Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 294-299, jan./jun., 2025
mesmo que por ser um livro de ensaios, muitos publicados em locais e momentos diferentes,
possua uma série de redundâncias e questões do gênero.
Escritos de um viado vermelho é um livro de ensaios, como dito, que aborda diversos
temas envolvendo o Brasil e a defesa da comunidade LGBTQIAPN+. É algo ingrato fazer uma
resenha de um livro de quase 600 páginas, então aqui, infelizmente, não poderemos trabalhar
todos os textos profundamente, dando maior enfoque aos ensaios que nos soaram principais.
A introdução e o primeiro ensaio, Abaixo a repressão, mais amor e mais tesão, fala
sobre como, de forma inusitada, um americano terminou se envolvendo politicamente com
os movimentos de libertação da América Latina, por ser de esquerda, e sobre suas dificuldades
de conciliar lutas pelo movimento LGBTQIAPN+ e os grupos de esquerda, afinal, como é
frisado, vários movimentos, marxistas, socialistas etc., eram contra os gays. Se o ideal
revolucionário era Che Guevara, os gays eram vistos como fracos e efeminados (Green, 2024,
p. 44). Tal parte do livro fala igualmente sobre o jornal Lampião de Esquina, o Grupo Somos,
a importância de João S. Trevisan para o movimento (e o desentendimento entre Trevisan e
Green), a formação do Grupo de Ação Lésbica-Feminista e a longa vida do Grupo Gay da Bahia.
O segundo texto dessa primeira parte, Legado do passado do Brasil, nos soa como o
ensaio mais fraco do livro. Em umas 30 páginas, o autor tenta recontar, do ponto de vista
político, econômico e social, a história do Brasil, dando ênfase a certos elementos que ele
considera que cruzaram o tempo, como um Poder Executivo forte, força da liderança
carismática, influência do Exército em questões políticas, etc. Assim sendo, uma série de
questões ou eventos importantes são tratados de formas muito breves ou não são tratados.
Certas bibliografias extras poderiam ter sido usadas aqui, para enriquecer tais análises, desde
as obras políticas e econômicas de Baer (2009), Giambiagi et al. (2011), Eduardo Raposo
(2011), Vladimir Safatle (2022) e Jairo Nicolau (2020), passando por textos que aprofundaram
mais acerca das discussões raciais no país, como no caso do pioneiro trabalho de Florestan
Fernandes (2008) ou mesmo uma leitura mais densa de Gilberto Freyre (2006, 2009), até
chegarmos aos textos recentes sobre a nova direita brasileira, ver Cassimiro & Lynch (2022),
Castro Rocha (2023), Camila Rocha (2021) e mesmo nossos artigos sobre o tema (cf. Paiva,
2021, 2024; Azevedo; Paiva, 2022).
Já o ensaio Vozes lésbicas e o feminismo radical no “movimento homossexual”
brasileiro dos anos 1970 e início dos anos 1980 destaca-se por estar centrado na questão das