ALVARENGA, Julio Eduardo Soares de Sá
*
https://orcid.org/0000-0002-0951-0491
CASTELO BRANCO, Pedro Vilarinho
**
https://orcid.org/0000-0002-3380-3438
RESUMO: O presente artigo tem como
objetivos principais discutir contextos
históricos das pornochanchadas, dominação
masculina, utilização da nudez e as formas
como mulheres eram representadas nesses
filmes, de forma dialogada com referências
bibliográficas de história e gênero, identidades
e teoria do cinema. Como fontes, utiliza os
filmes Um Virgem na Praça (1973), dirigido por
Roberto Machado e Mulheres Violentadas
(1977), dirigido por Francisco Cavalcanti, além
de arquivos hemerográficos e notícias da
internet. O recorte temporal escolhido é a
década de 1970, e coincide parcialmente com o
período de maior efervescência das
pornochanchadas no Brasil. Os interlocutores
utilizados são E. Ann Kaplan, Linda Williams,
Marc Ferro, Pierre Bourdieu e Stuart Hall,
entre outros.
PALAVRAS-CHAVE: Cinema; Dominação;
História e gênero; Pornochanchadas.
ABSTRACT: The main objective of this article
is to discuss historical contexts of
pornochanchadas, male domination, use of
nudity and the ways women were represented
in these films, in a dialogue with bibliographic
references of history and gender, identities
and theory of cinema. As sources, we used the
films Um Virgem na Praça (1973), directed by
Roberto Machado and Mulheres Violentadas
(1977), directed by Francisco Cavalcanti, in
addition to hemerographic archives and
internet news. The time frame chosen is the
1970s, which partly coincides with the period
of greatest effervescence of pornochanchadas
in Brazil. The interlocutors used are E. Ann
Kaplan, Linda Williams, Marc Ferro, Pierre
Bourdieu and Stuart Hall, among others.
KEYWORDS: Cinema; Domination; Gender
and History; Pornochanchadas.
Recebido em: 07/08/2020
Aprovado em: 09/11/2020
* Mestre em História do Brasil pela Universidade Federal do Piauí, Teresina-PI. E-mail:
julioeduardoalvarenga@gmail.com. O presente texto é parte da dissertação de mestrado intitulada
Histórias que Nossos Pais não Contavam: Lazer teresinense com enfoque no consumo de cinema (1976-
1982), de autoria de Julio Eduardo Soares de Sá Alvarenga.
**
Doutor em História pela Universidade Federal de Pernambuco. Professor do Programa de s-
Graduação em História do Brasil (PPGHB) da Universidade Federal do Piauí, Teresina-PI. E-mail:
pedrovilarinho@uol.com.br.
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
Introdução
Pensar o cinema enquanto fonte histórica é um desafio para os pesquisadores, em
razão das características ficcionais presentes nos filmes. É necessário utilizar teorias,
metodologias e fontes que dialoguem com eles e que sejam consoantes com espaços e
temporalidades. Segundo Robert Stam, o cinema torna quase imprescindível o uso de
múltiplas molduras teóricas para sua compreensão, e a evolução de reflexões dessa área
não foi uma progressão linear, com fases e movimentos, o que reforça a ideia de que as
concepções teóricas sobre cinema variam de acordo com a região e época abordadas
(STAM, 2013, p. 15-16).
Ao escolher as pornochanchadas
1
como objeto de pesquisa, partindo da
perspectiva teórica do campo História e Gênero, a análise do pesquisador pode
percorrer diversas questões, como corpo, sexualidade, trabalho e lazer. Contudo, no
presente artigo, os objetivos principais são entender os contextos históricos dos filmes e
perceber como a dominação masculina era configurada nos registros ficcionais, bem
como as formas de representação femininas. No artigo, utiliza-se como referências
historiadores que ajudam a pensar a complexa relação entre ficção e realidade, questão
sempre instigante no campo historiográfico. Com relação às fontes, empregam-se
particularmente as informações que circularam em jornais do período em análise.
