ALVES, Luiz Fellipe*
https://orcid.org/0000-0001-5991-3857
RESUMO: O Objetivo deste artigo é demonstrar
como, a partir de Olavo de Carvalho, é
estruturada uma linguagem que alimenta o
processo de fascistização no brasil do tempo
presente, através da mobilização de signos
comoventes que estabelecem processos de
interpelação ideológica seguindo padrões
eufóricos e disfóricos de determinados
elementos linguísticos. Nesse sentido busca-se
observar, através do estabelecimento de um
mito conspiratório, de um complô, como se
delimita uma política do nós contra eles” e a
criação de um inimigo direto. Exclui-se a
perspectiva de adversário político do embate
democrático e determina-se a negação do
outro. Nesse sentido, entendemos o fascismo
como a negação da alteridade, a rejeição do
outro e a gana por extirpa-lo. A perspectiva, por
consequência, é fazer observações iniciais de
como essa estrutura linguística de raciocínio
opera a partir deste ideólogo mediador em duas
obras. “Nova era e revolução cultural: Fritjof
Capra & Antônio Gramsci” (1998) e “O mínimo
que você precisa saber para não ser um idiota
(2013). A busca é para traçar relações entre o
passado recente e o tempo presente nessas
obras.
PALAVRAS-CHAVE: linguagem fascistizante;
Brasil; conspiração; história do tempo
presente.
ABSTRACT: The purpose of this papper is to
show how as of Olavo de Carvalho a language
is structured that feeds the process of
fascistization in Brazil of the present time,
through the mobilization of moving signs that
establish processes of ideological interpellation
following euphoric and dysphoric patterns of
certain linguistic elements. In this sense, we
seek to observe, through the establishment of a
conspiratorial myth of a plot how a policy of “us
against them” policy is defined and the creation
of a direct enemy. The perspective of a political
opponent is excluded from the democratic
confrontation and the denial of the other is
determined. So, we understand fascism as the
denial of otherness, the rejection of the other
and the desire to extirpate him. The perspective
therefore is to make initial observations of how
this linguistic structure of reasoning operates
from this mediator ideologue in two works:
“New era and cultural revolution: Fritjof Capra
& Antônio Gramsci” (1998) and “The least you
need to know to not be an idiot” (2013). The
search is to trace relationships between the
recent past and the present time in these works.
KEYWORDS: fascist language; Brazil;
conspiracy; history of the present.
Recebido em: 08/07/2022
Aprovado em: 14/10/2022
* Mestre em História pela UFPR, Curitiba e doutorando em História pela UFJF, Juiz de Fora. Bolsista CAPES.
Email: fellipe7@icloud.com
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
Introdução
O texto a seguir tem como propósito a experimentação. Pensando em uma espécie
de laboratório de desenvolvimentos de ideias epistemológicas e teórico-metodológicas,
propomos desenvolver este texto para estabelecer concepções de uma pesquisa mais
densa. Através disso, entende-se possível acrescentar ao debate uma ampla gama de
categorias e conceitos que venham agregar a uma bibliografia básica sobre o objetivo da
pesquisa.
A proposta é analisar as
“micropolíticas fascistas”,
nos termos de Guattari (1986),
a partir da construção de uma
linguagem
que possa servir de fio condutor para um
processo de fascistização na sociedade brasileira nas últimas décadas. As micropolíticas
fascistas aqui abordadas, são vistas como elementos fascistizantes de um indivíduo, são
signos, símbolos, atos de fala e, acima de tudo, subjetividades que implicam em uma
fascistização. O processo de fascistização pode ser observado, em determinado sentido,
através da transferência que ocorre entre o pensamento organizado, a ideologia, a
linguagem formal e a performance, a expressão do desejo, a execução, a estética presente
no fascismo, enquanto cultura política.
Fica oportuno delimitarmos que entendemos por linguagem a “expressão de uma
época”, ela “sempre revela o que uma pessoa tem dentro de si e deseja encobrir, de si ou
dos outros, ou que conserva inconscientemente” (KLEMPERER, 2009, p. 49). Essa
dinâmica se estabelece nos agenciamentos de enunciação, que por sua vez é responsável
pela produção de subjetividades (GUATTARI; ROLNIK; 1986, p. 31). Esses agenciamentos
são basicamente fenômenos de interação linguística.
A partir deste raciocínio propomos um texto que aborde três sessões de
desenvolvimento de pensamentos. Primeiramente, questões que dizem respeito ao trato
das fontes. A proposta apresentada tem como delimitação de fonte uma tipificação, a
princípio. Delimitadas, nesse sentido, como fontes primárias. Estas fontes estão presentes
em obras publicadas em âmbitos “formais”: livros, artigos acadêmicos e de opinião, com
publicações físicas ou não. É importante deixar claro que estes textos serão observados
dentro de sua importância e relevância para a construção de determinado raciocínio e que,
a partir disso, eles resultam em formas de linguagens, narrativas e, principalmente, ações
políticas em determinados sentidos futuros.
É de conhecimento da pesquisa em diversas áreas, que esse tipo de linguagem e
discurso se espalha por outras instâncias, como a internet, meio no qual é potencializada
e tratada no debate público de forma a diluí-la, desterritorializando um pensamento
homogêneo, atingindo diversos grupelhos e movimentos. Relacionado a essa categoria de
fonte propomos observar de que modo o pensamento organizado formalmente cria formas
de linguagem, se dilui no debate blico e reproduz determinados discursos a fim de
internalizar no indivíduo uma determinada cultura, nesse caso, a cultura fascista.
Nesse ponto, principalmente dentro dos critérios da História do Tempo Presente
(HTP), o ciberespaço se tornou o lugar necessário que pesquisadores desta corrente
necessitam se adequar. As formas atuais de sociabilidades estão inexoravelmente
estabelecidas no ciberespaço. A popularização do uso do
smartphone
inundou o
ciberespaço e o forjou como o lugar principal das relações sociais. Deste modo, “os
historiadores do tempo presente não podem negligenciar o potencial da rede como fonte
de pesquisa”. (ALMEIDA, 2011, p. 16).
Pierre Levy, portanto, levantou questões sobre a importância do ciberespaço para
o estudo do social e do político, chamando atenção para essa nova forma de sociabilidade.
A ideia proposta por ele de “cibercultura” e “ciberespaço” é essencial para que consigamos
abordar de forma mais concreta nosso objetivo, pois, é também dentro do ciberespaço,
que o sujeito acaba por se inserir no processo de interpelação e se fascistizar.
Para o autor, o ciberespaço “é o novo meio de comunicação que surge da
interconexão mundial dos computadores” e não se limita a “infraestrutura” somente, mas
também se expressa como um “universo oceânico de informações” onde seres humanos
habitam e se alimentam socialmente de relações novas interpessoais, como se este
“mundo” fosse uma extensão da realidade física. (LEVY, 2004, p. 17)
Neste sentido, se um novo mundo, um “universo oceânico de informações”,
citando novamente Levy, novas formas de relações são produzidas e, consequentemente,
dinâmicas de aprendizagem e de formações de identidade também aparecem. Isso pode
ser um sintoma do que Levy chama de “cibercultura”, ou seja, “de técnicas, de práticas, de
atitudes, de modos de pensamento e valores que se desenvolvem juntamente com o
crescimento do ciberespaço” (idem). O caráter efêmero, volátil, que com essas relações
acontecem acarretam em novas formas de sociabilidade. A era digital, assim conhecida, é
o novo tabuleiro onde agora também se estabelece a luta no campo político por poder
simbólico e a hegemonia dentro desse campo, nos preceitos de Bourdieu (2011) e de
Gramsci (2004), respectivamente. Principalmente no que se refere à política, em seu
sentido amplo, o ciberespaço atualmente se encontra como nova arena de embate e
debate.
Nos passa pela cabeça que as relações sociais atuais encontram uma dinâmica
específica justamente pelo modelo de sociabilidade apresentado. Pensar em uma história
intelectual também implica em perceber que a figura do “intelectual clássico”, aquele
acadêmico, espelhado nos padrões do século XIX, tende a cada vez mais perder o seu
sentido estrito. Em uma era onde uma significativa parte da sociedade têm acesso ao
ciberespaço, essas pessoas podem ser, independente do nível, produtores e mediadores
de ideias. Aqui é um ponto que também devemos chamar a atenção. O sentido de
intelectual se torna muito mais amplo do que visualizamos no passado, bem como seu
alcance. Independentemente, isso não se resume ao tempo presente, ou seja, não é algo
inédito a ideia de intelectual orgânico de Gramsci (2004), por exemplo, se aproxima do
que queremos dizer.
A partir disso, acrescentamos uma categoria que nos ajudará a entender o papel do
indivíduo que mobiliza elementos fascistizantes ao mesmo tempo que se estabelece
enquanto fascistizado: o de
“intelectual mediador”
(SIRINELLI in REMÓND, 1988, p. 244).
