COTRIM, Aline de *
https://orcid.org/0000-0001-7991-5243
BRUM, Alex Guedes**
https://orcid.org/0000-0003-2092-4430
RESUMO: Este artigo analisa as contribuições e
influências da Escola Sociológica de Chicago
nos estudos migratórios no Brasil na primeira
metade do século XX. Para tanto, foi realizada
revisão bibliográfica do tema. Argumentamos
que, assim como as pesquisas elaboradas em
Chicago no início do século passado, os estudos
migratórios no Brasil, especialmente na Escola
Livre de Sociologia e Política de São Paulo entre
as décadas de 1940 e 1950, buscavam entender
como os imigrantes estavam se adaptando aos
seus novos contextos sociais. A partir de
pesquisas empíricas, utilizando técnicas como
observação participante, aplicação de
questionários e entrevistas, ambas as
instituições trabalhavam baseadas nos
conceitos de “assimilação” e “aculturação”, a
fim de explorar o processo de integração dos
estrangeiros às suas comunidades adotivas.
PALAVRAS-CHAVE: Escola de Chicago;
Estudos migratórios; Estudos migratórios no
Brasil; Assimilação; Escola Livre de Sociologia
e Política
ABSTRACT: This research article analyzes the
contributions and influences of the Sociological
School of Chicago on migration studies in Brazil
in the first half of the century. Therefore, a
bibliographical review on the subject was
carried out. We argue that, as the research
conducted in Chicago at the beginning of the
last century, migration studies in Brazil,
especially in the Escola Livre de Sociologia e
Política de São Paulo between the 1940s and
1950s, sought to understand how immigrants
were adapting to their new social contexts.
Based on empirical research, using techniques
such as participant observations, application of
questionnaires and interviews, both institutions
worked based on the concepts of "assimilation"
and "enculturation" in order to explore the
processes of integrating foreigners into their
adoptive communities.
KEYWORDS: Chicago School; Migration
studies; Migration studies in Brazil;
Assimilation; Escola Livre de Sociologia e
Política
Recebido em: 29/06/2021
Aprovado em: 09/10/2021
* Mestre em História das Ciências e da Saúde pela FIOCRUZ, Rio de Janeiro-RJ. Doutoranda do Programa de
Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais (PPHPBC) do CPDOC/FGV, Rio de Janeiro-RJ. Bolsista
FGV e CAPES PrInt. E-mail: adscotrim@gmail.com. Este artigo é em parte proveniente da dissertação de
mestrado “Imigração e assimilação nos estudos sociológicos de Hiroshi Saito (1947-1964)”, defendida pela
coautora Aline de Cotrim, em 16/12/2016, no Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e
Saúde (PPGHCS) na FIOCRUZ, sob a orientação do Prof. Dr. Marcos Chor Maio.
** Mestre em Estudos Estratégicos de Defesa e da Segurança pela UFF, Niterói-RJ. Doutorando do Programa
de Pós-Graduação em História, Política e Bens Culturais (PPHPBC) do CPDOC/FGV, Rio de Janeiro-RJ.
Bolsista FAPERJ Doutorado Nota 10. E-mail: alexbrum23@outlook.com.
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
Introdução
O fenômeno das migrações internacionais acompanhou e uniu a história de países
europeus e americanos. O tema da migração, porém, não era um objeto central para os
estudos sociológicos da virada do século XIX para o século XX (SASAKI; ASSIS, 2000). Os
pensadores europeus clássicos da sociologia, como Karl Marx, Émile Durkheim e Max
Weber, conferiram um caráter secundário ao tema (VETTORASSI; DIAS, 2017).
Posteriormente, a questão ganhou destaque com Georg Simmel e consolidou-se na
chamada Escola de Chicago, com William Thomas, Florian Znaniecki, Robert Park, entre
outros.
Este artigo analisa as contribuições da “Escola Sociológica de Chicago” para os
estudos migratórios no início do século XX, considerando as influências que eles tiveram
nos trabalhos sobre o tema no Brasil. Assim como aconteceu com as pesquisas em Chicago
nas primeiras décadas do século XX, os estudos migratórios no Brasil, especialmente na
Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo (ELSP) entre as décadas de 1940 e 1950,
tinham a preocupação de entender como os imigrantes estavam se adaptando aos seus
novos ambientes sociais. Portanto, é num contexto de institucionalização do campo que
os estudos migratórios, nas ciências sociais no Brasil, ganham força e são estabelecidos
como um campo de pesquisa acadêmica. Logo, sob influência da Escola de Chicago, os
trabalhos desse tipo produzidos na ELSP contavam com pesquisas empíricas, a partir de
observações participantes, aplicação de questionários e entrevistas, e trabalhavam
conceitos como os de “assimilação” e “aculturação”, a fim de explorar o processo de
integração dos estrangeiros às suas comunidades adotivas.
Deste ponto em diante, apresentamos, primeiramente, o contexto histórico do
surgimento da Escola de Chicago e, em seguida, analisamos a contribuição dessa tradição
de pensamento para os estudos migratórios. Na terceira parte, abordamos o impacto da
Escola de Chicago no Brasil, com foco na ELSP, principal centro difusor desta tradição
sociológica no país. E, por fim, são analisadas suas contribuições para os estudos
migratórios: tanto entre as disciplinas ministradas, como nos trabalhos publicados pelos
seus professores e alunos.
A Escola de Chicago
O termo “Escola de Chicago” é geralmente usado para se referir às obras de
Sociologia publicadas entre 1915 e 1940 por professores e alunos da Universidade de
Chicago
1
. Essas investigações têm em comum a pesquisa empírica e marcam um momento
1
O termo também pode se referir à Escola de Arquitetura de Chicago e à Escola Econômica de Chicago.
de virada em relação aos trabalhos que tinham objetivo observar a sociedade. Além da
pesquisa empírica, eles se caracterizavam pelo uso científico de documentos pessoais,
pelo estudo sobre um terreno sistemático e pela exploração de diferentes tipos de
documentação (COULON, 1992).
Uma análise do pensamento e das práticas da Escola de Chicago deve ser sensível
ao seu contexto sócio-histórico. Na primeira metade do século XIX, Chicago era um posto
avançado da civilização americana na fronteira ocidental do país (BULMER, 1984). Em
1800, havia somente alguns poucos milhares de pioneiros no território que veio a
constituir o Estado de Illinois, criado em 1818 (BULMER, 1984; EUFRÁSIO, 1999). Nas
décadas posteriores, Chicago vivenciou um enorme crescimento demográfico. Eufrásio
(1999, p. 27) destaca que Chicago era pouco populosa em 1840
2
, mas, entre 1850 e 1890,
“[...] tornou-se uma grande cidade de mais de um milhão de habitantes a segunda maior
do país e nos quarenta anos seguintes, cresceu três vezes, atingindo em 1930 quase
3.400.000 habitantes [...]”.
O crescimento de Chicago se deve à chegada das ferrovias (BULMER, 1984;
EUFRÁSIO, 1999). Em 1860, a cidade era um entroncamento de linhas férreas que
avançavam para o oeste e, consequentemente, se tornou o centro comercial do meio-
oeste, atraindo armazéns, atacadistas, indústrias e migrantes das áreas rurais (EUFRÁSIO,
1999).
No fim do século XIX, chegaram imigrantes estrangeiros em busca de trabalho,
como alemães, escandinavos, irlandeses, italianos, judeus, checos, que diversificaram
etnicamente a cidade (EUFRÁSIO, 1999). Nessa época, metade dos 1.700.000 habitantes
havia nascido fora dos EUA (BULMER, 1984). No início do século XX, também vieram os
negros dos estados sul, que eram 2% da população da cidade em 1910, e 7% em 1930
(BULMER, 1984). Nos anos antes da eclosão da I Guerra Mundial, acreditava-se que
Chicago seria a futura metrópole estadunidense (EUFRÁSIO, 1999). Como aponta
Matthews (1977, p. 126
apud
EUFRÁSIO, 1999, p. 28), “[...] por volta de 1925, 7,4% de todos
os bens manufaturados nos Estados Unidos eram produzidos em Chicago”.
As modificações de sua estrutura produtiva e o aumento do fluxo migratório
multiplicaram o número de subúrbios instituindo um significativo processo de segregação
étnico-social e sendo acompanhadas também por tensões raciais, surgimento de gangues,
e de corrupção da máquina pública (MARTINS, 2013). Ou seja, Chicago passou a enfrentar
os problemas causados pelo processo de urbanização e industrialização.
2
Em 1840, a população de Chicago era de 5000 habitantes (MILLS; SIMMONS, 2001).
No entanto, a elite econômica que se formou em Chicago se mostrou sensível à
filantropia aos empreendimentos assistenciais (EUFRÁSIO, 1999), em decorrência da forte
influência do protestantismo, que associava com vocação filantrópica (GONDIM, 2016).
Em 1890, sob uma associação incumbida em ajudar os estabelecimentos escolares batistas
e por meio da contribuição filantrópica de John D. Rockfeller
3
, foi criada a Universidade de
Chicago (MARTINS, 2013)
4
. Inaugurada em 1892, a instituição tinha como tarefa acadêmica
primeira a realização de pesquisa, e segunda, as atividades de ensino (MARTINS, 2013).
Seus fundadores, principalmente da área de ciências sociais, eram pessoas envolvidas com
a resolução de problemas concretos e com a ideia de reforma (VELHO, 2005). Para
Eufrásio (1999), o esquema de trabalho acadêmico em Chicago propiciou condições para
pesquisas originais com, por exemplo, métodos de história de vida e correspondências
pessoais como fontes. A sociedade americana apresentava diversos problemas instigantes
para a investigação sociológica e a cidade inspirava novas indagações e objetos de
pesquisa (EUFRÁSIO, 1999).
