenho crítico dos plagiadores, Varnhagen remeteu ao Instituto Histórico um parecer
qualificando Lima de “plagiário de 2º grau”, pois a obra seria uma cópia textual do livro
do “insignificante” Alphonse de Beauchamp que, por sua vez, já era uma cópia da History
of Brazil de Robert Southey (1810). No Primeiro Juízo (1844), escreveu que o escritor
francês “como escritor público, não inspira outro sentimento senão o desprezo”, visto
que “aproveita-se do trabalho alheio” e ainda assim “procura disfarçar o plágio, dá a
algumas ideias novas formas, suprime outras, sacrifica muitas vezes a verdade histórica
ao estilo fascinador, e portanto mais perigoso” (VARNHAGEN, 1844, p. 63-64).
Estendendo-se por mais censuras e defesas, a discussão que começou tratando de
questões relativas à escrita da história logo evoluiu para acusações pessoais, recheadas
de insultos de níveis variados, mais parecendo uma briga de inimigos de longa data, já
que acabou envolvendo Cunha Barbosa, desafeto político de Lima desde a época das
Regências.
O que pretendo chamar atenção com esse episódio é que Varnhagen dizia
escrever de forma conscienciosa e não perdoava quem desrespeitasse a “sagrada”
propriedade do entendimento, contudo, ele mesmo tinha problemas de citação em seus
trabalhos. Ao anotar a História Geral, Capistrano de Abreu afirmou que o autor era
muito mais descuidado e inexato do que pensava inicialmente e que “[...] pelo menos na
Torre do Tombo, levou para casa alguns documentos e se esqueceu de restituí-los: não
podia depois indicar a procedência” (ABREU, 1977, p. 165 apud GONTIJO, 2005, p. 171).
Ratificando o exposto do autor no corpo do texto, a citação funcionava como condição
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de autoridade. Enquanto pressuposto de uma historiografia moderna, as notas conferem
legitimidade e autoridade a um escritor (GRAFTON, 1998, p. 19), daí a importância das
notas de pé de página, por exemplo, para esta historiografia em processo de
profissionalização. Todavia, certa ausência delas não foi apanágio da obra
varnhageniana.
Varnhagen também foi acusado pelo geógrafo francês Armand D’Avezac de
apenas seguir o programa de Karl von Martius, embora nunca tenha confirmado.
Capistrano de Abreu fizera esta observação:
D’Avezac já observou que, na realização da história do Brasil, o visconde de
Porto Seguro se cingiu ao programa traçado magistralmente pelo grande
naturalista Martius. É uma observação esta muito justa, e que salta aos olhos de
quem conhece o trabalho de Martius e o de Varnhagen. O que, porém, ainda não
foi notado, é que na segunda edição o autor da Historia Geral enxertou nas
ideias de Martius as vistas luminosas de d’Avesac, contra as quais a princípio
protestara energicamente. Com o plano de Martius, Varnhagen atirou-se
francamente ao estudo. (ABREU, 1931, p. 196, grifo do autor).
De fato, é possível observar na produção de Varnhagen, como também em outros
autores como João Francisco Lisboa no Jornal de Tímon (1852-1858), temas que foram
recomendados por Martius ao historiador do Brasil, como o estudo geral sobre os índios,
direitos dos colonos e legislação colonial. A própria ideia da miscigenação, pela qual
índios e negros desapareceriam dentro da superioridade branca, havia aparecido na
Dissertação do botânico, como bem antes já aparecera na Representação à Assembleia
Geral Constituinte e Legislativa do Império do Brasil sobre a escravatura (1823) de José
Bonifácio de Andrada e Silva.
Nesses termos, seria possível concluir que autores como D’Avezac e Abreu
estavam corretos em sua declaração? Não se pode negar a presença de aspectos do
programa do naturalista alemão nos trabalhos de Varnhagen, mas afirmar
categoricamente que a obra do autor se resumia a uma aplicação direta do texto de
Martius seria reduzir em muito o vasto esforço de pesquisa que realizou desde jovem.
