ALVES, Samuel da Silva
*
https://orcid.org/0000-0003-0221-3352
RESUMO: Ao longo de sua vida política, e em
especial durante a chamada experiência
democrática brasileira (1945-1964), Leonel de
Moura Brizola notabilizou-se pela sua
capacidade de atingir o coração do eleitorado,
através de uma linguagem clara, direta e
compreensível. Neste artigo, buscou-se
analisar os resultados e possíveis fatores da
ampla vitória de Brizola sobre Walter Peracchi
Barcellos, da Frente Democrática, nas eleições
de 1958 no Rio Grande do Sul, classificada na
época de “Fenômeno Brizola”. A hipótese
aventada neste trabalho é de que a expressiva
votação obtida pelo candidato trabalhista se
explica pelo domínio de um
habitus político
do
tribuno
, ou seja, o domínio tanto dos códigos e
das linguagens necessárias à construção de
uma popularidade perante um eleitorado
crescente e diversificado, marca da chamada
experiência democrática brasileira (1945-1964),
quanto das ferramentas pelas quais essa
popularidade era construída.
PALAVRAS-CHAVE: Leonel de Moura
Brizola; experiência democrática brasileira;
Fenômeno Brizola; mobilização eleitoral;
eleições de 1958.
ABSTRACT: Throughout his political life, and
especially during the brazilian democratic
experience (1945-1964), Leonel de Moura
Brizola was notable for his ability to reach the
hearts of the electorate, through a clear, direct
and understandable language for them. In this
article, we sought to analyze the results and
possible factors of Brizola's wide victory over
his opponent, Walter Peracchi Barcellos, from
the Democratic Front, classified at the time as
the Brizola Phenomenon”. The hypothesis
suggested in this work is that the expressive
vote obtained by the labor candidate is
explained by the domain of a
political habitus
of the
tribune
, that is, the domain of both the
codes and the languages necessary to build
popularity among a growing and diversified
electorate, a mark of the so-called brazilian
democratic experience (1945-1964), as well as
of the tools by which this popularity was built.
KEYWORDS: Leonel de Moura Brizola;
brazilian democratic experience; Fenômeno
Brizola; electoral mobilization; 1958 elections.
Recebido em: 24/08/2021
Aprovado em: 08/10/2021
* Mestre em História pela PUCRS, Porto Alegre-RS, doutorando do Programa de Pós-graduação em
História da PUCRS, Porto Alegre-RS. Bolsista do CNPq. Email: allvesamuell@gmail.com. Este trabalho é
fruto da dissertação do autor, ALVES, Samuel da Silva.
“Ideias novas para problemas velhos”
: a
candidatura e campanha eleitoral de Leonel Brizola ao governo do Rio Grande do Sul em 1958. 2020. 227 f.
Dissertação (Mestrado em História) , Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Porto Alegre,
2020.
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
Considerações iniciais
Conforme nos explicam Angela de Castro Gomes e Jorge Ferreira (2018, p. 254), o
período que compreende os anos de 1945 e 1964, chamado de
República Democrática
ou
experiência democrática brasileira
, foi marcado por continuidades com o processo
político anterior, mas também por importantes descontinuidades, mantendo vínculos
com a dinâmica política do Estado Novo e ao mesmo tempo inaugurando inúmeras
relevantes transformações. Apesar de uma série de ambiguidades, Gomes e Ferreira
sustentam que entre esses anos o país estava construindo uma experiência de
democracia representativa, interrompida em 1964 justamente porque se estava
avançando em direção à ampliação da cidadania. Na visão desses estudiosos esse
período teve como uma de suas principais características seja no plano federal,
estadual ou municipal a realização de eleições periódicas, ininterruptas e, em sua
grande maioria, não fraudulentas (esse último atribuído à existência e funcionamento de
uma Justiça Eleitoral e ao aperfeiçoamento da legislação eleitoral), que expressavam as
diversas correntes de opinião e a expansão do corpo eleitoral. Contudo, eleições
periódicas e ininterruptas não eram uma novidade na vida política brasileira. A grande
ruptura do pós-1945, segundo o trabalho anteriormente citado e outros (GOMES, 2009;
LIMONGI, 2012), reside na competitividade/imprevisibilidade dos pleitos ocorridos a
partir de então, que se deu por mudanças na legislação eleitoral e por uma maior
fiscalização da Justiça eleitoral sobre as eleições, mas especialmente devido ao aumento
sem precedentes do eleitorado, que pulou de 2.659.171 em 1934 para 7.459.849 em 1945.
Um aumento de 329% do número de eleitores inscritos, ao passo que a população
brasileira cresceu apenas 25% no mesmo período.
Entre 1945 e 1964, Leonel de Moura Brizola caracterizou-se como um fenômeno
eleitoral. Muito jovem, ainda em 1945, ingressou na seção gaúcha do PTB e em 1947 foi
eleito deputado estadual. Em 1950 foi reeleito deputado estadual com a maior votação
para o cargo no Estado até aquele momento. em 1954 foi eleito deputado federal pelo
mesmo partido com o maior número de votos obtido até então por um postulante ao
Congresso Nacional no Rio Grande do Sul. Em 1955 venceu a disputa contra Euclides
Triches, candidato da Frente Democrática
1
, pela Prefeitura de Porto Alegre. Por fim, em
1958, concorreu ao governo do Rio Grande do Sul contra Walter Peracchi Barcellos,
1
Coligação entre o PSD, a UDN e o Partido Libertador (PL), formada para as eleições municipais de Porto
Alegre em 1951, na qual Ildo Meneghetti, do PSD, venceu Brizola na disputa pela Prefeitura. Foi reeditada
em 1954, na disputa pelo governo do Rio Grande do Sul, da qual novamente Meneghetti saiu vencedor.
em 1958, Walter Peracchi Barcellos, também do PSD, foi lançado como candidato pela mesma coligação
contra Brizola (BODEA, 1992).
também da Frente Democrática, e foi eleito também com a maior votação obtida até
aquela ocasião por um candidato o Executivo gaúcho.
Inúmeros trabalhos ao longo das últimas décadas buscaram compreender a
capacidade de mobilização eleitoral e conquista de votos de Leonel Brizola durante a
República Democrática, por meio do conceito de
populismo
, consagrado através da obra
de Francisco Weffort (1978). Na análise de Weffort, o populismo no Brasil pode ser
definido tanto como um estilo de governo, quanto como uma política de massas, fruto de
um processo que teve a sua gênese na Revolução de 1930. Para o autor, o populismo
enquanto fenômeno político pode ser compreendido de inúmeras maneiras: como uma
expressão do processo de democratização do Estado, bem como da crise oligárquica e
liberal; como uma manifestação das debilidades políticas dos grupos dominantes
urbanos; e também como a emergência das classes populares, em um contexto de
desenvolvimento industrial e urbano (WEFFORT, 1978, p. 69). No que diz respeito à
ascensão das massas, Weffort compreende que a mesma esteve desde o seu início
condicionada, sobretudo, à incapacidade dos grupos dominantes de assegurarem para si
as funções de hegemonia política e oferecerem as bases de legitimidade desse novo
Estado. Diante desse cenário, a participação das massas populares urbanas constituiu-se
como a única fonte social possível, tanto para o poder pessoal autônomo do governante,
quanto para o Estado. Tal estrutura política é definida por Weffort (1978. p. 76-79),
simultaneamente, como um “Estado de compromisso” e um “Estado de massas”, reflexo
da crise agrária, da dependência dos grupos de classe média e da burguesia industrial, e
também da crescente pressão popular.
No que tange ao período entre 1945 a 1964, Weffort afirma que a política nacional
foi marcada pela presença de lideranças políticas (em especial após a morte de Vargas),
que buscaram conquistar a adesão popular nos principais centros urbanos do país.
Indivíduos dotados de um estilo próprio, de uma política pessoal pouco explícita e de
uma ideologia ainda menos explícita e por vezes confusa. Conforme o autor, suas
diferenças e contradições tornaram difíceis, por vezes, a percepção de uma significação
comum, além do interesse na conquista do voto popular e da manipulação de suas
aspirações. Todavia, apesar de, na sua visão, a manipulação ter sido uma das tônicas do
populismo no período, Weffort (1978, p. 70-71) entende que tal manipulação nunca foi
absoluta, mas sim ambígua: para além de um modo determinado e efetivo de manipulação
das classes populares, de uma forma de estruturação do poder para os grupos
dominantes e de um mecanismo, através do qual os grupos dominantes exerceram seu
domínio, o populismo foi também um modo de expressão das insatisfações populares,
uma forma de expressão política da emergência popular no processo de desenvolvimento
industrial e urbano, e também uma das principais ameaças aos grupos detentores do
poder. Por conta disso, sugere, sem sucesso, a substituição de
manipulação
por
aliança
,
na qual a hegemonia que se encontra vinculada aos interesses dos grupos dominantes
apenas torna-se possível mediante ao atendimento de algumas aspirações básicas das
classes populares (WEFFORT, 1978, p. 85).
