Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 13-16, jan./jun., 2025
13
Ideários, atores e figurações:
rupturas e continuidades na História
Mantendo o compromisso de difundir ideias e propiciar o desenvolvimento do
conhecimento histórico, a equipe da revista Faces da História tem o prazer de divulgar à
comunidade acadêmica a publicação do v.12, n.1 (jan./jun.), composta por cinco artigos de
Dossiê, seis textos na seção de Artigos Livres, uma Nota de Pesquisa e duas Resenhas.
Nesta edição, apresentamos a segunda parte do dossiê “Ideologias e projetos
políticos no Brasil republicano: debates sobre Raça, Conservadorismo e a Nova República”,
organizado por Fabrício Ferreira de Medeiros (Doutorando em História - PPGH-UFF); Vivian
Zampa (Docente do PPGH-UNIVERSO e do CAp UERJ) e Edvaldo Corrêa Sotana (Docente do
PPGHIS-UFMT), aos quais manifestamos o nosso agradecimento. Os manuscritos que
compõem esta coletânea abordam temas importantes e sensíveis da história política
brasileira e, desta forma, contribuem de forma significativa para o debate historiográfico
sobre o Brasil republicano. Embora a sociedade muitas vezes tenha os seus motivos para
optar pelo silêncio (Aarão Reis Filho, 2014), cabe aos historiadores a análise dos atores
sociais e os seus interesses, possibilitando assim uma maior compreensão sobre as
mudanças políticas ocorridas no país ao longo dos últimos anos (Viscardi; Perlatto, 2018).
Sendo assim, recomendamos a leitura da apresentação do dossiê redigida pelos
coordenadores, que traz interessantes reflexões sobre as formações, transformações e
permanências de ideologias e projetos políticos na República do Brasil.
Para além do dossiê, a seção de Artigos Livres da presente edição conta com seis
artigos que exploram diferentes temáticas a partir de distintas perspectivas de análise. Em O
feminino no teatro de Plauto: crítica à sociedade e política da República Romana na comédia
O Mercador, de Lais Felippe Lucon, somos contemplados com uma discussão acerca da
presença das personagens femininas de Plauto na obra em análise, interpretadas enquanto
críticas ao arranjo social vigente na República Romana. A partir de uma perspectiva de
gênero, a autora nos mostra o modo com o qual as posições e diálogos travados pelas
Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 13-16, jan./jun., 2025
14
personagens na obra O Mercador, de Plauto, são dissonantes quando lidos em contraponto
à ordem social romana do período, transformando o discurso teatral em uma profunda
arena política.
O segundo artigo, intitulado “Amores profanos” no sacramento da confissão: o delito
inquisitorial de solicitação (século XVIII), é de autoria de Sabrina Alves Silva. O artigo discute,
a partir da chave metodológica da micro-história, as denúncias contra sacerdotes acusados
de assédio amoroso ou sexual no ambiente do confessionário, local de ordem sagrada para o
catolicismo, mas que, tanto na colônia como na Metrópole do século XVIII, podiam se
transformar em locais de atos libidinosos entre padres e penitentes.
Compartilhando de um recorte temporal próximo ao artigo anterior, o terceiro artigo
é O sesmeiro Cosme de Abreu Maciel no processo de colonização e territorialização da
Ribeira do Seridó Potiguar (século XVIII): do Rossaurubu à Florânia, de Arlan Leite. O autor se
utiliza de metodologias diversas (biografia, método genealógico, territorialização, entre
outros) para analisar a figura do sesmeiro Cosme de Abreu Maciel (1708-1790), cujo
processo de territorialização de Ribeira do Seridó Potiguar, do qual ele fez parte, vai
culminar na fundação do município de Florânia.
Dando sequência à seção, Laura Beatriz Alves de Oliveira aborda o conceito de
Amefricanidade, proposto por Lélia Gonzalez, em Amefricanidade como forma de superação
da colonialidade e afirmação de identidades afrodescendentes. Por meio da articulação da
perspectiva decolonial em autores como Aníbal Quijano, Walter Mignolo e Breny Mendoza,
a autora propõe analisar o dispositivo da Amefricanidade enquanto instrumento
desestabilizador das estruturas eurocêntricas do saber, poder e subjetividade, permitindo a
materialização de diferentes lutas pela divulgação, legalização e promoção de práticas
culturais e sociais de matriz africana, como a luta pela legalização do candomblé e a
implementação da Lei 10.639/03.
