Editorial v. 10, n. 02
O desenrolar dos fios que tecem a História:
transformações sociais, resistências políticas e arquivos
presentes
A equipe da revista Faces da História com muito orgulho apresenta o segundo número
de 2023, formado por cinco artigos na seção de dossiê, sete artigos livres, duas notas de
pesquisa, uma resenha e uma homenagem. A presente publicação foi possível pelo trabalho
cuidadoso de nossa equipe editorial, composta pelos discentes do Programa de Pós-
Graduação em História da Unesp; por isso, os agradecimentos e parabenizações iniciais irão
para esses alunos que, em meio a tantas adversidades políticas, sociais e acadêmicas, se
dedicaram a organizar uma edição com debates de grande importância para o saber histórico
e para a Universidade Pública. Em seguida, agradecemos nossos revisores de língua
portuguesa e de língua estrangeira que, de maneira voluntária, contribuíram com um olhar
criterioso e atencioso para com os textos publicados. Por último, é importante agradecer aos
pareceristas que, ao realizarem uma análise pautada pelo imprescindível rigor científico,
possibilitaram a publicação de materiais e reflexões com uma evidente qualidade acadêmica.
Esta edição inicia-se com o Dossiê “Dez anos das Jornadas de Junho de 2013 e as crises
políticas no Brasil republicano”, coordenado pelos historiadores Diego Martins Dória Paulo,
Gabriel Kanaan e Lísia Cariello. Com o objetivo de promover reflexões a respeito das
transformações e crises políticas ocorridas durante o Brasil republicano, o Dossiê tem como
principal enfoque a análise dos acontecimentos relacionados às chamadas “Jornadas de Junho
de 2013”, considerando, sobretudo, as perspectivas, as ações e as demandas dos variados
grupos políticos e sociais que teceram as dinâmicas desse recente evento da história brasileira.
Além disso, o Dossiê possibilitou que fossem discutidas algumas temáticas referentes a outros
períodos da história do Brasil, perpassando, sobremaneira, os problemas políticos que
submeteram a sociedade brasileira ao longo da segunda metade do século XX.
O Dossiê é composto por três artigos que abordam, especificamente, os processos
políticos, sociais e econômicos de junho de 2013, discutindo os embates entre esquerda e
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direita no decorrer da formação das crises que levaram ao enfraquecimento da democracia
liberal, os eventos e as ações que ocasionaram o declínio de tradicionais partidos políticos
brasileiros e as demandas políticas e econômicas que auxiliaram na construção dos variados
movimentos sociais. Os últimos textos, ao analisarem as crises políticas que ocorreram no
Brasil do século XX, debateram, principalmente, as relações e os choques entre grupos e
profissionais do ramo jornalístico com os setores políticos brasileiros, ocasionando a
percepção sobre como mídia e política são duas esferas que, no decorrer de toda a história
brasileira, sempre constituíram um complexo conjunto de relações.
A seção dos artigos livres desta edição está com uma seleção de sete textos que
abrangem múltiplas temáticas, com objetos de estudo que vão desde o final da Idade Média
até os dias atuais. Em O despertar do período moderno: uma síntese analítica e histórica das
tecnologias implementadas nas caravelas (bússola, astrolábio, leme e terceiro mastro), Elvis
Rogerio Paes realiza uma síntese investigativa de como os instrumentos náuticos impactaram
na formação do imaginário europeu na passagem da Idade Média para a Moderna e
viabilizaram o avanço nas navegações ultramarinas a partir do final do século XV.
O segundo artigo da edição, As primeiras tintas negras: O Homem De Côr na História
do Brasil de Pedro Domingos B. Cahapuz, traz uma reflexão acerca de como a imprensa
participou dos debates da época, o jornal O Homem de Côr tornou-se fonte neste texto por
trazer em seu conteúdo denúncias das discriminações raciais no Brasil de 1833.
No mesmo recorte temporal, Jacilene de Lima Leandro com o texto Ave Libertas:
mulheres abolicionistas nos espaços socioculturais do Recife (1884-1888) explora as
características que demarcaram a mobilização antiescravista, com destaque para o
protagonismo feminino no processo do abolicionismo realizado em Pernambuco,
especialmente na cidade de Recife entre 1884 e 1888.
O artigo A pedagogia do corpo: representações da ginástica nas escolas primárias do
Pará (1900-1912), de Mario Allan da Silva Lopes, analisa a história da Educação
Física/Ginástica Escolar na Educação Primária paraense entre os anos de 1900 a 1912. O autor
se debruça sobre os Programas para os Estudos Primários de 1903 e os Programas para a
Educação Primária de 1910 para relacioná-los com as prescrições de José Veríssimo e
evidencia como o ensino de Ginástica Escolar foi voltado para o exercício do corpo de forma
metódica.