Um dos trabalhos que parte da conceitualização oferecida por Weffort é o de
Guita Grin Debert (1979), intitulado
Ideologia e Populismo: Adhemar de Barros, Miguel
Arraes, Carlos Lacerda, Leonel Brizola
. Nesta obra, em suma, a autora aponta certo vazio
da noção de manipulação, presente na “concepção clássica” do conceito de populismo,
buscando, em decorrência disso, analisar as características ideológicas de alguns líderes
“populistas” do período, assim como as formas por meio das quais esses políticos
buscaram estabelecer um diálogo com as massas populares. Dentre esses líderes
populistas, a autora situa Brizola. Uma das principais críticas de Debert diz respeito ao
uso indiscriminado do conceito como forma de explicar o fenômeno da emergência das
classes populares na vida política, ocorrido na América Latina em meados de 1930. A
autora alerta para a utilização das noções de “manipulação” e “atraso”: o uso desses
termos nos distancia das particularidades que as formas de dominação assumem no
continente latino-americano, além de não colocar o problema de como as classes
populares foram chamadas a integrar o cotidiano político nesse período e de quais as
possibilidades de ação que esse tipo de apelo pode abrir-lhes (DEBERT, 1979, p. 16).
Outro conceito amplamente utilizado para explicar essa relação de Brizola com as
massas populares é o de
carisma
, conforme concebido por Max Weber. Segundo explica
Weber (2002, p. 61), a dominação carismática uma das três espécies de dominação
legítima das quais trata o autor configura-se como aquela que tem como base “[...]
dons pessoais e extraordinários de um indivíduo (carisma) devoção e confiança
estritamente pessoais depositadas em alguém que se diferencia por qualidades
prodigiosas, por heroísmo, ou por outras qualidades exemplares que dele fazem o
chefe.”. Esse poder é, no plano político, exercido “[...] pelo dirigente guerreiro eleito, pelo
soberano escolhido por meio de plebiscito, pelo grande demagogo ou pelo dirigente de
um partido político [...]”. Vários trabalhos de consagrados autores têm se inspirado nessa
concepção, tais como os de Sento-Sé (1999), intitulado
Brizolismo: estetização da política
e carisma
, e Maria Celina D’Araújo (1996), intitulado
Sindicatos, carisma e poder: o PTB
de 1945-1965
, nos quais ambos enquadram Brizola na categoria de “político carismático”.
Não desconsideramos aqui a importância desses e de outros trabalhos para os estudos
acerca de Brizola e do PTB. Contudo, entendemos haver no conceito de carisma também
certo vazio, o que nos leva neste trabalho a não o adotar.
Este texto é um recorte de uma pesquisa maior, finalizada, que tratou da
candidatura e campanha de Leonel Brizola para as eleições de 1958 no Rio Grande do Sul.
Tomando como base a ampla vitória obtida pelo candidato trabalhista nesse pleito,
buscamos neste trabalho, para além dos conceitos acima referidos e ainda que de forma
especulativa, oferecer uma outra chave-explicativa para o amplo sucesso eleitoral obtido
por Brizola ao longo da experiência democrática brasileira. Nosso ponto de partida
teórico para tal é o conceito de campo político, como proposto pelo sociólogo francês
Pierre Bourdieu (2002).
Conforme Bourdieu, o campo político configura-se como um “[...] campo de
forças e como campo de lutas que têm em vista transformar a relação de forças que
confere a este campo a sua estrutura em dado momento [...]”, ou ainda como “[...] o lugar
de uma concorrência pelos profanos ou, melhor, pelo monopólio do direito de falar e de
agir em nome de uma parte ou da totalidade dos profanos.”. No interior do campo, os
partidos políticos elaboram e impõe aos cidadãos uma concepção de mundo social capaz
de obter a adesão do maior número possível, o que, por sua vez, faz com que o campo
político se configure também como “[...] o lugar em que se geram, na concorrência entre
os agentes que nele se acham envolvidos, produtos políticos, problemas, programas,
análises, comentários, conceitos e acontecimentos [...]”. (BOURDIEU, 2002, p. 163-185).
Segundo Bourdieu (2002, p. 171-180), toda tomada de posição no interior campo é um ato
que ganha sentido relacionalmente, por meio do jogo das oposições e distinções, na
diferença e pela diferença, naquilo que o autor classifica como
desvio distintivo
. Para
entender uma tomada de posição, um programa, uma intervenção ou um discurso, é
necessário conhecer o conjunto de tomadas de posição assumidas no interior do campo,
uma vez que “[...] a produção de tomadas de posição depende do sistema das tomadas de
posição propostas em concorrência pelo conjunto dos partidos antagonistas [...]”.
A síntese da candidatura e campanha eleitoral de Leonel Brizola ao governo do Rio
Grande do Sul em 1958
No que segue, buscamos realizar um breve resumo da candidatura e campanha
eleitoral de Leonel Brizola ao governo do Rio Grande do Sul em 1958, atentando
especialmente às estratégias por ele adotadas visando a conquista do voto do eleitorado
gaúcho. Por tratar-se de uma síntese e em decorrência do limite de páginas proposto
para esse artigo, nesse primeiro momento não realizaremos um maior detalhamento de
cada uma dessas estratégias, tampouco uma maior descrição acerca de cada uma das
fontes utilizadas na análise. Para tal, indicamos a leitura da já referida dissertação.
A chegada de Brizola ao comando da Prefeitura de Porto Alegre não ocorreu de
forma “natural”, como se destinado estivesse a esse e outros importantes feitos
eleitorais os quais veio a obter. Pelo contrário, foi o resultado de um longo processo de
acúmulo, manutenção e conversão de
capitais políticos
,
de notoriedade e popularidade
e
delegado
, oriundos, entre outras coisas, de sua passagem pela Faculdade de Engenharia
da Universidade do Rio Grande do Sul; do casamento com Neusa Goulart, irmão de João
Goulart, que teve como padrinho o próprio Getúlio Vargas; e também de sua gestão à
frente da Secretaria de Obras Públicas do Estado ao longo do governo de Ernesto
Dornelles (ALVES, 2020, p. 37-51).
De acordo com Céli Regina Jardim Pinto (1996, p. 223), “O campo estrutura-se
pelo estado da relação de forças entre os agentes. A matéria-prima dessa luta é o
capital
de cada agente”. Bourdieu (2007, p. 107), por sua vez, afirma que a capacidade de
mobilização de um capital específico determina no interior de certo campo a posição
social e o poder específico atribuído a um agente. No caso do campo político, Bourdieu
(2002, p. 187) acredita tratar-se o capital político de “[...] uma forma de capital simbólico,
crédito
firmado na
crença
e no
reconhecimento
ou, mais precisamente, nas inúmeras
operações de crédito pelas quais os agentes conferem a uma pessoa ou a um objecto
os próprios poderes que eles lhe reconhecem”. Neste sentido, Bourdieu (2002, p. 190-
192) divide o capital político em duas espécies: 1) o capital pessoal de notoriedade e de
popularidade, fundado no fato de ser conhecido e reconhecido (reputação, “ter um
nome”) e de ter qualificações específicas (condição da aquisição e conservação da boa
reputação), sendo frequentemente produto da reconversão de um capital de notoriedade
acumulado em outros campos; e 2) o capital delegado, “[...] produto da transferência
limitada e provisória de um capital detido e controlado pela instituição [...]”, neste caso o
partido, cuja aquisição obedece à lógica da investidura, no qual a instituição/partido
consagra o candidato oficial a uma eleição ou marca a transmissão de um capital político.
Tão logo assumiu o Executivo da capital em 1955, Leonel Brizola começou a
pavimentar a sua candidatura ao governo do Rio Grande do Sul para as eleições de 1958.
Uma das principais ferramentas utilizadas pelo político trabalhista para tal foi o rádio.
Sob a forma de palestras, realizadas às sextas-feiras à noite na sede do Diretório
Metropolitano do PTB e transmitidas pela Rádio Farroupilha, o programa comandado por
Brizola tratou dos mais variados temas. Ao longo dos anos de 1956 e 1957, buscou dar
destaque, entre outras coisas, às realizações de sua gestão nas áreas de transporte
público, educação, segurança, energia elétrica, entre outros; realizar a prestação de
contas de sua administração; e também debater acerca dos problemas enfrentados pelo
Estado durante a gestão da Frente Democrática. Tais palestras eram anunciadas quase
que diariamente nos principais jornais da capital, como o
Correio do Povo
e o
Diário de
Notícias
. Nesses mesmos jornais eram publicados também inúmeros
A Pedidos
um tipo
de propaganda paga que, com slogans como “Realização” e “Dinamismo”, faziam
alusão aos feitos de Brizola como administrador (ALVES, 2020, p. 47-48).