O artigo de Weslley dos Santos Graper, intitulado Os integralistas de Santa Catarina e
a sucessão estadual de 1939, mapeia a articulação entre os integralistas para as eleições de
1938 e de 1939 por meio dos artigos encontrados no jornal A Notícia. Frente à possibilidade
de uma vitória encabeçada pelos partidários da AIB (Ação Integralista Brasileira), o autor
observa uma onda de temor crescente dentro do comitê editorial do jornal em análise.
O sexto e último artigo desta seção trata dos critérios e mecanismos eugênicos que
subsidiavam a política imigratória do Brasil após a Segunda Guerra Mundial. Trata-se do
Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 13-16, jan./jun., 2025
15
artigo Imigração e eugenia no pós-Segunda Guerra Mundial: práticas eugênicas na política
imigratória brasileira (1946-1955), sob autoria de Amanda Pereira dos Santos. Deslocando-
se pelas rupturas e continuidades dos pressupostos eugênicos, a autora demonstra o núcleo
eugenista persistente na política imigratória brasileira desde os anos 1930, nas atividades
vinculadas ao Instituto Nacional de Imigração e Colonização e nos serviços destinados ao
processo seletivo de imigrantes na Europa do pós-guerra.
Na seção Notas de Pesquisa, contamos com o texto de lia Rovida de Oliveira
Ramos, intitulado Santificação pela penitência: análise comparativa das representações de
sofrimento a partir de perspectivas de gênero nas hagiografias de Venâncio Fortunato e
Baudonivia (sécs. VI e VII). Este trabalho, fruto de resultados da pesquisa de iniciação
científica da autora, busca investigar e discutir se presença de marcações de gênero a
partir da análise de duas hagiografias alto-medievais sobre Santa Radegunda de Poitiers,
com o uso de metodologia comparativa, considerando a diferença de gênero dos autores.
Fechando esta edição, contamos com duas resenhas. Na primeira, com o título Crítica
da Economia Digital: Uma Análise do Tecno-Feudalismo, o autor Pedro Eurico Rodrigues
analisa o livro Techno-féodalisme: Critique de l'économie numérique, escrito por Cédric
Durand e publicado em 2020, o qual traz valiosas contribuições a partir de densa e inovadora
interpretação sobre a ascensão das grandes corporações tecnológicas e a sua influência na
economia contemporânea.
Por fim, a resenha Escritos de um viado vermelho, redigida pelos autores Mário Jorge
de Paiva e Gustavo Cravo de Azevedo, nos apresenta a obra, publicada em 2024, Escritos de
um viado vermelho: política, sexualidade, solidariedade, importante contribuição de James
Green que aborda diversos temas envolvendo o Brasil e a defesa da comunidade
LGBTQIAPN+.
Em nome do Conselho Editorial da Faces da História, agradecemos e parabenizamos
os autores, que, através das suas reflexões, contribuíram para a produção e socialização do
conhecimento junto à sociedade.
A publicação destes trabalhos, com uma diversidade de recortes, temas e abordagens
de autores e autoras, é resultado do comprometimento da Faces da História com a pesquisa
acadêmica, gratuita e de qualidade. Sendo assim, é sempre importante reforçar que este
periódico é mantido, realizado e idealizado pelos discentes do Programa de Pós-Graduação
em História da UNESP, de forma voluntária e tem como objetivo oferecer para seus
Faces da História, Assis/SP, v. 12, n. 1, p. 13-16, jan./jun., 2025
16
membros um espaço de experiência pedagógica e editorial que formará quadros
especializados na publicação do conhecimento científico.
Por último e não menos importante, faz-se necessário um agradecimento especial a
todos os envolvidos na elaboração desta edição. Assim, expressamos a nossa gratidão a
todos os membros do Conselho Editorial, aos pareceristas, aos revisores de língua
estrangeira e gramatical. Graças à colaboração e empenho de vocês, essa publicação foi
possível.
Finalmente, convidamos todos a lerem esta edição e a contribuírem em futuras
publicações da revista Faces da História.
Desejamos uma boa leitura!
Gabriel Lopes
https://orcid.org/0000-0001-9840-7711
Jéssica da Costa Minati Moraes
https://orcid.org/0000-0003-2981-0472
Pedro Henrique Victorasso
https://orcid.org/0000-0002-8154-3378
Referências
AARÃO REIS, Daniel. Modernização, ditadura e democracia: 1964-2010. Rio de Janeiro:
Objetiva, 2014. v. 5.
VISCARDI, Cláudia; PERLATTO, Fernando. Cidadania no tempo presente. In: FERREIRA, Jorge;
DELGADO, Lucília A. (orgs). O Brasil Republicano o tempo da transição democrática à crise
política de 2016: Quinta República (1985-2016). v. 5. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2018. v. 5. p. 447-477.