A noção de intelectual mediador é importante para termos possibilidade de entender como
é possível divulgar ideias e criar mentalidades coletivas que sigam determinados preceitos,
independentemente de quais sejam ideologicamente. Neste mesmo raciocínio seguimos
com a definição de Ângela C. Gomes e Patrícia Santos Hansen que apresentam o intelectual
mediador como “alguém que conduz uma mensagem ou produto cultural de um lugar para
o outro, de um tempo para o outro, de um código cultural para o outro”. (GOMES e
HANSEN, 2016, p. 16). Além disso, a noção de condução, de tráfego de ideias, não exclui a
noção de produção, de criação de linguagens e sentidos. As duas coisas não são auto
excludentes, pois, “aquilo que o intelectual ‘mediou’ torna-se, efetivamente, outro
produto” (ibidem, p.18).
O olhar que se propõe fazer às fontes é esse: a transgressão do pensamento
ideológico organizado à cultura política de indivíduos através da interpelação ideológica
que, ora formam grupos coesos, ora se distanciam. A princípio não perseguiremos grupos
estritos, mas ideias, mentalidades. Perseguiremos a cultura política fascista e sua dinâmica
de mediação entre tipos de mentalidades e subjetividades conformes aos interesses destes
indivíduos e sujeitos. Assim, entendemos que Olavo de Carvalho, apesar de publicar seus
textos de forma formal, encontrou na internet a forma de capilarizar e colocar em debate
público de forma mais enfática as suas ideias.
Na segunda sessão deste texto tentaremos explicitar as categorias conceituais que
sugerimos para o trato das fontes. Em termos gerais propomos pensar o fascismo
enquanto cultura. Nosso interesse é entender a fascistização do indivíduo, como uma
linguagem e um discurso que constrói um prisma de interpretação da realidade e é
apresentado, interpelado ao indivíduo a fim de sujeita-lo a adesão à uma movimentação
fascista. Entender de que modo este indivíduo se insere dentro da cultura fascista se
tornando também mediador e produtor da linguagem. Para que isso possa ser feito, será
necessário a utilização de uma gama de conceitos apresentados a seguir.
Na terceira sessão deste texto esboçaremos uma análise das fontes. Nos limitamos,
neste momento, a observar recortes textuais de um intelectual mediador que apresentem
as características de transposição de ideias entre a formalidade ideológica e o debate
público. Nosso interesse é demonstrar que como observar nessa linguagem,
apresentada pelos mediadores intelectuais, signos que apresentem a interpelação
ideológica dos indivíduos e sua radicalização enquanto atores políticos. Inicialmente
pretendemos observar a
criação de um inimigo
através da mobilização de uma
mitologia
política
(GIRARDET, 1986) que apresente um quadro de rejeição e despotencialização do
outro enquanto adversário no campo político através de textos de Olavo de Carvalho.
A perspectiva e noção de temporalidade nesse ponto é importante. O que se
apresenta é a “denúncia” de um problema ao mesmo tempo que se mobiliza um desejo pela
solução deste. Para isso é apresentada uma “narrativa”, ou melhor, uma linguagem em que
a realidade se apresenta enquanto uma guerra. Guerra essa que deve ser lutada dentro do
campo político através da desqualificação do outro, da despotencialização do outro
enquanto agente político. Assim as representatividades e representações que são definidas
através destas experiências práticas de linguagem e discurso, poderão ser observadas
enquanto momentos de “nós históricos”, de mediação entre a linguagem formal e o debate
público.
Tipologia de fontes para o estudo da cultura política fascista atual
Nesta sessão temos como objetivo refletir um pouco sobre as fontes e a
metodologias entendidas como adequadas para tratá-las. deixamos explícito na
introdução que nossas fontes serão compostas de uma tipologia variada e a seguir
debatemos um pouco sobre elas.
Consideramos como fonte primária documentos textuais cujo objetivo era sua
publicação em caráter formal. Como a realidade da cibercultura e, cada vez mais, o
ciberespaço ser o mediador de nossas interações sociais, não é só possível, mas também
proposto que cada indivíduo seja produtor de conteúdo, portanto, a definição de fonte
formal textos e publicações que foram feitas formalmente nos parece adequado e nos
auxilia a tentar uma organização do que queremos objetivar.
Obviamente a formalidade de um texto pode ser considerada de modo muito flexível.
Entretanto, aqui, neste momento, delimitaremos como fontes formais textos publicados e
que possam ser observados o seu autor e sua autenticidade. Livros e artigos em revistas
da mídia profissional ou científicos são preferencialmente mais adequados para
estabelecermos esses dois critérios, a autoria e a autenticidade. Além disso, blogs e sites
que também possam ter sua autenticidade e responsáveis claros, podem se enquadrar.
Nesse sentido podemos trabalhar, portanto, tanto com livros físicos ou com documentos
nato-digitais, aqueles que nasceram digitais como uma revista online, por exemplo.
Assim, as fontes escolhidas são de caráter textual e notoriamente conhecidas em sua
autoria. Ou seja, são livros, artigos e outros textos que carregam assinaturas que podemos
rastrear minimamente.
A preocupação com a autenticidade não é mero capricho. Nessas fontes primarias
ela é necessária, pois, é exatamente dela que teremos o objetivo de tirar a produção de
linguagem. É destas fontes que virão a forma como a linguagem política se constitui como
tal antes de atingir as ruas e o debate público. Nesse sentido, essas fontes também são
menos complicadas de se trabalhar. A razão é que, nestas fontes, nós encontramos um
pensamento minimamente organizado, diferente do debate público que, por vezes pode se
apresentar difuso.
As fontes formais, portanto, não apresentam nenhuma dificuldade inicial para a
organização e/ou tratamento. Nesse momento o nosso ponto de partida é o intelectual
mediador e astrólogo Olavo de Carvalho. Entendemos, ao menos de início, que nele reside
a forma mais concisa de se entender o raciocínio em que se externa a mitologia política da
linguagem fascistizante no Brasil. É notável a influência de Carvalho entre a extrema
direita no país. Não dúvidas sobre seu aspecto de “guru”, que inclusive é interessante
se olharmos o fascismo enquanto uma espécie de “religião política”
1
. Nossa hipótese inicial
é que nele poderemos entender a lógica do raciocínio da linguagem fascistizante. Carvalho
é o principal articulador de um entendimento de realidade que serve de álibi da violência
contra o inimigo na cultura fascista do Brasil atual. Pensamos, portanto, o fascismo
enquanto uma cultura política que está se inserindo nas diversas camadas sociais do país
e que abrange várias instâncias de linguagem, mitológica, cultural, econômica, política e
etc.
Nos aprofundamos mais na sessão seguinte sobre estas terminologias e categorias
utilizadas. Nesse momento estabelecemos que está em Carvalho nossa principal fonte
formal. Sendo ele escritor com publicações oficiais, não é difícil comprovar a autenticidade
dos seus textos, tão quanto suas posições políticas. Não pretendemos aqui analisar ou
fazer uma ficha
prosopográfica
de Carvalho, pontuamos só que observaremos a mitologia
conspiracionista desta cultura política fascista a partir dele, da forma como ele organizou
as ideias difundindo um tipo de mentalidade, uma linguagem que internaliza num
inconsciente coletivo. Na última sessão deste texto, portanto, utilizaremos excertos de
Carvalho para ensaiar um empirismo.
1
Sobre isso ver: GENTILE, Emílio.
Fascism as a political religion
. Journal of Contemporary History, Vol. 25,
No. 2/3 (May - Jun., 1990), pp. 229-251
A atual cultura política fascista: a linguagem que fascistiza
Pois bem, neste momento debateremos com questões teóricas e epistemológicas
sobre como podemos fazer o tratamento das fontes e que olhar lançaremos sobre elas. A
partir deste objetivo, lançamos mão de algumas hipóteses. Porém, antes de qualquer coisa,
pensar isso acarreta diretamente explicitar o que entendemos por
fascismo
, algo que
faremos brevemente neste momento. De forma concisa devemos levar em consideração o
caráter polissêmico do conceito de fascismo, ou melhor, de fascismos. Fascismo enquanto
regime? Enquanto movimento? Enquanto cultura? Enquanto estratégia? Pode-se
estabelecer sentido ao termo em diversas frentes.
No nosso caso, daremos mais atenção ao fascismo enquanto cultura, diretamente
resultado deste enquanto estratégia política. Podemos elencar diversas categorias que
implicam uma explicação do fascismo, ou do mínimo fascista. Neste sentido entendemos
ser adequado o raciocínio de Paxton (2007) para demonstrar que o fascismo não se limita
à experiência de regimes ou movimentos na primeira metade do século XX, mas que
atravessam o tempo, que estão presentes em temporalidades distintas, pois, justamente,
servem como estratégia política palpável. Mesmo com estas ressalvas, vale lembrar
algumas das características. Se destacam, por exemplo, a questão do líder, do inimigo (ou
inimigos), do apelo às massas, do ufanismo nacionalista, apelo as emoções, a estética
militarista, a sacralização política e etc. Uma questão devemos pontuar e chamar a
atenção: a questão do antiliberalismo. Este é um ponto de debate sobre a determinação ou
não destes movimentos de extrema direita atuais como fascistas.