A escolha da década de 1970 resulta do sucesso que as pornochanchadas tiveram
naquele momento histórico. O período compreendido entre 1976 e 1982 é considerado,
pelos pesquisadores da temática, como o auge desse gênero cinematográfico. A análise
ocorreu por meio de dois filmes, um, do começo dos anos 1970, e um do final Um
Virgem na Praça (1973) e Mulheres Violentadas (1977). A produção das referidas obras
coincidiu com o período da Ditadura Militar brasileira (1964-1985), marcado pela censura,
com forte viés conservador e moralista no tocante à sexualidade (SAGGIORATO, 2008).
Essa postura, àquela época, era apoiada por alguns setores midiáticos e educacionais,
instituições que defendiam os valores da moral familiar, quase sempre fundamentada em
princípios religiosos. A atuação desses grupos se dava no sentido de censurar ameaças
ao governo e materiais com conteúdo sexual, tidos como perigosos à população. A
contradição entre as posturas conservadoras e o sucesso das chanchadas eróticas, na
segunda metade do século XX, cria ricas possibilidades de análise.
1
Termo que primordialmente foi utilizado pela mídia, de forma pejorativa, para designar filmes de baixa
produção, que utilizavam do erotismo para atrair público. Os críticos do cinema teriam agregado o prefixo
"pornô", contração de pornográfico, ao termo "chanchada", alusão às comédias produzidas em meados do
século XX (GOMES, 2017).
Stuart Hall, ao abordar o conceito identidades, afirma que, por causa da
velocidade de informações, em um mesmo local, pode haver grupos que carregam entre
si profundas divergências de opiniões e modos de viver; as contradições estariam
intrínsecas até mesmo nos indivíduos, que assumiriam identidades dessemelhantes, em
diferentes momentos (HALL, 1997). Entende-se, assim, que, apesar da censura, o
interesse da sociedade pela temática da sexualidade não era barrado. Pelo contrário,
havia estímulos. Segundo Mary Del Priore, os militares buscavam alienar a população,
afastando-a de contestações ao governo. Para alcançar esse objetivo, o Estado brasileiro
usava de estratégias com o intuito de direcionar a atenção geral para assuntos que
ganhavam relevância na opinião pública, como o futebol, a bebida e o sexo (DEL PRIORE,
2011, p. 186-187) com tentativas de abordagem que não representassem ameaças
diretas ao poder público.
A pornochanchada: virgem na praça e mulheres violentadas
As pornochanchadas se tornaram um grande sucesso no cinema nacional,
alcançando diversas regiões do país; falava-se, inclusive, que elas eram parte de uma
revolução sexual, que estava em curso no mundo ocidental e que chegava ao Brasil.
Entretanto, ao contrário do conceito exposto por Valerio Arcary, segundo o qual
processos revolucionários ocorreriam de forma a criar profundas transformações
políticas e sociais (ARCARY, 2014), os impactos da referida “revolução sexual” o
provocaram efeitos imediatos e intensos em grande parte do Brasil, particularmente nas
áreas periféricas, onde essas mudanças apenas possibilitaram que novas formas de lidar
com a sexualidade fossem timidamente divulgadas. Apesar do consumo de filmes que
abordassem sexualidade, havia setores sociais familiares, religiosos e midiáticos que
combatiam a circulação das pornochanchadas, bem como qualquer estímulo à prática
sexual fora do casamento.
As mudanças em relação ao consumo de conteúdos sexuais podem ser
observadas em outros gêneros do período, como filmes pornográficos/hardcore e
eróticos/softcore. Segundo Linda Williams, essas obras representam comercialização em
massa, sem precedentes, do sexo como prazer visual aos espectadores, e aproximam-se
de outros gêneros ao utilizar apropriações narrativas dos filmes de Hollywood
(WILLIAMS, 1989, p. 120-121). A principal diferença entre os dois gêneros está nas
representações visuais de corpos envolvidos em atos sexuais explícitos, na pornografia,
enquanto filmes eróticos trabalhavam com insinuações de sexualidade (WILLIAMS, 1989,
p. 29-30).
Dessa forma, as pornochanchadas da década de 1970 podem ser aproximadas aos
filmes que a autora classifica como softcore, ou eróticos, em que sexualidade e violência
não são abordadas de forma explícita, com a diferença de que, nas chanchadas eróticas,
o humor também é recurso utilizado de forma comum, em produções que, em um
primeiro momento, tiveram baixo orçamento, até conquistarem sucesso de público e
profissionalização (GOMES, 2017). Ao estudar pornochanchadas e outras obras que
abordam sexo, de forma explícita ou implícita, é importante ressaltar que os gêneros
fílmicos possuem flexibilidade na percepção popular (WILLIAMS, 1989, p. 6), a ter em
vista que a classificações entre sexualidade explícita e implícita dependem das práticas
sexuais aceitas pelos contemporâneos, bem como valores morais e religiosos.
