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Apresentação
Ideologias e projetos políticos no Brasil Republicano: debates
sobre Raça, Conservadorismo e a Nova República
O presente dossiê reúne artigos que examinam fundamentos, aproximações e
conflitos voltados a ideologias e a projetos políticos no Brasil republicano, a partir de
diferentes contextos e abordagens. De modo geral, as reflexões partem da compreensão de
que a política não se esgota nas instituições formais (Rémond, 2003), mas se articula
também às práticas sociais, aos discursos, às representações e às disputas simbólicas, que
entremearam e entremeiam a sociedade.
A trajetória do Brasil republicano é atravessada, direta e indiretamente, por
ideologias e projetos políticos marcados pelo conservadorismo e pelo progressismo. De
forma direta, tais traços se manifestaram em poucos momentos de experiências
democráticas e os de supressão ou mesmo da sua completa eliminação. Estes últimos
sedimentaram legados autoritários que se projetaram, dentre outros, em discursos
negacionistas e de defesa da interrupção de práticas e/ou de instituições democráticas
(Medeiros, 2023; Sotana, 2018; Zampa, 2018).
Considerando esse processo, a abordagem dos autores que integram o Dossiê dialoga
com interpretações que compreendem a política tensionada por interesses de classe, por
diferentes concepções de nação e por distintos modelos de sociedade. Sob esta mesma
orientação, cabe assinalar que, diante de desafios contemporâneos como a radicalização
política, a crise democrática e a reatualização de pensamentos autoritários e da extrema
direita (Maia, 2023; Teixeira da Silva; Schurster, 2022), o debate sobre as ideologias e os
projetos políticos no Brasil, envoltos em traços pontuais e estruturais, se mostra
especialmente relevante.
A partir dessas perspectivas, o Dossiê é aberto com o artigo “Crime, raça e cidadania:
a tensão em torno de direitos por meio da imprensa em Salvador durante a Primeira
República (1890-1930)”, escrito por Osnan Silva de Souza. O texto discute as tensões entre
crime, raça e cidadania em Salvador, demonstrando como segmentos negros das camadas
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populares utilizaram a imprensa como arena de resistência e disputa de narrativas frente às
práticas repressivas e racistas do Estado.
Na sequência, Fábio de Brito Rezende no artigo “Embranquecer para civilizar:
ideologias racistas na Belle Époque carioca” analisa as ideologias racistas nestes recortes, de
modo a demonstrar como os discursos vinculados ao branqueamento e à higienização
urbana foram mobilizados para justificar projetos de modernização excludentes, que
moldaram a urbanidade e as relações raciais na capital do período.
Marina Olinda Calori de Lion em “Projeto político udenista para o Brasil no contexto
histórico da Guerra Fria (1945-1964)”, por sua vez, destaca como a União Democrática
Nacional (UDN) se alinhou aos interesses do capital internacional, ao defender, dentre
outros, um modelo econômico liberalizante, conservador e excludente, distante das
demandas populares.
Em uma outra dimensão, no artigo “A gênese da redemocratização no Brasil: a
contribuição da Comissão Trilateral e do cientista político Samuel Huntington (1972-1974)”,
Pedro Henrique da Silva Oriola Cardoso examina a influência da Comissão Trilateral e de
Huntington no contexto da transição da ditadura militar para a democracia no Brasil, de
modo a refletir sobre os condicionantes internacionais e internos desse processo.
Fechando o Dossiê, em um recorte temporal mais recente, Cibele da Silva Andrade no
artigo “Democracia como experimento: projetos de Brasil por meio da escrita ordinária”
apresenta um estudo sobre as cartas populares enviadas à Assembleia Constituinte de 1988,
verificando como homens e mulheres comuns, especialmente no Nordeste, mobilizaram
expectativas, desejos e projetos de futuro no contexto da redemocratização, de forma a
contribuir com a construção de uma democracia que se pretendia mais inclusiva.
Ao articular diferentes abordagens, sujeitos e temporalidades de finais do século XIX
e do século XX no Brasil, o dossiê busca contribuir para a reflexão sobre as formações,
transformações e permanências de determinadas ideologias e projetos políticos no país. Em
linhas gerais, os artigos demonstram que eles não são construções abstratas, na medida em
que se projetaram em experiências, em embates sociais e em dinâmicas do poder, em
diferentes momentos da história brasileira.
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Fabrício Ferreira de Medeiros
Doutorando em História (PPGH-UFF)
fabricio.f.medeiros@hotmail.com
Vivian Zampa
Doutora em História Política
Docente do PPGH-UNIVERSO e do CAp UERJ
vivianzampa@hotmail.com
Edvaldo Corrêa Sotana
Doutor em História
Docente do PPGHIS-UFMT
edsotana11@gmail.com
Referências
MAIA, Tatyana de Amaral. Negacionismo histórico e emergência da extrema direita. Varia
História, Belo Horizonte, v. 39, n. 81, e23312, set./dez. 2023. Disponível em:
https://www.scielo.br/j/vh/a/6vDzdFVMV3dGHktNVZMBFNp/?format=pdf. Acesso em 20 de
setembro de 2024.
MEDEIROS, Fabrício Ferreira de. O Poder das Ideias e o liberalismo conservador de Carlos
Lacerda. Revista Crítica Histórica, v. 14, p. 248-274, 2023. Disponível em:
https://www.seer.ufal.br/index.php/criticahistorica/article/view/15083/10755. Acesso em
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RÉMOND, René [Dir.]. Por uma história política. Tradução Dora Rocha. 2 ed. Rio de Janeiro:
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SOTANA, E. C. João Goulart nas páginas d´O Estado de Mato Grosso (1961-1964). Tempo e
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Acesso em: 17 de maio de 2025.
TEIXEIRA DA SILVA, Francisco Carlos; SCHURSTER, Karl (orgs.). A República sitiada: militares e
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ZAMPA, Vivian. Efemérides e discursos políticos nos Boletins da Polícia Militar do Rio de
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https://www.e-publicacoes.uerj.br/intellectus/article/view/38977/27627. Acesso em: 05 de
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