Cabe aqui uma observação acerca desses
A Pedidos
publicados por Brizola. Na
sua quase totalidade, esse tipo de propaganda paga, quando se referia a um candidato,
era composta por um cliché e completada por uma legenda e um tulo que não se
diferenciavam da diagramação dos periódicos e da forma como os mesmos colocavam
suas demais legendas e tulos
.
a propaganda de Brizola era
composta por um cliché
que trazia outra forma de combinar imagens e palavras. Com base nisso, é possível supor
que os responsáveis pelas campanhas em geral entregavam aos periódicos uma foto do
candidato e um texto, e solicitavam aos jornais que realizassem o anúncio, enquanto a
equipe de Brizola entregava um cliché pronto, com a combinação de imagens e letras.
Isso, por sua vez, nos permite pensar não apenas em níveis de organização diferentes
das respectivas campanhas, mas em posturas diferentes mediante a necessidade de
conquista do eleitorado. Enquanto boa parte dos candidatos apostava em uma forma
tradicional de propaganda, Brizola buscou uma nova forma de propaganda e uma nova
linguagem capaz de atingir estes eleitores (ALVES, 2020, p. 64)
.
Também ainda em meados de 1956, Brizola deu início à articulação de uma série
de alianças pensando no próximo pleito estadual. Entre os partidos alvos de Brizola,
estiveram o Partido da Representação Popular (PRP) e o Partido Social Progressista
(PSP). Além desses, de forma extraoficial, o prefeito de Porto Alegre também costurou
acordos visando à disputa pelo Executivo estadual com o Partido Comunista (PC) e com
parte do alto clero gaúcho. Em resumo, é possível afirmar que a opção de Brizola e do
PTB pela aliança com tais partidos obedeceu à lógica do campo político, que é a da
conquista do poder e mobilização do maior número de eleitores (BOURDIEU, 2002),
podendo ser compreendida também como uma estratégia de racionalidade política
contextual”, conforme nos explica Olavo Brasil de Lima Júnior. Em suma, Lima Júnior
(1983, p. 77) define as “estratégias de racionalidade política contextual” como aquelas
que possuem enquanto principais objetivos a maximização do apoio eleitoral e que não
se orientam por uma estratégia partidária nacional, mas, pelo contrário, são tomadas
localmente, à luz dos resultados da eleição prévia, sendo a força local relativa de um
partido o determinante principal para toda tomada de decisão referente à formação de
alianças.
No caso do PRP, as evidências indicam que tal aliança foi buscada tanto em
decorrência da força desse partido na região colonial, local onde historicamente o PTB
possuía baixo rendimento eleitoral e onde os perrepistas detinham aproximadamente
setenta mil votos (uma vez que a diferença entre o candidato da Frente Democrática e do
PTB em 1954 foi de cerca de trinta mil votos), quanto pelo fato de tal aliança poder servir
como uma espécie de “blindagem” contra propagandas anticomunistas, das quais o
partido já havia sido alvo anteriormente, especialmente no pleito de 1954. Já o PRP, frente
à polarização política na disputa pelo governo estadual e à sua incapacidade de eleger
sozinho um senador, buscou valer-se da força eleitoral do PTB, oferecendo o seu apoio
na disputa pelo Executivo gaúcho em troca da possibilidade de lançar um candidato ao
Senado nesse, Guido Mondin em uma chapa com os trabalhistas, entre outros
benefícios, como secretarias em um futuro governo (ALVES, 2020, p. 88-113).
Por sua vez, no que se refere ao PSP, as fontes consultadas apontam para o fato
de que essa aliança possa ter sido almejada pelo PTB com base no bom desempenho
obtido por Adhemar de Barros no Rio Grande do Sul nas eleições presidenciais de 1955,
especialmente nos grandes centros urbanos do Estado, podendo assim ser entendida
como uma medida preventiva, a fim de evitar a divisão do eleitorado dessas localidades,
tanto no caso de uma aliança dos pessepistas com a Frente Democrática quanto no caso
do lançamento de um candidato próprio pelo PSP. Por parte do PSP, diante de sua
incapacidade de eleger um candidato ao executivo estadual, utilizou seu apoio no Rio
Grande do Sul para obter o apoio dos trabalhistas a Adhemar de Barros em São Paulo,
além também de diversos outros benefícios, como postos na administração de Brizola em
Porto Alegre, a presidência da Assembleia Legislativa e secretarias em um futuro
governo trabalhista (ALVES, 2020, p. 114-128).
Contudo, também com base nas fontes analisadas, foi possível concluir que os
motivos que fizeram o PTB buscar o apoio do PRP e do PSP extrapolaram questões
propriamente eleitorais. Outra hipótese aventada é a de que a aliança com ambos visou à
formação de uma maioria na Assembleia Legislativa, que tinha como objetivo aprovar a
Reforma Administrativa do Estado ainda em 1958 (ALVES, 2020, p. 88-128).
Uma das marcas da campanha eleitoral de Brizola foi o repúdio blico ao apoio
oferecido por Luís Carlos Prestes à sua candidatura, principal liderança do PC em âmbito
nacional. A hipótese aventada é de que esse repúdio tenha sido uma estratégia de Brizola
e do PTB considerando os esforços empreendidos em prol de uma aliança com o PRP,
uma vez que aceito ou não repudiado, tal apoio poderia fazer com que parte ou a
totalidade desses setenta mil votos migrassem para a Frente Democrática. Contudo, fez-
se necessário também um acordo informal com o PC, uma vez que uma campanha
agressiva dos comunistas contra os trabalhistas poderia reverter votos para a coligação
situacionista, assim como o lançamento de um candidato comunista por outra legenda,
como o PR, poderia, bem como no caso do PSP, dividir o eleitorado dos grandes centros
urbanos. Ao PC, excluído ao menos oficialmente do jogo eleitoral, um acordo com Brizola
e com o PTB garantiu ao partido liberdade de ação e uma série de reivindicações
atendidas durante o governo trabalhista (ALVES, 2020, p. 129-141).
Um possível pacto com o alto clero do Rio Grande do Sul, representado na figura
de Dom Vicente Scherer, na ocasião arcebispo de Porto Alegre e principal liderança da
Igreja Católica no Estado, tem relação direta com comunismo. Nos pleitos anteriores, a
Igreja, especialmente através da Liga Eleitoral Católica (LEC) braço político da Igreja
Católica, criada na década de 1930 e que, especialmente ao longo da primeira metade da
República Democrática, buscou orientar o eleitorado católico e afastá-lo de candidaturas
tidas como não solidárias às pautas católicas exerceu um papel de proeminência,
especialmente devido ao seu caráter anticomunista.
Em 1954, por exemplo, o veto da LEC à candidatura de Rui Ramos ao Senado e seu
apoio explícito à candidatura de Armando Câmara colocaram a Igreja e o PTB em campos
opostos, o que, somado ao apoio declarado do PC à candidatura de Alberto Pasqualini e
uso feito pela Frente Democrática na produção de propaganda anticomunista,
influenciou diretamente sobre o resultado obtido pelo candidato trabalhista ao final do
pleito (BODEA, 1992; RODEGHERO, 1998). Se nos outros processos eleitorais a LEC
indicou candidatos alinhados à doutrina cristã e declaradamente anticomunistas, em
1958, no que se refere ao Executivo, isso não ocorreu, tendo o clero gaúcho, na figura de
Dom Vicente Scherer, adotado uma postura neutra sobre as candidaturas de Brizola e
Peracchi. Além disso, quando da manifestação de repúdio de Brizola ao apoio comunista,
Dom Vicente Scherer parabenizou-o, tecendo, especialmente via imprensa, elogios ao
candidato trabalhista. O que teria, porém, motivado essa mudança de postura? A partir
da análise de alguns dos principais periódicos gaúchos do período, emergem indícios que
apontam para um possível “acordo informal” entre Brizola e o arcebispo de Porto Alegre,
que envolveu desde subsídios a obras e ações realizadas pela Igreja, como a conclusão
das obras da Catedral Metropolitana e a construção de moradias populares pela
arquidiocese da capital, até a inclusão de questões específicas relacionadas ao ensino,
cruciais à Igreja, no programa administrativo de um futuro governo trabalhista (ALVES,
2020, p. 135-139).
Ainda em 1957, dias após a oficialização de sua candidatura na Convenção
Regional do PTB, realizada em outubro de 1957, Brizola deu início à sua campanha ao
governo estadual. Nesse sentido, aderiu à uma série de práticas eleitorais dentro e à
margem da legislação vigente típicas do período que compreende os anos de 1945 e
1964: comícios, cortejos, jantares, inaugurações de comitês, distribuição de panfletos,
santinhos, flâmulas, pichações, colação de cartazes, além da utilização da imprensa, em
especial dos jornais, por meio das propagandas pagas e do rádio. Contudo, em uma
análise mais aprofundada dessas práticas, é possível verificar em inúmeras delas,
especialmente no uso dos
A Pedidos
e do rádio, uma tentativa de Brizola de inovar, de
diferenciar-se tanto de seu oponente, Walter Peracchi Barcelos, quanto dos políticos,
trabalhistas ou não trabalhistas, que o antecederam (ALVES, 2020, p. 142-196).