Martius forneceu o “modelo” que se tornou influente na produção da história do Brasil
(exatamente o escopo do concurso do qual participou), o que não significa que tudo o
que se escreveu depois dele o seguiu metodicamente. Varnhagen tinha uma concepção
de história diferente, além de ter feito séria oposição ao modo como Martius tratou o
indígena, com chance de ter sua dignidade reabilitada pelo contato com o branco.
Em carta ao colega Araújo Porto-Alegre, defendeu-se da acusação alegando que
para um homem “[...] que meditou a sua obra é injusto dizer-lhe que achou para ela o
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programa feito por Martius, quando aliás o achou também em todos os tratados do dia
acerca do modo como se deve escrever a história geral de qualquer nação”
(VARNHAGEN, 1961, p. 251-252).
Segundo a crítica de Sílvio Romero, exagerou-se o valor do texto de Martius,
chegando-se a atribuir a ele ideias trabalhadas por autores brasileiros como o reduzido
número de índios no país (Varnhagen), o florescimento das instituições municipais no
período colonial (João Francisco Lisboa), a contribuição de índios, negros e brancos para
a história do país (o próprio Romero). Protestando em “honra da inteligência nacional”, o
crítico sergipano declarou que não era preciso um alemão ensinar como se deveria
escrever a história do Brasil, seguindo um critério mais científico ou filosófico, além de
que seus ensinamentos eram evidentes (“triviais”) e correntes em todos os cronistas
anteriores como Fernão Cardim, Antonil, Cairu, entre outros. Para arrematar: a
Dissertação era um “tecido de despropósitos” que não se “elevava acima da mediana
(ROMERO, 1980, p. 1521-1533).
Do ponto de vista da periodização, a História Geral não inovou, obedecendo
basicamente a cronologia, mas sem reunir os fatos, agrupá-los e relacioná-los em
períodos característicos (RODRIGUES, 1978, p. 132), Varnhagen optou pela divisão em
seções. Nesse sentido, outra crítica de D’Avezac foi a de que o historiador errou ao
tratar dos índios apenas na seção VIII do primeiro Tomo da História Geral
3
. Capistrano
de Abreu observou que essa censura provocou mudanças sensíveis na segunda edição
do livro, pois nesta os capítulos referentes aos indígenas apareceram no início do volume
(ABREU, 1931a, p. 196). A versão oficial de Varnhagen, todavia, foi a de que mudou para
conferir maior harmonia ao todo, transferindo a seção respectiva à descrição do Brasil
em geral para o princípio e “[...] seguindo-se as respectivas aos índios, as quais, não só
onde estavam causavam grande interrupção no fio da narração, como ficam desta forma
constituindo melhor ponto de partida da obra toda” (VARNHAGEN, 1877, p. XVI).
E Varnhagen se preocupava muito com o ponto de partida. Leitor de Alexis de
Tocqueville, citou no “Prólogo” da História Geral de 1877 uma fala deste, como carta de
recomendação a quem desconsiderasse a importância do estudo da história colonial.
Tratava-se do trecho no qual Tocqueville afirmou que não havia um só acontecimento
que o ponto de partida não pudesse explicar sem dificuldade, pois “[...] os povos sempre
se ressentem de sua origem. As circunstâncias que acompanharam seu nascimento e
3
Saliente-se que Varnhagen havia explicado a disposição dos referidos capítulos nas notas ao final do
Tomo I. Na ocasião escreveu: “Nota 44, p. 88: A secção 7ª, bem como as três seguintes poderiam passar ao
princípio da obra sem prejudicar o arranjo total dela. Pareceu-nos porém que com o método que nesta
edão, pelo menos, adotamos, a ligamos melhor à história da humanidade em geral, na qual a do nosso país
há de um dia vir a figurar.” (VARNHAGEN, 1854, p. 446)
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serviram para seu desenvolvimento influem sobre todo o resto de sua carreira”, por ele
seria possível descobrir a causa “de tudo o que compõe o que se chama caráter nacional”
(TOCQUEVILLE, 2005, 36-37).
