MELLO, Nicoli F. de*
https://orcid.org/0000-0001-7303-6539
RESUMO: Este artigo analisa os retratos das
mulheres no Brasil oitocentista, por meio da
obra Direitos das Mulheres e Injustiça dos
Homens, escrita por Nísia Floresta e publicada
no ano de 1833, em Porto Alegre. Para tanto, a
metodologia empregada foi a análise do
discurso, pautada na vertente de Michel
Pêcheux e Eni Orlandi, entendendo o discurso
de Nísia a partir da historicidade e da ideologia
construída em seu texto. Ao relacionar o
prejuízo (termo que se referia ao preconceito
no período), o costume (termo que significava
cultura), a autoridade dos homens sobre as
mulheres, as diferenças entre ambos os sexos,
as mulheres virtuosas de Deus e as mulheres
educadoras e cientistas, buscou-se entender
os retratos das mulheres presentes na obra,
relacionando-os com o contexto histórico,
social e político do século XIX, considerando a
multiplicidade quando se estuda a História das
Mulheres.
PALAVRAS-CHAVE: Nísia Floresta;
Mulheres; Brasil Imperial.
ABSTRACT: This paper analyzes the
representations of women in 19th century
Brazil, through the work Direito das Mulheres
e Injustiça dos Homens by Nísia Floresta and
published in 1833 in Porto Alegre. The
methodology used was discourse analysis
based on Michel Pêcheux and Eni Orlandi,
understanding Nísia's discourse from the
historicity and ideology constructed in her
text. By relating detriment a term that referred
to prejudice in the period), custom (a term that
meant culture), the authority of men over
women, the differences between both sexes,
virtuous women of God and women educators
and scientists we aim to understand the
portraits of women present in the work,
relating them to the historical, social and
political context of the 19th century
considering the multiplicity when studying the
History of Women.
KEYWORDS: Nísia Floresta; Women; Imperial
Brazil.
Recebido em: 10/02/2023
Aprovado em: 26/04/2023
* Mestranda no Programa de Pós-graduação em Educação, Pontifícia Universidade Católica do Paraná
(PUC-PR), Curitiba-PR. Graduada no curso de Licenciatura em História (PUC-PR). Professora da Rede
Pública do Estado do Paraná. Bolsista da PUC-PR por ter recebido o prêmio de Mérito acadêmico do curso
de História na mesma Universidade. Email: nicoli.mello@pucpr.edu.br/ nicoli.mello1998@gmail.com.
Este é um artigo de acesso livre distribuído sob licença dos termos da Creative Commons Attribution License.
Introdução
A discussão sobre a História das mulheres vem ganhando visibilidade nos últimos
anos. Por meio dos Estudos Culturais, houve uma expansão no campo historiográfico
com base na História vista de “baixo”, ao renovar as correntes e os campos de pesquisa,
multiplicando o universo temático, os objetos e as novas fontes, como a história das
mulheres (BURKE, 1991, p. 12).
Johan Scott (1995), Rachel Soihet (1997) e Margareth Rago (1995) complementaram
e aprofundaram as análises a respeito da História das Mulheres. Voltaram-se à quebra de
padrões de uma História única das mulheres e das fundamentações que envolvem o
gênero; por isso, seus escritos evidenciam a multiplicidade e as especificidades desse
campo de estudo que deve ser levada em conta quando analisamos as mulheres na
História.
Ainda que pensemos na História das Mulheres associada ao Movimento Feminista
(após a segunda metade do século XIX), antes disso, conjuntos de obras, ideias e
personagens históricas se fizeram presentes, defendendo posições mais igualitárias
entre homens e mulheres, chamado de Protofeminismo. Ele inclui debates dos Direitos
das mulheres antes da primeira onda feminista, impulsionada na segunda metade do
século XIX (ALÔS; ANDRETA, 2017, p. 15). Nesse meio, sia Floresta redigiu seu livro
Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens, em 1833, a fim de criticar a condição
social, educacional e política das mulheres.
Na primeira metade do século XIX, o Império brasileiro atravessava diversas
agitações políticas, sociais e culturais. O Império vivia uma nova Independência no ano
de 1831, em meio a uma série de pequenos conflitos que se acumulavam desde o ano
anterior. A onda revolucionária Iluminista da Europa despertou os liberais brasileiros
contra o caráter monárquico, uma vez que foi importante para a abdicação de Dom
Pedro I e as resultantes Regências que se seguiram (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p.
202). Porém, os ideais revolucionários europeus não se restringiram somente aos
poderes políticos do Império, eles se espalharam por praticamente todas as Províncias e,
principalmente, para a classe letrada Imperial.
Nísia, por sua vez, enquadrava-se nesse grupo e escreveu seu livro a fim de
contestar a condição social e política das mulheres, em meio a um Império largamente
rural. O pilar societário era o casal hierarquizado, diferenciando os sexos. De um lado, o
homem e senhor, e do outro, a mulher que se restringia ao espaço privado. Um dos
principais papéis das mulheres de elite e casadas eram as leituras dos livros de reza,
pautados numa ignorância feminina, perpetuada e incentivada pelos homens da casa
(PRIORE, 2016, p. 285). Ao ter recebido ensinamentos educacionais, decorrentes de uma
condição econômica “possivelmente” razoável, entrou em contato com ideais Iluministas,
criando também uma rede de sociabilidades letrada. Assim, a autora buscou criticar as
posições definidas entre homens e mulheres em sua obra (DUARTE, 2016, p 14).
Para a análise da fonte histórica, utilizamos a metodologia da análise do discurso,
com base nos estudos de Eni Orlandi, considerando, dentre outros elementos, a ideologia
no campo do discurso de Nísia, quer dizer, um conjunto de representações, visão de
mundo ou como ocultação da realidade que aparece como efeito de relação necessária
do sujeito com a língua e com a História para haver sentido. É necessário compreender
que o resultado é o mais próximo possível do que ocorreu, e não uma verdade absoluta.
De que forma as mulheres no Brasil oitocentista são retratadas no livro Direitos
das Mulheres e Injustiça dos Homens (1833) de Nísia Floresta? Para responder a essa
problemática, o objetivo geral consistiu em analisar as mulheres retratadas por Nísia
durante o período imperial brasileiro, tendo como objetivos específicos: identificar as
diferenças sociais e políticas entre homens e mulheres na obra, identificar as diferenças
educacionais entre homens e mulheres e caracterizar a crítica realizada por Nísia em seu
escrito.