De acordo com Douglas Souza Angeli (2018, p. 344), nas eleições estaduais de
1947, bem como nas que a sucederam, houve uma significativa utilização do rádio nas
campanhas eleitorais, por parte de partidos como PSD, PTB, UDN, PL e PRP. Porém,
conforme explica o autor, tais programas possuíam curta duração em média de 5 a 15
minutos e eram veiculados apenas alguns meses ou semanas antes do pleito. Para as
eleições de 1958, o programa radiofônico da Frente Democrática não fugiu a esta lógica,
tendo tido curta duração em todas as suas edições e sido veiculado tanto na Rádio
Farroupilha quanto na Rádio Gaúcha apenas a partir do mês de junho de 1958 (ALVES,
2010, p. 172).
Como citado, desde o início de seu mandato como prefeito, Brizola fez uso do
rádio para construir-se enquanto candidato ao governo estadual. Ao longo da campanha
eleitoral não foi diferente. Enquanto a Frente Democrática optou por uma modelo mais
tradicional de programa em rádio, Brizola manteve o padrão do programa que
comandava desde 1956, de longa duração, realizado sob a forma de palestra e transmitido
às sextas-feiras à noite pela Rádio Farroupilha, no qual, paralelamente aos assuntos
relativos à administração municipal e outras questões políticas de âmbito estadual e
nacional, procurou, entre outras coisas, dar visibilidade às suas atividades de campanha,
como comícios e visitas ao interior; conclamar a população a contribuir com seu
programa de governo e, posteriormente, divulgar suas propostas; defender-se do que
caracterizou como “boatos e intrigas”, relacionados, principalmente, à importação de
máquinas rodoviárias, ao aumento de impostos em Porto Alegre e ao citado apoio
oferecido por Luís Carlos Prestes; e delinear o perfil de um futuro governo,
especialmente nos âmbitos econômico e social (ALVES, 2020, p. 171).
Afora a transmissão de seu tradicional programa, o rádio exerceu outro papel de
destaque na campanha eleitoral de Leonel Brizola, especialmente em sua reta final, com
a transmissão de seus comícios. Nos pleitos estaduais anteriores, Angeli (2018)
identifica o uso do rádio na transmissão desses eventos ou na reprodução posterior dos
discursos neles proferidos. No pleito de 1958, contudo, a campanha de Brizola
apresentou uma maior sistematização dessa prática. A partir da segunda metade do mês
de setembro, os comícios de Brizola e Mondin passaram a ser transmitidos diariamente,
em mais de um horário por dia, pela Rádio Farroupilha e pelas diversas emissoras por ela
comandadas. Ao longo das semanas, anúncios referentes a essas transmissões foram
também publicados diariamente nos principais jornais da capital. Este uso do rádio,
aliado à divulgação realizada pela imprensa escrita, difere Brizola não apenas dos
candidatos ao governo estadual nos pleitos anteriores, como também de seu opositor,
Walter Peracchi Barcelos, acerca do qual, em uma análise dos periódicos
Correio
do
Povo
e
Diário de Notícias
, não se identificou prática semelhante (ALVES, 2020, p. 173).
Entretanto, as inovações de Brizola ao longo de sua campanha não se limitaram
ao rádio, tendo se estendido também à imprensa escrita. Como referido anteriormente,
Brizola utilizou de seu programa de rádio para conclamar a população a participar da
elaboração de seu programa de governo. De forma intensiva e extensiva, Brizola, através
de
A Pedidos
, realizou esse chamamento também em periódicos. Por meio dessa
propaganda paga, entre outras coisas, Brizola questionava a população acerca dos
maiores problemas enfrentados pelo Rio Grande do Sul, da forma como o futuro governo
deveria atuar em relação a estes problemas, das necessidades específicas de cada região,
além de abordar, de formar mais enfática, a questão da educação, vinculando-a
especialmente ao desenvolvimento econômico do Estado. Ao longo da uma vasta revisão
de bibliografia acerca dos processos eleitorais no Rio Grande do Sul, não se verificou, até
aquele momento, prática semelhante realizada por outro candidato (ALVES, 2020, p. 179,
180).
A divulgação do programa deu-se por meio do rádio e dos periódicos. No intuito
de gerar expectativa e interesse na população por seu conteúdo, diversos anúncios
acerca de sua leitura foram sendo publicados por Brizola nos periódicos
Correio do Povo
e
Diário de Notícias
ao longo das semanas que a antecederam. Em 22 de agosto, Brizola
realizou via Rádio Farroupilha, durante 2h30, a leitura de seu programa. Todavia, até aqui
a divulgação do programa de Brizola seguiu o padrão dos pleitos anteriores. Conforme
nos mostram autores como Bodea (1992), Cánepa (2005), comumente tais programas
tinham sua leitura transmitida pelo rádio e, posteriormente, eram divulgados na íntegra
nos principais periódicos do Estado. A própria campanha de Walter Peracchi Barcelos,
candidato da Frente Democrática em 1958, obedeceu a esta lógica, tendo o seu programa
de governo sido lançado em um comício na cidade de Santa Maria, transmitido pela Rádio
Farroupilha, e publicado na íntegra, no dia posterior, no jornal
Correio do Povo
. A
novidade implementada pela campanha de Brizola veio a seguir: seu programa de
governo foi “diluído” e teve seus diversos temas como Educação, Orientação
Administrativa, Planejamento e Execução, Política Financeira, Assistência Efetiva aos
Municípios, Energia Elétrica e Desenvolvimento Econômico, publicados sob as mais
variadas formas de
A Pedidos
nos periódicos
Diário de Notícias
e
Correio do Povo
durante as semanas seguintes. Prática semelhante também não foi verificada na revisão
de bibliografia acerca das eleições no Rio Grande no Sul até aquele ano, o que demonstra
mais uma vez a intenção de Brizola de estabelecer novos canais e novas formas de
comunicação com o eleitorado (ALVES, 2020, p. 180-181).
Conforme nos explica Bourdieu (2002, p. 189), a conservação do capital político
requer daqueles que o detêm um trabalho constante, não apenas visando ao acúmulo de
crédito, mas também qualquer espécie de descrédito. É o que podemos constatar a partir
dessa breve análise da trajetória de Brizola. Uma vez na prefeitura da capital gaúcha,
Brizola buscou ampliar seu capital político de notoriedade e popularidade, a fim de fazer-
se ainda mais conhecido e reconhecido por suas realizações enquanto administrador,
amplamente divulgadas por meio da imprensa, especialmente do rádio, através da qual o
líder trabalhista era mostrado como detentor de competências específicas necessárias a
um postulante ao governo estadual. Uma vez escolhido candidato do PTB, Brizola deu
continuidade a esse processo de expansão do seu capital político de notoriedade e
popularidade, destacando novamente a sua capacidade administrativa, de um gestor
moderno, e agregando à utilização sistemática e inovadora do rádio e de
A Pedidos
práticas como a distribuição de panfletos e santinhos, comícios, jantares, inauguração de
comitês, entre outras
.
Ainda segundo Bourdieu (2002, p. 179), toda tomada de posição no interior do
campo é um ato que ganha sentido relacionalmente, por meio do
jogo das oposições
e distinções
”. No caso de Brizola, devemos considerar esse apontamento do autor a fim
de compreender suas tomadas de posição enquanto prefeito de Porto Alegre. Em
oposição ao governo da Frente Democrática, que durante a gestão de Ildo Meneghetti
enfrentou inúmeros e graves problemas econômicos (frutos, em grande medida, do Plano
de Metas implementado pelo governo de Juscelino Kubistchek e da crise entre os
diretórios regional e nacional do PSD, gerada a partir de 1955), Brizola buscou colocar-
se, ainda em 1956, como opção ao Executivo estadual na disputa que viria a ocorrer em
1958, visando com isso transformar a relação de forças que conferia ao campo naquele
momento a sua estrutura, ou seja, o domínio da Frente Democrática sobre o Estado. Essa
oposição deu-se, em um primeiro momento, especialmente através do seu programa de
rádio. ao longo da campanha eleitoral a imprensa escrita caracterizou-se como um
importante canal para tal, por meio do qual Brizola não apenas atacou a gestão de Ildo
Meneghetti, como também buscou vinculá-la ao seu opositor, Walter Peracchi Barcelos.