Apesar dos combates à circulação das pornochanchadas, elas tiveram grande
alcance no território brasileiro, e a catalogação dos filmes exibidos nas salas de cinema
demonstra o interesse e perfil do público. Ao tomar como exemplo Teresina, capital do
Piauí, no período correspondente ao auge das produções de chanchadas eróticas, é
possível perceber como a maioria das produções tinham censura voltada para maiores
de 18 anos, como pode ser conferido abaixo:
Gráfico 1: Censura do Cine Royal no auge das produções de pornochanchadas.
Fonte: Jornal O Dia.
Gráfico 2: Censura do Cine Rex no auge das produções de pornochanchadas.
Fonte: Jornal O Dia.
Nos cines Rex e Royal, havia poucas opções destinadas às crianças e
adolescentes, na medida em que a maioria dos filmes exibidos possuíam conteúdos
considerados inapropriados aos menores de 18 anos, que variavam entre
pornochanchadas, filmes eróticos, pornográficos, obras de kung fu e cinema faroeste,
com cenas de ação e violência. Além de adultos, os principais frequentadores também
eram homens heterossexuais, a ter em vista que nas cenas dos filmes de
pornochanchadas, as formas dos corpos femininos poderiam ter mais importância que
uma boa história ou desenvolvimento. A exposição de seios e nádegas das mulheres era
comum, e raramente apareciam nádegas ou nu frontal masculino (KESSLER, 2010, p. 17).
Nos anos 1970, é possível afirmar que as mulheres vivenciavam maior liberdade,
ao ter que decidir sobre questões como empregos, estudos e escolhas matrimoniais.
Entretanto, discursos sociais ainda buscavam controlar seus espaços, e principalmente
suas práticas sexuais, como será demonstrado posteriormente. Ou seja, sessões de
pornochanchadas não eram tão frequentadas por mulheres, o que começou a mudar na
década de 1980, conforme o público feminino conquistou liberdade e novos espaços na
esfera pública da sociedade. Entre os filmes de conteúdo sexual exibidos em Teresina, no
Cine Rex, estava Um Virgem na Praça (1973), produzido no Rio de Janeiro por Roberto
Machado
2
e protagonizado por Flávio Migliaccio
3
, sob censura para menores de 18 anos.
Estudar essa obra ajuda a entender o contexto abordado:
2
Ator e diretor de cinema. Dirigiu os filmes Um Virgem na Praça (1973), Essa Freira é uma Parada (1977) e
Deu a Louca nas Mulheres (1977).
Imagem 1: Cena do filme Um Virgem na Praça (1973).
Fonte: Banco de Conteúdos Culturais.
Um Virgem na Praça é um filme do nero comédia, possui cenas de nudez e
discute sexualidade, como pode ser conferido em sua sinopse:
Um jovem motorista de praça vive o dia a dia de sua profissão nas ruas e
avenidas do Rio de Janeiro. É José, moço ingênuo, filho único de imigrantes
italianos, que ama o próximo como a si mesmo. O cotidiano de sua profissão lhe
oferece condições de se comunicar com as pessoas, vivendo as alegrias e
angústias de cada um. José é simples, emociona-se com seus passageiros, que
muitas vezes se servem dele para seus desabafos e confidências e também
abusam de sua ingenuidade. Sua angustiante posição de virgem, por exemplo,
cria a curiosa situação de ser pai sem ter nunca conhecido o amor, e também
curiosas e engraçadas situações em busca do amor (UM..., 2017).