Sobre a fundamentação teórica deste artigo, destacam-se: Scott (1995), Soihet
(1997) e Rago (1995) ao conceituar gênero e realizar um aparato da História das
Mulheres; rner (2013), Carvalho (2002), Schwarcz; Starling (2015) e Priore (2016) para
fundamentar o contexto histórico, social e político do Brasil Imperial. Duarte (2016) que
fundamenta os estudos sobre Nísia Floresta. Konkel (2005), Costa (2007) e Cunha (2013)
para fundamentar a pesquisa sobre a mulher no Brasil Imperial, além de Pêcheux (1983) e
Orlandi (2001), para a metodologia da fonte.
Dessa maneira, o artigo inicia a discussão a respeito da escrita da História das
Mulheres e os conceitos de gênero, seguindo-se à discussão acerca da Protofeminista
Nísia Floresta e os retratos das mulheres expressos no livro de Nísia Floresta.
A escrita da História das Mulheres e o Gênero: breves apontamentos
Burke (1991) destaca que o movimento da História Cultural, por meio da Nova
História, ressignificou diversos modelos tradicionais no campo Historiográfico.
Associado à Escola dos Annales
1
, o movimento lutava contra o paradigma tradicional da
História, a qual correspondia, principalmente, à História política, ao desenrolar dos fatos
1
A Escola dos Annales, com origem na França e constituída de diversas fases, enfatizava alguns aspectos
relativos ao estudo da História, dentre eles, a interdisciplinaridade, a problematização da História e as
novas proposições de conceber o tempo (BARROS, 2010, p. 2).
e à objetividade histórica. Com isso, a História Cultural, dentre vários grupos,
pressupunha a história das mulheres como sujeitos históricos ativos e construtivos.
Dentre várias estudiosas que se debruçaram sobre os debates da História das
mulheres e a questão do gênero, Scott (1995), Soihet (1997) e Rago (1995) buscaram
estabelecer conexões entre suas abordagens. Não se restringiram ao estudo da História
das mulheres no sentido biológico de masculino e feminino (cisgênero)
2
, e aos
questionamentos que tratam do conceito de gênero, levando a desconstruir certos
padrões a respeito da área. Scott (1995) destaca que o gênero, além de rejeitar as
diferenças e designações somente biológicas, passou a significar mulheres e as relações
sociais que elas estabelecem com os homens. Ou seja, o gênero sugere informações
sobre os homens, de modo que o mundo das mulheres faz parte do mundo dos homens e,
consequentemente, as relações sociais que foram estabelecidas entre eles como sujeitos
históricos ativos e construtivos. Considera-se que “o gênero oferece um meio de
distinguir a prática sexual dos papéis sexuais atribuídos a cada um dos sexos” (SCOTT,
1995, p. 75).
Quando se estuda a história das mulheres, não se deve falar em uma história
única da mulher, mas na história das mulheres com as suas especificidades e múltiplas
identidades (SOIHET, 1997, p. 403). Na década de 1980, a história das mulheres
dissociou-se aos poucos do cunho político e adotou um cunho mais social, com destaque
ao sufrágio feminino. Concomitantemente ao impulso dessa linha de estudos, as
reflexões sobre o termo “gênero” também se intensificaram (SOIHET, 1997, p. 403). O
termo, que passou a significar uma rejeição ao determinismo biológico como sexo ou
diferença sexual, desferindo-se o caráter fixo e permanente da oposição binária
masculino versus feminino-, passou a ser entendido como o indício das construções
sociais.
Entretanto, quando se trata dos questionamentos sobre o gênero no Brasil, cabe
evidenciar o quão recentes eles são. As designações propostas por Scott (1995) e Soihet
(1997) foram estudadas e aprofundadas durante as décadas de 1980 e 1990. Assim,
Rago (1995) destaca que a conceituação de gênero também se aplica após a década de
70, de modo que essas concepções eram praticamente inexistentes no contexto da
elaboração do livro de Nísia Floresta. Por causa disso, é preciso entender que Nísia não
apresenta o termo gênero em seu livro ao se referir às mulheres, mas utiliza o termo
sexo, uma designação que buscava explicitar o sexo feminino que para ela, era sinônimo
de mulheres.
2
Refere-se à consonância entre o sexo anatômico e a expressão de gênero (Alves, 2017, p. 01).
Quem foi a Protofeminista Nísia Floresta?
Quando consideramos a História do Feminismo é recorrente que se debata acerca
das denominadas Ondas Feministas e suas características. A primeira onda, ocorrida na
segunda metade do século XIX, possuía como reivindicação principal o voto, enquanto a
segunda, impulsionada no pós-guerra, trazia reflexões voltadas à condição das mulheres
nos âmbitos doméstico e social, levantando também questões referentes ao gênero. A
terceira, por sua vez, ganhou impulso a partir da década de 1990, e é marcada pelo
enriquecimento de questionamentos sobre o próprio movimento. Com isso, é iniciado um
processo de “desconstrução” universal da mulher (MARQUES; XAVIER, 2018, p. 9).
Como se percebe, Nísia não se enquadrava diretamente nessas ondas feministas.
Por isso, a consideramos Protofeminista, que ideia de um movimento feminista era
praticamente inexistente durante o contexto histórico da publicação de seu livro. Porém,
não significa que mulheres não reivindicavam os seus direitos ou que não criticavam a
sociedade em que viviam. A fim de não cairmos em anacronismo
3
, consideramos que é
produtivo reservar o termo primeira onda para o Feminismo que se desenvolveu a partir
da segunda metade do século XIX, e usar a denominação protofeminismo para designar o
pensamento anterior a esse período. Assim, o Protofeminismo abarca um conjunto de
obras, ideias e personagens históricas que “[...] foram resgatadas pelo Feminismo como
percursores, mas que não chegaram a formar um corpo sistemático de textos ou um
modelo teórico e coerente de pensamento [...]” (ALÓS; ANDRETA, 2017, p. 17).
Nesse bojo entra Dionísia Gonçalves Pinto, conhecida pelo pseudônimo de Nísia
Floresta Brasileira Augusta, nascida na cidade de Papari
4
, Província do Rio Grande do
Norte, em 12 de outubro de 1810 (DUARTE, 2016, p. 153).
Nísia foi autora de importantes títulos sobre a mulher, além de professora e
fundadora de colégios para meninas durante o período imperial brasileiro. Para Duarte
(2016), Nísia era uma mulher letrada criada numa família com ideais e valores
portugueses.
Ela casou-se cedo, aos 13 anos, com Manuel Alexandre Seabra de Melo; separou-
se um ano depois, porque tinham personalidades muito diferentes e voltou a morar com
seus pais (DUARTE, 2016, p. 154). Nesse mesmo ano, em 1824, mudou-se para
3
Anacronismo na pesquisa Histórica consiste em empregar a utilização estranha ou inadequada de algo,
como uma palavra, importando de um tempo para outro tempo. O anacronismo pode ocorrer de duas
maneiras: quando lemos uma palavra de outro contexto e aplicamos o significado de nosso próprio
contexto à ela, ou ainda, quando, na tentativa de analisarmos um texto ou processo histórico do passado,
utilizamos uma palavra de hoje tal qual era inexistente naquele contexto (BARROS, 2017, p. 157).