Varnhagen quis que a civilização europeia fosse o ponto de partida da civilização
brasileira. Trazer as seções VII, VIII, IX e X do Tomo I para as posições I, II, III e IV na
reedição do mesmo não alterava o argumento básico de colocar o Brasil num espectro
europeu, via colonização portuguesa
4
. Com a mudança, a primeira seção deixou de tratar
do “descobrimento” da América Central e navegações lusas para já começar com a
descrição do território mais tarde chamado Brasil, no momento da chegada de Pedro
Álvares Cabral. O historiador brasileiro tinha de ter como horizonte de escrita o
desenvolvimento da civilização do país. Assim, quais seriam os dotes para tal
historiador?
Como se deveria escrever a história do Império
Em 1852, Varnhagen escreveu um texto intitulado Como se deve entender a
nacionalidade na História do Brasil. Segundo Pedro Puntoni (2003, p. 638), foi a leitura
da introdução de Gonçalves Dias aos Anais Históricos do Maranhão (1749, reeditada em
1849), de Bernardo Berredo, que o levou a redigir este memorial anti-indianista, base de
sua crítica à operação ideológica dos românticos. Varnhagen noticiou sobre este trabalho
no “Discurso preliminar” que introduziu o Tomo II da História Geral, afirmando em nota
que este era o desenvolvimento de outro “escrito em 1852 com o título: Como se deve
entender a nacionalidade na Historia do Brazil? [...] este ano lido em duas sessões da
Academia da História de Madri” (VARNHAGEN, 1857, p. XV). No ano em que escreveu,
falara dele ao Imperador em carta de 18 de julho, remetendo-lhe para “Dar-lhe o destino
que mais conveniente Julgue” (VARNHAGEN, 1961, p. 188).
Neste artigo, o que importa reter sobre tal trabalho foi sua afirmação de que para
alcançar o título de historiador naquele século era preciso ser erudito no assunto sobre o
qual fosse se debruçar, filósofo, literato e, se necessário, até poeta (VARNHAGEN, 1948,
p. 229-230 apud SANTOS, 2011, p. 191). A erudição era importante para a escrita
histórica, estava relacionada ao levantamento e análise crítica dos fatos colhidos na
documentação. Varnhagen coligiu muitos documentos sobre o Brasil em arquivos
estrangeiros que não haviam sido trabalhados anteriormente. Em carta ao Primeiro-
secretário do IHGB Cunha Barbosa, explicou o procedimento:
4
Seção VII: Descrição do Brasil, com sua extensão atual; Seção VIII: Dos índios do Brasil em geral; Seção
IX: Dos tupis e guaranis em particular; Seção X: Ideias religiosas e organização social dos tupis.
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[...] por ora ainda me acho no primeiro século, graças à riqueza dos documentos
que cada dia vou achando na Torre do Tombo, e de que por ora não me ocupo
de tirar cópias, porém só apontamentos. Na minha Memória intitulada As
primeiras negociações diplomáticas respectivas ao Brasil se encontram já
muitos fatos históricos, que pela primeira vez aparecem conhecidos. [...] Porém,
ainda que as minhas averiguações hoje sejam relativas às épocas mais remotas,
não me descuido de diligenciar e obter cópias do que é importante ainda mais
moderno (VARNHAGEN, 1961, p. 92).
Competia ao historiador realizar o duplo trabalho de pesquisa documental e
ratificação de seu texto com a citação, a prova do trabalho fundamentado e validado na
documentação. Nesse sentido, nos Breves comentários à precedente obra de Gabriel
Soares (1851), informou que:
[...] nos presentes comentários, não repetiremos quanto dissemos nas Reflexões
críticas [...] Além de havermos em alguns pontos melhorado nossas opiniões,
evitaremos aqui de consignar citações que pudessem julgar-se nascidas do
desejo de ostentar erudição; desejo que se existiu em nós alguma vez, quando
principiantes, por certo que já hoje nos não apoquenta (VARNHAGEN, 1851, p.
368).
Varnhagen preferia não repetir o que já havia anotado no trabalho anterior,
aparentemente considerava suficiente que o leitor se atentasse a ambos e, dessa
maneira, eliminasse a necessidade das informações já conhecidas. Em outra chave,
poderia esperar que o leitor acreditasse em sua palavra, já que se garantia amparado nas
fontes. A erudição confirmava o trabalho de averiguação do material pelo pesquisador.