Ao utilizar trechos de comédia e erotismo para atrair público consumidor, o filme
se enquadra na imagem que, em um primeiro momento, foi estabelecida a respeito das
pornochanchadas. Contudo, essas percepções foram ampliadas, conforme chanchadas
eróticas se apropriaram de outros neros, como dramas, faroestes, ação, terror e
outros, acrescidos a cenas de nudez (GOMES, 2017). Um Virgem na Praça, mesmo sendo
uma obra ficcional, pode ser comparada às vivências dos sujeitos reais, conforme
defende Marcos Napolitano, ao afirmar que é possível utilizar o cinema enquanto fonte
histórica por meio de dois vieses: buscar entender a capacidade técnica de determinado
3
Ator e diretor de peças teatrais. Profissional vinculado à Rede Globo de Televisão. Atuou nas telenovelas
Rainha da Sucata (1990) e Senhora do Destino (2004).
período, bem como analisar as subjetividades (NAPOLITANO, 2008, p. 236-237) de
produtores, diretores e outras pessoas envolvidas na criação dos filmes.
Um Virgem na Praça possibilita analisar comportamentos normalizados aos
homens do período, na medida em que a virgindade do personagem principal, retratada
com angustiante, também é utilizada como recurso humorístico. Os homens deveriam
buscar amor e relações sexuais, mesmo que fora do casamento, enquanto as mulheres
seriam consideradas respeitáveis caso suas sexualidades ocorressem sob os laços
matrimoniais. De acordo com Stuart Hall, as representações culturais são responsáveis
por estabelecer significações que influenciam a identidade das pessoas de forma múltipla
e cambiante (HALL, 1977, p. 13-14), e, na segunda metade do século XX, os modelos de
masculinidade e feminilidade se encontravam em maior número. Contudo, os homens
ainda possuíam maior liberdade sexual e deveriam se apresentar como pessoas viris,
demonstrar interesse por mulheres e afastar de si quaisquer suspeitas de relações
sexuais com outros homens.
Ao erguer a mão para o pôster de uma mulher seminua, na Figura 3, o
personagem José está demonstrando desejo de possuir o corpo feminino e se constituir
enquanto homem completo, respeitável, que por meio da prática sexual seria capaz de
superar a ingenuidade, retratada como característica negativa. De acordo com E. Ann
Kaplan, o olhar masculino contém poder de ação e posse, que faltam ao olhar feminino
(KAPLAN, 1995, p. 49-52), e, dessa forma, modelos de domínio-submissão são
reproduzidos, mas não de forma fixa. Ao serem desejadas sexualmente nas obras
fictícias, em que as personagens são construídas para serem olhadas, as mulheres
exercem controle limitado dos homens, em manipulações classificadas por E. Ann Kaplan
como cômicas, a ter em vista que “capturar” personagens masculinos significa que elas
serão “capturadas”, ao relacionar-se com eles (KAPLAN, 1995, p. 57).
As dominações masculinas em relação às mulheres, físicas e simbólicas, poderiam
ocorrer mesmo que de forma insidiosa, nos locais privados ou de trabalho, instituições
de autoridade paternalista. Em contrapartida, domínios de homens em relação a outros
homens também são possibilidades, por meio da virilidade física, elemento central da
memória da dominação masculina. Quando não são viris fisicamente, homens ainda
podem dominar uns aos outros por meio da virilidade mental (HAROCHE, 2013, p. 16-19).
Dessa forma, mesmo que inconscientemente, José busca dominar o corpo feminino por
meio da sexualidade, mas acaba controlado, tanto pelo erotismo feminino quanto por
disputas de masculinidade com outros homens.
Essas subjetividades, presentes em Um Virgem na Praça, foram construídas
principalmente por homens que trabalharam como diretores, produtores, e em outros
cargos técnicos, inserindo na obra seus discursos a respeito do que seria esperado de
homens e mulheres. Dessa forma, os personagens são representados de acordo com o
inconsciente patriarcal da época (KAPLAN, 1995, p. 53), e as mulheres são excluídas da
produção e direção de pornochanchadas, na mesma medida em que são necessárias
enquanto atrizes. Em contrapartida às chanchadas eróticas, em que principalmente
homens controlaram a produção, movimentos feministas da década de 1970 inseriam
mulheres como diretoras e produtoras de filmes, com cunho sexual ou não (SARMET,
2017, p. 38-46), a reivindicar produções discursivas que refletissem as lutas por maior
liberdade feminina, vivenciadas no período. Também havia tentativa de atrair mulheres
heterossexuais, solteiras ou em casais, para as salas de cinema, como consumidoras de
gêneros lmicos que exploravam erotismo e violência (WILLIAMS, 1989, p. 6-7), antes
consumidos principalmente pelo público masculino.