Nas palavras de Martins,
[a]s condições que possibilitaram o Departamento de Sociologia de Chicago
tornar-se um centro criativo, inovador, e ocupar uma posição dominante na
sociologia norte-americana cujos desdobramentos reverberaram no
conhecimento sociológico em cadas posteriores colocam em evidência o
entrelaçamento de uma complexa constelação de fenômenos, tal como o
acelerado processo de industrialização, urbanização, imigração que perpassava a
sociedade norte-americana no final do século XIX e seu impacto na cidade de
Chicago. Ao mesmo tempo, o processo de reestruturação do sistema de ensino
universitário norte-americano, que ocorreu no final do culo XIX, impulsionou
simultaneamente a fundação de novas universidades e a criação de novos
departamentos, o que favoreceu a atividade de pesquisa e abriu um considerável
espaço para o desenvolvimento da sociologia. Não menos importante na
estruturação dos trabalhos de pesquisa realizados no interior do Departamento
de Sociologia de Chicago foi o esforço de integrar a atividade teórica com a
investigação empírica que reflete a presença marcante entre seus participantes
da filosofia pragmática que insistia na unidade entre teoria e ação, entre reflexão
e mundo real (MARTINS, 2013, p. 219).
O trabalho desenvolvido pelos pesquisadores e estudantes de pós-graduação foi
frutífero e relativamente contínuo. Além do mais, esse resultou em estudos cujo interesse
ainda perdura e na origem de novas linhas teóricas, além de técnicas de pesquisa pioneiras
(EUFRÁSIO, 1999).
3
Como aponta Gilberto Velho, “[i]sso é importante, não corrompe a Universidade. Simplesmente mostra
que havia uma preocupação social muito grande de empresários em investir numa universidade nova que
deveria ser diferente das universidades do leste” (2005, p. 56).
4
A Universidade de Chicago foi concebida com o objetivo de desenvolver pesquisas e de formar estudantes
de doutorado, iniciativas inovadoras na época, quando se privilegiava o ensino em detrimento da pesquisa.
Pela primeira vez na história, a organização dos estudos possibilitou que alunos de pós-graduação
combinassem vida profissional com vida de pesquisador (COULON, 1992).
Dessa forma, em um momento em que as fronteiras entre as disciplinas que
constituem o universo das ciências sociais não haviam sido consolidadas, o Departamento
de Sociologia de Chicago firmava diálogo com a filosofia, antropologia, educação e
psicologia social e, imprimia uma dimensão interdisciplinar no trabalho intelectual
(MARTINS, 2013). Segundo Eufrásio (1999, p. 34), “[o] domínio estudado pela sociologia de
Chicago até 1930 foi bastante amplo”. Além dos estudos urbanos e ecológicos, pesquisou-
se sobre movimentos sociais, revoluções, seitas, comportamento de massas e multidões,
opinião pública, relações raciais, psicologia social e várias formas de patologia social,
incluindo crime e delinquência, teoria sociológica e história da sociologia (FARIS, 1980).
Os estudos migratórios e a Escola de Chicago
Apesar da comum história das migrações internacionais na Europa e nas Américas,
para Oliveira (2014), o estudo da imigração e o próprio imigrante como ator social não
foram associados aos clássicos da sociologia, como Karl Marx, Max Weber e Émile
Durkheim
5
. Os fundadores dessa ciência analisavam o tema enquanto decorrência do
desenvolvimento do sistema capitalista, sendo consequência da industrialização e
urbanização, decorrentes da Revolução Industrial (RICHMOND, 1988
apud
SASAKI; ASSIS,
2000; FERREIRA; CARDIN, 2020). A área de estudos ganhou destaque com Simmel
6
e
consolidou-se em autores da Escola de Chicago. Como apontam Sasaki e Assis (2000, p.
1), “[...] foi nos EUA, país receptor de milhões de imigrantes de diferentes nacionalidades,
que a migração se tornou um problema sociológico”. A preocupação dos primeiros
sociólogos com os problemas sociais que eles atribuíam à chegada de estrangeiros colocou
o estudo das migrações internacionais no centro dessa nova disciplina (FITZGERALD,
2014).
Em virtude da complexidade do fenômeno e seus efeitos políticos, culturais e
econômicos das sociedades contemporâneas, as migrações representam uma
preocupação constante das pesquisas sociais. O paulatino desenvolvimento do campo no
século passado indica um crescimento da complexidade no processo e sua importância
(VETTORASSI; DIAS, 2017). Durante muito tempo, os estudos migratórios estiveram
restritos a uma perspectiva “empiricista-positivista” e associados a pesquisas
quantitativas. Nos últimos decênios, houve um interesse crescente em variados temas
5
Para aprofundar nesse tema em específico, ver Oliveira (2014) e Ferreira e Cardin (2020).
6
O filósofo e sociólogo alemão Georg Simmel foi considerado o fundador da Sociologia das Formas Sociais,
tendo estudado as formas de socialização ou das relações sociais. Simmel foi renomado dentro e fora da
universidade, embora nesta não tenha ocupado senão posições secundárias. Em 1985 tornou-se um
Privatdozent
(professor remunerado apenas taxas pagas pelos estudantes que se inscreviam em seus
cursos). Em 1914, foi nomeado professor em Estrasburgo. Nessa cidade, veio a falecer em 1918 (BRAGA;
GASTALDO, 2009).
relacionados às migrações, que, por seu turno, viabilizaram o avanço em pesquisas
qualitativas. O desenvolvimento das técnicas de entrevistas e observação participante foi
importante para o entendimento das complexidades da migração para além da estrutura e
da agência (IOSIFIDES, 2011).
A Escola Sociológica de Chicago contribuiu significativamente para as ciências
sociais, os estudos migratórios e o desenvolvimento metodológico (FERREIRA; CARDIN,
2020). Seus trabalhos foram base para a criação de teorias sobre migração internacional
que ressaltaram os processos de (des)integração social e assimilação cultural dos
imigrantes (SASAKI; ASSIS, 2000). As teorias sociológicas atuais sobre a imigração
baseiam-se principalmente na teoria de assimilação clássica, que foi incorporada às
ciências sociais pela Escola de Chicago (ALBA; NEE, 1997)
7
. Além disso, métodos de
pesquisa concebidos pelos autores desse departamento evidenciaram sua utilidade e são
atualmente empregados para analisar a mobilidade espacial produzida por diferentes
grupos (VETTORASSI; DIAS, 2017).
Antes de discutirmos os trabalhos da Escola de Chicago, apresentaremos o
pensamento de Simmel sobre o tema, que influenciou os estudos da instituição
(ZANFORLIN, 2013). A figura social do migrante está presente em vários textos e é
considerada importante para compreender sua sociologia (OLIVEIRA, 2014). Para Simmel,
a mobilidade (de perspectivas, de sentidos e de ações) é a principal característica do
indivíduo na modernidade (FERREIRA; CARDIN, 2020; OLIVEIRA, 2014). De acordo com
Oliveira,
Simmel abordou os temas da imigração e do imigrante e, sobretudo, as
consequências de suas ações de maneira transversal. Já o tema dos imigrantes
(ou descendentes de) foi diretamente abordado em seus estudos sobre os judeus,
tendo Simmel os considerados assimilados. Por outro lado, quando Simmel fala
do espaço, uma discussão sobre deslocamento e, portanto, sobre migrações.
Nesse caso, Simmel analisa as formas de socialização que se estabelecem dentro
de um grupo migrante em contraste com um grupo fixo. Procura ainda
compreender os efeitos que a migração produz nos membros do grupo
sedentário. Por fim, refere-se especificamente aos migrantes nos seus trabalhos
sobre os estrangeiros. (OLIVEIRA, 2014, p. 84).
Como aponta Zanforlin (2013), tem-se, a partir das ideias de Simmel, a base de um
caminho para pensar a relação entre cidade, migração e trocas culturais e comunicacionais
iniciadas em Chicago. Nas palavras de Oliveira (2014, p. 87), “[a] importância de Simmel
para os fundadores do Departamento de Sociologia da Escola de Chicago é inegável A
7
Algumas das teorias que ramificam da teoria de assimilação clássica incluem: assimilação segmentada;
assimilação espacial; grupos étnicos e suas fronteiras; redes sociais (LEE, 2009). Para aprofundar nessa
temática em particular, consultar Fitzgerald (2014), Lee (2009) e Sasaki e Assis (2000).
publicação da obra de Simmel pela
American Journal of Sociology
e pela University of
Chicago Press, respectivamente, por iniciativa de Albion Small
8
e Robert Park
9
, tornaram
a produção do filósofo e sociólogo alemão uma referência nas ciências sociais
estadunidenses, e um dos alicerces sociologia de Chicago (BRAGA; GASTALDO, 2009;
OLIVEIRA, 2014).
No início do século XX, os sociólogos norte-americanos foram levados a colocar a
migração como um problema devido à crescente mobilidade populacional da Europa para
os países do Novo Mundo, em particular para os Estados Unidos. Tal mobilidade, fruto do
crescimento populacional e das crises econômicas naqueles países, gerou intenso debate
político nos EUA, sobretudo tendo em vista a preocupação emergente nesse país com a
constituição da sociedade frente à presença de imigrantes, debate este que ainda hoje é
bastante polêmico (SASAKI; ASSIS, 2000). O interesse dos pesquisadores e professores
da Universidade de Chicago pelo tema da imigração teve como origem as migrações dos
negros norte-americanos do sul em direção às grandes cidades do norte do país
(OLIVEIRA, 2014).
