Em 1534, na cidade de Sevilha, seria publicada outra crônica, cujo título era 
Verdadera relación de la conquista del Perú y provincia del Cuzco, llamada la Nueva 
Castilla
  por  Francisco  de  Xerez.  A 
Verdadera  relación
  de  Xerez  foi,  em  parte,  a 
resposta ao texto publicado por Mena, versão anônima e não oficial, motivo pelo qual 
Xerez destacava seu caráter de 
verdadera
 (BRAVO, 1985; PEASE, 2016, p. 2005-2011) 
A  posição  como  secretário  alcançada  por  Xerez  respondia  não  apenas  a  sua 
habilidade na escrita, mas sobre tudo a sua lealdade a Pizarro. Tendo participado das 
duas primeiras viagens exploratórias, havia conquistado o cargo de secretário, sendo 
responsável  pela  produção  de  documentos  que  registravam  informações 
fundamentais para serem apresentadas à Coroa, como eram as atas de fundação de 
cabildos
  ou  o  levantamento  das  peças  de  ouro  e  prata  fundidas.  Junto  a  essas 
responsabilidades,  também  era  da  sua  alçada  o  registro  dos  acontecimentos  da 
campanha realizada contra os indígenas, motivo pelo qual poderia ser considerado 
como  o  “cronista  oficial”  da  expedição.  Sua  participação  ativa  durante  toda  a 
expedição até o momento da captura de Atahualpa lhe proporcionou à sua 
Verdadera 
relación
 um elemento de vivacidade na descrição dos eventos narrados. A descrição 
de Xerez da captura é caracterizada, também, por ser “minuciosa” e “objetiva” nas 
informações que traz: 
 
O Governador, vendo isto, perguntou a frei Vicente se ele queria falar com 
Atahualpa com um “língua”; ele falou que sim. Foi com uma cruz na mão e 
com  a  Bíblia  na  outra,  entrou  e  passou  pela  gente  até  onde  Atahualpa 
estava, e diz através do “língua”: “Eu sou sacerdote de Deus, ensino para 
os cristãos as coisas de Deus, assim como venho a ensinar a vocês. O que 
ensino é o que Deus falou e que está neste livro. Por isso, da parte de Deus 
e dos cristãos suplico que seja seu amigo, porque assim o quer Deus e terá 
proveito  disso;  fale  com  o  Governador,  que  ele  está  esperando”. 
Atahualpa, então, diz que lhe desse o livro para vê-lo e frei Vicente lhe deu 
fechado;  e,  não  conseguindo  abri-lo,  o  religioso  estendeu  o  braço  para 
fazê-lo, mas Atahualpa, com grande desdém, lhe deu um golpe no braço, 
não querendo ajuda, teimando em abri-lo. Ao abri-lo, não se maravilhou 
com as letras nem com o papel como outros índios, o jogou a cinco ou seis 
passos de si. E, às palavras que o religioso tinha dito, através do “língua”, 
lhe respondeu com muita soberba dizendo: “Bem sei o que vocês fizeram 
pelo  caminho,  como  trataram  meus  caciques,  pegando  a  roupa  dos 
depósitos”. O religioso respondeu: “Os cristãos não fizeram nada; alguns 
índios trouxeram roupa sem que eles soubessem; e mandaram devolvê-
las”.  Atahualpa  falou:  “Não  partirei  daqui  até  que  devolvam  todas  as 
coisas”.  O  religioso  voltou,  então,  com  esta  resposta  ao  Governador. 
(XEREZ, 1985, p. 111, tradução nossa).