O fascismo histórico era essencialmente antiliberal em seu contexto específico, ao
menos no que se apresenta o discurso “oficial” e ao liberalismo clássico. Ele era entendido
por seus militantes como uma espécie de sistema defensivo contra preceitos liberais e/ou
socialistas. Inclusive, no Brasil, como demonstramos em outro trabalho (ALVES, 2019), o
liberalismo era visto pelos integralistas dos anos 1930 como parte do caminho natural para
o comunismo. Assim o fascismo, acima de tudo, serve aos interesses de quem o mobiliza,
seja intencionalmente ou não ele é a prática do estabelecimento de um
combatimento
meta-político.
Apesar desta baliza importante, o que percebemos com o decorrer do tempo é que
o fascismo acabou se estabelecendo como antiliberal mais no sentido cultural, dos
costumes, do que na questão econômica. A frase repetida diversas vezes por expoentes
da extrema direita atual brasileira é explicita: liberal na economia e conservador nos
costumes”. Olavo de Carvalho, por exemplo, expressou essa premissa.
2
Isso pode
demonstrar a adaptabilidade do fascismo, mesmo sendo em sua gênese uma forma de
resistência contra a ascensão de determinados grupos antagônicos que, até aquele
momento início do século XX com os fascismos históricos não eram hegemônicos.
Não o propósito de se estender muito sobre esse debate, que é fecundo e
complexo. O interesse inicial é demonstrar que o fascismo não é fechado em si mesmo.
Sim, entendemos que um fascismo genérico, nos termos de Paxton (2007, p. 46), que
pode apresentar diversas características elencadas por ele ou não. O fascismo é
essencialmente adaptável ao momento, ao lugar e às sociabilidades apresentadas nestes
recortes. Essa metamorfose é uma característica específica do que Traverso (2021, p.19)
chama de pós-fascismo, como um movimento ainda em transição, mas que estabelece
“fronteiras cronológicas” (ibidem, p. 20) claras. Por essa razão fazemos o uso da categoria
de linguagem fascistizante para delimitar nosso objeto. Sabemos que o debate sobre esta
categoria também é fecundo e complexo, realmente gera questões que são importantes.
Entretanto, usaremos de forma didática para distinguir o fascismo clássico, histórico, do
século XX, do fascismo atual que, como comentamos brevemente, têm suas
especificidades principalmente ligadas às condições sociais que a sociedade
contemporânea e o tempo presente apresentam.
3
Essas especificidades passam necessariamente pela
performance
que é
apresentada nas sociabilidades atuais, principalmente com a questão do ciberespaço e da
questão econômica, essencialmente explícita em defesa de um capitalismo neoliberal
ostensivo. Além de que a aproximação de fascistas com liberais não é novidade, nem aqui
nas Américas e nem na Europa (sabemos e é notório que o primeiro ministro da economia
de Adolf Hitler, Hjalmar Schacht, era um liberal). Outra questão é o inimigo. Como cada
temporalidade evidencia uma dinâmica de conflito ideológico e político, em cada recorte,
temporal ou espacial em que o fascismo se torna evidente, há também uma especificidade
condizente ao interesse prático desses grupos. A questão está necessariamente no embate
pelo poder político de definição e pelo estabelecimento da hegemonia da cultura política
que interessa ao grupo.
2
Mais sobre essa concepção pode ser encontrado debatido aqui: SILVA, Ivan H. M.
Liberal na economia e
conservador nos costumes: Uma totalidade dialética.
Revista brasileira de ciencias sociais - vol. 36 107,
2021.
3
Autores como Copsey (2020) e Bull (2012) escreveram sobre a operacionalidade e historicidade do conceito
de neofascismo. Traverso (2021) problematiza o conceito de neofascismo, entendendo mais adequado
para os movimentos do tempo presente o termo pós-fascismo. Usamos neste texto a categoria de linguagem
fascistizante, pois seria mais profícuo estabelecer em outra oportunidade uma análise mais específica dos
conceitos utilizados por esses teóricos e suas implicações no Brasil do tempo presente.
Nesse sentido tomamos como referência o debate proposto por Theodor Adorno
(2020) acerca dos aspectos desse novo radicalismo de direita, ou proposto aqui, neste
texto, de linguagem que fascistiza. Adorno estabelece reflexões importantes sobre estas
questões entendidas como imprescindíveis de salientar. Primeiramente a questão destes
movimentos de extrema direita com a economia. Mesmo o fascismo clássico, o fascismo
histórico, tendo na base de sua organização um discurso antiliberal, crítico ao capitalismo,
o que vemos, quase um século depois, é que as relações entre o capitalismo e o fascismo
são bem evidentes.
É importante para este debate trazer reflexões que demonstrem o vínculo entre o
fascismo e o capitalismo, de forma que um sintoma de uma relação “causa e efeito”
entre os dois. Não devemos olhar o fascismo como algo aquém da realidade social, algo
que está descolado do processo histórico que o capitalismo molda, “não foi um desastre
histórico, um acidente de percurso: não surgiu ao acaso”, como Felipe Catalani expõe, a
partir das reflexões de Horkheimer (CATALANI in ADORNO, p. 12), o fascismo é “a verdade
da sociedade moderna” (HORKHEIMER apud CATALANI in ADORNO, p. 12). Nessa
perspectiva o fascismo se apresenta especificamente como um resultado das formas de
interação social do capitalismo, a partir das próprias contradições que são intrínsecas ao
conceito de democracia liberal.
Cabe, portanto, pontuar que, para Adorno, o fascismo não apresenta causas
psicológicas como sua única explicação. Adorno demonstra a importância da análise
psicossocial para revelar o processo de fascistização, entretanto, o fascista não apresenta
uma psicopatologia diagnosticada como causa do
tornar-se
fascista. Ainda assim, como
pontua Catalani, essas análises são “imprescindíveis para a compreensão dos mecanismos
da propaganda e da adesão a movimentos fascistas” (ibidem, p. 13).
Obviamente a questão da insatisfação e frustração que aplacava a Europa no entre
guerras é evidente. O discurso operado no Reich contra o capitalismo não se apresentou
na prática. Apesar das performances dos líderes fascistas, principalmente tratados como
loucos e megalomaníacos, a sua lógica se revelava como uma forma de manutenção das
relações de exploração do capital. Como bem apontou Marcuse: “A expansão industrial e,
com ela, a ordem social baseada nessa expansão poderia ser mantida somente pelo meio
de transformação do Estado democrático em um sistema político autoritário” (MARCUSE
apud CATALANI in ADORNO, p. 16).
O que se apresenta nesse sentido é que, para garantir a forma que o capitalismo se
insere na realidade prática, é necessário que haja uma forte coerção política e cultural que
legitime as próprias contradições do capitalismo. Se apresenta uma narrativa que coloca
o problema como resultado de uma intervenção estatal na economia, ou falta de liberdade
econômica. A partir disso se apresenta também um resultado; que é a ascensão política de
determinado líder que irá resolver este
problema.
Assim, o líder usa da política para
despolitizar. “Nos termos de Schimitt, para garantir que a ‘esfera da economia livre’
pudesse funcionar não politicamente, era necessária uma enérgica intervenção política:
“O ato de despolitização, é de um modo especialmente intensivo, justamente, um ato
político” (CATALANI in ADORNO, p. 21).
Sob a bandeira do tecnicismo, da despolitização, da escolha alternativa em relação
aos que fazem “politicagem”, a oposição à intervenção estatal, assume-se como proposta
para resolver o descontentamento, justamente, um político. É confuso e incongruente, mas
não incompreensível. Neste sentido que Adorno apresenta questões sobre a
psicologização do fascismo. Para Adorno, transformar o fascismo em doença retira a
responsabilidade das formas sociais implicadas pelas relações dentro de sociedades
capitalistas, ou seja, combate-se o resultado, o fascismo apresentado objetivamente, mas
não destrói aquilo que o forma, na concepção de Adorno, o capitalismo em si.
Mas então o que leva essas pessoas a aderirem aos movimentos fascistas que
apresentam em si essas diversas contradições? Além da propaganda altamente
psicologizada, o fascismo apresenta uma leitura de mundo específica da realidade prática.
a insatisfação com a realidade e se apresenta um “horizonte de perspectiva”
(KOSELLECK, 2006) onde o futuro vislumbrado é representado por um sentimento de
“catástrofe social” do agora (ADORNO, p. 56) e que, para mudar esse futuro, é necessário
um salvador que se apresenta contrapondo os “responsáveis” por essa catástrofe futura,
ou seja, os inimigos de um futuro próspero, que de forma comum são agentes políticos
atuais e antagonizam com o pretenso salvador.
Nesse ponto, nossa perspectiva principal do fascismo se apresenta. O fascismo é a
negação da alteridade. É a despotencialização do outro. A rejeição da diferença. O fascista
se como o único possível, ou os únicos possíveis de salvarem a realidade que se
deteriora. Essa deterioração tende a ser específica, dependendo do recorte que se
apresenta, tanto espacial quanto temporal e, consequentemente, resulta também em
formas de combate-las especificamente. O esforço é para pontuar que o fascismo não é
uma aberração social. Não é uma espécie de alienígena política. Mas sim uma forma real e
concreta de embate político que está intrinsecamente ligada a realidade social.