O interesse surgiu numa época em que o problema da imigração, em termos
políticos e jurídicos, estava em seu auge, como bem mostram os debates sobre as
leis de cotas votadas nos anos 1920. Com efeito, naqueles anos, a ideia do
melting
pot
estava sendo posta à prova. Assim, não é fortuito o fato de que trabalhos
como “The Guetto”, “The City” e “The Polish Peasant”, abaixo analisados, foram
publicados nas “Americanization Series”. De certo modo, acreditava-se ou temia-
se que a uniformização do povo norte-americano, em virtude da diversidade e
dos grupos imigrantes, não fosse alcançada (OLIVEIRA, 2014, p. 87).
Os pesquisadores de Chicago buscaram analisar o processo de assimilação cultural
do estrangeiro e não as causas da sua escolha migratória (LACERDA, 2014). A questão da
integração e assimilação dos imigrantes nos EUA era o foco das pesquisas. Seus teóricos
acreditavam na capacidade da sociedade estadunidense em assimilar minorias
(ZANFORLIN, 2013). Alguns autores clássicos da escola que analisam o processo de
integração e assimilação do estrangeiro no meio urbano são: William Thomas, Florian
Znaniecki, William Foote White, Robert Park, e Everett Lee. Entre estes, as obras que
inauguraram os estudos da sociologia urbana da Escola de Chicago são
The City:
Suggestion for the Investigation of Human Behavior in the City Environment
, de Robert
8
Small foi o primeiro diretor do departamento de sociologia da Universidade de Chicago e fundador da
American Journal of Sociology
. Esse sociólogo norte-americano foi colega de Simmel na Alemanha e tinha
interesse pelo seu trabalho (OLIVEIRA, 2014).
9
Jornalista e sociólogo estadunidense, Park foi aluno de Simmel na Universidade de Berlim. Nessa instituição,
Park obteve o seu título de doutor em Filosofia, em 1904, quando decidiu voltar aos Estados Unidos. Em 1913,
entrou no departamento de Sociologia de Chicago (OLIVEIRA, 2014).
Park (1915) e
The Polish Peasant in Europe and America
, dos autores Thomas e Znaniecki
(1918) (LACERDA, 2014).
No livro, Park argumenta que o espaço modula beneficamente o comportamento
coletivo; a concorrência cria conflitos (OLIVEIRA, 2014). Em 1922, o mesmo autor publica
The Immigrant Press and Its Control, em que analisa o impacto da imprensa imigrante
sobre comportamentos que dificultavam a assimilação. Por fim, em 1928, Park publica o
artigo Human Migration and the Marginal Man, completando o primeiro ciclo de estudos
sobre o tema (OLIVEIRA, 2014). Em 1950, após a morte do autor, foi publicado Race and
Culture. Nesse volume estavam reunidos vinte e nove artigos escritos por Park. Um dos
capítulos do livro é, por exemplo, Race Prejudice and Japonese American Relations, na qual
a figura do estrangeiro imigrante esrelacionada ao tema do preconceito, inaugurando
um campo de estudos fundamental em países com forte afluência de estrangeiros
(OLIVEIRA, 2014).
Como aponta Becker (1996, p. 182), “[u]ma das características do pensamento de
Park e isso se aplica à Escola de Chicago como um todo era não ser puramente
qualitativo ou quantitativo. Park era muito eclético em termos de método. O autor foi o
principal mentor do uso de métodos antropológicos no estudo de populações urbanas
10
,
defendendo abertamente e estimulando os pesquisadores do departamento a praticarem
técnicas de observação participante em seus trabalhos. Park encarava a cidade como um
laboratório para investigação da vida social:
[A] cidade é um laboratório para estudar sociedade, e não é à toa que Park está o
tempo todo preocupado em mandar seus alunos para outros lugares, não só para
as grandes cidades, mas também para as cidades pequenas e para o interior.
(VELHO, 2005, p. 62).
Como ressalta Zanforlin (2013), Park, que foi aluno de Simmel durante o período de
seu doutorado na Alemanha, traz dele evidentes contribuições para o desenvolvimento de
suas pesquisas, sobretudo a questão do imigrante de segunda geração. Para a autora,
[e]ssa influência fica clara no seu texto Human Migration and the Marginal Man
de 1928. No caminho inverso do seguido pelas teorias evolucionistas, onde se
destaca a de Gobineau, por exemplo, que busca argumentos racistas para explicar
10
A antropologia foi a primeira ciência, no século XIX, a utilizar a recolha de histórias de vida como
instrumento de investigação (Bertaux, 1989) e seu emprego centrou-se inicialmente no estudo de
comunidades de índios (Tinoco, 2016). No princípio, definiu-se, pela pragmática, uma das principais
utilizações das abordagens biográficas: o desvendar das regras e das cosmovisões, por assim dizer, de
culturas estranhas à cultura dominante. O contexto desta utilização da biografia era principalmente da tribo
exótica, o do lugar longínquo (Tinoco, 2016). A Escola Sociológica de Chicago viria a modificar radicalmente
esses contextos e a providenciar um enquadramento epistemológico à sua utilização (Tinoco, 2016).
a evolução social e evolucional, Park afirma que uma civilização resultaria, ou
melhor, floresceria partir do contato e da comunicação, isto é, da mistura de raças
e etnias. A diversidade, portanto, não seria uma exceção, mas a regra de qualquer
civilização, o contexto necessário para que se crie frutífero espaço para
competição, conflito e cooperação. Park argumenta sobre a natureza
propriamente mista de todas as raças, sobre a importância do contato e das
migrações para as civilizações, ao contrário do que sugerem as teorias
evolucionistas. Ressalta-se ainda a relevância do conflito, do atrito, da troca, para
a superação e transformação de uma sociedade (ZANFORLIN, 2013, p. 165).
Ainda que os estudos de Park e seus seguidores
11
tratem da questão da imigração
em perspectivas originais, buscando entender a marginalidade de qualquer grupo ou
indivíduo (e não apenas os imigrantes) de primeira e segunda geração, ou ainda as
condições sociais que a explicam, o estudo que tomou por objeto o imigrante de maneira
central foi o clássico
The Polish Peasant in Europe and America
, de Willian I. Thomas e
Florian W. Znaniecki (OLIVEIRA, 2014). Para Becker (1996), junto com polonês Znaniecki,
Thomas começou uma pesquisa que se tornou um dos primeiros trabalhos de campo
publicados. O livro reuniu entrevistas e histórias de vida de pessoas que viviam na Polônia
e das que haviam emigrado para os Estados Unidos. Nas palavras de Oliveira (2014, p. 90),
“[o] plano de
Polish Peasant
é simples. Trata-se de descrever a trajetória de um grupo
social através do depoimento do imigrante Vladeck”. Como apontam Sasaki e Assis (2000),
a referida obra influenciou fortemente os estudos posteriores de migração. Nas palavras
das autoras,
[e]sta obra é considerada importante por que, embora tratasse de um tema
específico os cerca de dois milhões de poloneses que migraram para a América
entre 1880 e 1910 também demonstrou como o processo de migração quebra os
laços de solidariedade, particularmente o sistema familiar. Os estudos
influenciaram o surgimento da sociologia urbana e da sociologia do desvio, temas
retomados pela Escola de Chicago (SASAKI; ASSIS, 2000, p. 4).
Oliveira (2014) buscou entender o livro e suas principais contribuições quase um
século depois da publicação do trabalho. Para o autor, além do depoimento e das cartas
reproduzidas, o livro é um clássico, porque incorporou na mesma análise temas originais
para a época, tais como preconceito racial, imigração, assimilação, valor moral das
nacionalidades, crime e alcoolismo. A obra é original ainda porque se interessou pelo grupo
antes mesmo da imigração, ou seja, tentou reconstruir a vida dos poloneses dos dois lados
do Atlântico (OLIVEIRA, 2014). Por sua vez, Chapoulie considerou a obra como um clássico
porque é:
11
Cf. Oliveira (2014).
[...] primeiro estudo sociológico fundador de uma “escola de Chicago” que
acentua o trabalho de campo e a dimensão subjetiva, “O Camponês Polonês
oferece uma análise das transformações dos comportamentos dos camponeses
poloneses após seus contatos com o mundo moderno (urbano) e, sobretudo para
alguns, após sua migração para os Estados Unidos. As autobiografias e a
correspondência familiar são as novas fontes documentais inventadas” por
Thomas para analisar a dimensão subjetiva dos comportamentos. Ainda que
Thomas, o autor principal, tenha deixado a Universidade de Chicago em 1918, a
obra exerceu grande influência sobre as monografias em sociologia urbana
realizadas na Universidade de Chicago nos anos seguintes, cujos autores
constituem o que é frequentemente designado pelo termo “Escola de Chicago”. A
obra abriu assim a via para obras posteriores que tiveram por base uma
abordagem etnográfica (trabalho de campo) (CHAPOULIE, 2001, p. 146
apud
OLIVEIRA, 2014, p. 91).
O estudo de Thomas e Znaniecki acerca do movimento migratório polaco é o
primeiro grande estudo a empregar material biográfico (TINOCO, 2016). Os autores
utilizaram, inclusive, uma autobiografia de um emigrante polaco (PINEAU; LE GRAND,
1993
apud
TINOCO, 2016). A despeito de não ser muito explorada, a autobiografia
constitui-se como marco histórico e, em conjunto com outros materiais (por exemplo,
entrevistas, documentos e correspondências pessoais), se transforma em objeto de
estudo (TINOCO, 2016).
The Polish Peasant destacou-se por ter sido a primeira obra a combinar a
construção da teoria com a pesquisa empírica de maneira integrada e harmônica, sendo
saudada como a obra que marcou o amadurecimento da sociologia norte-americana num
patamar que a sociologia europeia havia atingido (EUFRÁSIO, 1999). A Escola de Chicago
desenvolveu as análises de Thomas e Znaniecki em diversas direções. Estas análises
focalizavam os processos de adaptação, aculturação e assimilação dos grupos imigrantes
dentro da sociedade norte-americana (SASAKI; ASSIS, 2000). Tais teóricos acreditavam
que ocorreria uma completa assimilação estrutural e cultural, embora não fosse claro se
isso envolveria a adoção de valores anglo-americanos. O termo
melting pot
passaria a se
referir a esse processo de assimilação e/ou americanização dos imigrantes, não levando,
portanto, ao total abandono de seus valores e modo de vida, mas sim, em tornar-se grupos
cada vez mais amplos e inclusivos (SASAKI; ASSIS, 2000)
12
.
