Esse sujeito, no entanto, está no centro de uma articulação em que pese a sua
formação enquanto indivíduo. O mito conspiratório trabalha nesta esfera, pois, ele busca
arregimentar o indivíduo transformando-o em também agente político ativo, em um
intelectual mediador que angarie corpos e mentes para a cultura fascista. Essa transição
entre a sujeição e a agência se dá a partir de um processo que pode ser explicado através
da categoria de interpelação ideológica de Althusser (1970).
Como explicamos anteriormente, entendemos o fascismo enquanto a negação da
alteridade, a rejeição do outro enquanto indivíduo e enquanto grupo. A negação da
alteridade implica na negação de qualquer outra cultura que não seja a fascista, isso
pensando o seu objetivo final, “sua inextinguível vontade de poder”. O mito conspiratório,
assim, surge para identificar esse outro. Isso resulta em níveis de rejeição, pois, as relações
sociais dentro do campo político tendem a ser complexas, por vezes contraditórias.
Nem todos vistos como responsáveis pelo complô, os responsáveis pela
Organização, são inimigos. A definição, suscita apresentar, uma lógica contrária. Os
inimigos políticos do campo de luta política partidária tradicional, formal, são apontados
como partícipes do complô. É uma lógica que se retroalimenta. Em resumo, é sempre o
outro, em perspectiva da cultura fascista, o partícipe. Até pode ser apontado um “traidor”,
o que “sempre esteve infiltrado”, o que se apresenta é a noção de culpa a este
“responsável”. O mito da conspiração sugere rostos que se revestem de culpa.
O mito, assim, serve como um
álibi
(GAY, 1995, p. 43) para a violência, tanto
simbólica quanto física, contra esses acusados. Isso não é uma questão exclusiva da
cultura fascista. O álibi é encontrado, segundo Gay, em toda cultura, todo século, toda
classe. É algo que faz parte da identidade primordial da humanidade, a criação de álibis
para a agressão. No caso da política, o álibi cai perfeitamente em uso para a
despotencialização do outro e, por vezes, justifica até mesmo violência física. O mito
conspiratório, ao instituir culpados de um complô, se reveste explicitamente de álibi. Isso
faz parte de um processo complexo.
O indivíduo, ao aderir a cultura fascista, em seu processo de sujeição para
intelectual mediador, precisa estar inserido em diversas categorias que permeiam qualquer
cultura política. A mitologia política obviamente é uma delas. Por essa razão frisá-la, pois,
é nela que reside o mito da conspiração, como já apresentado. Esse mito, tendo como
função a prática de construção do inimigo, serve, assim, como o álibi da ação política.
Quando o indivíduo entendeu e se inseriu na mitologia política – como forma de
entendimento da realidade presente, do passado e de uma expectativa futura –, resultando
em seu estabelecimento dentro da cultura fascista, sendo, portanto, um intelectual
mediador, o que ele apresenta como álibi de suas ações, de sua militância, de sua