significantes elementos que pontuam a vida cotidiana. É analisando as diversas
modalidades satírico-humorísticas que compõem este multifacetado campo gráfico-
humorístico presente nas páginas dos periódicos publicados no transcorrer do tempo,
que chega a um valioso compêndio memorial das práticas culturais que marcaram e
continuam marcando os diversos e distintos períodos históricos das sociedades. Tal
fenômeno ocorre, vale salientar, em grande parte, em decorrência do alcance social e
cultural das modalidades caricaturais em uso, a exemplo das charges e dos quadrinhos
enquanto imagens que circulam amplamente na sociedade através da imprensa,
reforçando aquilo que Vovelle (1997) revela ao destacar que é possível, a partir das
imagens, se conhecer a história social de um determinado tempo, ressaltando, desta
maneira, o aspecto testemunhal e (re)configurativo que as imagens exercem sobre a
realidade à medida que relata e que contribui, por si só, para construir o acontecimento
em toda sua espessura política, social e cultural (VOVELLE, 1997, p. 171). Esse mesmo
autor vai um pouco mais além e, fundamentado na nova concepção acerca da ampliação
documental para o campo da História, ao analisar o potencial da iconografia para os
historiadores, afirma que por meio da iconografia pode-se constituir toda uma série de
dossiês pelo ângulo de uma história temática, como se tem visto, aliás, a partir dos
diversos estudos desenvolvidos no transcorrer das últimas décadas no campo da
pesquisa histórica.
Não obstante, trata-se de uma linha de investigação histórica que carece de um
maior alargamento, sobretudo, no tocante ao universo das narrativas imagéticas satírico-
humorísticas em uso na imprensa diária e que permanecem à espera de um olhar mais
atento por parte dos historiadores, como, aliás, defendem vários autores (SILVEIRA,
2009; GAWRYSZEWSKY, 2008; MENESES, 2003; PAIVA, 2002; PESAVENTO, 1993). Por
esta razão, pode-se afirmar que, mesmo tendo avançado nas últimas décadas os estudos
em torno da arte cômica, de modo geral permanecem sendo um objeto enigmático, com
aspectos fugidios e ainda desafiador para o historiador e outros estudiosos do campo das
Ciências Sociais que passaram a se dedicar a uma análise mais aprofundada acerca do
potencial de narrativa testemunhal de caráter sociocultural de que se revestem as mais
variadas modalidades imagéticas que compõem o universo da cultura visual.
Dentro dessa linha de raciocínio, Silveira (2009) vai afirmar que,
abrangente, em que o termo equivale à designação geral para uma forma de arte que se expressa através
de uma variedade de desenhos satírico-humorísticos. Nessa acepção geral do termo caricatura podemos
entender como formas dela a charge, o cartum, o desenho de humor, a tira cômica, a história em
quadrinhos de humor, o desenho animado e a caricatura propriamente dita, isto é, a caricatura pessoal.
(FONSECA 1999, p. 17). É esta a definição adotada neste trabalho em referência à caricatura.