Ainda no que se refere aos estudos desenvolvidos pela Escola de Chicago durante
a primeira metade do século XX, destacam-se o trabalho de Louis Wirth (1928), em
The
Ghetto
, a análise qualitativa produzida por John Lindberg (1930), em
The background of
12
A teoria do
melting pot
tem sido empregada para descrever sociedades que são formadas por uma
variedade de culturas imigrantes que eventualmente produzem novas formas sociais e culturas híbridas
(MADDEM, 2013). Ela enfatiza a ideia de integração e homogeneização (SANTOS, 2010). Embora possa ser
aplicada a qualquer país que tenha integrado novas culturas, a teoria do
melting pot
é mais comumente
utilizada para descrever os EUA como um novo mundo com uma nova raça distinta de pessoas amalgamadas
de vários grupos de imigrantes. Por causa disso, essa teoria tornou-se sinônimo do processo de
americanização (MADDEM, 2013).
Swedish emigration to the United States: an economic and sociological study in the
dynamics of migration
, para compreender o funcionamento das redes migratórias
conectando a Suécia aos Estados Unidos, e o trabalho seminal de Willian Foote Whyte
(1943), denominado
Street corner society: the social structure of an Italian slum
(VETTORASSI; DIAS, 2017). Sobre este último,
[i]nicialmente pouco contemplado pela academia, esse estudo dedicado a
explorar as condições de vida de migrantes italianos no subúrbio de Chicago se
tornaria pioneiro no método de observação participação participante para os
estudos migratórios. Através de uma intensa convivência com jovens migrantes
e membros de gangues, Whyte descreveu o funcionamento da estrutura social
desse grupo (VETTORASSI; DIAS, 2017, p. 9).
Como vimos, interpretado por essas pesquisas pioneiras, como minorias marcadas
por vidas precarizadas, o migrante e sua condição existencial paradoxal passam a ganhar
importância para a sociologia (VETTORASSI; DIAS, 2017).
A sociologia de Chicago chega ao Brasil
Até a década de 1940, o ensino de sociologia foi foco da maior parte das instituições
latino-americanas, e, por conta disso, no momento da criação dos cursos de sociologia na
região, o objetivo era que eles constituíssem disciplinas auxiliares, principalmente dos
cursos de direito e filosofia, e não autônomas. Isto é, não era esperado que os professores
fizessem pesquisa empírica. Segundo Blanco (2007, p. 92), uma análise da produção
intelectual desta geração revela que os gêneros mais difundidos eram o ensaio político, a
história das ideias, o manual e o tratado. É nesse contexto que alguns intelectuais
começam a se mostrar insatisfeitos com o que era produzido na sociologia e passam a
buscar uma renovação da disciplina, tendo a ciência empírica como centro. Entre estes
intelectuais está o espanhol que trabalhou no Colégio do México, José Medina Echavarria,
que escreveu:
Uma ciência sociológica não pode existir sem teoria e sem técnica de pesquisa.
Sem uma teoria, isto é, sem um quadro de categorias depurado e um esquema
unificador, o que se chama sociologia não apenas não será uma ciência como
carecerá de significação para a investigação concreta e a resolução dos
problemas sociais do dia. Sem uma técnica de pesquisa definida, submetida a
cânones rigorosos, a investigação social não apenas é infecunda, mas convida à
ação sempre disposta do charlatão e do audaz. [...] A sociologia tem sido sempre
castigada pela improvisação, e esta deve ser cortada pela raiz. (ECHAVARRIA,
1941, p. 8,
apud
BLANCO, 2007, p. 92).
A citação de Echavarria faz referência direta à sociologia norte-americana, que até
então era vista como “aplicada”, “naturalista” ou “como mero catálogo de fenômenos
sociais” (BLANCO, 2007). A relação dessa renovação da sociologia latino-americana com
a sociologia norte-americana fica clara quando observamos os trabalhos e ensinamentos
de Donald Pierson (1900-1995)
13
, formado na Universidade de Chicago.
Em 1939, Pierson chega ao Brasil para lecionar na ELSP.
14
Fundada em 1933, a
instituição teve o apoio de empresários e intelectuais paulistas, os quais entendiam ser
necessária a formação uma mão-de-obra especializada na realização de pesquisas que
resultassem em sugestões para superar problemas sociais enfrentados pelo país. Em meio
ao contexto pós-Crise de 1929, causada pela queda da Bolsa de Valores de Nova Iorque,
que afetou diretamente a economia cafeicultora do Brasil, e mais ainda de São Paulo, o
recém-instalado governo de Getúlio Vargas buscou liderar um esforço de industrialização
do país (CANO, 2015). Logo, um dos objetivos principais da ELSP era formar indivíduos
que pudessem auxiliar, por meio da pesquisa, a modernização do aparato estatal e a
encontrar alternativas econômicas, sociais e políticas para as crises e os problemas da
sociedade brasileira (COTRIM, 2016).
Não à toa uma das primeiras pesquisas realizadas na instituição, liderada pelo
professor norte-americano Horace B. Davis, tinha por objetivo compreender o padrão de
vida dos trabalhadores operários da cidade de São Paulo. Nessa mesma linha, em 1938,
Bruno Rudolfer unificou os resultados das pesquisas de Davis e de outros professores,
como Samuel H. Lowrie e Oscar Egydio de Araújo, e organizou o primeiro índice de custo
de vida de trabalhadores na capital paulista (BERLINCK, 1961; DEL VECCHIO & DIEGUEZ,
2008; DEL VECCHIO, 2009). A fundação da ELSP, para Del Vecchio (2009), significou
tanto a criação do primeiro centro voltado para a formação sistemática de sociólogos no
Brasil, como a associação do ensino com a pesquisa social aplicada.
Ao entrar na instituição, Pierson esforçou-se em apresentar a importância do
“empirismo” nas ciências sociais, como ocorre nas áreas da biologia e da química. Ele
criticava o uso de teorias sociais sem o apoio nas devidas descrições e análises anteriores,
gerando “[...] apenas hipótese sujeita à verificação, modificação, ou abandono a qualquer
momento, dependendo de sua correspondência com a realidade [...]” (PIERSON, 1987, p.
84). Pierson trazia de Chicago justamente técnicas de pesquisas apoiadas em teorias, como
Echavarria afirma ser necessário para a sociologia. É nesse contexto que a ELSP
desenvolve uma parte importante de suas pesquisas.
13
Donald Pierson foi um sociólogo norte-americano formado pela Universidade de Chicago. Estudou relações
raciais e comunidade rurais no Brasil, entre outros temas, além de escrever sobre a prática das Ciências
Sociais. No Brasil, lecionou na ELSP entre 1939 e 1953 (NOVA, 1998).
14
Donald Pierson esteve anteriormente no Brasil, entre os anos 1935 e 1937, a fim de realizar a pesquisa de
campo da sua tese doutorado sobre as relações entre negros e brancos na Bahia. (NOVA, 1998) A pesquisa
resulta no livro
Negroes in Brazil: A Study of Race Contact at Bahia
(1942), e a sua edição brasileira foi
intitulada
Brancos e Negros na Bahia
(1945).
Até a década de 1930, a pesquisa social empírica era realizada por estrangeiros e
viajantes, e quando feita por brasileiros, se resumia a estudos de caráter histórico,
estatístico ou censitário. Essas pesquisas, em geral, seguiam um direcionamento do
governo, e não tinha análises, apenas enumerações. Com a criação da ELSP, o primeiro
centro de estudos e pesquisas de ciências sociais em São Paulo, em 1933, este quadro é
alterado (NOVA, 1998). Segundo Berlinck, a ELSP “[...] visava educar a mocidade no Estudo
das ciências sociais e na aplicação dessas ciências para esclarecer os fenômenos e
problemas sociais, políticos e econômicos do Brasil” (BERLINCK, 1961, p. 371).
A instituição brasileira concebia a sociologia de forma mais pragmática, formando
quadros técnicos para o estudo e intervenção política na comunidade analisada. O foco
estava justamente no empirismo, no intervencionismo e na contratação de professores
estrangeiros. Não havia necessariamente a intenção de gerar políticas públicas, mas gerar
dados sobre determinada localidade e produzir instrumentos que permitissem a sua
melhor elaboração, fornecendo a base empírica necessária (LIMONGI, 1989).
Assim, o projeto da ELSP foi aprimorado com a chegada de Donald Pierson em 1939,
que o “academizou” introduzindo todos e teorias desenvolvidos nas pesquisas da
Escola de Chicago. A partir disso, os trabalhos de sociologia da ELSP passam a ter uma
base empírica mais aguçada, indo a campo e realizando entrevistas de profundidade, por
exemplo (NOVA, 1998; CAVALCANTI, 1999). Diversas pesquisas produzidas na ELSP
seguindo os métodos apresentados por Pierson e intelectuais estrangeiros, como os
alemães Emilio Willems (1905-1997)
15
e Herbert Baldus (1899-1970)
16
(ALVES, 2015;
COTRIM, 2016).