Principalmente no final da década de 1970 e início de 1980, é possível perceber o
maior número de mulheres enquanto consumidoras de pornochanchadas e outros
gêneros que abordavam sexualidade, ao acompanhar namorados, familiares e amigos.
Conforme Elizangela Barbosa, o escuro das salas de exibição cinematográficas
propiciava namoros e flertes
4
, em ambientes em que o nu masculino e o feminino
poderiam ser visualizados (CARDOSO, 2010, p. 139-146). No período, também surgiram
filmes como os de David Cardoso
5
, que também utilizavam a nudez masculina mesmo
que em menor medida que a feminina para chamar atenção de homens e mulheres do
blico, ao representar homens jovens, viris e considerados bonitos aos padrões da
época. Todavia, a prática de exploração do sexo para atrair espectadores para as salas de
cinema é condenada por diversas camadas sociais:
É certo que existe um público para a classe de espetáculos normalmente
desqualificados, e isto acontece não somente no Brasil como em outros países,
notadamente nos latino-americanos, onde o cinema se tornou um dos mais
eficazes instrumentos da perversão dos costumes e ruína social. Parece que os
produtores de filmes, como os diretores de teatros, fazem o pior julgamento de
seus semelhantes, considerando que a melhor maneira de levá-los a frequentar
as casas de espetáculos consiste em apresentar-lhes, nas telas e palcos,
personagens chafurdando na lama do vício. Quando alguém reage contra a
exploração do sexo, a resposta é invariavelmente, a de que se trata de coisa
natural, não havendo mais imoralidade que a da malícia, e, assim, o bom passa
por mau e vice-versa, em estranha inversão, ou subversão, dos valores básicos
da sociedade (MORALIZAÇÃO, 1970, p. 07).
4
O cinema é considerado por Mary Del Priore como uma máquina de difusão do amor, que proporciona
uma espécie de valorização do casal solidário, em um mundo de transformações. Os personagens pulam,
cantam, sapateiam, abraçam-se e os problemas se desvanecem. A autora busca, dessa forma, representar
os comportamentos que os casais de filmes disseminam nos espectadores. (DEL PRIORE, 2005, p. 276).
5
Ator e diretor, considerado o rei da pornochanchada. Trabalhou em 19 Mulheres e Um Homem (1977) e
Corpo e Alma de Mulher (1983).
A notícia do Jornal do Piauí, veiculada em 1970, repreende a exploração do sexo
nos filmes produzidos no Brasil e em outros países prática também criticada em
veículos midiáticos de outras regiões. Entretanto, apesar das críticas, o consumo de
nudez no cinema continuou, e pode ser verificado por meio do filme Mulheres
Violentadas (1977), dirigido por Francisco Cavalcanti
6
, que esteve em exibição no Cine
Rex, no ano de 1979, censurado para menores de 18 anos:
Imagem 2: Cena do filme Mulheres Violentadas (1977).
Fonte: Banco de Conteúdos Culturais.
Imagem 3: Cena do filme Mulheres Violentadas (1977) II.
Fonte: Reprodução.
6
Ator e diretor. Atuou em O Cafetão (1982), Ivone, A Rainha do Pecado (1983), e dirigiu O Porão das
Condenadas (1979), O Filho da Prostituta (1981).
O filme Mulheres Violentadas, de aventura e drama, de 1977, tem como sinopse:
Juarez, mordomo jovem e simpático, seduz a patroa e assassina o patrão. Vinte
anos depois, descobrindo o paradeiro do filho do ex-patrão, contrata assassinos
profissionais para destruí-lo. Com o auxílio da esposa, o rapaz enfrenta Juarez e
seus capangas, na busca de vingar a morte do pai (FILMOW, 2017).