O outro dote do historiador era ser filósofo, pois:
[...] se não tem muito discernimento crítico (para o qual se necessita luzes gerais
dos conhecimentos humanos), se é elevado pela paixão, máxime por impulsos
menos nobres do ódio, ou de despeito, ou de vingança, se não é dotado de
independência de caráter, se não professa sãs máximas de política e de ciências
do governo, aplicáveis ao seu país, a sua obra será apenas uma crônica, mais ou
menos bem escrita [...] (VARNHAGEN, 1948, p. 229-230 apud SANTOS, 2011, p.
191).
Não objetivando desenvolver uma filosofia da história, a dita “pobreza filosófica”
de Varnhagen foi assinalada logo nos elogios de Basílio de Magalhães e Oliveira Lima,
para quem,
no autor, “superabundava em erudição o que escasseava [...] em espírito
propriamente filosófico”, pois a orientação que a sua “[...] inteligência pudesse ter
manifestado de começo para a consideração das causas dos acontecimentos [...] desviou-
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se na continuação pela insistente pesquisa de documentos para o restabelecimento da
verdade dos efeitos ou fatos” (LIMA, 1903, s/p).
Diante desse quadro, como seria preservada a objetividade levando em conta as
demandas políticas? Varnhagen responderia que a defesa do interesse nacional
permitiria, fazendo essa relação quando escreveu, por exemplo, que a “[...] integridade do
Brasil, já representada majestosamente no Estado e no Universo pela monarquia, vai
agora, bem que mui humildemente, ser representada entre as histórias das nações por
uma história nacional” (VARNHAGEN, 1857, p. VI), ressaltando seu próprio trabalho.
Na reedição da História Geral em 1877, enunciou:
Cada dia nos convencemos mais de que a história é um ramo da crítica, não da
eloquência; e que perante o tribunal dela, o historiógrafo não é um advogado
verboso e florido, mas antes um verdadeiro juiz, que, depois de averiguar bem
os fatos, ouvindo as testemunhas, com o devido critério, deve, feito o seu
alegado com o possível laconismo, sentenciar na conformidade das leis
equitativas da sociedade e humana justiça (VARNHAGEN, 1877, p. XII).
Varnhagen examinou os fatos sob o ponto de vista da autenticidade, integridade e
credibilidade, contudo, teria se limitado a construir uma narração reunindo esses dados
autênticos sem uma maior interpretação. Para José Honório Rodrigues (1978, p. 309),
algumas vezes ele foi incapaz de interpretar por insuficiência filosófica e teórica,
revisitando uma reflexão de Capistrano de Abreu num ensaio de 1882, quando este
escreveu que nas mãos de Varnhagen a história se uniformizava, de modo que pessoas
que conheciam a história pátria, infinitamente menos que ele, perceberiam que em seu
trabalho as épocas se sucediam sem se parecerem e, por vezes, sem se continuarem
(ABREU, 1931b, p. 206). Um contemporâneo de Abreu, João Ribeiro, fez avaliação
semelhante, pois entendia que para “fazer história”, entre outras coisas, eram
indispensáveis as qualidades literárias, o senso crítico e a arte de bem escrever. Em seu
entender,
Os nossos historiadores, e Varnhagen é um exemplo modelar, confundem a
historiografia e a história, e fazem da vida uma função de arquivos e cartórios.
Este seco e árido materialismo dos papéis velhos embota a imaginação e,
armando aos papalvos, com seu cemitério de almas penadas, impede a
comunicação com os vivos. É verdade que os ossos ficam e são por isso mais
acessíveis; todavia, o passado não pode ser composto de esqueletos. Há de ser
vida ou coisa nenhuma (RIBEIRO, 1961, p. 5 apud GONTIJO, 2005, p. 175).