A relação entre a sociologia de Chicago e aquela ensinada e aplicada na ELSP pode
ser observada nas pesquisas empíricas no meio urbano
17
, para além dos estudos
migratórios. Mendoza (2005) aponta que estes estudos, que começaram com a chegada
de Pierson na ELSP, faziam uso de metodologias como observação participante,
entrevistas e coleta de dados quantitativos, a fim de investigar o desenvolvimento urbano
de São Paulo, que contava cada vez mais com indústrias e, consequentemente, operários,
brasileiros e imigrantes. Entre as décadas de 1940 e 1950, trabalhos como os de Lucila
Hermann, Oscar Araújo, Frederico Heller e Oracy Nogueira tentavam aproximar o estudo
15
Emilio Willems nasceu na Alemanha, e estudou na Universidade de Colônia, e, posteriormente, na de
Berlim. Foi professor da ELSP (1936-1949) e da USP, e realizou pesquisas principalmente sobre a integração
dos imigrantes em seus países adotivos e sobre comunidades rurais no Brasil (VILLAS BOAS, 2000).
16
Herbert Baldus foi um etnólogo alemão, pesquisava questões relacionadas aos povos indígenas no Brasil,
se tornando um dos maiores especialistas no tema no país. Foi professor na ELSP a partir de 1939 e diretor
do Museu Paulista (1953-1960) (SAMPAIO-SILVA, 2000).
17
Mendoza (2005) argumenta que os estudos urbanos realizados entre as décadas de 1940 e 1950 na ELSP
não podem ser considerados como Sociologia Urbana, pois não havia ainda uma agenda institucional de
pesquisa. Estes estudos poderiam ser considerados precursores do campo.
da cidade ao sujeito habitante dela, e inovavam ao perceber a cidade como um objeto de
estudo, da mesma forma como acontecia em Chicago (MENDOZA, 2005). Os imigrantes,
assim como muitos brasileiros, passaram a compor essa cidade em formação ao se
deslocarem do meio rural para São Paulo, reforçando o processo de industrialização e
dando início ao de urbanização, fundamentais para a inserção destes estrangeiros na
sociedade local.
Outra forma de perceber a presença da sociologia de Chicago na ELSP, é analisando
algumas das disciplinas que eram ensinadas ali. Por exemplo, as disciplinas voltadas
especificamente para a temática da imigração tinham como foco discutir conceitos como
“assimilação” e aculturação”, e a observação dos imigrantes em suas comunidades e na
interação com brasileiros. De acordo com os anuários da ELSP, em 1946, Emilio Willems
ministrou a disciplina “Aculturação entre os Imigrantes Alemães e Japoneses no Brasil
Meridional” no curso de pós-graduação da ELSP, assim como em 1948 (FESPSP, 1946;
FESPSP, 1948). Outro exemplo que podemos citar é uma disciplina ministrada diversas
vezes por Pierson sobre métodos de pesquisa em ciências sociais
18
.
Para essa disciplina, Pierson teve como base um curso muito semelhante
ministrado por Park em Chicago, que deu origem ao livro escrito em coautoria com
Burgess,
Introduction to the study of Sociology
(1921) (VALLADARES, 2005). O livro traz
uma perspectiva ecológica da sociedade, organizando-a em função de processos sociais,
tais como contato social, interação, competição, conflito, acomodação, assimilação,
controle social e comportamento coletivo. Por muito tempo, o trabalho foi considerado
uma espécie de manual da sociologia norte-americana (NOVA, 1998).
O curso de Pierson foi dividido em duas partes: na primeira, era feita a análise de
técnicas e métodos de pesquisa; na segunda, a aplicação prática, em laboratório e
“trabalho de campo”, das referidas técnicas e métodos (FESPSP, 1942). No programa do
curso uma discussão do que fazer numa pesquisa de ciências sociais e a importância
de trabalhos em cooperação com outros pesquisadores, inclusive com “cientistas
treinados”; além dos métodos, como coleta e registro de dados. Para Pierson, a função da
pesquisa social é melhorar a teoria, essa, por sua vez, teria como função criar a pesquisa.
Discutem-se os métodos: estatístico, estudo de caso, observação participante,
comparativo e experimental; e as cnicas: entrevista, formulário, questionário e história
18
De acordo com os anuários da ELSP, Pierson ministra o mesmo curso nos anos de 1942 e 1946 (quando
divide a disciplina com Oracy Nogueira) com o título “Introdução à Ciência da Sociologia”, com poucas
modificações na ementa, apenas focando mais nos tipos de interação social do que no primeiro ano da
disciplina. Esta mesma disciplina é ministrada por Pierson e Nogueira novamente em 1948, mas sob o título
“Sociologia II: Sociologia Sistemática”, e com algumas pequenas alterações.
de vida. Portanto, o curso busca ensinar o aluno como fazer pesquisa de campo, refletindo
sobre todos os possíveis métodos que poderia utilizar nela
19
.
Na pós-graduação em ciências sociais, Willems ministrou uma disciplina sobre
aculturação e assimilação, cujo foco era a questão prática de pesquisas sobre os
imigrantes. Na ementa da disciplina, uma listagem dos pontos que ele observou
enquanto em campo estudando tanto os alemães em Itajaí-Mirim (SC) quanto os japoneses
no Vale da Ribeira (SP) (FESPSP, 1942). Além dos pontos comuns a serem observados nesse
tipo de pesquisa, destacamos alguns de cada grupo étnico.
Por exemplo, em relação aos alemães, Willems afirma observar no grupo
principalmente “[...] conflitos, desajustamentos, marginalidade, ressentimento,
ambivalência [...]” (FESPSP, 1942, p. 104). Entre os japoneses, ele atenta para a situação
social e cultural desses imigrantes, e comenta sobre as dificuldades enfrentadas pelos
japoneses no Hawai. Por fim, em relação às duas comunidades, ele observa condições
especiais de assimilação: a classe social, intercasamento, o desnivelamento econômico e a
industrialização dos alemães. no primeiro ponto do programa o tema “conceitos
fundamentais”, contudo, Willems não os aprofunda no programa de disciplina. nos resta
argumentar que seja neste momento de sua disciplina que ele define os conceitos de
“assimilação” e “aculturação”.
Esses dois conceitos são pensados por Baldus e Willems em seu Dicionário de
Etnologia e Sociologia, citado anteriormente na disciplina de Baldus. Neste eles definem
que “aculturação”, se refere “[...] àqueles fenômenos resultantes do contato, direto e
contínuo, dos grupos de indivíduos de culturas diferentes, com as mudanças consequentes
nos padrões originais culturais de um ou ambos os grupos [...]” (BALDUS; WILLEMS, 1939,
p. 18).
20
E, por seu turno, “assimilação” tem a ver com um “[...] processo de interpenetração
e fusão de culturas, isto é, de tradições, sentimentos, atitudes de pessoas e de grupos que,
partilhando da mesma experiência e história, se incorporam numa vida cultural comum
[...]” (BALDUS; WILLEMS, 1939, pp. 26-27).
Para Pierson, a assimilação seria a “[...] transformação gradual da personalidade
sob a influência dos contatos mais íntimos e concretos, até se identificar com uma nova
configuração de atitudes e sentimentos [...]” (FESPSP, 1942, p. 37). Ambos os conceitos em
19
É importante destacar que, assim como ocorreu com a disciplina de Park em Chicago, o curso ministrado
por Pierson deu origem ao livro
Teoria e Pesquisa em Sociologia
, uma espécie de manual da pesquisa
sociológica, onde ele apresenta os principais conceitos e métodos da área. O livro foi publicado pela primeira
vez em 1945 e teve 18 edições ao longo de 36 anos.
20
É importante destacar que, assim como ocorreu com a disciplina de Park em Chicago, o curso ministrado
por Pierson deu origem ao livro
Teoria e Pesquisa em Sociologia
, uma espécie de manual da pesquisa
sociológica, onde ele apresenta os principais conceitos e métodos da área. O livro foi publicado pela primeira
vez em 1945 e teve 18 edições ao longo de 36 anos.
destaque são fundamentais para entendermos a integração do imigrante, por exemplo, a
sua nova comunidade e a sua interação social com seus novos vizinhos, sendo esses um
dos temas mais trabalhados tanto nos estudos da Escola Sociológica de Chicago, como na
ELSP.
Vale destacar neste momento o processo de assimilação, conforme interpretado
por Park, que influenciou os estudos da ELSP (COTRIM, 2016). O processo está dividido
em quatro etapas: competição, conflito, acomodação e assimilação. A
competição
é a luta
pela existência” (PIERSON, 1964) e passa despercebida na maior parte do tempo. Em
momentos de crise, quando os indivíduos estão conscientes da busca pelo controle das
condições de sua vida, há o
conflito
(PARK; BURGESS, 2014).
A mudança da competição para o conflito pode ser descrita como um processo
político, que pode levar a momentos de mudança, como guerras ou eleições, em que são
tomadas decisões e, se aceitas, é encerrado o conflito, chegando-se à
acomodação
. Esta
etapa “[...] é o processo através do qual os indivíduos e grupos fazem os ajustes internos
necessários para as situações sociais que foram criadas pela competição e conflito [...]”
(PARK; BURGESS, 2014, p. 131), estabelecendo um novo
modus vivendi
. A
assimilação
,
último nível do processo, implica em mudanças mais profundas na sociedade, levando à
transformação gradual das personalidades sob o contato mais íntimo e concreto
(PIERSON, 1964; PARK; BURGESS, 2014).
Além da análise das disciplinas ministradas na ELSP, considerando os conceitos e
métodos ensinados ali, a influência da Escola de Chicago sobre os estudos migratórios
também pode ser observada nas pesquisas em si, como nos trabalhos de Willems e seus
alunos. Após a entrada massiva de imigrantes vindos de países como Alemanha, Itália,
Portugal, Espanha e Japão, entre o final do século XIX e o início da Segunda Guerra
Mundial, o foco da sociologia brasileira, entre as décadas de 1940 e 1950, era compreender
como estes indivíduos estavam sendo absorvidos pela sociedade brasileira. Para isso,
muito se utilizou das técnicas, como história de vida e aplicação de questionário, e dos
estudos realizados em Chicago para entender os grupos estrangeiros que estavam
estabelecidos no Brasil.