Por isso a critica de Adorno a “má psicologização” do fascismo. Segundo Adorno
trata-los como doentes, ou “os eternos incorrigíveis” serve para tirar a
responsabilidade da ordem social que os cria, a ordem capitalista. Os desejos capitalistas,
suas angústias e decepções precisam ser canalizados em algo ou alguém responsável. O
capitalismo não é uma entidade que decide o caminho da humanidade como se fosse uma
divindade, entretanto ele produz subjetividades e sociabilidades que controlam a ordem
social. Quando essa ordem social entra em colapso, seja o colapso para os capitalistas,
é claro da redução da desigualdade, da inserção social, da insatisfação popular com a
falta desses, o fascismo surge para fixar os resultados deste colapso, transferir a
insatisfação para o âmbito de normalidade, de ordem. uma sedução por parte da
linguagem presente na cultura fascista que isenta de responsabilidade a própria ordem
social de ter criado esses problemas.
É nesse sentido que Felix Guattari (1981) apresenta que o capitalismo reproduz
formas micropolíticas fascistas para se perpetuar enquanto desejo. O fascismo o deve
mais ser visto como uma junção de feixes, uma unidade representativa, mas um rizoma de
desejos e subjetividades. O fascismo se apresenta, atualmente, como micropolíticas
multiformes, desterritorializadas e rizomáticas.
Não se trata de uma mera questão de orientação ideológica ou estratégica por
parte do capitalismo, mas de um processo material fundamental: é pelo fato de as
sociedades industriais funcionarem a partir das máquinas semióticas que
decodificam, cada vez mais, todas as realidades, todas as territorialidades
anteriores; é pelo fato de as máquinas técnicas e sistemas econômicos serem
cada vez mais desterritorializados, que estão em condições de liberar fluxos de
desejo cada vez maiores; ou, mais exatamente, é pelo fato de seu modo de
produção ser forçado a operar esta liberação, que as formas de repressão
também são levadas a se molecularizarem. Uma simples repressão maciça, global,
cega não é mais suficiente. O capitalismo é obrigado a construir e impor seus
próprios modelos de desejo, e é essencial para sua sobrevivência que consiga
fazer com que as massas que ele explora os interiorizem. Convém atribuir a cada
um: uma infância, uma posição sexual, uma relação com o corpo, com o saber,
uma representação do amor, da honestidade, da morte, etc. As relações de
produção capitalista não se estabelecem só na escala dos grandes conjuntos
sociais; é desde o berço que modelam um certo tipo de individuo produtor-
consumidor. A molecularização dos processos de repressão e, por consequência,
esta perspectiva de uma micropolitica do desejo não estão ligadas a uma evolução
de ideias, mas a uma transformação dos processos materiais, a uma
desterritorialização de todas as formas de produção, quer se trate da produção
social ou da produção desejante. (GUATTARI, 1981, p. 187-188).
Deste modo, entendemos o fascismo como uma forma adjacente do capitalismo. Ele
se apresenta como uma rmula de fixação dos resultados do colapso capitalista. É uma
estratégia, intencional ou não, que visa procurar inimigos para problemas que são
inexoravelmente subjacentes e intrínsecos às próprias formas de sociabilidade criadas
pelo capitalismo. Assim, o argumento de que esse movimento das extremas direitas atuais
não pode ser chamado de fascismo, por não ser antiliberal deve ser pensado e repensado.
Se o fascismo é justamente a forma como o capitalismo faz a manutenção da sua
hegemonia dentro do debate público em momentos de crise, segundo as reflexões
anteriores, não seria adequado ao debate rejeitar a hipótese de que os movimentos atuais
das novas direitas se valem deste mecanismo somente pelo fato do fascismo histórico ser
pontuo, no discurso oficial antiliberal.
A categoria de
cultura política
, neste sentido, nos parece adequada para pensar o
fascismo além destas questões mais comuns da historiografia. Não pelo distanciamento
da visão engessada do fascismo enquanto um movimento limitado à Europa da primeira
metade do século passado, mas pela possibilidade que essa categoria nos de entender
o fascismo como uma linguagem política que atravessa o século XX para o XXI e se faz
presente, mesmo que em forma de micropolíticas, na atualidade. Além de que podemos
nos distanciar deste debate limitado às premissas econômicas que seguem.
Entendemos que esta categoria nos ajuda a entender como se a expressão
política, a performance fascista atual, pois a cultura serve para externar a política. É a
forma de transposição entre o pensamento e a ação, a vivência. Os elementos culturais,
neste sentido, levam a ação política. A diferença entre uma ideologia formal e o
comportamento político que nos interessa, dentro de nossas hipóteses.
Nosso ponto de partida para a definição de
cultura política
será o trabalho do
historiador Rodrigo Patto Motta (2009) em que, a partir da reflexão dos trabalhos de
Jean Françoise Sirinelli e Serj Bernstein (cito os textos presentes em RÉMOND, 1996),
apresenta um panorama da operacionalidade deste conceito. Para Motta a cultura política
pode ser vista como uma categoria ampla:
[...] um conjunto de valores, tradições, práticas e representações políticas
partilhado por determinado grupo humano, que expressa uma identidade coletiva
e fornece leituras comuns do passado, assim como fornece inspiração para
projetos políticos futuros (MOTTA, 2009, p. 21).
A categoria de imaginário político, ou seja, a forma como você entende o mundo
político, sua interpretação dele, bem como sua identidade política, o modo como você se
no mundo político revela, a partir destas posições do sujeito, a forma como este
indivíduo se contrapõe ao outro apresentando o sentido destas posições através de uma
cultura política. As representações que o sujeito cria sobre sua realidade política externa
e interna “configuram um conjunto que inclui ideologia, linguagem, memória, imaginário e
iconografia, e mobilizam, portanto, mitos, símbolos, discursos, vocabulários e uma rica
cultura visual” (ibidem, p. 21), além, claro, de uma performance política.
Essa
performance
se impõe como uma guerra, como citado anteriormente e, para
além, uma
guerra cultural.
Leva-se em conta que uma cultura política deve compartilhar
“valores políticos comuns, [...] fruto de vivencia social e interesses coletivos” (ibidem, p.
26), mas que essas culturas atraem a adesão de pessoas distintas, sejam essas distinções
de classe ou de ideologia. A noção, portanto, de micropolítica fascista é relevante para
entender que o fascismo se apresenta de forma rizomática, descentralizada ao mesmo
tempo que busca centralizar. Grupos que podem ser, até mesmo, discordantes em alguma
pauta social, econômica ou política, são aglutinados em figuras, linguagens e símbolos
semelhantes. Podem ter suas distinções, mas uma dinâmica de adesão que fazem esses
grupos estarem sob uma regência genérica.
Mesmo grupos que pontuem esclarecidamente sua proposta ideológica, a adesão à
cultura fascista não é incompatível às contradições entre outros grupos. Motta (ibidem, p.
27) explica que a ideologia e a cultura politica não são necessariamente compatíveis ou
incompatíveis e que não se deve “resumir uma à outra”. Vale salientar que a categoria de
ideologia tem “duas acepções principais” que nos ajudam a entender a sua relação com a
cultura política.
No primeiro caso, ideologia significa falsa consciência e implica o mascaramento
da realidade. Trata-se do processo através do qual a classe dominante constrói
uma falsa representação da realidade, com que escamoteia sua dominação e
garante a obediência dos grupos dominados. Na segunda acepção, ideologia
significa um conjunto de ideias que dá forma a determinados projetos políticos e
impele a luta pela conquista do poder. (Ibidem, p. 27)
Ao levar em conta estas definições, a ligação entre ideologia e cultura política
melhora o debate, torna-o mais complexo. Deste modo podemos entender essa relação a
partir de que “a cultura política transcende e vai além da ideologia, ao mobilizar
sentimentos (paixões, esperanças, medos) valores (moral, honra, solidariedade),
representações (mitos, heróis) e ao evocar a fidelidade a tradições (família, nação,
líderes)”. O ponto principal desta reflexão, segundo Motta, é que a adesão a determinada
cultura política se mais por “valores e tradições” do que pela concordância ideológica
(ibidem, p. 28). Isso se torna mais evidente quando pensamos em uma ideologia
formalizada e erudita. No fascismo um problema em definir, como fazemos com o
comunismo e Marx, um totem, um símbolo da erudição formal de construção ideológica.
O fascismo, ainda mais hoje, é desterritorializado. E esse desterritorializar
territorializa o sujeito. Ao abranger um espectro micropolítico, plural e rizomático, o
fascismo se estabelece enquanto si, aglutina em si aspectos comuns no sentido de valores,
trazendo para sua égide diferentes indivíduos, cada qual mobilizados dentro de um
espectro de sentido. Autores como Roger Griffin (2003) usam a categoria “direita
grupuscular” para demonstrar o caráter variável do neofascismo ou da extrema direita
atual. Enzo Traverso (2021) aposta na categoria de pós-fascismo como uma
conceitualização mais específica e distante do neofascismo enquanto um ressurgimento
do fascismo histórico. Como exemplifica Sirinelli (in REMOND, 2003, p. 256) “ao menos
até o segundo conflito mundial, a espécie de intelectual de direita, sem dúvida multiforme
mas bastante real, era talvez estatística e ideologicamente dominante”, entendemos que
nessa constatação pode estar um aspecto dessa complexidade em tratar um conceito
único para o presente.