Uma análise dos resultados e dos possíveis fatores da vitória de Brizola sobre Peracchi
Barcelos
Como esperado, o pleito ocorreu em 03/10/1958, sob forte cobertura da
imprensa. Os dias que o sucederam configuraram-se como de extrema expectativa em
torno do nome do futuro governador gaúcho. Diariamente, o
Correio do Povo
e o
Diário
de Notícias
publicaram as parciais da votação, que desde o primeiro momento
apontavam para uma vitória do candidato trabalhista. As apurações da votação para
governador, conforme é possível verificar em uma análise dos respectivos periódicos,
encerraram-se apenas no dia 12/10/1958. Contudo, em 07/10/1958, Brizola era dado
como vencedor no pleito indo ao encontro das previsões realizadas pela imprensa nos
dias que antecederam a votação , concedendo inclusive uma entrevista como
governador eleito, tamanha a distância em votos que separava os dois candidatos. Na
referida entrevista ao
Diário de Notícias
, publicada em 07/10/1958, Brizola agradeceu a
confiança do eleitorado gaúcho, colocando-se a partir daquele momento como um
“escravo do dever”, a fim de honrar os votos recebidos. Além disso, prometeu levar a
cabo o programa de governo que o elegera, assim como estar “[...] sensível aos apelos
dos humildes.”. Questionado acerca do principal fator de sua vitória, Brizola destacou,
entre outras coisas, a identificação de sua campanha com as aspirações populares, assim
como a sua grande penetração em centros urbanos e rurais.
Em entrevista concedida ao
Correio do Povo
, publicada em sua edição de
07/10/1958, Walter Peracchi Barcelos também comentou o resultado do pleito. Sobre as
razões da ampla vitória de Brizola, o candidato da Frente Democrática disse não ter
encontrado, até aquele momento, explicações, apontando, contudo, para alguns fatores
que somados pudessem explicar o resultado das urnas: a) a preferência do eleitorado
pelos candidatos populistas; b) o alistamento maciço realizado pelo PTB muitos meses
antes, tanto no interior quanto na capital; c) o pronunciamento de Dom Vicente Scherer
elogiando o candidato trabalhista quando do repúdio ao apoio comunista; d) a
propaganda realizada pelo PTB na região colonial, acusando-o de ter perseguido os
colonos da região no tempo da guerra; e) e o desencantamento do eleitorado do interior
com os governos que, durante muito tempo, olharam apenas para os grandes centros.
Debrucemo-nos agora sobre os números da eleição de Brizola. Conforme
referido, após dias de apuração, foram divulgados os resultados finais do pleito. Nessa
ocasião, compareceram às urnas 1.214.094 dos 1.274.344 eleitores inscritos, registrando-
se assim uma abstenção de 4,7%, a menor desde o início do período democrático. Essa
queda brusca na abstenção, bem como o irrisório aumento do eleitorado inscrito pode
ser explicado, conforme Lima Junior (1983, p. 52), pela renovação dos tulos eleitorais
realizada pouco antes do pleito de 1958, que excluiu das listas eleitorais os títulos de
eleitores falecidos após 1945.
No montante, Brizola angariou um total de 670.003 votos (55,2% dos votos
totais), contra 500.944 votos do candidato da Frente Democrática (41,2% dos votos
totais). Os votos brancos equivaleram a 1,9% dos votos, enquanto os nulos foram 1,7% dos
votos totais
2
. A votação obtida pelo candidato trabalhista foi a maior alcançada por um
postulante ao Executivo gaúcho até então. Contudo, para além dos números totais, esta
se caracterizou também como a maior diferença percentual entre os dois primeiros e
nesse caso, únicos candidatos ao governo estadual desde que se iniciaram as eleições
para o cargo no Rio Grande do Sul, em 1947.
Gráfico 01. Votação dos candidatos a governador do Rio Grande do Sul (1947-1958).
Fonte: Ata das eleições de 1947 a 1958 Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul TRE-RS.
Gráfico elaborado pelo autor
Nota-se, a partir do gráfico 01, uma ampla diferença entre o percentual de votos
que separou Brizola e Peracchi Barcelos dos percentuais registrados entre os primeiros
e segundos colocados nos pleitos anteriores: em 1947, a diferença entre Jobim e
Pasqualini foi de 3,6%; em 1950, o percentual de votos que separou Dornelles e Cylon
Rosa foi de 6,4%; por sua vez, em 1954 a diferença entre Meneghetti e Pasqualini foi de
apenas 3,7%. Para além dos demais candidatos, interessa-nos nesse momento uma
análise comparativa entre os candidatos trabalhistas. O gráfico abaixo, que apresenta a
evolução do eleitorado inscrito, dos votos válidos e das votações obtidas pelos
candidatos do PTB a governador entre os anos de 1947 e 1958, nos auxilia nesse sentido.
2
Fonte: Ata das eleições de 1958 Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do Sul TRE-RS
41,2%
55,2%
1,0%
8,5%
42,5%
46,2%
0,1%
11,2%
39,5%
45,9%
18,9%
37,6 %
41,2 %
1958 Peracchi Barcelos (PSD-UDN-PL)
1958 Leonel Brizola (PTB-PRP-PSP)
1954 José Diogo Brochado da Rocha (PSP)
1954 Wolfran Metzler (PRP)
1954 Alberto Pasqualini (PTB)
1954 Ildo Meneghetti (PSD-UDN-PL)
1950 Mendonça Lima (PSB)
1950 Edgar Schneider (PL)
1950 Cylon Rosa (PSD-UDN-PRP)
1950 Ernesto Dornelles (PTB-PSP-PSDA)
1947 Décio Martins Costa (PL-UDN)
1947 Alberto Pasqqualini (PTB)
1947 Walter Jobim (PSD-PRP-PC)
Gráfico 02. Evolução do eleitorado inscrito, votos válidos e votação obtida pelo PTB nas
eleições para governador do Rio Grande do Sul (1947-1958).
Fontes: Anuário Estatístico do Brasil. 1936/1960 Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)
Estatísticas do século XX; Atas das eleições de 1947 a 1958 Tribunal Regional Eleitoral do Rio Grande do
Sul TRE-RS.
Gráfico elaborado pelo autor.
Ao observarmos o gráfico 02, é possível percebermos que as votações obtidas por
Pasqualini em 1947, por Dornelles em 1950, por Pasqualini novamente em 1954, bem
como por Walter Jobim, Dornelles e Ildo Meneghetti, respectivamente, acompanharam
proporcionalmente a expansão do eleitorado e dos votos válidos. Contudo, verifica-se
em 1958 um aumento na votação obtida por Brizola amplamente superior, em proporção,
ao aumento dos votos válidos (neste caso, desconsideramos o eleitorado inscrito em
decorrência da explicada renovação dos tulos eleitorais e do reflexo da mesma sobre
as listas): enquanto os votos válidos aumentaram em 42,52%, a votação de Brizola, em
relação à obtida por Pasqualini, deu um salto de 88,11%. Como explicar tal diferença?
Noll e Trindade (2004, p. 97-99), ao analisarem os resultados do pleito de 1958,
identificaram a vitória de Brizola sobre o candidato da Frente Democrática em 78 dos 118
municípios existentes na época. Em 1954, por exemplo, Pasqualini angariou mais votos
em apenas 26 dos 92 municípios gaúchos. Se tomarmos, por exemplo, o mesmo
Pasqualini, perceberemos não apenas vitórias de Brizola em um maior número de
cidades, mas também um aumento no percentual obtido em cada uma, inclusive naquelas
onde Pasqualini obteve os seus melhores resultados em 1954, conforme nos mostra o
gráfico abaixo.
Gráfico 03. Votação válida Pasqualini (1954) x votação válida Brizola (1958) por cidade
(%).
788.659
987.236
1.212.792
1.274.344
543.355
695.482
821.583
1.170.947
209.164
329.884
356.183
670.003
334.191
283.942
465.400
500.944
0
200.000
400.000
600.000
800.000
1.000.000
1.200.000
1.400.000
1947 1950 1954 1958
Eleitorado Votos válidos PTB Outros candidatos
Fonte:
Estatísticas Eleitorais Comparativas do Rio Grande do Sul
(NOLL; TRINDADE, 2004). Gráfico
elaborado pelo autor.
Das doze cidades onde Pasqualini obteve seus melhores resultados percentuais
em 1954, Brizola não o superou em apenas quatro (Rio Grande, Iraí, Gravataí e General
Vargas), obtendo em alguns casos resultados muito maiores que os de Pasqualini: em
Bagé a diferença entre os dois foi de 3,1%; em Cacequi, de 5,4%; em Canoas, de 16,4%; em
Livramento de 5,9%; em Rosário do Sul, de 7,1%; em Santa Maria, de 13,5%; em São Borja,
de 4,2%; por fim, em Uruguaiana, a diferença que separou os dois candidatos trabalhistas
foi de 3,5%. Em um primeiro momento, pode-se imaginar que essa diferença tenha
ocorrido devido a uma possível transferência de votos do PRP para o PTB nessas
localidades. Contudo, ao analisarmos os percentuais de votos válidos obtidos pelo PRP
nessas cidades em 1954, veremos que os mesmos são amplamente inferiores à diferença
que separou Pasqualini de Brizola: em Bagé, o PRP obteve 0,7% dos votos em 1954; em
Cacequi, 0,6%; em Canoas, 5,8%; em Livramento, 0,1%; em Rosário do Sul, 0,1%; em Santa
Maria, 1,6%; em São Borja, 0,3%; em Uruguaiana, por sua vez, o PRP obteve 0,6% dos
votos válidos. Como, então, explicar essa diferença?