Estudos migratórios no Brasil
Apresentaremos aqui algumas destas pesquisas realizadas entre as décadas de 1940
e 1950 por professores e alunos da ELSP baseados no que era feito em Chicago. É neste
contexto histórico que os estudos migratórios nas ciências sociais no Brasil ganham força
e são institucionalizados como um campo de pesquisa. Em geral, as pesquisas eram
comandadas por Emílio Willems, mas ele não era o único a tratar do tema da imigração em
suas publicações. Podemos citar também, por exemplo, os cientistas sociais Herbert
Baldus, Egon Schaden (1913-1991)
21
e Hiroshi Saito (1919-1983)
22
, Maria Isaura Pereira de
Queiroz (1918), Florestan Fernandes (1920-1995), José Arthur Rios (1921-2017), muitos dos
quais foram alunos ou tiveram contato com Willem
23
.
Um dos trabalhos mais importantes e mais conhecidos de Emilio Willems é o livro
Assimilação e Populações Marginais no Brasil estudo sociológico dos imigrantes
germânicos e seus descendentes, publicado em 1940
. Nesse, ele discute densamente
conceitos-chaves em Chicago e na ELSP como “assimilação” e “aculturação”. O primeiro,
referido às mudanças na esfera social de um indivíduo; o segundo, na esfera cultural. Ele
acrescenta que “não pode haver assimilação sem haver, ao mesmo tempo, aculturação ou
vice-versa” (WILLEMS, 1940, p. 17), e critica a ideia de que haveria “representantes da
espécie humana inassimiláveis”, visto que, por haver caráter social, toda cultura implica
na possibilidade assimilação. Estas e outras preocupações estão presentes no estudo de
Willems, que busca investigar a “assimilação” de alemães no Brasil a partir de um trabalho
no qual ele trata de questões como a história da imigração germânica para o país, os
principais motivos da vinda, as dificuldades iniciais e as adaptações.
Assim como acontece no livro
A Aculturação dos Alemães no Brasil: estudo
antropológico dos imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil
, de 1946 (republicado
em 1980), e em Aspectos da aculturação dos japoneses no Estado de São Paulo, de 1948,
Willems se baseia em observações de campo para entender como ocorrem os processos
de assimilação desses grupos imigrantes. Após entrevistas, aplicação de questionários e
inserção no campo, chegando a passar um período morando nos observados, Willems
descreve as comunidades imigrantes, explica os motivos de seus deslocamentos, analisa
os locais de estabelecimento, as relações com os brasileiros e os seus impactos para a
economia e a sociedade dos locais onde estão inseridos (COTRIM, 2016).
Willems não escreveu sobre os grupos imigrantes específicos como também os
comparou
24
(COTRIM, 2016). No artigo “Recreação e Assimilação” (WILLEMS, 1941)
25
21
Egon Schaden foi um antropólogo brasileiro, formado pela USP, foi assistente de Willems por muitos anos.
Pesquisou temas como imigração, questões indígenas, entre outros.
22
Hiroshi Saito foi um imigrante japonês e sociólogo brasileiro, formado pela ELSP, foi professor da
instituição entre 1960 e 1970. Pesquisou temas relacionados à imigração japonesa, especialmente, e de outros
grupos no Brasil, e ao desenvolvimento agrário (COTRIM, 2016).
23
Apesar de não ser o nosso objeto de investigação neste artigo, visto o contexto histórico pós
institucionalização dos estudos migratórios no Brasil, as pesquisas sobre o tema continuam com força ao
longo das décadas seguintes. Na década de 1960, podemos citar aqui, por exemplo, as cientistas sociais Ruth
Cardoso e Eunice Durham.
24
Nesta mesma chave, Egon Schaden (1956) faz uma rápida comparação entre a aculturação de alemães e
japoneses no país, e conclui que conflitos entre o segundo grupo e brasileiros, por conta de grandes
diferenças de valores, língua, costumes. No entanto, ele não entra em detalhes e afirma que faltam estudos
sobre assimilação e aculturação dos japoneses no Brasil (COTRIM, 2016).
25
Willems possui ainda pesquisas sobre outros grupos étnicos no Brasil, como os judeus (1945).
publicado na revista
Sociologia
, após observar grupos imigrantes de alemães e japoneses,
ele afirma que a conservação de traços recreativos trazidos dos países de origem pode
agir como um fator de segregação. Os alemães tinham interesse pelo futebol, que agia
como um fator de assimilação, porque associava pessoas de todas as origens e classes. De
modo distinto, os japoneses preferiam o beisebol, o que causava o isolamento deste grupo
nos momentos de recreação. Contudo, Willems chama a atenção para o fato de outros
traços culturais terem sido perdidos, tanto por parte dos alemães como dos japoneses
por exemplo, no que se referia à por exemplo, no que se referia à alimentação
26
.
Willems também é autor, em conjunto com Baldus, de um artigo (1942) em que
analisam as mudanças culturais que ocorreram entre os imigrantes japoneses do Vale do
Ribeira (SP). Neste, os autores descrevem algumas adaptações ocorridas, particularmente
as que tocam a alimentação, o clima e as doenças. Além disso, eles apontam o controle do
governo japonês no processo de escolha do imigrante que viria ao Brasil: somente aquele
que renunciasse a tradições religiosas, prometesse usar vestimentas ocidentais e tivesse
ou adquirisse conhecimento agrícola poderia emigrar. O governo, representado pelo
consulado no Brasil, também incentivava a adoção de hábitos brasileiros, sobretudo os
alimentares, e a troca de conhecimentos com a população local sobre formas e técnicas
de cultivo.
27
Essa presença das autoridades japonesas se dava a fim de evitar conflitos e
problemas com a população nativa, como havia sido registrado nos primeiros anos da
imigração para o país (WILLEMS; BALDUS, 2012 [1942]; COTRIM, 2016).
Em coautoria com seu aluno Hiroshi Saito, Willems também escreve sobre a
associação secreta Shindô-Renmei em um artigo publicado em 1947. Nesse trabalho os
autores pensam como a dificuldade de assimilação à sociedade brasileira gera conflitos
internos na comunidade imigrante japonesa no país levando a reações extremas como a
criação dessa sociedade. Opondo-se à assimilação e incentivando a preservação da cultura
japonesa, a Shindô-Renmei foi criada em 1944 com o intuito inicialmente de expandir o
“espírito japonês”, que seria “o” algo “peculiar” da cultura japonesa, e um tipo de
comportamento “ideal” que os imigrantes deveriam ter no Brasil (WILLEMS; SAITO, 1947).
Apesar de não ser o foco inicial do grupo, esse tentou convencer a comunidade japonesa
no país de que o Japão teria ganhado a guerra, a fim de justificar a não assimilação e
reforçar a possibilidade de retorno ao Japão. Esta associação, assim como outras, era
26
É interessante que muitos autores vão destacar a dificuldade de adaptação à alimentação dos imigrantes
no Brasil. Saito (1961), por exemplo, faz listas e tabelas sobre quais alimentos brasileiros os imigrantes
japoneses preferiam, e como os adaptava à alimentação japonesa.
27
Sobre a interferência do governo japonês no processo imigratório de seus nacionais para o Brasil olhar a
tese de doutorado de Célia Sakurai (2000).
violenta e chegou a promover ataques terroristas e assassinatos contra seus opositores
(WILLEMS; SAITO, 1947; CASTRO, 1994).
Após a colaboração com Willems, Saito publica em 1953 um trabalho sobre os casos
de suicídio entre os imigrantes japoneses no Brasil. Ao analisar notícias de jornais, Saito
argumenta que, entre os imigrantes, o suicídio seria um dos episódios que compõem o
drama da mudança cultural, em que as culturas em choques ficam no centro de suas vidas.
Na cultura japonesa, “a falta de cumprimento de um dever ou uma censura pela sociedade
a um ato em contradição com a moral, basta para que se pratique o suicídio a fim de que
o seu nome não fique ‘sujo’ e sua honra seja salva.” (SAITO, 1953, p. 112). Esta seria uma
forma de assumir a responsabilidade e justificar faltas ou falhas na conduta de uma pessoa.
Saito salienta a presença da cultura japonesa nos padrões, causas e meios dos suicídios
dos imigrantes japoneses analisados. Logo, o suicídio seria também uma forma do
imigrante reforçar a sua cultura mãe (SAITO, 1953; COTRIM, 2016).
Por fim, destacamos a dissertação de mestrado de Saito, defendida na ELSP sob
orientação de Pierson e publicada em 1956 Nesta, ele analisa, por meio de pesquisas de
campo, a instalação do sistema cooperativista na cidade de Cotia (SP), influenciado pelas
obras de Willems e Park ao utilizar o conceito “assimilação” de forma central em sua
pesquisa. Este sistema cooperativista, que era fruto do processo de modernização que o
Japão passou no final do século XIX serviu como instrumento para a manutenção das
características da cultura japonesa entre as suas famílias membro. Ela ajudou também, por
outro lado, a integração dos imigrantes à sociedade brasileira, visto que ela criou, por
exemplo, uma escola onde as crianças japonesas aprendiam tanto japonês como o
português. Saito mostra ainda que a cooperativa modificou os hábitos alimentares da
população paulistana, inserindo batatas, verduras e frutas na sua alimentação cotidiana, e
ajudou a moldar a imagem que o imigrante japonês tinha perante a sociedade brasileira,
pois ele não mais representava uma ameaça imperialista, mas sim um trabalhador que
ajudava a desenvolver o país (SAITO, 1956; COTRIM, 2016).