Na trama de ação, é recorrente a exibição de grupos de mulheres despidas, em
rios e riachos (Figura 4), momentos antes de serem sequestradas pelos assassinos
profissionais contratados por Juarez, pessoa de idade mais avançada, em posse da
fortuna de seu antigo patrão. Em outros momentos, uma de suas mulheres aparece em
cena apenas de calcinha, cercada de capangas do antigo mordomo; a mesma
personagem, posteriormente, briga com outra mulher: as duas caem no chão, em meio a
vários homens, e a câmera foca nos corpos delas, parcialmente desnudos. As situações
de subordinação, violência e humilhação femininas são desenvolvidas de forma a
alimentar fantasias de homens e também de mulheres, na medida em que, ao se
projetarem no erótico, elas podem se colocar como depositárias passivas do desejo
masculino (KAPLAN, 1995, p. 47-48), e também usufruir do prazer. Sobre dominação,
Pierre Bourdieu afirma:
A lógica da dominação, exercida em nome de um princípio simbólico conhecido
e reconhecido tanto pelo dominante quanto pelo dominado, de uma língua (ou
maneira de falar), de um estilo de vida (ou uma maneira de pensar, de falar ou
de agir) e, mais geralmente, de uma propriedade distintiva, emblema ou estigma,
dos quais o mais eficiente simbolicamente é essa propriedade corporal [...] A
constituição da sexualidade enquanto tal (que encontra sua realização no
erotismo) nos fez perder o senso da cosmologia sexualizada, que se enraíza em
uma topologia sexual do corpo socializado, de seus movimentos e seus
deslocamentos, imediatamente revestidos de significação social - o movimento
para o alto sendo, por exemplo, associado ao masculino, como a ereção, ou a
posição superior no ato sexual (BOURDIEU, 2002, p. 2-7).
Os princípios de dominação masculina envolvem violência física, mas também
códigos como a linguagem, que busca legitimar formas de ser e agir femininas, e postura,
em que os corpos são revestidos de significação social: os homens, exibidos
majoritariamente com roupas em uma das cenas um casal está banhando na cachoeira,
a mulher fica completamente nua e o homem não tira as peças de seu traje , em alguns
momentos, aparecem em pé, de forma interrogatória, enquanto as mulheres, recém-
sequestradas, se sentam no chão, nuas e amontoadas (Figura 3). E. Ann Kaplan afirma
que os homens m maiores posições dominantes disponíveis, enquanto as mulheres são
mais consistentemente submissas (KAPLAN, 1995, p. 49-50). Contudo, os modelos de
domínio e submissão nas pornochanchadas vão além do controle exclusivamente
masculino, e podem ser percebidos conforme homens são dominados por personagens
na posição de mulheres ricas, como rainhas e patroas, ou mulheres guerreiras, como
cangaceiras e lutadoras.
O documentário Histórias Que Nosso Cinema (Não) Contava (2017) foi construído
por meio de compilações de pornochanchadas exibidas em território nacional, e
demonstra como as mulheres controlavam os homens, por meio da sexualidade. Patroas
nuas provocavam seus funcionários, tomando iniciativa na relação sexual ou aparecendo
nuas na frente deles, ao afirmar que, por serem seus empregados, eles não teriam sexo
referindo-se ao desejo sexual. Grupos de mulheres também são representados,
organizados contra o poder do homem, com o slogan “mulheres do mundo todo, uni-
vos”, em inspiração direta nas ideias de Karl Marx e Friedrich Engels. Esses complexos
modelos de dominação, submissão e resistência feminina também podem ser percebidos
no filme Mulheres Violentadas, que no título demonstra características que poderiam
ser esperadas pela população, como violências sexuais cometidas contra as mulheres e
outras situações de dominação masculina, mas também aborda disputas de personagens
femininas fortes, como Maria, interpretada por Helena Ramos
7
, mulher sequestrada que,
sem ajuda de outras pessoas, enfrenta e desarma capangas, consegue salvar a si mesma
e ao seu par romântico, enquanto ele estava preso, observando a disputa.
Filmes como estes, que mostravam triunfos femininos, em frente à dominação e
aos perigos da presença masculina, se tornaram cada vez mais frequentes até mesmo
nas produções que tinham homens como principal público consumidor , o que pode ter
ocorrido por dois principais motivos: primeiro, porque novas identidades femininas
surgiram, para representar heroínas que conseguiam se salvar, e que atraíam o público
por suas formas físicas, força e cenas de ação; segundo, porque buscavam atrair
identificação das mulheres, enquanto espectadoras.