Isso parece contraditório, entretanto, quando observamos a guerra cultural travada
pelos fascistas atuais no Brasil, podemos entender como esta máquina de criar desejos
opera.
O ponto essencial é que determinados grupos tenham, os representantes do
processo de fascistização brasileiros explicitamente, uma noção de identidade cultural
muito estrita. uma concepção propagada por esses grupos, notoriamente exemplificada
pelos discursos bolsonaristas, por exemplo, de que todo brasileiro é cristão, conservador,
dos bons costumes - o cidadão de bem, que dispensa citações diretas. É presente no slogan
presidencial e também parte da Ação Integralista Brasileira Deus, pátria, família e
liberdade.
4
Assim, tudo que contra essa visão do padrão essencial, será considerado
como uma ameaça que põe o indivíduo em um conflito que clama por uma defesa direta
dos valores ocidentais cristãos. Isso resulta diretamente na criação de um inimigo e, neste
sentido, que a categoria de mitologia política trabalhada por Raoul Girardet (1986) nos
parece adequada para o debate a seguir.
Como colocado por Motta (2009, p. 21) a cultura política implica em uma leitura
comum do passado por esses indivíduos. Isso nos leva a entender que todas essas pessoas
precisam ler o mundo através do mesmo espectro, não ideológico, mas também
histórico. Essa é uma questão crucial no fascismo. É necessária a criação de uma história,
um passado, para que haja um universo compartilhado por esses indivíduos. Essa leitura
do passado e também da realidade prática necessita estar de acordo entre os indivíduos.
Assim persegue-se forjar, fazendo alusão ao trabalho sobre Gustavo Barroso de Roney
Cytrynowicz (1992), uma
mito-história política do Brasil
em que um determinado grupo é
culpado pela destruição moral, política, social, econômica, etc. Sendo assim, eleva-se um
grupo que se reveste de salvador desta destruição, que irá reconstruir das cinzas a
realidade. Para os fascismos, no caso, é produzida uma mito-história do tempo presente,
se entendermos a história do tempo presente não como uma escala móvel que se dirige ao
futuro, sim um problema histórico expresso no presente mas com fundamentação no
passado.
4
‘BRASIL é um país cristão e conservador, e tem na família a sua base’, diz Bolsonaro.
Jornal da Globo News
,
22 de set. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/globonews/jornal-globonews-edicao-das-
10/video/brasil-e-um-pais-cristao-e-conservador-e-tem-na-familia-a-sua-base-diz-bolsonaro-
8876242.ghtml Acesso em 28 de set. 2022
Cabe, portanto, aprofundar esse debate que se encontra em Girardet. Segundo o
autor existem conjuntos estruturais que vão delimitar uma mitologia política e que, no seu
caso, quatro se destacam: a
conspiração
, a
idade do ouro
, o
salvador
e a
unidade
. Para nós,
um desses quatro conjuntos é suficiente para elucidar, ao menos de início, como se a
lógica da guerra cultural forjada pelo neofascismo brasileiro, o do mito conspiratório.
Dentro desses limites podemos esclarecer a organização, ou melhor, a função organizativa
que a mito-história se coloca. um discurso interessante em que se apresenta uma
linguagem através de atos de fala que expressam no termo “narrativa” a forma que a
linguagem fascistizante se coloca em contraposição ao outro “isso que você diz não
passa de uma narrativa”, dizem os interlocutores recorrentemente. É interessante, pois, é
comum no debate político atual a utilização e a defesa de questões como democracia e
liberdade, justamente para atacar a democracia e a liberdade.
Essas contradições, esses paradoxos semânticos e conceituais, ficam claros em
manifestações de rua onde interlocutores e mediadores se colocam em atos de fala para
expressar em
performance
seu imaginário e sua identidade política. As manifestações de
rua, talvez, possam ser lidas como uma das mais visuais formas de se expressar
determinada cultura política, além de que a semiótica presente nestas
performances
e
discursos estão carregadas do caldo cultural forjados na identidade específica da cultura
fascista atual. Pensamos aqui o discurso enquanto ação, por isso a utilização do termo
“atos de fala”, usado por John Pocock (2003) através de uma aproximação entre a
linguística e a história, em que o termo representa a ação da fala a partir de uma linguagem,
ou seja, “elocuções atuantes sobre aqueles que as ouvem, e até mesmo sobre aqueles que
as enunciam” (POCOCK, 2003, p. 24). A linguagem, nesse caso se apresenta como a
estrutura linguística que proporciona determinados atos de fala. O uso do termo narrativa
pela linguagem fascistizante, visto como exemplo anteriormente, se reveste, neste sentido,
de um ato de fala dentro de uma linguagem específica.
a forja de uma “novilíngua”, um “socioleto” que apresenta respostas prontas,
muitas vezes reproduzidas simetricamente pelos atores políticos. Quando um historiador
faz uma análise qualquer sobre qualquer tema que não seja do agrado, ou não esteja
conforme aos interesses da linguagem fascista, é objetivamente descartado como uma
“narrativa”, uma opinião. Obviamente o debate dentro da historiografia e a revisão ética e
responsável de trabalhos historiográficos são importantes. Porém, o que é apresentado
nesse contexto é que aquilo que contra o interesse destes grupos é descartado
sumariamente. Isto se apresenta na própria linguagem, nos próprios atos de fala e
discursos. É um universo próprio, fechado em si, que não possibilita outra interpretação
do passado ou do presente, nem vislumbrar um futuro que seja diferente do estabelecido
por esse mito história.
Por essa razão a reflexão de Girardet é importante. Primeiro pela questão da
conspiração. O mito da conspiração exerce um papel primordial para o estabelecimento
da linguagem fascista no Brasil. Nosso entendimento é de que ele se estabelece enquanto
o tecido histórico e interpretativo da historicidade, ou seja, a partir da conspiração é que
a linguagem do fascismo cria seu próprio “regime de historicidade” (HARTOG, 2011, p. 28-
29), em que ele sentido a experiência política passada e presente da sociedade, assim
podendo projetar um “horizonte de expectativa” (KOSELLECK, 2006) do que é objetivado
para o futuro.
A conspiração, segundo Girardet (1986), pode ser operacionalizada a partir de
algumas estratégias. Primeiramente a ideia de complô. A ideia de complô impõe-se em
primeiro lugar a imagem, temível e temida da Organização” (ibidem, p. 34). Há, portanto, a
revelação da existência de uma organização que, a partir de um conluio intencional entre
seus participantes, compartilham do desejo em criar uma estratégia política para atingir
um resultado pré estabelecido. Esse conluio reflete que esses cumplices estão “ligados
entre si pelo juramento do silêncio” (idem). O resultado é que exista assim uma rede de
segredos que implicam em perigos para aqueles que tentem revelar o complô. Segundo
Girardet, “o segredo constitui a primeira das características” da Organização. (idem)
A Organização produz também uma hierarquia, onde, no topo da pirâmide
encontra-se “uma autoridade soberana definida ao mesmo tempo como implacável e
invisível” (ibidem, p. 35). Essa autoridade simbólica da organização “persegue, com efeito,
um mesmo e prodigioso desígnio: a dominação do mundo” (ibidem, p. 34). Para Girardet o
plano final do complô, ou por aqueles que controlam seus fios, presente no mito
conspiratório é “responder a uma inextinguível vontade de poder e de retomar o sonho
eterno da edificação de um império em escala universal, da unificação do globo sob uma
única e total autoridade” (ibidem, p. 34).
Nesse raciocínio, essas pessoas, esses agentes políticos necessitam de um total
controle sobre toda e qualquer forma de informação, passando pela sua clivagem o que
deve ou não ser vinculado nas mais diversas esferas da comunicação. Assim os meios de
informação e de divulgação de conhecimento aparecem como controlados por essa força.
uma manipulação secreta em tudo que a sociedade consome, levando a nos estabelecer
enquanto sujeitos dominados também intelectualmente e psicologicamente pela
Organização.
Resta, segundo Girardet, uma última estratégia, a da corrupção. A corrupção é algo
intrínseco aos homens do complô. É através dela que eles coagem, manipulam, silenciam
e criam segredos sobre seu “prodigioso desígnio”. A corrupção, nesse sentido, extrapola
questões legais e atinge o “aviltamento dos costumes, da desagregação sistemática das
tradições sociais e dos valores morais” (ibidem, p. 40). É a corrupção da alma, é se entregar
às trevas morais da sociedade. Isso revela que os homens do complô são aqueles que estão
no subterrâneo moral da sociedade. Neste momento a questão implica um caráter
subjetivo que tem forte apelo cultural. Uma sacralização da política.
A angústia de estar sendo dominado pelas trevas é algo latente na conspiração.