Em seus estudos, Saito procura destacar que os japoneses teriam trazido aspectos
modernos para os seus respectivos locais de estabelecimento. Isto é, o imigrante seria o
agente modernizador, civilizador da comunidade onde se instalava no país (COTRIM,
2016). Outra questão destacada por ele é a ideia de que os japoneses adotaram alguns
aspectos da cultura brasileira, sem abandonar todos da sua cultura de origem. Para Saito
(1961), este processo de assimilação implicava na criação de uma nova cultura, que teria as
características das culturas envolvidas no processo.
Com o desenvolvimento de mais e mais pesquisas de estudos migratórios no Brasil,
a perspectiva da assimilação e da aculturação será alterada. Saito (1961) seria um exemplo
de uma espécie de transição para uma compreensão menos eurocêntrica e fatalista do
processo de adaptação dos imigrantes. Ele define o processo de assimilação como a
criação de uma nova cultura, onde se retém um pouco de cada cultura com a qual se tem
contato, quebrando com a compreensão da necessidade de abandono da cultura de origem.
Com o tempo, especialmente a partir da década de 1970, os conceitos de “assimilação” e
“aculturação” perdem espaço para conceitos como “etnicidade”, que tendem a valorizar a
cultura de origem em vez de incentivar o abandono de suas características (TRUZZI, 2012).
Os trabalhos brevemente descritos aqui abordam o processo de assimilação
buscando identificar as maiores dificuldades, destacando-se, no geral, os conflitos
geracionais, as diferenças linguísticas e as adaptações biológicas (alimentação e doenças,
principalmente). Willems (1940, p. 204) destaca, por exemplo, que a língua portuguesa
seria um símbolo da cultura urbana entre os imigrantes no Brasil, pois somente quando se
mudavam para as cidades é que tinham mais contato com brasileiros e outros imigrantes
que dominavam o idioma local. Além disso, a mudança para o meio urbano alterava hábitos
relacionados a vestimentas (adoção de vestidos, meias calças, salto alto, de arroz) e
comportamentos (passava-se a frequentar bailes e cinemas), por exemplo.
Considerações finais
Ao longo desse artigo, buscamos mostrar a importância da Escola Sociológica de
Chicago para os estudos migratórios na primeira metade do século XX, pensando também
na influência desta para os estudos deste tipo realizados no Brasil naquele momento.
Tanto em Chicago, nos EUA, como no Brasil, os estudos sociológicos ganharam força nas
pesquisas acadêmicas a partir de questões levantadas pelas consequências do processo
de modernização, como a urbanização e a industrialização. Este processo gerava
problemas caracterizados pelos cientistas sociais de Chicago de desorganizações sociais,
como violência, falta de moradia, desemprego, tensões sociais e raciais.
Contudo, umas das principais consequências do processo de modernização é a
imigração de pessoas para diferentes locais no mundo. Em Chicago, a recepção desses
estrangeiros causava tensões em todos os níveis da sociedade, e, por isso, foi um dos focos
principais das pesquisas sociológicas do início do século XX na cidade. O mesmo ocorreu
no Brasil, especialmente no estado de São Paulo, com intensificação da entrada de
imigrantes. Diferentemente de Chicago, no entanto, estes novos grupos sociais, seus
impactos e suas relações com as populações locais se tornam foco de pesquisas
acadêmicas com a criação de cursos de ciências sociais no país, a partir da década de 1930.
Destacamos neste artigo a influência das pesquisas de Chicago na ELSP, instituição
paulistana, identificada como a principal receptora desta tradição sociológica nas décadas
de 1940 e 1950, especialmente no que concernia os estudos migratórios.
Por meio de pesquisas de campo, entrevistas, análises de documentação e dados
quantitativos, a assimilação dos imigrantes no Brasil nos trabalhos de cientistas sociais da
década de 1940 e 1950 é compreendida pela ótica das influências das pesquisas de Chicago
que tratavam do tema, com foco nos trabalhos de Park e Thomas. Isto é, pressupunha-se
uma fase inicial conflituosa com a chegada do grupo estrangeiro, em que as diferenças
podem levar a momentos de tensão seguidos de um entendimento entre os grupos por
meio de acordos que permitem a integração e incentivam as trocas culturais. Buscava-se,
em geral, mostrar que, apesar do processo de assimilação ser longo e doloroso para o
imigrante, ele estava se assimilando à sociedade local e contribuindo para o seu
desenvolvimento.
Referências
ALBA, Richard; NEE, Victor. Rethinking Assimilation Theory for a New Era of
Immigration.
The International Migration Review
, v. 31, n. 4, p. 826-874, 1997. Disponível
em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/019791839703100403. Acesso em: 22
mar. 2021.
ALVES, Andrea M. Alguns temas e problemas da sociologia no Brasil: uma análise de
conteúdo da Revista Sociologia (1939-1941). In: SILVA, Isabela Oliveira Pereira da;
ALMEIDA, Rodrigo Estramanho de. (Org.).
As Ciências Sociais em revista
: temas e
debates na Revista Sociologia (1939-1966. São Paulo: Sociologia e Política, 2015, p. 179-
225.
BALDUS, Herbert. WILLEMS, Emilio. Dicionário de etnologia e sociologia. São Paulo:
Companhia Editora Nacional, 1939.
BECKER, Howard. A escola de Chicago.
Mana
, v. 2, n. 2, p. 177-188, 1996. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/mana/a/6FvBPkkRffvcrrkJb77SZBv/?lang=pt. Acesso em: 9 mar.
2022.
BERLINCK, Cyro. Notas e Comentários: Rumos da pesquisa social no Brasil.
Sociologia
,
v. 23, n. 4, p. 371-374, 1961.
BERTAUX, Daniel. Les récits de vie comme forme d’expression, comme approche et
comme movement. In: PINEAU, Gaston; JOBERT, Guy. (Ed.).
Histoire de vie:
utilisation
pour la formacion. Paris: L’Harmattan, 1989, p. 17-38. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ts/a/kQSZZJDqQLjbRKg87PLZCYs/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em: 28 mar. 2021.
BLANCO, Alejandro. Ciências Sociais no Cone Sul e a gênese de uma elite intelectual
(1940-1965).
Tempo Social, revista de sociologia da USP
, v. 19, n. 1, p. 89-114, 2007.
Disponível em: https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/12536/14313. Acesso em: 12
mar. 2021.
BRAGA, Adriana; GASTALDO, Édison. O legado de Chicago e os estudos de recepção,
usos e consumos midiáticos.
Revista FAMECOS
:
mídia, cultura e tecnologia
, n. 39, p. 78-
84, 2009. Disponível em:
https://revistaseletronicas.pucrs.br/index.php/iberoamericana/N%C3%83%C6%92O%20
https:/www.scimagojr.com/index.php/revistafamecos/article/view/5845. Acesso em: 12
mar. 2021.
BULMER, Martin.
The Chicago school of sociology
Institucionalization, diversity, and
the rise of sociological research. Chicago: The University of Chicago Press, 1984
CANO, Wilson. Crise e industrialização no Brasil entre 1929 e 1954 a reconstrução do
Estado Nacional e a política nacional de desenvolvimento.
Revista de Economia Política
,
vol. 35, n. 3, v. 140, p. 444-460, 2015.Disponível em:
https://www.scielo.br/j/rep/a/FwKt39SvPW36Thr993KRrfF/abstract/?lang=pt. Acesso
em: 22 fev. 2021.
CASTRO, Marco. L de.
Entre o Japão e o Brasil
: a construção da nacionalidade na
trajetória de vida de Hiroshi Saito. 247 f. 1994. Dissertação (Mestrado em Antropologia) -
Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas,
Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1994.
COTRIM, Aline de Sá.
Imigração e assimilação nos estudos sociológicos de Hiroshi Saito
(1947-1964).
2016. 189 f. Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) -
Programa de Pós-Graduação em História das Ciências e da Saúde, FIOCRUZ, Rio de
Janeiro, 2016. Disponível em: https://www.arca.fiocruz.br/handle/icict/24014. Acesso em:
16 fev. 2021.
COULON, Alain.
L’École de Chicago
. Paris: PUF, 1992.
DEL VECCHIO, Ângelo. Preâmbulo: As influências presentes nos anos de formação da
Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. In: KANTOR, Iris; MACIEL, Debora;
SIMÕES, Júlio Assis. (Org.). A Escola Livre de Sociologia e Política: anos de formação
1933-1953. 2ed. São Paulo: Sociologia e Política, 2009, p. 11-26.
DEL VECCHIO, Ângelo. DIÉGUEZ, Carla. As pesquisas sobre o padrão de vida dos
trabalhadores da cidade de São Paulo: Horace Davis e Samuel Lowrie, pioneiros da
Sociologia aplicada no Brasil. São Paulo: Editora Sociologia e Política, 2008.
EUFRÁSIO, Mário. Estrutura urbana e ecologia humana: a Escola sociológica de Chicago
(1915-1940). São Paulo: Editora 34, 1999.
FARIS, R. E. L. Foreword. In: LEWIS, J. David; SMITH, Richard. (Org.). American sociology
and pragmatism: Mead, Chicago sociology, and symbolic interaction. Chicago: University
of Chicago, 1980, p. 11-17.
FERREIRA, Max André de Araújo; CARDIN, Eric Gustavo. Perspectivas teóricas para o
estudo das migrações.
Revista Contribuiciones a las Ciencias Sociales
, n. 65,
2020.Disponível em: HYPERLINK
"about:blank"https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=7760482. Acesso em: 10
jan. 2021.
FESPESP. Anuário da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo nono ano
letivo 1942. Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, 1942.
FESPESP. Anuário da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo décimo
terceiro ano letivo 1946. Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo,
1946.
FESPESP. Anuário da Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo décimo quarto
ano letivo 1948. Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo, São Paulo, 1948.
FITZGERALD, David Scott. The Sociology of International Migration. In: BRETTELL,
Caroline B.; HOLLIFIELD, James F (Eds.).