Novamente Abreu, agora no Necrológio do Visconde de Porto Seguro de 1878,
ponderou que faltava ao historiador paulista o “espírito plástico e simpático” (ABREU,
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1931a, p. 138), o que equivalia ao cemitério de almas penadas de que falara Ribeiro. Pelos
pareceres de Rodrigues, Ribeiro e Abreu, Varnhagen teria sido mal sucedido em três
aspectos que ele mesmo considerava importantes para a escrita histórica.
Na narrativa varnhageniana, o historiador se comportava como juiz, sendo-lhe
facultada a distribuição de elogios e punições. Palmas mereciam, por exemplo, o
Imperador D. Pedro II, organizador do Império e “monarca amigo das letras”, por outro
lado, sentenças foram distribuídas para os envolvidos na Conjuração Baiana (1798), para
o autor, uma clara possibilidade de reedição dos “horrores” que ocorreram na França e
no Haiti (VARNHAGEN, 1857, p. 292). Nessa narração também deveriam constar os
nomes que fizeram parte da construção da nação. É preciso salientar que para compor o
quadro dos “heróis” nacionais não figuraram só brancos. Não se está questionando a
defesa que ele fazia da superioridade da raça branca, esse foi um aspecto estrutural de
sua obra, porém, um “herói” da narrativa varnhageniana seria, mais que um branco,
alguém que estava do “lado” do Brasil, de maneira que, junto com o branco André Vidal,
poderiam aparecer o negro Henrique Dias e o índio Felipe Camarão.
O ser brasileiro se constituía por oposição ao estrangeiro, o que não significava
odiar o estrangeiro, que poderia ser um amigo do Brasil. Seu patriotismo não era pautado
no ódio àquele, como reafirmou diversas vezes, por exemplo, na carta de 14 de julho de
1857 a D. Pedro II, em que falou de buscar inspirações de patriotismo sem ser no ódio a
Portugal ou à “extrangeira Europa” (VARNHAGEN, 1857, p. 247, grifo do autor).
No caso das invasões holandesas do século XVII, afirmou que apenas o contato
com a cultura holandesa teria sido suficiente para melhorar o nível das então Capitanias
da Bahia e Pernambuco. Ao estrangeiro que derramasse seu sangue pelo Brasil seria
conferido “pelo batismo do sangue a mais valiosa carta de naturalização...”
(VARNHAGEN, 1854, p. 337). Esses personagens ministraram exemplos de patriotismo
para as gerações posteriores e a história também tinha essa utilidade. Os trabalhos
acerca da história pátria poderiam prestar auxílios ao estadista, jurisconsulto, diplomata,
naturalista e aos vários artistas, além de fazer com que os súditos fossem “[...] úteis ao
saber humano em geral, entrando na grande comunhão científico-literária europeia, de
que por outro lado tantos auxílios recebemos, por meio da oferta de novos dados [...], em
proveito da ilustração do país” (VARNHAGEN, 1857, p. VII).
Para Laura Oliveira, as prescrições expostas por Varnhagen lembram autores
como Luciano de Samósata, Horácio e Tucídides, de modo que sua obra teria sido
estruturada a partir de uma releitura dos clássicos antigos ao buscar tanto a concepção
da história utilitária, quanto a noção de que a atividade do historiador era eminentemente
judicativa (OLIVEIRA, 2007, p. 77). Nesse sentido, em carta ao Imperador, o autor
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manifestou contentamento por conta dos elogios recebidos de von Martius, para quem a
História Geral era uma obra que “[...] respira tanto patriotismo, tão clássico sentimento
moral antigo, tão são desejo de melhorar a ordem social, - uma obra que respira toda a
gravidade, pela qual os antigos tanto nos encantam” (VARNHAGEN, 1961, p. 259),
demonstrando a ainda influente presença dos clássicos antigos nessa historiografia, não
como imitação, mas ressignificada.