Dentro da linguagem e do imaginário da atual cultura fascista brasileira essa questão se
apresenta recorrentemente. É a forma que esses homens da conspiração são apresentados
dentro da sociedade, como homens das sombras, do submundo, degenerados, bandidos,
bêbados, estes que fogem da normalidade social. Este raciocínio não problema em
evocar pavores ancestrais da humanidade, de desempenhar o mesmo papel que a mitologia
religiosa provoca. A denúncia do espirito maligno e das trevas, desenvolvendo um
processo demonização deste homem do complô. Assim, esse raciocínio aparece como o
“embate entre os filhos da luz contra os poderes das trevas. (ibidem, p. 49)
A semente que produz a angústia pelo salvador contra o complô está plantada. O
raciocínio está feito. Nosso papel, enquanto historiadores, não é apresentar um julgamento
em que digamos que a forma de raciocínio do fascismo é incorreta. Não nos importa neste
momento. Importa entendermos que a lógica do mito conspiratório funciona como uma
forma de interpretação do mundo pela cultura fascista.
Paradoxalmente, o mito do complô tende, assim, a preencher uma função social
de importância não negligenciável, e que é da ordem da explicação. Explicação
tanto mais convincente quanto se pretende total e de exemplar clareza: todos os
fatos, qualquer que seja a ordem que pertençam, acham-se reduzidos, por uma
lógica aparentemente inflexível, a uma mesma e única causalidade, uma vez
elementar e todo poderosa. Em outras palavras, tudo se passa como se uma chave
interpretativa se encontrasse estabelecida e na qual viesse inserido o conjunto
de acontecimento do tempo presente, compreendidos, com certeza, os mais
desconcertantes e os mais angustiantes. Por isso mesmo o desconhecido
infinitamente temível das questões sem resposta cede diante de um sistema
organizado de evidências novas. O destino volta a ficar inteligível, uma certa
forma de racionalidade, ou pelo menos de coerência, tende a restabelecer-se no
curso desconcertante das coisas (Ibidem, p. 55).
O sujeito impactado por essa construção se vê logo dentro de um delírio paranoico
coletivo, que por vezes podem ser contraditórios entre si, mas que compartilham ao menos
a inquietação por esta salvação. Essa salvação acontece de uma forma simples:
combater o mal com as próprias armas de que ele se serve. Isso implica direcionar à um
salvador como símbolo da inversão de lógica da sociedade, como o mito conspiratório
apresenta.
Esse sujeito, no entanto, está no centro de uma articulação em que pese a sua
formação enquanto indivíduo. O mito conspiratório trabalha nesta esfera, pois, ele busca
arregimentar o indivíduo transformando-o em também agente político ativo, em um
intelectual mediador que angarie corpos e mentes para a cultura fascista. Essa transição
entre a sujeição e a agência se dá a partir de um processo que pode ser explicado através
da categoria de interpelação ideológica de Althusser (1970).
Como explicamos anteriormente, entendemos o fascismo enquanto a negação da
alteridade, a rejeição do outro enquanto indivíduo e enquanto grupo. A negação da
alteridade implica na negação de qualquer outra cultura que não seja a fascista, isso
pensando o seu objetivo final, sua inextinguível vontade de poder”. O mito conspiratório,
assim, surge para identificar esse outro. Isso resulta em níveis de rejeição, pois, as relações
sociais dentro do campo político tendem a ser complexas, por vezes contraditórias.
Nem todos vistos como responsáveis pelo complô, os responsáveis pela
Organização, são inimigos. A definição, suscita apresentar, uma lógica contrária. Os
inimigos políticos do campo de luta política partidária tradicional, formal, são apontados
como partícipes do complô. É uma lógica que se retroalimenta. Em resumo, é sempre o
outro, em perspectiva da cultura fascista, o partícipe. Até pode ser apontado um “traidor”,
o que “sempre esteve infiltrado”, o que se apresenta é a noção de culpa a este
“responsável”. O mito da conspiração sugere rostos que se revestem de culpa.
O mito, assim, serve como um
álibi
(GAY, 1995, p. 43) para a violência, tanto
simbólica quanto física, contra esses acusados. Isso não é uma questão exclusiva da
cultura fascista. O álibi é encontrado, segundo Gay, em toda cultura, todo século, toda
classe. É algo que faz parte da identidade primordial da humanidade, a criação de álibis
para a agressão. No caso da política, o álibi cai perfeitamente em uso para a
despotencialização do outro e, por vezes, justifica até mesmo violência física. O mito
conspiratório, ao instituir culpados de um complô, se reveste explicitamente de álibi. Isso
faz parte de um processo complexo.
O indivíduo, ao aderir a cultura fascista, em seu processo de sujeição para
intelectual mediador, precisa estar inserido em diversas categorias que permeiam qualquer
cultura política. A mitologia política obviamente é uma delas. Por essa razão frisá-la, pois,
é nela que reside o mito da conspiração, como apresentado. Esse mito, tendo como
função a prática de construção do inimigo, serve, assim, como o álibi da ação política.
Quando o indivíduo entendeu e se inseriu na mitologia política como forma de
entendimento da realidade presente, do passado e de uma expectativa futura , resultando
em seu estabelecimento dentro da cultura fascista, sendo, portanto, um intelectual
mediador, o que ele apresenta como álibi de suas ações, de sua militância, de sua
performance política é, justamente, o mito conspiratório. A linguagem que este indivíduo
apresenta, os atos de fala que ele profere, seus referenciais para entender a realidade
prática, o imaginário e a identidade política que ele apresenta, podem ser observados
através do mito conspiratório que ele compartilha da cultura fascista.
Cabe tentar esmiuçar um pouco mais esse processo que está entre a sujeição e
ação. O processo que transforma o indivíduo de passivo para agente. É quando esse
indivíduo age como intelectual mediador do mito da conspiração. O indivíduo passa a ser
também um alguém que também media o mito para o debate público. Esse processo
encontra na categoria de interpelação ideológica um modo de conseguirmos entender
como se essa questão. Pois o indivíduo, a partir deste momento também interpela, ou
fomenta interpelações de outros indivíduos.
Althusser expressa que a “ideologia interpela os indivíduos como sujeitos”, pois a
“categoria de sujeito só é constituída de toda a ideologia, na medida em que toa a ideologia
tem por função (que a define) constituir os indivíduos concretos em sujeitos.”
(ALTHUSSER, 1970, p. 93-94). O objetivo é observar o mecanismo de como se o
reconhecimento enquanto fascista, mesmo que inconscientemente. É entender como a
ideologia e a cultura política, através do mito da conspiração presente na linguagem
fascista, “transforma o indivíduo em sujeito”, se estabelece de tal forma que “recruta
sujeitos entre os indivíduos”. O processo de interpelação é exemplarmente o processo que
fascistiza o indivíduo a ponto de torná-lo um intelectual mediador. Ele o insere na cultura
fascista. A interpelação, portanto, não deve ser vista como evento, segundo Butler (2017,
p. 92), mas sim como um processo de chamado em que o indivíduo se coloca como
escolhido. A interpelação é sempre visada em um sujeito concreto, em que as funções de
entendimento já se fazem presentes.
Ensaio de observação do mito conspiratório em Olavo de Carvalho
Trazemos como exemplo para a análise um extrato de fonte documental, o segundo
capítulo do livro “A nova era da revolução cultural: Fritjof Capra & Antônio Gramsci” (1998)
intitulado “Sto. Antônio Gramsci e a salvação do Brasil”, bem como outro texto mais
recente presente na obra “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota” (2013),
intitulado “Globalismo”.
Mesmo identificando o caráter volumoso das fontes, para observamos
micropolíticas fascistas, um micro clima cultural que possa nos dar um ponto de partida é
suficiente para nesse momento perseguir alguns sintomas. Explicamos anteriormente,
neste mesmo texto, que observar o mito da conspiração, a partir das premissas de Raoul
Girardet (1981), resulta na observação de algumas estratégias de linguagem estruturantes
do mesmo. Essas estratégias nos aparecem como uma mito-história, um modo de
raciocinar o mundo político, o imaginário do indivíduo em relação a sua própria realidade
política, sua interpretação do mesmo e sua inquietação em relação a tal.
Essa interpretação do mundo segue a estrutura mítica-histórica criada como a
base, como o tecido que estabelece o sentido para o entendimento de si enquanto sujeito
no
político. Isso acarreta no raciocínio em que micropolíticas definem-se em categorias
estruturantes do mito da conspiração. Aparecem, portanto, a noção de
complô
, a
organização
que, supostamente, controlaria esse
complô
, acarretando o estabelecimento
de um pacto de
segredo
onde os indivíduos partícipes desta
organização
aceitaram seguir.
Esses indivíduos, assim, se definem na
organização
de forma hierárquica. Essa
hierarquia,
portanto, demonstraria que uma estratificação de interesses, onde o desígnio deste
líder oculto
ou
líderes
, é repassado para as camadas inferiores. Desta forma haveria,
portanto, um
controle das informações e a manipulação do conhecimento
como forma de
banir a sociedade da verdade, que é a conspiração de que existem “homens da sombra”
que controlam as informações e fazem uma espécie de lavagem cerebral tornando os
indivíduos comunistas.
Esses homens perseguem, nesse sentido, um objetivo, que é o
exercer
poder
. São
os homens das trevas, os homens corruptos, os degenerados e manipuladores, dentro
desse raciocínio. Assim se estabelece a luta do bem contra o mal. Da luz contra as trevas.