Migration Theory: Talking Across Disciplines
.
Nova Iorque e Londres: Routledge, 2014, p. 115-147.
FOOTE WHYTE, William.
Street corner society
: The social structure of an Italian slum.
Chicago: University of Chicago Press, 1943.
GONDIM, Linda M. Lições da Escola de Sociologia de Chicago para a pesquisa urbana
contemporânea no Brasil.
In
:
SEMINÁRIO DA HISTÓRIA DA CIDADE E DO
URBANISMO
, 14, 2016, São Carlos. Anais. São Carlos: USP, 2016. p. 89-96. Disponível em:
https://www.iau.usp.br/shcu2016/anais/wp-content/uploads/pdfs/05.pdf. Acesso em:
14 fev. 2021.
IOSIFIDES, Theodoros.
Qualitative methods in migration studies
: a critical realist
perspective. Oxford: Ashgate Publishing, 2011.
LACERDA, Moara Ferreira. Diálogo Teórico das Migrações Internacionais: Desafios
Eminentes a uma Compreensão Holística.
Àskesis
, v. 3, n. 1, p. 159-169, 2014.
LEE, Chris. Sociological Theories of Immigration: Pathways to Integration for U.S.
Immigrants.
Journal of Human Behavior in the Social Environment
, v. 19, n. 6, p. 730-744,
2009. Disponível em:
https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/10911350902910906. Acesso em: 10 mai.
2021.
LINDBERG, John.
The background of Swedish emigration to the United States
: an
economic and sociological study in the dynamics of migration. Mineapolis: University of
Minnesota Press, 1930.
LIMONGI, Fernando. Mentores e Clientela da Universidade de São Paulo. In: MICELI,
Sérgio. (Org.).
História das Ciências Sociais no Brasil
(Vol.1). São Paulo: Revista dos
Tribunais Ltda., 1989, p. 179-225.
MARTINS, Carlos. B. C. O legado do Departamento de Sociologia de Chicago (1920-1930)
na constituição do interacionismo simbólico.
Revista Sociedade e Estado
, v. 28, n. 2, p.
217-239, 2013.Disponível em:
https://www.scielo.br/j/se/a/WWTsBSdbCfwK3BdYjgn4wnz/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em: 10 mar. 2021.
MENDOZA, Edgar S. G. Donald Pierson e a escola sociológica de Chicago no Brasil: os
estudos urbanos na cidade de São Paulo (1935-1950).
Sociologias
, v. 7, n. 14, p. 440-470,
2005. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/soc/a/6Y4h6KZbRy6CPJ3z47fzdMC/?lang=pt&format=html.
Acesso em: 27 fev. 2021.
MILLS, Edwin S.; SIMMONS, Cynthia S. Evolution of the Chicago Landscape: Population
Dynamics, Economic Development, and Land Use Change. In: NATIONAL ACADEMY OF
SCIENCES.
Growing Populations, Changing Landscapes
: Studies from India, China and
United States. Washington, D.C: The National Academies Press, 2001, p. 275-300.
NOVA, Sebastião V.
Donald Pierson e a Escola de Chicago na Sociologia Brasileira
: Entre
humanistas e messiânicos. Lisboa: Veja, 1998.
OLIVEIRA, Márcio de. O Tema da Imigração na Sociologia Clássica.
DADOS Revista de
Ciências Sociais
, v. 57, n. 1, p. 73-100, 2014.Disponível em:
https://www.scielo.br/j/dados/a/bK5qDxSsGNjnLVbmjZ543hF/?lang=pt&format=html.
Acesso em: 15 fev. 2021.
PARK, Robert E. The City: Suggestions for the Investigation of Human Behavior in the
City Environment.
American Journal of Sociology
, vol. 20, no 5, p. 577-612, 1915.
PARK, Robert E..
The Immigrant press and its control
. New York; London: Harper &
Bros., 1922.
PARK, Robert. Human migration and marginal man.
American Journal of Sociology
, New
York, v. XXXVII, n. 6, p. 881-893, 1928. PARK, Robert E..
Race and Culture
. Glencoe: The
Free Press, 1950.
PARK, Robert E; BURGESS, Ernest. W. Competição, conflito, acomodação e assimilação.
RBSE Revista Brasileira de Sociologia da Emoção
, v. 13, n. 38, p. 129-138, 2014.
Disponível em: http://www.cchla.ufpb.br/rbse/ParkArt.pdf. Acesso em: 23 mar. 2021.
PIERSON, Donald.
Teoria e Pesquisa em Sociologia
. São Paulo: Ed. Melhoramentos, 1964.
PIERSON, Donald. Algumas atividades no Brasil em prol da Antropologia e outras
ciências. In: CORRÊA, Mariza.
História da Antropologia no Brasil (1930-1960)
:
Testemunhos: Emílio Willems e Donald Pierson. São Paulo: Vértice, 1987, p. 29-116.
REDFIELD, Robert; LINTON, Ralph; HERSKOVITS, Melville. Memorandum for the study
of acculturation.
American Anthropologist
, v. 38, p. 149-152, 1936.
SAITO, Hiroshi. O suicídio entre os imigrantes japoneses e seus descendentes no Estado
de São Paulo.
Sociologia
, v. 15, n. 2, p. 109-130, 1953
SAITO, Hiroshi.
O Cooperativismo na Região de Cotia
: estudo de transplantação cultural.
São Paulo: Escola de Sociologia e Política de São Paulo, 1956.
SAITO, Hiroshi.
O Japonês no Brasil
: estudo de mobilidade e fixação. São Paulo: Editora
Sociologia e Política, 1961.
SASAKI, Elisa. M.; ASSIS, Glaucia. de O. Teoria das Migrações Internacionais.
In
:
Encontro Nacional da ABEP
, 12, 2000, Caxambu. Anais. Caxambu: ABEP, p. 1-19.
Disponível em:
http://www.abep.org.br/publicacoes/index.php/anais/article/view/969/934. Acesso em:
25 fev. 2021.
SCHADEN, Egon. Aculturação de alemães e japoneses no Brasil.
Revista de Antropologia
,
v. 4, p. 41-46, 1956.
TINOCO, Rui. Método Biográfico ou das Histórias de Vida: Notas sobre o seu
Desenvolvimento e Aplicação à Investigação das Toxicopendências. Psicologia.PT, 2016.
THOMAS, William I. e ZNANIECKI, Florian.
The Polish Peasant in Europe and America
: A
Classic Work in Immigration History. Vol. 1 e 2, originalmente: Chicago: Chicago
University Press, 1918.
TRUZZI, Oswaldo. Assimilação ressignificada: novas interpretações de um velho
conceito.
DADOS
, v. 55, n. 2, p. 517-553, 2012.Disponível em:
https://www.scielo.br/j/dados/a/zf4QYgMXCx4494SfGQqhHQs/?lang=pt. Acesso em:
10 mar. 2021.
VALLADARES, Lídia do Prado. Apresentação. In: VALLADARES, Lídia do Prado (Org.).
A
Escola de Chicago
: impactos de uma tradição no Brasil e na França. Belo Horizonte/Rio
de Janeiro: Editora da UFMG/IUPERJ, 2005.
VELHO, Gilberto. Reflexões sobre a Escola de Chicago. In: VALLADARES, Lídia do Prado
(Org.) A Escola de Chicago: Impacto de uma tradição no Brasil e na França. Belo
Horizonte: Editora UFMG, 2005.
VETTORASSI, Andréa; DIAS, Gustavo. Estudos migratórios e os desafios da pesquisa de
campo.
Soc. E Cult.
, v. 20, n. 2, p. 7-28, 2017.Disponível em:
https://repositorio.bc.ufg.br/bitstream/ri/15539/5/Artigo%20-
%20Andr%c3%a9a%20Vettorassi%20-%202017.pdf. Acesso em: 25 fev. 2021.
VILLAS BÔAS, Glaucia. K. De Berlim a Brusque de São Paulo a Nashville: A Sociologia de
Emílio Willems Entre Fronteiras.
Tempo Social
, v. 12, p. 171-188, 2000.Disponível em:
https://www.scielo.br/j/ts/a/QjGCtWSSLnrcTNLPmWBDNLL/?format=pdf&lang=pt.
Acesso em: 15 fev. 2021
WILLEMS, Emilio.
Assimilação e Populações Marginais no Brasil
: Estudo sociológico dos
imigrantes germânicos e seus descendentes. São Paulo: Cia. Ed. Nacional, 1940.
WILLEMS, Emilio. Recreação e assimilação: entre imigrantes alemães e japoneses e seus
descendentes.
Sociologia
, v. 3, n. 4, p. 302-310, 1941.
WILLEMS, Emilio.
Aspectos da aculturação dos japoneses no Estado de São Paulo
. São
Paulo: USP, 1948.
WILLEMS, Emilio.
A Aculturação dos Alemães no Brasil
: estudo antropológico dos
imigrantes alemães e seus descendentes no Brasil. São Paulo/Brasília: Cia Ed.
Nacional/INL, 1980[1946].
WILLEMS, Emilio; BALDUS, Helbert. Mudança cultural entre imigrantes japoneses no
Brasil, no Vale do Ribeiro de São Paulo. Plural, v. 19, p. 139-148, 2012[1942]. Disponível
em: HYPERLINK "about:blank"https://www.revistas.usp.br/plural/article/view/74456.
Acesso em: 12 fev. 2021
WILLEMS, Emilio; SAITO, Hiroshi. Shindô-Renmei: um problema de aculturação.
Sociologia
, v. 9, n. 2, p. 133-152, 1947.
WIRTH, Louis.
The ghetto
. Chicago: The University of Chicago Press, 1928.
ZANFORLIN, Sofia. Migração e Escola de Chicago: caminhos para comunicação
intercultural. Esferas, v. 2, n. 3, p. 161-168, 2013.