Como último dote prescrito em Como se deve entender... estava o de que o
historiador deveria ser literato ou mesmo poeta, no sentido de ter uma escrita agradável,
não como licença para improvisar. O historiador não precisava ser “florido”, contudo,
uma história mal escrita não despertaria o interesse do público, por isso a preocupação
literária. Sobre a redação da História Geral notificou no “Prefácio”:
[...] o estilo depende muitas vezes das disposições do ânimo, originadas de
causas que nem sempre está em nós remover. Demais: no primeiro volume
desta obra, principalmente, capítulo há escrito com diferença de cinco ou seis
anos do que lhe está vizinho; segundo no-lo permitiam as ocasiões de que então
dispunhámos, para ir pondo em ordem, e tirando do caos, os apontamentos que
tínhamos, e que até certo ponto nos escravizavam a pena. [...] A linguagem
estudamos que saísse castiça e de boa lei (VARNHAGEN, 1857, p. XI-XII).
As colocações deste trecho apontam para as lições sobre estilo apresentadas pelo
Conde de Buffon no Discurso de 1753, segundo as quais não haveria nada de mais
antagônico ao belo natural do que o esforço em exprimir coisas ordinárias ou comuns de
um modo pomposo. Era preciso dominar o tema e refletir sobre ele “[...] para divisar com
clareza a ordem dos seus pensamentos e deles elaborar uma sequência, uma cadeia
contínua, em que cada ponto representa uma ideia”, assim estaria assegurada a unidade,
tornando o texto “preciso e simples, igual e claro, vivo e contínuo” (BUFFON, 2011, p. 9-
10). Varnhagen recomendava uma escrita elegante e sem excessos, mas reconhecia que
as distâncias de escrita entre uma seção e outra de seu trabalho atrapalharam a unidade
do estilo.
Um trabalho em que demonstrou grande preocupação nesse sentido foi a Crônica
do descobrimento do Brasil. A Crônica foi publicada entre 18 de janeiro e 28 de março de
1840 no jornal O Panorama, nela, Varnhagen fez o relato romanceado da chegada de
Pedro Álvares Cabral nas terras que seriam denominadas de Brasil, com destaque para a
Carta do escrivão oficial da esquadra ao Rei de Portugal. A escolha da temática tinha a
ver com a premente necessidade de se criar uma gênese para a nação brasileira de
então, e na perspectiva de Varnhagen o passado mais recuado do Brasil era justamente a
chegada da esquadra cabralina, logo, as raízes brasileiras estariam na colonização
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lusitana. O fato de o opúsculo ter saído em O Panorama evidencia que a perspectiva
nacionalista do autor estava ligada aos pressupostos românticos em voga naquele
período, pois, diferente de sua relação com os chamados indianistas no Brasil, em
Portugal esteve associado ao periódico que mais animou o movimento romântico,
contando inclusive com Alexandre Herculano em sua redação nos primeiros anos (1837-
1839), além de ser publicado pela Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis, a
mesma tipografia da Academia Real de Ciências de Lisboa, da qual Varnhagen foi
admitido sócio desde 1839 com as Reflexões críticas sobre o escrito do século XVI,
apadrinhado pelo Barão de Eschwege, outro alemão que serviu ao Estado português,
companheiro de Friedrich Varnhagen nos tempos da Fábrica de Ferro. Varnhagen
descobriu que se tratava da autoria de Gabriel Soares de Sousa.
Colocando lado a lado episódios reais e personagens referenciais com
personagens ficcionais, a Crônica é um exemplo de “ficção histórica”, pois estabeleceu
uma tensão entre a ficção e a história, relacionando a personagem inventada e a
histórica. Como uma recriação ficcional do “Descobrimento” do Brasil, é um trabalho que
pode questionar os elementos definidores da história e da ficção no contexto
oitocentista, pois nele a ficcionalidade foi obtida a partir de um documento “oficial”, a
Carta de Caminha (TASCA, 2012, p. 113). Aliás, o personagem Caminha é um exemplo de
reconstrução ficcional de uma personagem histórica que oscila entre o relato
documental e a recriação imaginativa, mas Varnhagen remeteu mais ao relato original,
utilizando vários trechos literais de suas fontes para compor o trabalho. O capítulo em
que tratou dos indígenas, por exemplo, foi retirado em grande parte do relato do escrivão
da esquadra.