Outros filmes do período, com nomes sugestivos em relação à sexualidade, são
Embalos Alucinantes: a troca de casais (1979), dirigido por José Miziara
8
, Como Consolar
Viúvas (1976) e A Virgem e o Machão (1974), ambos dirigidos por José Mojica Marins
9
.
7
Atriz brasileira, considerada popularmente a rainha da pornochanchada, com 42 filmes no currículo.
Atuou em 19 Mulheres e um Homem (1977), Mulheres Violentadas (1977) e Iracema A Virgem dos Lábios
de Mel (1979).
8
Ator, diretor e dublador brasileiro. Trabalhou em filmes como Oscaralho O Oscar do Sexo Explícito
(1986), O Delicioso Sabor do Sexo (1984), Pecado Horizontal (1982) e Os Rapazes da Difícil Vida Fácil
(1980).
9
Ator e diretor de cinema brasileiro, mais conhecido por seu personagem do Caixão. Apresentou na
década de 1990 os programas Cine Trash e cine Sinistro, pelo canal de televisão Rede Bandeirantes.
Trabalhou nos filmes Demônios e Maravilhas (1987) e Mundo - Mercado do Sexo (1979).
Entretanto, também existiam os filmes cujos conteúdos não correspondiam,
necessariamente, ao que seus títulos davam a entender. Um exemplo desta situação é o
filme 19 Mulheres e um Homem (1977), dirigido por David Cardoso, que dá a entender que
uma única pessoa se relacionou sexualmente com as 19 mulheres, enquanto a obra foca
mais em cenas de ação, exibição de corpos femininos desnudos e construção da
identidade masculina viril, heroica e sensual. Na mesma medida em que os nomes
sugestivos em relação à sexualidade atraíam público, também afastavam quando as
expectativas criadas, em relação ao conteúdo consumido, não eram correspondidas, por
diretores, produtores, atores e atrizes. De acordo com Marc Ferro:
Imagina-se que a realização de um filme produz rivalidades, conflitos, lutas de
influência [...] de maneira disfarçada ou aberta, esses conflitos afrontam,
segundo a sociedade em questão, o artista e o Estado, o produtor e o
distribuidor, o autor e o realizador, bem como os membros da equipe, as
equipes entre si, etc., segundo os sistemas que variam em cada produção e cada
obra, e que raramente transparecem, a não ser sob a forma de uma alusão sutil
ao ‘ambiente’ da filmagem de uma realização (FERRO, 1992, p. 17).
Entende-se que essa afirmação também pode ser aplicada no caso das
pornochanchadas, produzidas em um contexto social de grande repressão. Os conflitos
travados entre produtores desse gênero cinematográfico, mídia e censura da Ditadura
Militar ocorriam de maneiras discreto-dissimuladas ou públicas. Algumas produções,
dependendo de como abordavam a sexualidade, recebiam maiores críticas e censuras
que outras. A população também participava de debates, enquanto uns apoiavam e
consumiam os filmes, outros teciam fortes críticas.
Os sujeitos que apoiavam as pornochanchadas podem ser analisados com base no
pensamento de Michel de Certeau, quando o autor discorre sobre conflitos dicotômicos
entre as categorias poderosos (no caso, militares e mídia) e pobres, e afirma que esse
poderia ser um campo de perpétuas vitórias dos ricos, onde fortes sempre ganham
havendo resistências do segundo grupo, por meio de suas táticas. Entretanto, o
supracitado historiador também fala sobre os contos, que seriam uma possibilidade de
concretização de utopias (CERTEAU, 1998). A ficção cinematográfica, assim como os
contos, teria importância para os cidadãos comuns, que encontravam nas fantasias das
chanchadas eróticas, práticas sexuais e estilos de vida reprimidos pela sociedade,
desfrutando, por alguns minutos, de realidades desejadas, supostamente com maiores
liberdades, masculinas e femininas.
Considerações finais
Com base nas discussões do presente artigo, percebe-se a volubilidade da teoria
do cinema: não segue uma linha progressiva, sendo modificada de acordo com a escolha
do período, do objeto de estudo ou da região. Ao optar-se pela análise histórica da
pornochanchada, singular gênero cinematográfico brasileiro, abrem-se muitas
possibilidades de análise.