Voltemo-nos agora para a zona de colonização. O gráfico abaixo se refere aos
resultados eleitorais da coligação PTB-PRP-PSP e da Frente Democrática nas regiões de
colonização alemã e italiana. Nele, temos as 12 cidades em que o PRP obteve os seus
melhores resultados percentuais em 1954, entre as quais se encontram algumas cidades
nas quais Pasqualini obteve alguns de seus piores desempenhos eleitorais naquele pleito.
Gráfico 04. Votação válida para governador em cidades da região colonial em 1958 (%).
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0 90,0
São Borja
Santa Maria
Rosário do Sul
Rio Grande
Livramento
Iraí
Gravataí
General Vargas
Canoas
Cacequi
Bagé
Pasqualini Brizola
Fonte:
Estatísticas Eleitorais Comparativas do Rio Grande do Sul
(NOLL; TRINDADE, 2004). Gráfico
elaborado pelo autor.
Superado em todas essas cidades no ano de 1954, seja pela Frente Democrática
ou pelo PRP, em 1958 o PTB não se sagrou vencedor em apenas três dessas doze
localidades (Caí/Nova Petrópolis, Estrela/Roca Sales, e Montenegro). Em todas, mesmo
nas quais foi derrotado por Peracchi Barcelos, Brizola obteve um resultado amplamente
superior ao de Pasqualini, sendo a diferença percentual entre os dois trabalhistas nessas
cidades muito próxima do percentual de votos obtidos pelo PRP em 1954 (conforme o
gráfico 05). Tal fato evidencia uma transferência parcial e em alguns casos quase total
de votos do PRP para o PTB nessas localidades, tornando assim, bem sucedida a
estratégia dos trabalhistas de aliarem-se aos perrepistas, cuja uma das motivações era
justamente a captação de votos na região colonial.
Gráfico 05. Diferença % de votos entre Brizola x votação do PRP em 1954 (cidades da
região colonial).
Fonte:
Estatísticas Eleitorais Comparativas do Rio Grande do Sul
(NOLL; TRINDADE, 2004). Gráfico
elaborado pelo autor
0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100%
Arroio do Meio
Cai/Nova Petrópolis
Estrela/Roca Sales
Flores da Cunha
Ijui
Lajeado
Montenegro
Novo Hamburgo
Santa Rosa/Horizontina/Três de Maio/Porto
Sobradinho
Três Passos/Crissiumal/Tenente Portela
Venâncio Aires
PTB-PRP-PSP Frente Democrática
0 5 10 15 20 25 30 35 40 45
Arroio do Meio
Caí/Nova Petrópolis
Estrela/Roca Sales
Flores da Cunha
Ijuí
Lajeado
Montenegro
Novo Hamburgo
Santa Rosa/Horizontina/Três de Maio/Porto
Sobradinho
Três Passos/Crissiumal/Tenente Portela
Venâncio Aires
Votação do PRP em 1954 Diferença % entre Pasqualini e Brizola
Ainda sobre as alianças políticas: se uma das razões aventadas para a formação
da aliança com o PSP, bem como para um possível acordo nos bastidores com o PC
ainda que repudiando publicamente o apoio oferecido por Prestes , foi não dividir o
eleitorado dos grandes centros urbanos, tal estratégia foi exitosa, uma vez que alguns
desses grandes centros e maiores colégios eleitorais do Estado o PTB obteve alguns de
seus melhores desempenhos na ocasião: em Porto Alegre, maior colégio eleitoral do Rio
Grande do Sul, obteve 67,8% dos votos; em Canoas, 79,9%; em Pelotas 59,0%; em Novo
Hamburgo, 61,1%; em São Leopoldo/Esteio/Sapiranga, 60,2%; por fim, em Rio Grande,
angariou em torno de 69,0% dos votos.
Clay Hardman de Araújo (1984), em entrevista concedida ao Centro de Pesquisa e
Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC), afirma que uma das
principais preocupações de Brizola e do PTB em relação aos comunistas, e que fez com
que se buscasse uma aliança informal com estes, dizia respeito a uma possível divisão do
eleitorado urbano a partir do lançamento de um candidato próprio via partidos como o
PR
3
. Hipoteticamente acordados com o PC acerca da candidatura de Brizola ao governo,
os comunistas lançaram ao Senado, pelo PR, o candidato Gabriel Pedro Moacyr. Na
disputa pelo Senado, Guido Mondin sagrou-se vencedor, obtendo 50,8% dos votos totais
contra 40,7% de Carlos Brito Velho e 1,8% de Pedro Moacyr. Branco e nulos equivaleram
a 4% e 2,7%, respectivamente.
Para além da vitória de Mondin, cabe atentar aqui para os 21.237 votos obtidos
pelo candidato do PR/PC em todo Estado. Se, de fato, como afirma Cánepa (2005, p.
258), tal candidato foi apoiado pelos comunistas devido a uma resistência destes ao
candidato do PRP, tudo nos leva a crer que tais votos migrariam eventualmente para um
candidato dos comunistas lançado ao governo do Estado pela mesma legenda.
Considerando o equilíbrio estabelecido até então entre os dois blocos, vide a diferença
de pouco mais de 30 mil votos que separaram Meneghetti e Pasqualini em 1954, ou ainda
a busca incessante por uma aliança com o PRP e os cerca de 70 mil votos dos quais
dispunha no Estado, uma possível “aliança informal” com o PC nessa ocasião pode ser
entendida como racional e, em grande medida, bem sucedida.
Exitosas, seja do ponto de vista da transferência de votos na região colonial ou da
não divisão do eleitorado urbano, as alianças com o PRP, PSP, e possivelmente com o PC,
não explicam, contudo, em sua maior parte, a ampla vitória de Brizola sobre o candidato
3
ARAÚJO, Clay Hardman. Clay Hardman de Araújo (depoimento). Rio, FGV/CPDOC História Oral, 1984.
da Frente Democrática. Para além desses, que outros fatores podem ter contribuído para
essa vultosa soma de votos?
Pode-se aventar enquanto outra hipótese para o sucesso eleitoral de Brizola em
1958 a soma de uma série de outros fatores, como o não envolvimento da LEC no que
tange à disputa pelo Executivo estadual, o posicionamento de neutralidade por parte do
alto clero gaúcho acerca desse embate e a manifestação de Dom Vicente Scherer, poucas
semanas antes do pleito, favorável a Brizola que, inclusive, aparece na análise de
Peracchi Barcellos acerca dos possíveis motivos de sua derrota , que juntamente com a
aliança com o PRP podem ter neutralizado a vasta propaganda anticomunista produzida
pela Frente Democrática contra a candidatura trabalhista. Como dito anteriormente, o
PRP caracterizava-se como um partido de caráter altamente conservador e
anticomunista, enquanto a Igreja Católica, através da LEC, exerceu um papel de
proeminência nos pleitos de 1947, 1950 e 1954, especialmente devido ao seu caráter
anticomunista, tendo sido, conforme nos mostram alguns estudos, um dos fatores que
contribuíram para a derrota de Pasqualini nas eleições anteriores. Na região colonial,
estes elementos podem ter potencializado uma transferência “natural” de votos do PRP
para o PTB, que, como vimos anteriormente, concretizou-se em sua quase totalidade.
nas demais localidades, e em especial nos grandes centros urbanos, podem ter sido
fatores determinantes para a captação de votos de um eleitorado flutuante, o que
explicaria o alto desempenho eleitoral obtido nesses locais.
Contudo, avaliamos que apenas as alianças partidárias ou o posicionamento de
neutralidade da Igreja/LEC quanto à disputa entre Brizola e Peracchi Barcelos, embora
sua relevância, também não são elementos suficientes para explicar a expressiva votação
obtida pelo candidato trabalhista, o que nos abre caminho para outra hipótese. Como
referido, registrou-se em 1958 uma taxa de abstenção de 4,7%, a menor do período no
Rio Grande do Sul (em 1947, a taxa de abstenção foi de 30%; em 1950, de 27%; em 1954,
de 31,5%; em 1962, por sua vez, registrou-se uma taxa de abstenção de 13,28%). Não
desconsideramos que a queda de parte dessa abstenção tenha se dado em decorrência
da renovação dos títulos eleitorais, realizada pouco antes do pleito de 1958, o que excluiu
das listas eleitorais os títulos de eleitores falecidos depois de 1945. Contudo, ao olharmos
para o número de votantes em 1958, percebemos, paralelamente à queda na abstenção,
um aumento substancial dos mesmos (44,92%), bem acima da média registrada entre os
pleitos anteriores. Eleitores que, em grande medida, ou votaram pela primeira vez em
1958, ou por alguma razão não compareceram às urnas em 1954, e que, nesse pleito, em
sua maioria, optaram por Brizola, vide o aumento percentual dos votos obtidos pela
Frente Democrática entre 1954 e 1958 (como referido, Brizola obteve um aumento de
88,11% em relação à votação atingida por Pasqualini, enquanto Peracchi Barcelos obteve
um aumento de 29,50% na comparação com Meneghetti), bem abaixo do aumento do
número de votantes. Sendo assim, aventamos, ao lado das alianças eleitorais e do
posicionamento de neutralidade da Igreja, a hipótese de que a expressiva votação obtida
por Brizola em 1958 esteja ligada também à sua capacidade de mobilização eleitoral, bem
como aos meios através dos quais buscou atingir esse eleitorado.