Da verdade contra a mentira. E essa luta dispõe de qualquer ação necessária, mesmo que
violenta. Esses pontos remetem à luta primordial do dia contra a noite, algo comum nas
cosmologias ocidentais o céu e o inferno. Olavo de Carvalho se insere dentro desse
quadro, se coloca como ponto de sustentação de resistência da sociedade cristã ocidental
frente ao colapso espiritual. Busca em um passado algo que está inexistente no presente,
algo que foi perdido. É uma catástrofe do presente, o universo em decadência que o faz
tomar essa posição de resistência e defesa dos valores ocidentais.
Olavo de Carvalho vê essa decadência a partir da chamada “revolução cultural”
ou a “revolução psicológica” que teria como estrategista Antônio Gramsci. Segundo
Carvalho: “Gramsci concebeu uma dessas ideias engenhosas, que só ocorrem aos homens
de ação quando a impossibilidade de agir os compele a meditações profundas: amestrar o
povo para o socialismo antes de fazer a revolução” (1998, p.83). A alcunha de estrategista
se reflete, a partir disso, como o pensador do complô. Mesmo que não seja Gramsci o
articulador direto do complô atual, obviamente por já ter falecido, Carvalho vê nele o pilar
que estabelece a lógica seguida pela
organização.
Como toda construção ideológica, a
lógica não cessa de conduzir um processo. O raciocínio de Carvalho atravessa as décadas
chegando no fatídico 2013 muito mais direto ao grande público, diluído em outras obras de
maneira mais simplista, porém com o mesmo sentido. Carvalho coloca que o propósito de
Gramsci nessa lógica é:
Fazer com que todos pensassem, sentissem e agissem como membros de um
Estado comunista enquanto ainda vivendo num quadro externo capitalista. Assim,
quando viesse o comunismo, as resistências possíveis estariam neutralizadas
de antemão e todo mundo aceitaria o novo regime com a maior naturalidade.
(Ibidem, p. 83-84)
Nesse raciocínio, seria a partir desta estratégia que haveria uma transformação
de mentalidade antes que houvesse a revolução política burocrática em si. Carvalho faz
uma comparação com a revolução de 1917 perpetrada por Lenin e os bolcheviques para
contrapor as diferenças entre as revoluções. Segundo Carvalho, a revolução de Lenin
tende a retirar a ação comum do povo, ou do proletariado, que seria condicionado pela a
força a viver em um regime socialista. em Gramsci a população se sentira à priori
partícipe, agente da revolução, justamente por existir uma estratégia de introjeção de
ideias socialistas na sociedade de forma “obscura” e velada antes mesmo da revolução
“oficial” acontecer. Para Carvalho, a despeito do mau vocabulário, “A revolução
gramsciana está para a revolução leninista assim como a sedução está para o estupro”
(ibidem p. 84).
Esse complô que seduz continua a ser utilizado mais de 20 anos depois, segundo
ele. Apesar da construção retórica de Carvalho ter se modificado, talvez esteja menos
“sofisticada”, porém, como os mesmos sofismas, o sentido da construção linguística
permanece. Gramsci continua sendo o principal representante, entretanto, Carvalho foca
no que chama de “Globalismo” para argumentar e fomentar as mesmas sensações que
fazia na década de 1990. Este “Globalismo”, para o autor, é um tipo de revolução que teria
como objetivo “a implantação do governo mundial que hoje se desenrola ante os olhos
cegos das massas atônitas”. (CARVALHO, 2013, p. 147-148.)
O complô, portanto, seria estruturado através desta
sedução
proposta por
Gramsci, que é perpetuada através do controle de informações e da formação educacional
do indivíduo e perpetuado por essas forças “globalistas” nos dias atuais. Carvalho pontua
que a questão da educação levaria a um consentimento através da “força do hábito”, onde
não haveria espaço para contradição, sendo que os indivíduos estariam inseridos dentro
um raciocínio imposto estrategicamente. Essa imposição, portanto, implica uma
organização tática de introjeção e internalização de determinados preceitos que, para
Carvalho, visam destruir os pilares ocidentais através de um projeto.
Que o globalismo é um processo revolucionário, não como negar. E é o
processo mais vasto e ambicioso de todos. Abrange a mutação radical não só das
estruturas de poder, mas da sociedade, da educação, da moral, e até das reações
mais íntimas da alma humana. É um projeto civilizacional completo e sua demanda
de poder é a mais alta e voraz que já se viu. (Ibidem, p. 150)
É complexo direcionar explicitamente quem faz parte desta
organização globalista.
Carvalho não se mostra como revelador deste segredo de forma incisiva até mesmo pela
razão de que o caráter “subliminar” destas pessoas, destes agentes políticos, é adequado
para que haja uma determinada flexibilização de quem pode constituir esse grupo. Ao
tornar esse grupo de pessoas um segredo, que os que participam conhecem,
proporciona-se que haja mutações e transposições de quem faz parte, adaptando a
realidade prática com os interesses práticos do conflito político pela hegemonia da cultura.
Ou seja, dependendo do interesse, determinado grupo pode ou não fazer parte da
organização. O caráter subliminar propicia isso. Ainda assim, o que existe de explícito
nessas concepções é que bilionários, como George Soros, financiam diretamente esse tipo
de educação. Carvalho deixa claro em outro texto de 2006
5
que “George Soros não é o
espertalhão maligno que se diz”, mas que seria manipulado por essas forças que ele não
explicita quem são.
Apesar desta questão, Carvalho ensaiou alguns responsáveis pela articulação do
complô gramsciano no Brasil, dentro desse seu raciocínio. Em um determinado momento
do texto ele explica que já “vinha falando desde 1987 sobre o gramscismo petista” (ibidem,
p. 126) e não teve repercussão dentre os meios de informação profissional. Isso continua
nos seus textos mais recentes compilados no “O mínimo que voprecisa saber para não
ser um idiota”. Ao exemplo de que, para ele, há uma “concentração exclusiva nos males do
petismo, do MST e similares”. (CARVALHO, 2013, p. 149).
Indiferentemente do apontamento de um responsável ou partícipe da Organização,
a noção que implica um controle dos meios de informação por parte do complô também
se evidencia. Carvalho enfatiza que, para Gramsci, “vale menos um orador, um agitador
notório, do que um jornalista discreto que, sem tomar posição explícita, vá delicadamente
mudando o teor do noticiário” (CARVALHO, 1998, p. 94) e, além disso, o caráter flexível de
quem pode ser agente da organização também resulta em uma falta de definição concreta.
Isso não o impede de expressar questões como a afirmação:
A progressiva concentração dos meios de comunicação nas mãos de um reduzido
número de grandes grupos econômicos íntimos do poder estatal, associada à
tomada das redações por uma nova geração de jornalistas ideologicamente
5
CARVALHO, Olavo. Uma dica sobre George Soros.
Jornal do Brasil.
Rio de Janeiro, ano 116, n. 180 p. 11, 5 de
out. 2006. Disponível em: https://olavodecarvalho.org/uma-dica-sobre-george-soros/ Acesso em 28 de set.
2022.
comprometidos, transformou jornais, revistas e canais de TV, de veículos de
informação e debate, em agências de engenharia comportamental e controle
político. A censura de notícias inconvenientes, a exclusão das opiniões
divergentes, a promoção descarada dos ídolos da esquerda, a militância
sistemática em favor dos objetivos propugnados pela revolução globalista
tornaram-se quase que normas de redação, cinicamente impostas por toda parte
como a expressão pura do jornalismo mais neutro e objetivo. (CARVALHO, 2013,
p. 151).
Ele discorreu semelhantemente na década de 1990 sobre:
Jornalistas, cineastas, músicos, psicólogos, pedagogos infantis e conselheiros
familiares representam uma tropa de elite do exército gramsciano. Sua atuação
informal penetra fundo nas consciências, sem nenhum intuito político declarado,
e deixa nelas as marcas de novos sentimentos, de novas reações, de novas
atitudes morais que, no momento propício, se integrarão harmoniosamente na
hegemonia comunista. (CARVALHO, 1998, p. 94)
Todos os indivíduos que podem exercer uma ão cultural, nessa perspectiva, são
potenciais partícipes da organização, ou “a tropa de elite de Gramsci”. É como se uma
infinidade de pessoas fosse cooptadas a reproduzir a lógica de Gramsci. O que, sem
nenhuma dúvida, não encontra respaldo na realidade, principalmente quando se trata do,
por ele chamado, petismo”. Mesmo com essas contradições, Carvalho se põe a afirmar
que
O sr. Luiz Inácio da Silva foi posto no poder com o apoio da rede global de partidos
e organizações tecida em torno da ONU. Essa rede constitui o núcleo do governo
mundial em avançada fase de implantação. (CARVALHO, 2013, p. 154)
Não é nada absurdo afirmar que a mídia e as instituições de comunicação de massa
no Brasil fizeram abertamente uma campanha contra os governos petistas, portanto,
afirmar que a mídia se posiciona enquanto um agente da instauração de uma revolução
psicológica a favor de um “gramscismo petista” chega a ser fantasioso. Mas não nos
interessa se isso é verdade ou mentira, apesar destas proporções serem interessantes de
se pensar.