4
Nome da cidade durante o século XIX. Atualmente, a cidade possui como nome “Nísia Floresta” em
homenagem à autora.
Pernambuco, na cidade de Goiana. Depois, sua família mudou-se para Olinda e Recife,
onde deu continuidade aos seus estudos (DUARTE, 2016, p. 154).
Após a morte de seu pai, em 17 de agosto de 1828, Nísia casou-se com o advogado
Manuel Augusto de Faria Rocha. Dois anos depois, teve sua primeira filha, em 1830. No
ano seguinte, em 1831,
Nísia iniciou sua estreia no mundo das letras por meio do jornal Espelho das
Brasileiras, um jornal dedicado às senhoras pernambucanas, do tipógrafo
francês Adolphe Emille de Bois Garin. Durante trinta edições (de fevereiro a
abril), Nísia colabora com artigos que tratam da condição feminina em diversas
culturas [...] (DUARTE, 2016, p. 153).
A revista citada foi a segunda revista feminina lançada no Brasil. Fundada por
Adolphe Emille de Bois Garin, circulou entre fevereiro e maio de 1831, constituindo-se de
textos anônimos escritos por mulheres que comparavam a visão do ser feminino em
Pernambuco do século XIX, com o ser mulher na Antiguidade. Com pouco tempo de
circulação, o periódico teve apenas 30 edições (COSTA, 2014, p. 8).
A entrada de Nísia nesse meio representava um grande avanço naquele contexto,
para uma mulher de apenas 21 anos. Isso porque, a participação das mulheres em
periódicos, jornais e revistas foi fundamental para a conquista no mundo literário. Várias
escritoras se envolveram, de início, no âmbito da do jornalismo e das revistas, antes de
partir para os livros, como ocorreu com sia. A publicação de seu livro aconteceu
apenas um ano depois, em 1832.
Contudo, por ser filha de pai português, Nísia enfrentou certas peculiaridades na
região onde morava, segundo Duarte (2016). A Confederação do Equador (1824), ocorrida
na Província natal da autora, era contrária à Monarquia, um movimento antilusitano que
pretendia a formação de uma República baseada - de início - na Constituição da
Colômbia. Ela era a “Carta mais próxima dos princípios do republicanismo norte-
americano. A Confederação do Equador tinha raízes profundas que remontavam ao
século XVIII [...]” (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 196). As contestações do período
regencial incluíam reações intensas, as novas bandeiras em nome do Federalismo
5
e da
República.
Foi em Pernambuco que Nísia publicou a primeira edição do seu livro: Direitos das
Mulheres e Injustiça dos Homens, em 1832. Porém, as agitações na região, além da morte
de seu esposo, em 1833, a fizeram mudar-se para Porto Alegre onde fez a reimpressão de
5
O Federalismo foi uma corrente política que objetivava a conservação da autonomia das Províncias. Tal
corrente agitou e sacudiu o Brasil durante o culo XIX, ocasionando, dentre outras coisas, uma imensa
instabilidade política no Brasil Imperial (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 211).
seu livro, nesse mesmo ano. (DUARTE, 2016, p. 154).
6
Com a Revolução Farroupilha, o
clima na capital gaúcha ficou tenso e difícil para uma mulher, chefe de uma família
composta por crianças e outras mulheres. sia Floresta transfere-se para o Rio de
Janeiro, em 1837” (DUARTE, 2016, p. 154). Na capital do Império, a autora funda, para
meninas, o Colégio Augusto, em 1838, com nome em homenagem ao seu falecido esposo.
Não demorou para que várias críticas anônimas ao Colégio fossem feitas no Jornal do
Comércio (RJ); elas afirmavam que seus ensinamentos eram muito avançados para as
garotas. Nísia viu-se no dever de se pronunciar e, no mesmo ano, encerrou as aulas no
Colégio que fundou.
Assim, percebemos que Nísia residiu em vários estados brasileiros (Pernambuco,
Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro) em meio às agitações políticas do período, além de
outros países (Portugal, Inglaterra, Alemanha, Grécia, Itália e França) para estudar e se
aprimorar na área em que ela mais considerava importante, que era a Educação.
Mesmo com críticas e enfrentamentos continuou escrevendo e publicando outras
obras, como: Conselhos à Minha Filha (1845), Fany ou o modelo das Donzelas (1847), A
Lágrima de um Caeté (1849), Dedicação de uma Amiga (1850), Opúsculo Humanitário
(1853) e o Brasil Ilustrado (1855). Durante os anos 1860 a 1880, a autora realizou várias
viagens ao Continente Europeu, deparando-se com ideais “revolucionários”, que
“restaram” do Iluminismo francês. Ela faleceu em 24 de abril de 1885, vítima de
pneumonia, na cidade de Rouen, na França (DUARTE, 2016, p. 158).
Tais termos Iluministas estão presentes em toda a obra Direitos das Mulheres e
Injustiça dos Homens (1833). Conceitos que incluem natureza, espírito humano, razão,
alma, virtude, bom senso e progresso humano refletem a postura Iluminista da autora.
De início, a natureza pode ser entendida como algo inato, assim como o espírito
humano e a alma. Contudo, o espírito humano pode ser mudado, enquanto a alma não
pode ser mudada pelas questões físicas do mundo. A razão é o que liberta os indivíduos
e, em outras palavras, é o esclarecimento para que seja alcançada a virtude e o bom
senso. Ao alcançar a virtude, o bom senso e a razão, o ser humano poderia progredir.
Por meio desses conceitos de bases Iluministas o livro foi, nas palavras de sua autora,
uma tradução livre de Mary Wollstonecraft
7
, o que, não se pode considerar verídico por
duas razões principais. A primeira é que, conforme esclarece Pallares-Burke (1996), após
analisar linha a linha do livro de Nísia, a obra em verdade é uma tradução de um livreto
6
Escolheu-se a edição de 1833 devido à ausência da edição de 1832. Mesmo que a tenhamos procurado,
não conseguimos localizá-la.
7
Foi uma intelectual libertária inglesa que abraçou as causas das mulheres em seu contexto. É reconhecida
por sua defesa ao abolicionismo inglês e por ser uma das percursoras dos Direitos das Mulheres. Sua obra
mais conhecida é “Reivindicação dos Direitos da Mulher” publicada em 1792 (ESTACHESKI; MEDEIROS,
2017, p. 375).
intitulado Woman not inferior to man (1739) sob a autoria que utilizava o pseudônimo de
Sophia, a Person of Quality, Wortley Montagu (1689-1762). Os motivos que levaram Nísia
a colocar seu texto como uma tradução de Mary Wollstonecraft ainda são um mistério.
