Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 289-293, jan./jun., 2025
uma reorganização profunda da economia global, que remete ao feudalismo. Sua tese central
é que a extração de valor no capitalismo digital se dá por meio do controle de plataformas e
da apropriação do conhecimento, desafiando as categorias clássicas da economia política.
O autor estrutura sua análise em torno de quatro eixos principais: a ideologia
californiana, o domínio digital, a renda dos intangíveis e a consolidação do tecno-feudalismo.
Ao tratar da chamada ideologia californiana, Durand evidencia a fusão paradoxal entre a
contracultura e o neoliberalismo, que fomenta a crença na tecnologia como instrumento
natural de emancipação. No entanto, argumenta que essa narrativa serve sobretudo para
ocultar a crescente concentração de poder e riqueza em torno de poucas corporações.
Quando discute a “renda dos intangíveis”, Durand se refere a formas específicas de
apropriação de valor que não dependem diretamente da produção material, mas do controle
de ativos imateriais como softwares, algoritmos, marcas, bases de dados e redes. Tais ativos
— por serem não rivais e de fácil replicação — permitem retornos crescentes e tendem à
monopolização. Essa dinâmica, intensificada pelas plataformas digitais, gera quatro formas
principais de renda: a renda legal, baseada em direitos de propriedade intelectual; a renda de
monopólio natural, ligada ao domínio de funções centrais em cadeias globais; a renda
diferencial, proveniente das vantagens de escala dos ativos digitais; e a renda de inovação,
que resulta da centralização e uso estratégico dos dados. Em conjunto, esses mecanismos
expressam uma lógica de captura e dependência que se aproxima mais da pilhagem do que
da produção — uma economia de predação que sustenta a estrutura do tecno-feudalismo.
No que concerne ao domínio digital, Durand estabelece um paralelo com a estrutura
feudal, argumentando que empresas como Google, Amazon, Meta e Apple se comportam
como novos senhores digitais, apropriando-se da infraestrutura tecnológica e convertendo
dados em capital. Essas corporações detêm o controle sobre as redes digitais, organizando
não apenas os fluxos econômicos, mas também a dinâmica social e cultural de vastas parcelas
da população conectada.
A questão da renda dos intangíveis é central para a explicação do fenômeno. O autor
demonstra como ativos imateriais — como patentes, algoritmos, redes de usuários, softwares
e marcas — tornam-se formas estratégicas de extração de valor. Esses ativos não possuem
materialidade física, mas sua posse e controle garantem posições privilegiadas no mercado.
Essa dinâmica fortalece monopólios e limita a concorrência, o que compromete o dinamismo