Essa relação entre verdade e mentira é sintomática para a construção do mito, por
exemplo. Segundo Carvalho, Gramsci buscava extinguir a noção de verdade, enfatizando
que não haveria uma verdade, mas diversas verdades. É comum na historiografia o debate
sobre verdades absolutas. Convencionamos, de certo modo, a tratar assuntos pertinentes
ao campo historiográfico após extensos debates como consenso acadêmico. Obviamente
nenhum tipo de leitura historiográfica é isenta de reflexões, entretanto, isso exige uma
certa ética e rigorosa reflexão teórica e metodológica honestas. Para Carvalho isso pouco
parece importar. Segundo ele, “Gramsci exige que toda atividade cultural e científica se
reduza à mera propaganda política, mais ou menos disfarçada” (CARVALHO, 1998, p. 98),
nada além disso. E que, mais ainda, “o sonho de Antônio Gramsci, o ‘poder onipresente e
invisível’ já é uma realidade em todo o mundo ocidental”. (CARVALHO, 2013, p. 152)
É uma forma de raciocínio que se demonstra fechada em si, que não se propõe a
debate. Ela pressupõe, antes de qualquer coisa, que existam cientistas, intelectuais,
formadores de opinião que estejam conscientemente manipulando a verdade a fins
ideológicos. Essas supostas pessoas seriam, portanto, representantes da corrupção da
informação. Estariam a serviço de escusos interesses ideológicos, o desígnio final,
instauração do comunismo em face a destruição do ocidente. Essa destruição é feita,
portanto, segundo Carvalho;
[...] pela sua submissão integral a um apelo de ação prática; ação que, realizada,
resultará em varrer a inteligência da face da Terra, por supressão das condições
que possibilitam o seu exercício: a autonomia da inteligência individual e a na
busca da verdade. (CARVALHO, 1998, p. 98-99)
Esses pontos nos interessam: “a autonomia da inteligência e a na busca pela
verdade”. Para Carvalho existe uma verdade, a verdade centrada dentro da cultura
ocidental cristã. Esse seria o pilar que sustenta toda cosmologia de interpretação da
realidade que ele considera “correta”. Para Carvalho a deturpação desses pilares
ocidentais é que resultam na destruição da sociedade. A em uma verdade finita, única
aceitável, é o que moveria a sociedade de bem na sua caminhada. Nesse sentido,
sacralizando uma determinada cultura social, o indivíduo é condicionado a participar de
uma guerra contra o mal, onde o bem é representado pela verdade, e o mal pela mentira,
a manipulação e a corrupção.
Carvalho expressa que a única filosofia possível é a filosofia ocidental oriunda da
Grécia. Nada além da construção escolástica grega é bem vista. Ele cita que “o fundo
comum de onde emergem o positivismo, o marxismo e o neotomismo é a dissolução do
racionalismo clássico” (ibidem, p. 105). Neste sentido é inexorável ao pensamento ocidental
o advento da filosofia grega clássica. É a partir disso que Carvalho se como um cavaleiro
em luta contra a destruição dos pilares da civilização ocidental. Como se a pluralidade de
pensamentos fosse ofensiva ao determinismo que, para ele, é essencial para a
sobrevivência do que ele entende por cultura ocidental. Ela é única e finita e toda e
qualquer crítica é vista como ofensa.
Carvalho externa, pensando na realidade brasileira, que o Brasil é um país que não
passou pelo entendimento da filosofia clássica que determina a verdade teleológica da
civilização ocidental. Deste modo, para ele, “nosso contato com as fontes filosóficas da
civilização do Ocidente continuou superficial, ao passo que nos entregávamos de corpo e
alma às retóricas coletivistas” (ibidem, p. 106). Carvalho determina, pensando essa
dominação comunista na academia, que isso é resultado de uma intelectualidade no Brasil
“fundamente predisposta ao apelo gramsciano, onde a vida intelectual deixa de ser o
esforço solitário de quem
cherche en gémissant
, para tornar-se a participação num sentido
da vida” (ibidem, p. 107).
Esse é o raciocínio de Olavo de Carvalho, a criação de um inimigo prático,
evidentemente comum na cultura fascista. “Todos os homens de esquerda neste país o
fazem (seguir as ideias de Gramsci) uma década, sem se dar conta” (ibidem, p. 115). Além
disso Carvalho tem uma visão de que o Brasil é incapaz de entender algo racionalmente,
expressando que “somente aqui” uma doutrina como de Gramsci poderia progredir. Olavo
de Carvalho se coloca como um messias que vem trazer a verdade da dominação
comunista no Brasil e, sendo essa a realidade, todos os “homens de bem” estariam
convocados a combater essa catástrofe.
Conclusão
Buscamos neste texto apresentar alguns argumentos sobre como o pensamento de
Olavo de Carvalho transgride o tempo e chega ao tempo presente como uma forma de
raciocínio que faz parte da estruturação de uma cultura política fascista, utilizando-se de
uma linguagem fascistizante presente na criação de um inimigo através de um mito
conspiratório.
Carvalho, como todo formador de opinião, não constrói seus argumentos da noite
para o dia. Há um processo em que determinados argumentos vão amadurecendo, mesmo
sem perder o sentido original, chegando aos dias atuais. Esse processo foi analisado
extensivamente por alguns pesquisadores
6
e não foi nosso objetivo direto. Buscamos
argumentar, através da linha de raciocínio de Carvalho, como determinadas premissas se
estabeleceram na cultura política atual a fim de resultar em uma política do “nós contra
eles”.
A base dessa política representa a negação da alteridade, que é, no nosso
entendimento, o princípio estruturante de um processo de fascistização. Nesse sentido,
a construção, não de uma “narrativa”, mas de uma linguagem que estabelece
parâmetros argumentativos a partir de um mito conspiratório. A estruturação dessas
6
Nesse sentido sugerimos as pesquisas de Lucas Patschiki (2012) e Marcus M. V. F. da S. Oliveira (2019).
formas cognitivas de percepção da realidade cria personagens que definem as ações
políticas dentro do campo. Nessa concepção os adversários deixam de existir e se
transformam em inimigos.
Esse é o principal ponto que devemos concluir. Através do mito da conspiração
criam-se inimigos políticos. Esses inimigos, dentro da concepção de guerra cultural, não
devem existir. Portanto fala-se em “metralhar a petralhada”
7
e, para além, violências
físicas, ameaças e até assassinatos estão ocorrendo com certa regularidade.
8
Portanto, podemos afirmar que a construção desse mito está elevando a violência
política no país e resultando nas ações mais violentas desde a ditadura militar. Isso não
aconteceu por acaso. É parte de um projeto que não começou agora e muito menos em
2013. Esse processo vem se estruturando na sociedade há mais tempo. É fundamental na
história do tempo presente não tratá-la como um mero recorte temporal que adianta a
linha do tempo sempre que o tempo corre. A história do tempo presente se faz enquanto
método, relacionando questões passadas que não passaram e ainda reverberam
sintomaticamente no presente.
O bolso-fascismo, por exemplo, não é finito em si. Muito menos acabará após as
eleições de 2022. Ele é reflexo diretamente de uma cultura conservadora, reacionária e
fascista do Brasil, fundamentada, principalmente no anti-socialismo e no ultraliberalismo.
Essas questões se evidenciam, pois, apresentam uma forma prática de combater
determinados inimigos políticos com a fundamental observância de -los fora do debate
público. É desqualificá-los enquanto indivíduos, enquanto pessoas.
Olavo de Carvalho não inventou o anti-socialismo no Brasil, mas estabeleceu uma
certa forma de “intelligentsia” em que mediou intelectualmente interesses de
determinados grupos políticos do país, intencionalmente ou não, como forma de estratégia
premeditada ou não, para o debate público. O ciberespaço se tornou o catalizador e
propagador desse raciocínio. Por mais que Carvalho estivesse anos escrevendo nos
“jornalões” do Brasil, foi na internet o seu maior trunfo.
7
BONIN, Robson. Em 2018, Bolsonaro defendeu ‘fuzilar a petralhada’,
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10 de jul. 2022. Disponível
em: https://veja.abril.com.br/coluna/radar/em-2018-bolsonaro-defendeu-fuzilar-a-petralhada/ Acesso em
28 de set. 2022.
8
CRIMES de ódio e intolerância política entram para a história da eleição mais violenta do pós-ditadura no
Brasil
,
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27 de set. 2022. Disponível em: https://noticias.uol.com.br/ultimas-
noticias/rfi/2022/09/27/crimes-de-odio-e-intolerancia-politica-entram-para-a-historia-da-eleicao-mais-
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atentado a tiros de bolsonarista; veja o que se sabe.
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de-atentado-a-tiros-de-bolsonarista-veja-o-que-se-sabe.html Acesso em: 28 de set. 2022.
Finalizamos com um alerta. Isso não vai passar em 2022. Mesmo após a morte de
Carvalho temos claro que essa cultura está se enraizando em parte da sociedade. Não
vivemos em um regime fascista esclarecido, nem ao menos temos uma concreta
perspectiva que isso aconteça no presente. Mas alertamos que devemos estar prontos e
atentos para observar de forma densa e crítica a fundamental formação estruturante de
uma linguagem fascistizante no Brasil do tempo presente.
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