No conjunto, os preceitos de Varnhagen encontram as colocações de Leopold von
Ranke quando este afirmou que a história enquanto ciência se aproximava da filosofia e
enquanto arte, da poesia. A diferença estava no fato de que filosofia e poesia, de maneira
análoga, se movimentam no plano das ideias, enquanto a história não tem como
prescindir do plano real. Para Ranke, esta precisava ser ciência e arte ao mesmo tempo,
entendendo-se que a própria existência da arte atesta sua validade, já a ciência, bem
como seus conceitos, tem de ser estudada em profundidade e ser clara (RANKE, 2015, p.
202-203).
Segundo Varnhagen, o método do historiador consistia em examinar o
documento, buscando a verdade dos fatos nele contido e apurando essa verdade por
meio das provas levantadas, com isso poderia transmitir a sentença ao público,
imparcialmente. Outro momento importante da pesquisa histórica para o autor eram as
viagens. Em carta ao Imperador, descreveu certo itinerário: dentre outras cidades,
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passou por Roterdã, Amster, Utrecht, Berlim, Potsdam, Viena, Munique, Genebra,
Lyon, Montpellier, Barcelona, completando que tudo isso se deu “[...] rapidamente, já se
vê, e só à força de atividade, e de considerar o viajar e o tempo, uma espécie de
obrigação” (VARNHAGEN, 1961, p. 210). Cezar anotou que isso derivava de um princípio
antigo utilizado pelo autor, a autópsia, nela, a visão surgia como fundamento
epistemológico do ato de pesquisar (CEZAR, 2018, p. 57).
Para Arno Wehling (1999, p. 44-132), Varnhagen pertenceu a uma geração
influenciada pelo movimento romântico, atribuindo maior importância à pesquisa
documental, para realizar um trabalho mais consistente. Sua obra corresponderia ao
historicismo romântico-erudito que os historiadores alemães denominaram historismo,
privilegiando a explicação hermenêutica, a investigação empírica e o domínio de técnica
de análise documental, derivando, portanto, de uma fundamentação historista e estatista.
Em leitura análoga, José Honório Rodrigues afirmou que Varnhagen foi influenciado pela
metodologia alemã e pela diplomática francesa (RODRIGUES, 1978, p. 309).
No entanto, parece apressado “encaixar” Varnhagen em uma “escola”. Pensando
obras importantes do século XIX nesse sentido, tem-se que Varnhagen não leu os
Grundriss der Historik de Johann Droysen pelo menos até antes da primeira edição da
História Geral, aferível por uma questão de datas, 1858 e 1854-57, respectivamente.
Quanto ao manual Introduction aux études historiques, de Charles-Victor Langlois e
Charles Seignobos, só foi publicado em 1898, portanto, uma década após a morte de
Varnhagen. Esses fatores, porém, não impedem de reconhecer nele aspectos
característicos da produção histórica de seu tempo.
Um exemplo prático pode ser encontrado na obra de Estevão de Rezende Martins
que ressaltou que na historiografia de inspiração historicista as elaborações teóricas
podem ser localizadas nas introduções, nos posfácios, nos resumos ou outros tipos de
reflexão conclusiva nos quais os autores prestam contas ao leitor dos referenciais que
orientaram sua pesquisa (MARTINS, 2008, p. 28). No caso de Varnhagen essa
observação é muito válida, porque geralmente fazia essas apreciações nos prefácios,
menos no corpo do trabalho. Porém, o próprio autor confessou não ter seguido
servilmente nenhum modelo para escolher os assuntos que trataria. Fez-se historiador
escrevendo história. Lucia Guimarães (2018, s/p) pontuou que ele foi um historiador
predominantemente empírico, o que não significava ausência de embasamento teórico.
Por razões como essa, determinar quem pode ter sido seus principais interlocutores não
é tarefa das mais simples. Tendo lido/citado textualmente ou não Ranke, Droysen ou
outros contemporâneos, aproximou-se manifestamente deles. Droysen escreveu que
“[...] em nossa ciência, talvez o grande mérito da Escola Crítica, [...] dentro de uma
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perspectiva metodológica, seja o de ter incutido a visão de que a comprovação das
“fontes” [...] é o fundamento de nossos estudos” (DROYSEN, 2015, p. 41), Varnhagen
frequentemente afirmou que seu trabalho estava amparado nas fontes mais puras,
podendo ser comprovado por elas.