Em segundo lugar, uma tradução não implica que esse texto traduzido não
demonstre elementos que refletem o autor e sua inserção social, política e cultural. Por
isso, o livro não era apenas uma tradução de outra obra, seja ela de Sophia ou Mary, mas
um livro que expunha elementos primordiais para analisar as mulheres que Nísia retrata
no Brasil Imperial. Ela desenvolveu sua própria obra, assimilando as ideias de outra
autora e nos devolveu um outro produto muito pessoal em cada palavra escrita por ela,
principalmente quando consideramos que o seu discurso está inserido na sua
historicidade (ORLANDI, 2001, p. 25).
Os discursos e os retratos de Nísia Floresta: as mulheres no Brasil oitocentista
Pêcheux (1983) conceitua o discurso como a materialização da linguagem na
ideologia e como esta se manifesta na linguagem. Entende o discurso como um lugar
particular onde esta relação acontece e pela análise do funcionamento discursivo.
uma relação entre o simbólico e o político, ou ainda, a textualização do político. O
discurso é definido como sendo o efeito de sentidos entre os locutores, um objeto sócio-
histórico.
Orlandi (2001) que compactua com a linha de Pêcheux (1983), destaca que o
discurso não é transparente, não se trata de transmissão de informações apenas. “[...] No
funcionamento da linguagem, que põe em relação sujeitos e sentidos afetados pela língua
e pela história, temos um complexo processo de constituição [...]” (ORLANDI, 2001, p.
23).
É por meio desses discursos que a historicidade se apresenta na obra de Nísia.
Por isso, toda a análise que permeia o livro aqui estudado como fonte histórica, está
pautada nessas concepções propostas por Orlandi (2001). Nesse sentido, aplicando a
Análise do Discurso, empregou-se num primeiro momento a marcação de palavras que
mais apareciam no livro de Nísia. Em seguida, buscou-se realizar um levantamento em
fichas dessas palavras para buscarmos aplicar o que sia propunha dizer em seus
discursos, partindo da ideia de que compreender como um texto funciona, como ele
produz sentidos, é compreendê-lo como objeto linguístico-histórico, é explicitar como
ele realiza a discursividade que o constitui” (ORLANDI, 2001, p. 70).
Para compreender essa historicidade incluída no discurso de Floresta, um
primeiro questionamento que fizemos foi “para quem ela escreveu? Quem ela buscava
captar com o seu discurso? Pois o ato de escrever um texto reivindicatório significava a
necessidade de alcançar certos grupos; mesmo que não haja possibilidade de sabermos
com exatidão esses grupos.
No entanto, pode-se entender que havia, possivelmente, dois blicos principais
que Nísia buscava captar com sua mensagem. Em primeiro lugar, as Patrícias
8
. Em
segundo, os homens, exclusivamente os homens letrados e intelectuais do contexto.
As “Patrícias”, (exposto nas primeiras páginas da obra) incluía um grupo restrito
de mulheres que podem ser pensadas e entendidas como as “mulheres letradas”, que
muitas vezes, sabiam ler, escrever, bordar, tocar piano e servir aos dogmas da Igreja
Católica. Essas mulheres, na maioria dos casos, detinham elevados recursos aquisitivos e
certo grau de conhecimentos “educacionais”. É provável que Nísia objetivava levar seus
questionamentos a essas mulheres para que elas também refletissem sobre seus lugares
naquela sociedade do Brasil Imperial.
Contudo, ela não se voltou apenas ao público das mulheres Patrícias. No decorrer
da obra notamos que o livro também foca nos homens, chamados por ela de homens
virtuosos, aqueles que reconheceriam que as mulheres poderiam desempenhar outras
funções além de seus talentos tidos como naturais. Tal exposição significa que, apesar
da intensa crítica ao grupo masculino, Nísia tinha esperança nesse público. Eles iriam
transmitir essas ideias com os outros homens para então haver mudanças de
pensamento. Cabe destacar que a autora não é inimiga dos homens e nem propõe algo
que verdadeiramente abale as estruturas fixas das relações entre os homens e mulheres,
algo que é afirmado na conclusão de seu livro.
Apesar de não buscar abalar as estruturas, Nísia reconhece que diferenças
profundas entre ambos os sexos. De um lado, os homens e seus poderes atribuídos e, de
outro, as mulheres e a visão do sexo frágil. Isso é colocado como consequência do
prejuízo e do costume, termos recorrentes para se referir a algo próximo de preconceito
(quando se trata do primeiro citado) e algo próximo de cultura (DUARTE, 2016, p. 31), em
relação ao segundo citado.
A mulher convivia com essas dificuldades e enfrentamentos, ao ser afetada pela
natureza masculina que não possui bom senso e que deseja preservar a superioridade
orgulhosa que possui naturalmente. Assim, pode-se compreender que a natureza
masculina é ruim e o prejuízo e o costume afetam o espírito humano, levando os homens
a se considerarem superiores às mulheres. Vejamos:
8
Segundo Duarte (2016), o termo se aplicava às mulheres letradas no Império Brasileiro. A própria Nísia
Floresta em sua dedicatória escreve: “De vossa Patrícia sincera”, remetendo à mulher letrada e/ou
instruída.
Se um autor célebre não tivesse proferido que nada existe na Natureza tão
admirável como ver os homens capazes de espanto, poderia alguém, ao menos o
que não fosse inteiramente falto de bom senso, deixar de admirar o poder que o
prejuízo e o costume têm sobre o espírito humano? Era de esperar
naturalmente que esses entes, feitos para dominar como modestamente se
qualificam, fossem ciosos de sua superioridade e muito empenhados em a
conservar [...] (FLORESTA, 1833, p. 115).
Ao considerar essa superioridade e natureza masculina, é necessário evidenciar
que houve a construção social de um homem masculino ideal, na sociedade do século
XVIII, o qual incluía a dominação e a superioridade. Esses elementos não apenas foram
reforçados, mas também deveriam ser conservados, pois,
[...] Com o avanço das estradas e a maior circulação de pessoas e mercadorias,
notamos que a masculinidade passa a teatralização em lugares públicos, criando
a necessidade do macho feito exibir outras performances. Na sociedade
patriarcal, a obediência era um ponto fundamental, um homem devia ser
obedecido por seus subordinados, uma autoridade inquestionável, forjada, na
maioria das vezes, através da violência [...] (FURQUIM, 2016, p. 199).