Conforme dito anteriormente, várias foram as estratégias visando à construção
de uma popularidade perante o eleitorado e mobilização eleitoral empregadas por Brizola
entre os anos de 1956 e 1958. Durante a sua gestão na Prefeitura de Porto Alegre, tanto
os jornais quanto o rádio caracterizaram-se como importantes ferramentas para a
divulgação de seus feitos enquanto administrador da capital gaúcha e para a construção
de sua candidatura ao governo estadual. Já enquanto candidato trabalhista, Brizola aderiu
a uma série de práticas eleitorais típicas da República Democrática, como comícios,
cortejos, jantares, inaugurações de comitês, distribuição de panfletos, santinhos,
flâmulas, colação de cartazes e pichações, além do uso do rádio e de propagandas pagas,
os
A Pedidos
, nos principais jornais gaúchos. Práticas essas que o permitiram não apenas
manter, mas expandir a sua popularidade.
As fontes analisadas não fornecem elementos que nos permitam dimensionar ou
quantificar o peso de cada uma dessas ferramentas de mobilização e construção de
popularidade sobre o desempenho eleitoral de Brizola em 1958. Contudo, algumas dessas
fontes evidenciam a proeminência do rádio, que pode ter se configurado como um
elemento-chave para a compreensão da vitória do candidato trabalhista. Em um relatório
de atividades enviado a Brizola pelo Diretório Dr. João Goulart, oriundo do acervo
particular de Francisco Brochado da Rocha, custodiado no Arquivo Histórico do Rio
Grande do Sul (AHRS), esse meio de comunicação aparece como um elemento-chave
para a grande aceitação das candidaturas trabalhistas, tanto ao Executivo quanto ao
Legislativo, no interior do Estado:
Bom acolhimento da candidatura Trabalhista ao Governo do Estado, quanto nos
demais cargos do legislativo, candidatos que, embora desconhecidos
pessoalmente, são acolhidos com simpatia, graças as palestras semanais de V.
Excia., que consideramos uma grande propaganda, face da boa aceitação que
constatamos e da imensa capacidade de penetração de que dispõe. (GOULART,
1958, p. 1)
Em sua citada entrevista, concedida logo após ser considerado como vencedor
na disputa pelo Executivo estadual, Brizola destacou enquanto um dos principais fatores
de sua vitória a ampla capilarizarão de sua campanha, tanto nos centros urbanos quanto
no interior. Essa ampla capilarizarão a exemplo da aceitação da campanha trabalhista no
interior, citada no relatório acima, pode ter sido potencializada, em grande medida, pelo
rádio, conforme nos mostra uma pesquisa de opinião, realizada pelo Instituto Brasileiro
de Opinião Pública e Estatística (IBOPE) no Rio Grande do Sul em junho de 1958, isto é, já
durante a campanha eleitoral. Por sua vez, o cruzamento dessas informações com os
resultados eleitorais de 1954 e 1958, realizado no gráfico abaixo, pode auxiliar-nos na
compreensão da importância desse meio de comunicação para o desempenho eleitoral
de Brizola.
Gráfico 06. Votos válidos do PTB em 1954 x audiência do programa de Brizola x
intenções de voto em Brizola x votos válidos do PTB em 1958
Fonte: Instituto Brasileiro de Opinião Pública e Estatística IBOPE Pesquisa de opinião pública, 06/1958;
Estatísticas Eleitorais Comparativas do Rio Grande do Sul
(NOLL; TRINDADE, 2004). Gráfico elaborado
pelo autor.
O gráfico 06 apresenta cidades das mais variadas regiões do Estado. Em Santa
Rosa e arredores, pertencentes à região de colonização, o PTB havia obtido 26% dos
votos válidos em 1954. Nessa cidade, de acordo com a pesquisa de opinião realizada, o
programa de Brizola possuía um percentual de audiência de 60%, enquanto o candidato
trabalhista possuía ali em torno de 61% das intenções de voto. Tanto a audiência quanto a
intenção de votos são amplamente superiores ao resultado do pleito anterior e
aproximam-se muito do total de votos válidos angariados por Brizola em 1958, que ficou
em 61,4%. Observa-se, também, em outras cidades da região colonial analisadas, como
Novo Hamburgo, Caxias do Sul e Santa Cruz do Sul (onde apesar de derrotado, obteve
uma votação amplamente superior à de Pasqualini). em Porto Alegre, onde havia
obtido 52,7% dos votos válidos em 1954, a audiência e a intenção de votos em Brizola
ficavam, segundo a pesquisa, em torno de 67% e 63%, respectivamente. Em 1958, Brizola
0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0 70,0 80,0
Santa Rosa e região
Santa Maria
Santa Cruz do Sul
Rio Grande
Porto Alegre
Pelotas
Novo Hamburgo
Caxias do Sul
Bagé
Votos válidos PTB 1958 Votaria em Brizola
Costuma ouvir o programa de Brizola Votos válidos PTB 1954
obteve 67,8% dos votos na cidade. Este aumento do percentual de votos de entre 1954 e
1958, bem como os altos índices de audiência e intenção de votos em Brizola, podem ser
percebidos também na maioria das outras cidades pesquisadas, como Santa Maria, Bagé,
Rio Grande e Pelotas. Dessa forma, o rádio pode ser compreendido como uma
importante ferramenta para a captação de votos, tanto em localidades em que o PTB
possuía historicamente um baixo desempenho eleitoral, como a região colonial soma-
se aqui a aliança com o PRP, citada , como também em cidades onde o partido era
hegemônico Porto Alegre, Rio Grande, Bagé, Pelotas , vide os resultados de 1954, nas
quais Brizola não apenas manteve, mas foi capaz de ampliar o percentual de votos na
comparação com o pleito anterior.
Indo ao encontro dos relatos do Diretório Dr. João Goulart, da entrevista de
Brizola e também da pesquisa de opinião e resultados eleitorais acima expostos, o
comentarista político Armando Fay Azevedo (1960, p. 259-260), em sua análise acerca
das eleições de 1958 publicada na
Revista Brasileira de Estudos Políticos
, afirma que o
rádio constituiu-se como peça-chave para a construção da popularidade do candidato
trabalhista, bem como para aquilo que classifica como “Fenômeno Brizola”, referindo-se
à expressiva vitória obtida pelo mesmo na disputa governamental. Conforme Azevedo,
Brizola soube, de forma incansável, madrugar através de uma extensa fala radiofônica,
semanalmente, durante anos, “[...] usando de uma linguagem tosca, de sofredor,
injustiçado, perseguido pelos poderosos, na sua sempre apregoada luta em defesa dos
desprotegidos da fortuna [...]”, remetendo todo o tempo às suas origens de homem do
povo. Com isso, passou a ser, todas as sextas-feiras, como “uma das pessoas da casa”
em inúmeros lares do Rio Grande do Sul.
Tal como dito por Azevedo (1960) acerca do rádio, a questão da linguagem
utilizada por Brizola aparece também em uma entrevista de Guido Mondin ao
Diário de
Notícias
, em sua edição do dia 07/10/1958, na qual analisou os fatores da vitória da chapa
PTB-PRP-PSP.
Identificação dos candidatos com o povo, contatos pessoais e, principalmente,
debate amplo e saudável, de princípios, de problemas e de soluções para esses.
Em nossos comícios (1506), deixamos o povo a vontade. Nunca criamos nos
comícios da coligação PTB-PRP-PSP um clima de tensão. As nossas reuniões a
céu aberto eram verdadeiras festas cívicas. Nelas, muitas e muitas vezes
deixamos o povo falar. [...] Mas acima de tudo [...] o que realmente deu a vitória
à nossa causa foi o candidato Leonel Brizola. A sua maneira franca, objetiva,
simples de falar, de abordar problemas e o que é mais importante de
apontar soluções para os mesmos [...] (DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 1958, p. 1).