Falando em imparcialidade, tinha dificuldade em respeitar este princípio. Um
exemplo dos mais curiosos foi ter dedicado uma seção (elogiosa) de sua principal obra ao
trabalho do próprio pai na Fábrica de Ferro do Ipanema, no interior de São Paulo (Tomo
II da História Geral), argumentando tratar da fundição de ferro no Brasil. Ele mesmo
reconhecia quão “[...] espinhosa é por enquanto a tarefa da imparcial narração desse
período, sobretudo para um nacional. Daqui a poucos anos não o será” (VARNHAGEN,
1961, p. 201), referindo-se ao período da Independência, o que não o impediu de escrever
uma História da Independência, publicada postumamente (1916), ainda que uma história
do tempo presente fosse um gênero pouco recomendado na época, inclusive dentro do
Instituto.
Sobre uma história do Brasil escrita por índios e negros conjecturou que:
Um índio que escrevesse a história da Conquista não teria que cansar-se muito
para nos dizer que para ele tudo quanto haviam feito os Europeus fora
violência, ilegitimidade, usurpação; e com inscrever estas três palavras no
frontispício de um livro em branco satisfaria a sua missão, sem rebuscar
documentos nos arquivos inimigos; pois que lhe faltaria tempo para contar-nos
a miséria, degradação e antropofagia dos seus. Eis a história nacional se os
índios do mato conquistassem todo o Brasil, e se este tivesse por chefe a um
Ambiré e por armas uma frecha índia espetando a caveira de um cristão. [...] Um
infeliz Africano, que escrevesse a história do cativeiro hereditário, poderia
também compendiar a sua obra exclamando: Engano, crueldade e escravidão!
(VARNHAGEN, 1857, p. XXV-XXVI, grifo do autor)
Interessa atentar para os grifos em itálico do texto. Diluído no sarcasmo que
empregou para tratar de uma eventual história escrita do ponto de vista de índios e
negros, Varnhagen revelou outros aspectos que compunham seu modo de pensar essas
questões. A história da Conquista que um indígena ou escravo escrevesse seria inválida
porque não revelaria o todo nacional, apenas uma parte e não a principal, pois não
representavam uma nação que se queria civilizada. No esforço do autor, não havia
incompatibilidade em valorizar a ocupação portuguesa do território e o desejo de
independência.
Cabe destacar, porém, que a maior parte das críticas à sua obra são relativas ao
seu estilo de escrita, frequentemente descrito como pouco brilhante, ou como aquele que
privilegiava temáticas em detrimento de outras, por exemplo, não ao que ele decidiu
colocar como “nacional” (CEZAR, 2007, p. 171). Nesse sentido, em carta de 1890 ao Barão
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do Rio Branco, Capistrano de Abreu deu conta de sua resolução em escrever “uma
História modesta, a grandes traços e largas malhas”, por querer “encadear melhor certos
fatos, e chamar a atenção para certos aspectos até agora menosprezados” e “dizer
algumas coisas novas e pelo menos quebrar os quadros de ferro de Varnhagen que,
introduzidos por Macedo no Colégio Pedro II, ainda hoje são a base de nosso ensino”
(ABREU, 1977, p. 130 apud GONTIJO, 2005, p. 174). Abreu queria apresentar outra
história que não a tal “massa ciclópica de materiais” (ABREU, 1931a, p. 135) que
Varnhagen teria acumulado e chamado História Geral do Brasil.
Considerações finais
Uma das grandes preocupações do Oitocentos brasileiro foi a escrita de uma
história nacional. O historiador erudito, filósofo, literato e se preciso poeta do Brasil
seria o que produzisse uma narrativa afinada com o projeto de construção da unidade da
nação, e tentando observar esses dotes que via como necessários ao ofício daquele,
Varnhagen foi um artífice dessa produção, sua obra como um todo, e em especial a
História Geral do Brasil, fez parte desse esforço de dar ao Império uma história digna de
o colocar entre as nações mais civilizadas do mundo.
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