Tal construção social de um homem reforçava e aprofundava o que a autora
denominava de prejuízo e costume. Além deles, o espírito humano e a natureza também
se enquadravam quanto às diferenciações entre os homens e as mulheres. Esses termos,
que foram difundidos nos séculos XVIII e XIX pelos ideais Iluministas
9
, e que eclodiram
no Império brasileiro quando se tratava das reivindicações ligadas à política, também
foram importantes nas reinvindicações de outros segmentos da sociedade, como as
mulheres. Eles representavam a racionalidade superior do ser humano que estava
intrínseca nos indivíduos, pautando-se no objetivo de alcançar o progresso humano
(HÖRNER, 2013, p. 81).
A palavra progresso, que aparece várias vezes no discurso de sia, denota a
ideologia apresentada em seu discurso. Não se trata de uma ideologia com base
sociológica, mas um trabalho da memória (ORLANDI, 2001, p. 32) no qual podemos
estabelecer sua relação com as mudanças no pensamento da população oitocentista em
relação às mulheres; isso porque as pessoas virtuosas, para a autora, eram as que se
caminhavam rumo ao progresso e à civilidade, conceitos emprestados das ideias
9
Iluminismo é uma palavra que vem do alemão Aufklärung e significa Esclarecimento, usado para designar
que os homens seriam autônomos. Isso seria possível se cada indivíduo pensasse por si próprio
utilizando da razão (SILVA; SILVA, 2005, p. 210). Devido à multiplicidade de pensamentos entre os
Iluministas, podemos considerar que aqueles que serviram de base para os ideais de Nísia foram os que
pregavam a importância do progresso (contrários a Rousseau), das liberdades individuais (contrário a
Voltaire) e da natureza humana.
positivistas de Auguste Comte (1798-1857). Ela buscou transmitir esses ideais após sua
estadia na França, que passava por transformações profundas, levada por um
sentimento e entusiasmo pelo novo, após a Revolução Francesa (1789) (MATTOS, 2009,
p. 98).
Retomando ao caso das mulheres no Brasil, a situação não parecia tão otimista.
Floresta nos apresenta o que ela denominava de mulher serva, aquela que se submetia
absolutamente aos homens. Nos é demonstrado que as mulheres possuíam suas funções
específicas, assim como os homens de seu contexto. Tais funções ligavam-se à servidão
que elas tinham que se submeter. Assim, o seu discurso volta a enfatizar o termo
“servidão”, buscando uma unidade de construção e disciplina dentro do texto, para
construir uma separação entre sujeito e autor (ORLANDI, 2001, p. 33).
A servidão estava de acordo com os papéis estritamente definidos entre homens e
mulheres no período imperial brasileiro. Baseavam-se, principalmente, nos afazeres
domésticos em que as mulheres deveriam exercer e às atividades relacionadas ao lar
como “cuidar dos membros da família, cozinhar, lavar roupas etc.” (CUNHA, 2013, p. 3).
Muitas das mulheres deveriam seguir os ideais católicos de suas famílias que eram
reforçados pelo pensamento católico em voga no período e acentuavam a divisão entre o
trabalho externo e a vida no lar.
Aos homens era designado o papel de responsabilidade financeira da família, aos
cargos do Império e a vida pública, havendo uma separação entre o espaço público e o
privado que era reforçado pela sociedade. a mulher, que não possuía juízo, deveria
permanecer afastada da vida social, restringindo-se ao seu espaço destinado, o lar.
Assim, podemos ler que:
[...] É o temor de nos tornar vaidosas, que os obriga a sustentar que não temos
solidez, nem constância, e que estamos bem, longe de ter a profundeza de juízo
que eles modestamente atribuem a si. Donde concluem com tanta sabedoria,
que tem sido necessário a Providência Divina e seu senso superior concorram
igualmente para nos apartar das ciências, dos governos e cargos públicos. É por
uma indagação exata e sem prejuízo que se pode ver se este argumento tem
solidez [...] (FLORESTA, 1833, p. 132).
Os papeis estabelecidos que foram observados por Nísia não apenas são incluídos
como uma diferenciação e servidão, como também são reforçados por ela como
sinônimo de escravidão, porque “os limites impostos pela política Imperial consistiam na
preparação para o casamento, devendo este constituir a maior aspiração das mulheres”
(OLIVEIRA, 2012, p. 13). Era uma construção social advinda, em grande medida, pelos
portugueses e que pautavam praticamente toda a vida das mulheres no período.
Podemos ler que:
[...] Certamente os Céus criou as mulheres para um melhor fim, que para
trabalhar em vão toda sua vida. Talvez me objetará que não é trabalhar
inutilmente, uma vez que com isto não fazem mais que preencher seu tempo;
que não tendo sido criadas senão para escravas dos homens, a nossa única
obrigação é lhes ser submissas e lhes aprazer; que quando desprezamos
qualquer coisa, não somos nisso responsáveis [...] (FLORESTA, 1833, p. 128).
Tais atribuições específicas de cada um dos sexos eram reforçadas pela premissa
das diferenças, as quais passaram a ser questionadas. Por isso, pode-se perceber que
uma busca em explicar o porquê dessas diferenças.
De acordo com seu discurso, que representa uma construção social da realidade
(ORLANDI, 2001, p. 42), Nísia retrata que a mulher não é diferente em sua alma, mas é
diferente por outros motivos: a educação, a perpetuação do prejuízo e as próprias
circunstâncias cotidianas que se repetem. Correspondiam, com isso, ao aprisionamento
da mulher em razão dessas circunstâncias. Novamente, para construir essa realidade
social em seu discurso (PÊCHEUX, 1983, p. 24), termos Iluministas são evidenciados para
tentar desvendar as diferenças, os motivos delas e os questionamentos acerca delas.
Como se lê,
Ora, como esta diferença não é maior entre as almas dos homens e das
mulheres, não se pode dizer que o corpo constitui alguma diferença real nas
almas. Toda sua diferença, pois, vem da educação, do exercício da impressão
dos objetos externos, que nos cercam nas diversas circunstâncias da vida [...]
(FLORESTA, 1833, p. 132).
Como afirmado, as diferenças foram construídas em meados do Brasil
Colonial, quando os portugueses trouxeram consigo a construção familiar em que o
chefe é o homem, porque ele é o superior e o perfeito para gerir essa família, enquanto a
mulher e as crianças obedeciam à autoridade desse chefe (KONKEL; CARDOSO; HOFF,
2005, p. 12). Era um uso de poder pelos homens que evidenciavam que a mulher era um
complemento deles. Isso reforçou a divisão técnica do trabalho material decorrido das
forças produtivas, da manufatura e da modernização da produção, levando à
intensificação da divisão das tarefas na primeira metade do século XIX. O pensamento de
mulher como complemento dos homens brotou no solo da Modernidade. Até o século
XVIII, havia uma outra maneira de conceber os homens e as mulheres, pautando-se no
modelo de sexo único. Nessa concepção, o homem era perfeito por possuir o calor vital,
enquanto a mulher fazia parte do masculino, mas de modo inferior e imperfeito por
possuir menos desse calor.