Presente tanto nas suas falas no rádio quanto em comícios e no “corpo-a-corpo”
com o eleitorado, o “fator linguagem” materializou-se também na propaganda de Brizola
veiculada na imprensa. Em diferentes momentos, tanto em seu formato (combinando
imagens e palavras de diferentes formas daquelas presentes nos periódicos), quanto na
maneira como tais publicações ocorreram (de forma diluída e didática, como na
divulgação de seu programa de governo), a propaganda eleitoral de Brizola denota uma
intenção do candidato e daqueles que coordenavam a sua campanha de estabelecer uma
nova linguagem, capaz de atingir um número maior de eleitores.
Com base nesses apontamentos, é possível inferir que essa popularidade
adquirida por Brizola diante do eleitorado e a sua capacidade de mobilizá-lo, que o
permitiram obter sucesso no interior do campo político, sejam fruto do domínio daquilo
que Bourdieu (2002, p. 169) denomina como um
habitus político
, ao qual qualquer
possibilidade de sucesso no jogo político está condicionada. Esse
habitus
, conforme o
autor
,
consiste tanto em um conjunto de saberes específicos (teorias, problemáticas,
conceitos, tradições históricas e dados econômicos) e capacidades gerais, como o
domínio de uma linguagem e de uma retórica política, a qual o autor divide e classifica
como do
“tribuno
(vital nas relações entre os políticos profissionais e a população em
geral) e do
“debater
(imprescindível na relação entre os pares, ou seja, entre os
profissionais da política), quanto em um tipo de iniciação (uma série de provas e ritos de
passagem), que tende a revelar ao profissional a lógica do campo político e impor a ele
uma submissão aos valores, hierarquias e censuras inerentes ao campo, bem como aos
seus constrangimentos e formas de controle.
Para fins de uma análise comparativa, tomemos como exemplo novamente
Alberto Pasqualini, candidato petebista derrotado em 1954. Pasqualini e Brizola
pertenciam a gerações distintas. Isso não diz respeito somente à idade, mas, com efeito,
a formações políticas distintas, a experiências com padrões de competição eleitoral
distintos e, especialmente, a acontecimentos distintos que, para ambos, marcaram seus
ingressos no campo político, ou seja, a sua
iniciação
. No caso de Brizola, o fim do Estado
Novo e a formação do PTB foram eventos marcantes e que propiciaram essa entrada na
política. Se Pasqualini, que teve a sua formação política nas décadas de 1920 e 1930, foi
uma liderança que precisou adaptar-se à experiência democrática, Brizola constituiu-se
enquanto liderança política no seio dessa experiência, o que lhe proporcionou uma maior
inculcação acerca da lógica política que marcou esse período.
Com base no que foi exposto até aqui, fica evidente, por parte de Brizola, o
domínio de um
habitus
do
tribuno
”. Sendo apadrinhado por políticos de gerações
anteriores, como Vargas e Pasqualini, Brizola dominava os códigos e a linguagem
necessária para lidar com seus pares, mover-se nos meandros de seu meio e nele
constituir-se enquanto liderança, ou seja, o
habitus
do
debater
”. Sua vantagem, com
relação a agentes políticos de gerações anteriores e da sua própria pode ter sido a
capacidade de dominar tanto os códigos e as linguagens necessárias à construção de
uma popularidade perante esse eleitorado crescente e diversificado, quanto as
ferramentas pelas quais essa popularidade foi construída. Isso fica evidente se olharmos
para as estratégias de mobilização eleitoral empregadas por Brizola em sua campanha ao
governo do Estado em 1958. Em grande medida, tais estratégias disseram respeito a um
conjunto de práticas próprias desse período, como comícios, cortejos, distribuição de
panfletos e santinhos etc. Contudo, como mostrado, em inúmeros momentos e de
diferentes formas, especialmente no que tange à imprensa escrita e ao rádio, Brizola
buscou inovar, frente tanto ao equilíbrio de forças existente no Estado quanto a um
eleitorado que, de uma forma geral, expandia-se e diversificava-se pleito após pleito.
Ao analisar os fatores que conduziram à ampla vitória de Brizola, Azevedo (1960,
p. 259-260) credita-a ao seu “corte excepcional de populista” e ao seu senso de
conquista do eleitorado. Sobre esse populismo “tipo-Brasil-III-República”, o autor afirma
não se tratar de demagogia ou manipulação embora elas estejam presentes em alguns
casos –, mas sim de “técnica de conquista do eleitorado, modo de se conduzir perante
este, habilidade de atraí-lo” ou ainda “aproximação direta e pessoal à massa, e falar,
tanto quanto possível, na sua linguagem, aos seus sentimentos”. Vale lembrar que,
conforme nos explica Ferreira (2001, p. 115-116), ser um “líder populista” nesse período,
tal como Vargas e Jango, não significava utilizar como recursos a mentira, a demagogia e
a manipulação. Do contrário, a expressão pode ser traduzida para os dias atuais como
“líder popular”, aquele que representa os anseios políticos populares” ou dos
“movimentos populares”. A análise de Azevedo foi produzida nesse contexto, antes do
populismo torna-se um conceito, vinculado à demagogia, à manipulação, e em especial ao
PTB de Brizola, refutado por trabalhos citados anteriormente. Frente à sua
inoperacionalidade enquanto chave-explicativa para a relação estabelecida entre
políticos e eleitores ao longo da experiência democrática, sugerimos aqui, enquanto
alternativa ao abandono do conceito de populismo, pensar a atuação e o sucesso de
determinados agentes no interior do campo durante esse período, e em especial de
Brizola, objeto de análise desse artigo, a partir do citado domínio de um
habitus
político, que os permitiram tornarem-se populares perante o eleitorado.
Ao longo da referida análise das eleições de 1958, ou mais especificamente
daquilo que chamou de Fenômeno Brizola”, Azevedo (1960, p. 259) afirma que Brizola
caracteriza-se como um “político de vocação”, um “político nato”, ou, em outras
palavras, alguém nascido para a política, destinado a grandes feitos e à liderança, dotado,
portanto, daquilo que Weber (2002) chama de
carisma
(dons pessoais e
extraordinários de um indivíduo). Contudo, como se pôde ver ao longo desse texto, a
ascensão de Brizola e seu sucesso no interior do campo não são orgânicos”. Do
contrário, são frutos de um longo trabalho de acúmulo, conversão e manutenção de
capitais, tanto delegado quanto de notoriedade e popularidade, que associados ao
domínio de um
habitus
político o permitiram, em um curto período de tempo, ascender
da ala-moça do PTB ao posto de governador do Estado do Rio Grande do Sul e de
liderança regional/nacional de seu partido. Dessa forma, reiteramos não ter se tratado
de uma popularidade
a priori
, de carisma, mas sim de uma popularidade construída
diante das necessidades apresentadas pelo aumento e diversificação do eleitorado,
característicos da experiência democrática brasileira. Da mesma maneira, salientamos
que, como ficou demonstrado, múltiplos são os fatores que explicam a ascensão e eleição
de Leonel Brizola ao governo do Rio Grande do Sul em 1958.
Considerações finais
A ampliação do eleitorado pós-1945 alterou as regras do jogo político no Brasil. A
partir de então, partidos e candidatos passaram a lidar com a necessidade de
convencimento dos eleitores ou, nas palavras de Angeli (2015, p. 193), com a
necessidade de “atingir o coração do eleitor” , que eram agora protagonistas dos
processos eleitorais e disputados um a um por partidos e candidatos. Isso levou ao
desenvolvimento de inúmeros mecanismos voltados à construção de uma imagem de
popularidade, à mobilização eleitoral e à conquista de votos: comícios, caminhadas,
fixação de cartazes, distribuição de panfletos, santinhos e apertos de mão, além de
outros eventos como jantares, inaugurações de comitês etc. Uma série de práticas que,
mesmo coexistindo com outras práticas coercitivas e clientelísticas, remanescentes de
períodos anteriores, estabeleciam um novo tipo de relação entre partidos, candidatos e
eleitores (CANÊDO, 2012, p. 538).
Sendo um político gestado no interior da experiência democrática, tendo tido a
sua iniciação concomitantemente à redemocratização, o grande trunfo de Brizola em
relação a políticos que precisaram adaptar-se a esses novos tempos e também a políticos
de sua própria geração foi tanto a capacidade de leitura da necessidade de um contato
mais direto com o eleitorado quanto o domínio dos códigos de linguagem e do principal
meio de comunicação de massas do período: o rádio. Sendo assim, reiteramos a hipótese
de que o amplo sucesso eleitoral de Brizola ao longo do período 1945-1964, no qual a
vitória nas eleições de 1958 ou, como denominou Azevedo, o “Fenômeno Brizola” foi
mais um episódio, não se deveu à demagogia e manipulação, presentes no conceito de
populismo, tampouco a um dom pessoal e extraordinário que fizesse dele um “político
carismático”, mas ao domínio de
habitus
do
tribuno
, que permitiu a Brizola comunicar-se
com as camadas populares, atingindo o coração desses eleitores, como poucos políticos
ao longo da história brasileira o fizeram.
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