Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 21-45, jan./jun., 2025
Jornal de Notícias e Pequeno Jornal. Encontramos nesse material não apenas as breves
notícias, mas artigos de opinião, depoimentos, queixas, reclamações, imagens, ilustrações,
charges, cartas, fragmentos de requerimentos e ofícios jurídicos, dentre outros elementos
que nos possibilitam a construção de uma pesquisa crítica e reflexiva.
Sabemos que a linguagem da imprensa se constituiu por uma perspectiva racista, que
estereotipava e criminalizava os trabalhos, hábitos e posturas da população negra de
Salvador (Reis, 2000). Com efeito, trata-se da linguagem dominante (Losurdo, 2010). Isso nos
exige uma análise do discurso, mas também uma leitura a contrapelo da visão que se tentava
construir concernente aos segmentos das classes populares: grupos que estariam
caminhando na contramão da ordem, da civilização, da higiene e do progresso, por isso
deveriam ser monitorados, controlados e reprimidos (Leite, 1996).
É lícito, então, que levemos em consideração as observações feitas por Petrônio
Domingues atinente ao Protagonismo negro. Para refletir sobre a postura do negro após a
abolição, o autor observou que, desde as vésperas do 13 de maio e no decorrer do século XX,
muitos intelectuais, inclusive de perspectivas antagônicas – seja por uma visão abertamente
racista, seja por abraçar a linguagem dominante –, acabaram por apresentar os afro-
brasileiros no sentido do “atraso”: aqueles indivíduos que teriam uma inclinação genética e
cultural ao crime e ao alcoolismo; sujeitos aversos ao progresso e à civilização. Domingues
criticou a “abordagem no plano do ‘devia ser’, na direção da normatização” e que subestima
e não apreende “a capacidade de autodeterminação dos negros, bem como os significados
polissêmicos das diferentes experiências históricas” (Domingues, 2019, p. 9-16). O historiador
enfatiza que, mesmo em condições desfavoráveis, os negros procuraram “elaborar e
reelaborar seus próprios mecanismos de sociabilidade, política, cultura e lazer, a partir de
distintas racionalidades, lógicas e possibilidades”. Somos chamados, portanto, a uma análise
mais crítica, a partir do ponto de vista mais plural e analítico, na qual o negro é considerado o
“principal protagonista de sua história e, ao mesmo tempo, como sujeito histórico, que
contribuiu para a produção de narrativas” (Domingues, 2019, p. 121).
I
Há muito os historiadores têm dado grande atenção à imprensa brasileira, sobretudo
entre a segunda metade do século XIX e a primeira do XX. A partir de múltiplas perspectivas e
metodologias e com enfoques distintos, os pesquisadores apontam a atuação (através) da