Com o advento da Revolução Francesa e Iluminismo, o homem passou a ser
compreendido como racional e dotado de luz natural, a ele foi concebida a capacidade
natural de aprender; a mulher não foi considerada racional, que pensava, indagava e
refletia, construindo-se a diferenciação entre os dois sexos (COSTA, 2007, p. 35). Ou
seja, lemos novamente:
[...] Dizem eles, a maior parte de nosso sexo tem bons intervalos, não dúvida,
mas são de pouca duração, são relâmpagos passageiros de razão, que
desvanecem-se rapidamente; somos semelhantes à Lua, que obstante por si
mesma, não brilha senão por uma luz emprestada; não temos mais que um falso
resplendor mais próprio a surpreender a admiração do que a merecê-la; nós
somos inimigas da reflexão; a maior parte de nós pensa senão por acaso, ou por
arrebatamento, e não falta senão por uma rotina. Eis as graves acusações
intentadas contra a maior parte das mulheres. (FLORESTA, 1833, p. 131)
Importante atentar-nos à comparação utilizada por Nísia neste trecho, entre as
mulheres e a Lua. Podemos entender que nesse discurso em específico, ela buscou
construir um objeto simbólico em um objeto discursivo para produzir sentidos
(ORLANDI, 2001, p. 28) dentro da Análise do discurso, para evidenciar as diferenciações
entre os sexos.
Entretanto, mesmo que o pensamento de diferenciação entre os sexos fosse
predominante no Brasil Imperial, a urbanização, ainda que modesta no início do século
XIX (SCHWARCZ; STARLING, 2015, p. 211), levou algumas mulheres brancas e letradas a
questionarem suas devidas posições na sociedade. Começaram a questionar essas
diferenças que haviam se constituído no Brasil, como a própria Nísia. As diferenças
passaram a não ser entendidas e, por consequência, passaram a ser questionadas por
essas mulheres.
Nota-se, portanto, no decorrer do discurso, que referência às outras mulheres
que perceberiam os tratamentos injustos que acabavam cegando-as. Essas mulheres que
enxergariam os tratamentos injustos são denominadas por Nísia como mulheres de bom
senso. Isso correspondia ao desenvolvimento da razão, outro elemento Iluminista que
significava se esclarecer a respeito de um assunto para progredir. (SILVA & SILVA, 2009,
p. 211). A argumentação presente indicava que o progresso salvaria as mulheres após
seus questionamentos na sociedade:
Os homens não podendo negar que nós somos criaturas racionais, querem
provar-nos a sua opinião absurda, e os tratamentos injustos que recebemos,
por uma condescendência cega às suas vontades; eu espero, entretanto, que as
mulheres de bom senso se empenharão em fazer conhecer que elas merecem
um melhor tratamento e não se submeterão servilmente a um orgulho tão mal
fundado. Se não é suficiente ter algumas atenções para com esses entes
orgulhos, é muito pouco ter com eles mais condescendência do que temos pelas
crianças; conservando-se uma certa decência, é preciso servi-los
absolutamente [...] (FLORESTA, 1833, p. 127).
Contudo, não é de apenas servidão, restrição e diferenças que Nísia retrata as
mulheres em seu livro. Ela também retrata as mulheres ativas que poderiam questionar
as situações, mesmo que não viesse a acontecer naquele momento histórico.
Ainda, no decorrer do seu discurso, vemos que a autora buscou utilizar a religião
para evidenciar que as mulheres não eram inferiores aos homens, mas virtuosas de
Deus. O elo entre os seus questionamentos e a religião cristã se deve, em grande medida,
pela força que a instituição representava no Brasil, “conforme a Constituição de 1824,
era a Católica Apostólica Romana, a religião oficial, demonstrando a ausência do Estado
Laico nesse contexto” (CARVALHO, 2002, p. 27).
Apesar do pensamento Iluminista permear a obra, e ser utilizado como forma de
argumentar as capacidades das mulheres, a religião é utilizada para reforçar os retratos
das mulheres virtuosas. Ela utilizou dos elementos pregados pela religião cristã no
contexto e os aplicou, a fim de demonstrar que as mulheres não eram inferiores por
serem mais religiosas que os homens. Ao contrário, isso as tornavam mais virtuosas:
[...] É permitido raciocinar sobre os preceitos divinos, nós poderíamos dar uma
razão que seria em honra e não em desvantagem do nosso sexo. Deus sabe
incontestavelmente a inclinação geral que os homens têm à impiedade e à
irreligião, por conseguinte não devia reservar as funções religiosas a esse sexo
para atrair ao menos uma parte dele aos deveres, para que tem uma oposição
tão geral? Além disso, nosso sexo tendo uma inclinação natural a praticar a
virtude a religião, não era necessário ajuntar mais recursos exteriores à sua
graça divina, para nos atrair a um caminho, para o qual nossos corações nos
conduzem [...] (FLORESTA, 1833, p. 151).
No entanto, a religião é paradoxal quando se trata da História das Mulheres. Se
por um lado a religião impunha poder sobre as mulheres, restringindo-as em vários
segmentos, por outro, significava o poder das mulheres. E tratando-se do “poder sobre
as mulheres, as grandes religiões monoteístas
10
fizeram da diferença entre os sexos e da
desigualdade de valor entre eles um de seus fundamentos” (PERROT, 2006, p. 83). Ou
seja, a hierarquia do masculino e do feminino é concedida pela ordem de uma Natureza
criada por Deus, algo “natural”.
10
Refere-se às religiões com doutrina pautada em um único Deus.
Por outro lado, as mulheres fizeram da religião a base do seu contrapoder e de
sociabilidade. “Os conventos eram lugares de abandono e de confinamento, mas também
refúgios contra o poder masculino e familiar. Lugares ainda de apropriação do saber e
até mesmo de criação” (PERROT, 2006, p. 84).
Portanto, Nísia soube utilizar uma perspectiva desfavorável às mulheres e aplicá-
la ao favorecimento de seu discurso, por meio de sua ideologia, isso significa que “todo
dizer é ideologicamente marcado. É na língua que a ideologia se materializa. Nas palavras
do sujeito. [...] a língua é o lugar de trabalho da língua e da ideologia” (ORLANDI, 2001, p.
38). Não é apenas uma transmissão, mas também é a construção de sujeitos afetados
pela língua e pela História.