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O texto de Ana Laura Galvão Batista, Trabalhador, argentino e peronista: o autor e sua
função no diálogo epistolar do Primeiro Peronismo (1946-1955), tem o propósito de
compreender como a função autor definida por Foucault funciona e se constitui na sociedade
argentina durante o governo populista de Juan Domingo Perón (1946-1955) e como os textos
das cartas fazem referência a ela mais do que ao próprio sujeito empírico que as redigiu.
O texto Ventos favoráveis às contradições: uma análise das composições discursivas e
imagéticas das travestilidades no periódico Lampião da Esquina - RJ (1978-1981) de Gustavo
de Souza Rubbi, analisa as edições do jornal Lampião da Esquina (1978 e 1981) com foco nos
discursos, imagéticos e textuais, que o periódico circulou acerca das travestis.
O último trabalho da seção dos artigos livres é assinado por Mário Jorge de Paiva,
intitulado Análise de caso de representação LGBTI+ na edição DC Pride: Tim Drake special, no
qual explora as representações LGBTI+ contidas em um dos segmentos do compilado DC Pride:
Tim Drake special, de 2022, por meio de uma análise qualitativa do material, visto que há uma
tendência de aumento no número das representações LGBTI+ em gibis de heróis.
Na seção Notas de Pesquisa, foram publicados dois trabalhos que remetem à
resultados de pesquisas realizadas durante a graduação em História. O primeiro, intitulado A
construção das paisagens toponímicas na cartografia luso-brasileira: 1750-1790, de Eduarda
Fernandes Lima, trata da demarcação das fronteiras dos territórios da América do Sul entre
os impérios ibéricos; e o segundo, os Usos e atribuições da memória em capas da Revista
Militia: entre monumentos e a construção da memória coletiva da Fôrça Pública de São Paulo,
de Silvane Ribeiro Gonçalves, analisa a construção da memória da instituição e sua
aproximação com o público.
Contamos ainda com uma resenha de Débora Pinese Frias, do livro Imperialism with
reference to Syria, de Ali Kadri, cujo título é A guerra imperialista na Síria sob a perspectiva
marxista no Sul Global. O objetivo da autora foi levantar discussões sobre as produções
internacionais sobre a Síria, pois o longo conflito que perdura na região gera debates do ponto
de vista político e histórico.
Este número também é composto pela homenagem à historiadora Ana Maria Martinez
Corrêa, que faleceu em agosto de 2023, escrita por Rodrigo Fukuhara e Carolina Domingos
Barbosa Monteiro, historiógrafos do Centro de Documentação e Apoio à Pesquisa (CEDAP),
instituição que existe graças aos esforços da homenageada quando esta era docente da
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Faculdade de Ciências e Letras da Unesp campus de Assis. Não podemos deixar de citar os
nomes de Heloísa Liberalli Bellotto e de Ana Maria de Almeida Camargo, que também
faleceram neste ano, juntas elas produziram o Dicionário de Terminologia Arquivística (2012),
obra imprescindível para os estudos arquivísticos brasileiros. Essas pensadoras e especialistas
da arquivologia marcaram seus nomes nas diferentes instituições em que atuaram ao longo
de suas vidas com seu conhecimento, disposição e generosidade.
Aproveitamos a ocasião para lamentar e enaltecer os nomes e José Murilo de Carvalho
e Alberto Vasconcellos da Costa e Silva, importantes historiadores que enriqueceram a
historiografia brasileira com obras universais, como a A enxada e a lança: A África antes dos
portugueses (1992), de Costa e Silva, e A formação das almas: o imaginário da República no
Brasil (1990), de Carvalho. Os dois ocuparam cadeiras na Academia Brasileira de Letras, um
reconhecimento do importante trabalho realizado pelos historiadores.
Por fim, gostaríamos de felicitar todos os autores que contribuíram para a formação
deste último número de 2023. Desejamos a todos boas festas e boa leitura!
Referências
CAMARGO, Ana Maria de Almeida; BELLOTTO, Heloísa Liberalli. Dicionário de terminologia
arquivística. 3 ed. São Paulo: Associação de Arquivistas de São Paulo, 2012.
CARVALHO, José Murilo de. A formação das almas: o imaginário da República no Brasil. São
Paulo: Companhia das Letras, 1990.
COSTA E SILVA, Alberto da. A enxada e a lança. A África antes dos portugueses. Editora Nova
Fronteira, Rio de Janeiro, 1992.
Aline de Jesus Nascimento
https://orcid.org/0000-0002-0094-8550
Andresa Poleis Brollo
https://orcid.org/0000-0002-3439-9107
Vinicius Sales Barbosa
https://orcid.org/0000-0002-1073-6869
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