As abordagens de identidades, dominação de gênero, e efeitos da moralização dos
filmes considerados pornochanchadas fizeram com que os aspectos ficcionais dessas
produções servissem de fonte assim como os arquivos hemerográficos utilizados e
materiais da internet para a análise do período de 1970, uma sociedade com profundas
contradições, tanto em escalas macro, representadas por organizações políticas e
midiáticas, como em escalas micro, representadas pelos indivíduos.
A pesquisa possibilitou perceber que a suposta revolução, ou liberalização sexual,
estava sendo divulgada no caso, por meio de filmes, produzidos em São Paulo e Rio de
Janeiro, exibidos em todo o território nacional. Entretanto, esse processo ocorreu de
forma lenta: havia maior liberdade às pessoas, mas essa liberdade era condicionada,
principalmente, em relação às mulheres. Elas ainda eram estigmatizadas, quando suas
práticas sexuais caíam em conhecimento público. Na década de 1970, os cines Royal e
Rex, estabelecimentos que mais exibiam pornochanchadas e outros gêneros na cidade,
possuíam catálogos voltados principalmente ao público adulto e masculino,
consumidores das chanchadas eróticas ou filmes com temáticas violentas.
Os dois filmes estudados demonstram novas e fluídas identidades, masculinas e
femininas, divididas entre práticas e modelos de vida do passado e do presente. Essas
produções, bem como outras pornochanchadas do período, quando analisadas,
demonstram cenários culturais, com informações a respeito da política, sociedade e
economia haja vista a popularidade das obras em conformidade com as fontes
escolhidas pelo historiador, o que permite futuras pesquisas, em um campo ainda pouco
estudado.
A nudez feminina, considerada elemento chave para atrair público para as salas
de cinema, é um recurso que explora e submete mulheres às condições de dominação e
satisfação de desejos masculinos, conforme o olhar dos homens, com poder de ação e
posse, reproduzindo modelos de dominação e submissão. As atrizes eram, em maioria,
jovens e dentro dos padrões de beleza da época, enquanto as mesmas exigências
estéticas não eram essenciais para os atores de pornochanchadas. Eles tinham maior
liberdade, e normalmente ocupavam papéis de homens que, por meio da violência,
controlavam suas namoradas, esposas ou mulheres desconhecidas. Em contrapartida,
esse desejo masculino oferecia controle para as personagens femininas, na medida em
que, por meio da sexualidade, elas exerciam poder, mesmo que limitado, sobre os
homens.
Nesse contexto, modelos de mulheres com poderes ganham espaço nas telas,
como a heroína Maria, que se salva e ajuda a salvar seu par romântico, ou patroas e
rainhas que seduzem e punem os homens. Também foram representadas mulheres que
tomavam iniciativa sexual, enquanto os homens, tímidos e possivelmente virgens, fugiam
elemento normalmente retratado de forma humorística, a ter em vista que, para os
padrões da época, era esperado dos homens segurança e iniciativa nas práticas sexuais.
Contudo, é importante ressaltar que o processo criativo de pornochanchadas era
realizado principalmente por homens, e mesmo quando essas personagens poderosas
surgiam, serviam principalmente para satisfazer necessidades e desejos masculinos.
É possível perceber que os homens que produziam pornochanchadas buscavam
criar obras que abordassem a sexualidade, mas sem retratar o ato sexual de forma
explícita. Para eles, a nudez feminina é considerada item essencial ao gênero, bem como
a construção de enredos humorísticos, para satisfação do público. A denominação
“pornô”, utilizada de forma negativa, para desqualificar tais produções, é criação
discursiva de camadas populacionais como setores religiosos ou da mídia impressa
descontentes com as chanchadas eróticas, consideradas instrumentos de perversão e
ruína social, que desvirtuariam jovens por meio da promoção de sexualidade fora do
casamento. Contudo, o termo foi apropriado pelos produtores de pornochanchadas, na
medida em esses profissionais se consolidava e conquistavam sucesso de bilheteria.
Todas as tramas do gênero fílmico, mesmo ficcionais, revelam informações sobre quem
produziu e sobre quem consumiu os filmes, posto que subjetividades dos produtores são
reveladas no enredo, e por meio da quantidade de filmes exibidos, críticas, censura e
lotação das salas de cinema, é possível perceber a amplitude do consumo popular.
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