Ainda seguindo esse retrato das mulheres na sociedade imperial brasileira, Nísia
apresenta um outro retrato que desconstrói o único e exclusivo ideal de servidão e
diferenciação: as mulheres como cientistas e educadoras, alterando o texto que passa a
adquirir novos sentidos. O texto passa a enfocar mais o verbo futuro, denotando
ativamente sua ideologia, característico de textos com cunho político (ORLANDI, 2001, p.
43). sia elucidou que, mesmo que diferenças simples sejam inerentes entre os homens
e as mulheres, elas poderiam avançar em vários segmentos que se destinavam ao sexo
masculino. Nas palavras dela:
Ora, não é preciso muito trabalho para provar que nossos órgãos são muito
mais finos e delicados que os dos homens: nisto todo mundo convém; por
consequência, se nós gozamos as mesmas facilidades e se nos permite, como a
eles, entregar-nos ao estudo, não se pode duvidar que nós avançássemos pelo
menos em igual passo, nas ciências e em todos os conhecimentos úteis [...]
(FLORESTA, 1833, p. 133).
Percebe-se que elevada crítica à sociedade do contexto ao tratar-se da
educação, mesmo que a autora representasse uma mulher que tinha adquirido possíveis
potenciais femininos na época, cuja defesa é feita pela autora.
Ao buscar no tempo futuro essa ampliação educacional às mulheres, entende-se
que haviam elevadas dificuldades das mulheres nas ciências e nos conhecimentos úteis.
Não era apenas nas Ciências que as mulheres poderiam demonstrar seus talentos; elas,
ainda, poderiam (e deveriam) demonstrá-los na educação. Logo, o questionamento era:
Por que as mulheres não ensinavam, ao menos, outras mulheres?
Precisamos lembrar que a educação das mulheres era estritamente restringida,
pois ela significava o acesso à crítica e ao pensamento e, se as mulheres a alcançassem
de forma tão elevada, o poderio dos homens seria comprometido. As mulheres da elite
sabiam bordar, costurar, operar algumas contas básicas e recitar orações decoradas,
além de saber tocar piano, mas nada que exigisse adentrar no mundo dos homens. “A
instrução era perigosa, pois poderia colocar em risco o esquema de controle sobre
esposas e filhas. Era melhor que seu apetite intelectual deixasse a desejar; não deveriam
dedicar-se à leitura, nem precisavam escrever” (PRIORE, 2016, p. 288). Ao criticar essa
dificuldade, lemos:
Por estas dificuldades aumentam alguma sutileza ao seu entendimento, ou que a
Natureza lhes tenha dado um gênio mais vivo e penetrante que aos homens, o
certo é que muitas os têm excedido nesse gênero. Com efeito, por que não
seremos tão capazes como eles, de aprender e ensinar ao menos o nosso sexo?
(FLORESTA, 1833, p. 145).
Enquanto Nísia criticava a sociedade, ela se transformava e a própria autora
representava essa transformação (mesmo que minimamente).
Desse modo, outras mulheres também começaram a questionar essa posição. Em
meados de 1830, o preconceito com a educação feminina começava a diminuir de modo
muito lento. As mulheres estavam se abrindo para a cultura europeia, buscando ler
artigos como a Gazeta do Rio de Janeiro e as novelas femininas. Essas, por sua vez,
faziam grande sucesso entre as mulheres da Corte Imperial e se espalhavam para outras
leitoras. Logo, Nísia evidenciou essa transformação na educação feminina quando fez a
devida crítica. Uma mudança certamente tímida e modesta, mas que expandia o que era
ser mulher naquele contexto. “Não demorou muito para as mulheres começarem a se
erguer dessa posição. E nada poderia impedi-las de saber ler” (PRIORE, 2016, p. 289).
Nísia foi além ao evidenciar que as mulheres poderiam preencher cargos tanto na
ciência, como na esfera pública do Estado, e encarou a restrição das mulheres dentro do
espaço público e sua adequação natural ao espaço privado. Essa restrição se explicava
em razão do desprendimento que não era associado às mulheres na época; considerava-
se supostamente ausente no feminino e presente no masculino (ARAÚJO, 2011, p. 8).
Fica evidente que Nísia reforçava a autonomia feminina nesses campos, em meio
à uma sociedade que temia o acesso da mulher a eles (PRIORE, 2016, p. 288). A ideia
advinda com os portugueses de uma estrutura social que a mulher tinha seu próprio
lugar (o privado), e que diferenciava os dois sexos, reforçava-se nesses setores sociais.
Porém, a autora não queria apenas criticar toda a situação, queria ela também que as
mulheres ocupassem verdadeiramente os outros espaços. Lemos o seguinte
Não poderemos tirar dos nossos espíritos e corações as obras de piedade,
pregar, refutar as inovações, conduzir-nos mesmas e aos outros, destruir os
escrúpulos mal fundados e decidir os casos de consciência tão bem como os
mais hábeis casuítas que temos? E digo mais, não ciência, nem cargo público
no Estado, que as mulheres não sejam naturalmente próprias e preenchê-los
tanto como os homens [...] (FLORESTA, 1833, p. 151).
Percebemos que as outras mulheres retratadas por Nísia são aquelas que podem
educar, podem ser cientistas e podem estar em espaços que eram destinados aos
homens. Isso significa que mulheres estavam adentrando nesses campos, mesmo que
de modo indireto.
Ela mesma representava essa mulher letrada, educadora e/ou cientista: ou seja,
uma verdadeira Patrícia. Ao utilizar de sua própria condição social, reforçou a
importância e a necessidade de as mulheres também serem oportunizadas a ensinar. Em
seu discurso, vai se destacando a “textualização do político entendido discursivamente:
as simbolizações das relações de poder presentes no texto” (ORLANDI, 2001, p. 68).
Além disso, algumas mulheres estavam se envolvendo nos assuntos políticos
em meio ao turbilhão de eventos, num contexto imerso em agitações políticas, sociais e
econômicas do período regencial. Schwarcz e Starling (2015, p. 202) afirmam que “a
autonomia era forte, porém, nas Províncias: desfeita a unidade do Império luso-brasileiro
como consequência da ruptura com Lisboa, o debate girava em torno de dois programas
políticos decididamente antagônicos”, os quais incluíam o centralismo da corte por um
lado, e por outro, o autogoverno provincial. Nísia escreveu a sua obra durante as
Regências e a ampla insatisfação popular, emprestando elementos dessa autonomia e
concepções a respeito da política em seus relatos, como a Liberdade e a autonomia.
Diante de todos esses elementos, pode-se ressaltar que as mulheres retratadas
por sia não se restringiam somente àquela que estava enclausurada em casa, as servas
da autoridade masculina. As mulheres retratadas por ela também englobavam as
virtuosas de Deus que poderiam se tornar educadoras e cientistas, assim como ela
própria. Isso, por conseguinte, pluraliza o nosso olhar sobre as mulheres da sociedade
imperial brasileira que Nísia retrata. Não se constrói, com isso, uma história da mulher,
mas a história das mulheres que possuem as suas especificidades nesse universo plural,
evitando-se que caíamos nas generalizações acerca do tema (SOIHET, 1997, p. 416).
No entanto, ao partimos da análise do discurso como ferramenta metodológica,
temos que considerar os possíveis retratos do mundo real no livro escrito de Nísia: não
podemos conceber todo o texto como uma “verdade absoluta”. O discurso de Nísia traz
consigo as construções do sujeito marcados na sua linguagem e, consequentemente, em
seu discurso. Há uma historicidade em cada palavra escrita por ela, levando-nos a
entender que, possivelmente, essas mulheres retratadas por Floresta existiram e, por
esse modo, foram retratadas no seu livro. a construção do mundo real em seu
discurso, trazendo os elementos históricos (PÊCHEUX, 1983, p. 26).
Ressalta-se que, mesmo que a autora evidenciasse a necessidade de a mulher
adentrar em espaços públicos, ela conclui que “[...] de quanto tenho dito até o presente
momento não tem sido com a intenção de revoltar pessoa alguma de meu sexo contra os
homens, nem de transformar a ordem das coisas [...]” (FLORESTA, 1833, p. 161). Essa
consideração de Floresta nos leva a indagar até que ponto sua obra buscava emancipar a
mulher.
De todo modo, Nísia foi uma das primeiras mulheres a iniciar uma reação feminina
brasileira, mesmo que ela não objetivasse criar uma rebelião de mulheres, “[...] para não
criar animosidades ao ambiente que vivia e sofrer críticas contundentes, suas palavras
assim foram amenas o suficiente para poder expor suas ideias” (ITAQY, 2013, p. 41). Sua
obra ainda é considerada um dos marcos do Protofeminismo no Brasil, cuja crítica à
condição social, política e educacional das mulheres na primeira metade do século XIX, é
posta em destaque.
Considerações finais
A História das Mulheres é um campo que está em constantes transformações e
que precisa ser legitimado. Apesar do seu elo com a História do Feminismo, que data
aproximadamente do final do culo XIX e início do XX, pensamentos, obras e autoras
vinham desenvolvendo críticas às sociedades antes da primeira onda feminista, as
protofeministas. Nesse meio, Nísia desenvolveu sua obra envolta às turbulências do
período Regencial Brasileiro.
Seu livro nos evidencia que as mulheres Patrícias não possuíam total liberdade
para estudar, participar da vida pública e científica, servindo aos homens de sua família:
ao pai até se casar, e depois ao seu esposo. Floresta buscou questionar as diferenças
entre os homens e as mulheres, ao indagar o porquê dessas diferenças existirem. O
prejuízo (preconceito) se perpetuava, o costume (cultura) o aprofundava e a servidão
era, em sua maioria, o que predominava naquele contexto. A educação era uma outra
área que as mulheres pouco adentravam e, quando isso acontecia, era diferente do que
ocorria com os homens. Apesar das limitações, a sociedade se transformava e sia
evidenciou as inúmeras diferenças entre o masculino e o feminino no Brasil oitocentista.
Por outro lado, Nísia utilizou uma forma de dominação no contexto e a religião
para argumentar a favor das mulheres. Ao mesmo tempo, quando demonstrou que as
mulheres poderiam adentrar em setores considerados masculinos, representou a tímida
mudança da sociedade (PRIORE, 2016, p. 289). Isso é de suma importância porque nos
faz escrever a História das Mulheres, buscando evitar as generalizações (Soihet, 1997, p.
402). A autora estudada neste artigo evidencia isso: as mulheres não foram vítimas, ou
ficaram simplesmente caladas; algumas puderam questionar, mesmo que representassem
um pequeno grupo naquela sociedade.
Apesar de suas críticas, Nísia não pretendia reformular ou alterar a estrutura
social; não objetivava uma revolução ou colocar os homens contra as mulheres. Ela
possivelmente buscava menos que isso: a liberdade de poder estudar com as mesmas
disciplinas que os homens, ser uma cientista e/ou de poder educar outras mulheres.
Direitos das Mulheres e Injustiça dos Homens concede-nos esses possíveis
retratos das mulheres no período oitocentista. Digamos alguns possíveis retratos
porque, ao tratar-se de um texto inserido na análise do discurso, temos a construção do
imaginário e do real (ORLANDI, 2001, p. 33). Isso entrelaça com as especificidades dos
sujeitos analisados: as mulheres. Nísia não retratou todas as mulheres do Brasil
oitocentista, mas as Patrícias que detinham elevada condição econômica e social no
contexto; e mesmo que não retratadas por Nísia, possivelmente havia mulheres que
desejavam deixar tudo como estava.
Podemos afirmar que os retratos das mulheres no Brasil incluíam mulheres que
conviviam diariamente com o prejuízo (preconceito), o costume (cultura) e a autoridade
dos homens, além da servidão. Isso, por sua vez, era aprofundado e reforçado pela ideia
de diferenciação entre ambos os sexos, a mulher com o espaço privado, a família e o lar;
e o homem com o espaço blico, o gerenciamento das coisas e a autoridade sobre os
membros de sua família.
Por outro lado, Nísia expôs os retratos de mulheres cientistas e educadoras, que
educariam, ao menos, outras mulheres. Aqui, há um contraponto entre esses retratos das
mulheres no Brasil Oitocentista expostos por Nísia, coincidindo com o estudo da História
das Mulheres de Rago (1995), Soihet (1997) e Scott (1995): a importância de não falarmos
em uma única História das Mulheres, mas das Histórias das Mulheres, levando em conta
suas especificidades e entendendo-as como sujeitos históricos ativos e construtivos
Dessa maneira, o Brasil oitocentista era profundamente marcado por construções
sociais trazidas com os portugueses e aplicadas no Brasil Colonial. Essas mesmas
estruturas, que hoje denominamos de patriarcado, foram criticadas ainda na primeira
metade do culo XIX por uma mulher. A fim de legitimarmos esse campo de pesquisa, a
escolha se deu por esse tema, ao demonstrar que sim, houve críticas àquele sistema,
mesmo que ele fosse repressivo e controlador para as mulheres. Mesmo no século
XXI, é certo que elementos da sociedade de Nísia ainda possuem suas marcas em nosso
cotidiano. Marcas profundas que claramente não se originaram de imediato, mas se
construíram durante vários séculos de nossa História.
Fonte
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