ACERVOS PESSOAIS E MEMÓRIA COLETIVA

ALGUNS ELEMENTOS DE REFLEXÃO

Autores

Resumo

Poucos meses antes de sua deportação para o campo de Buchenwald, onde faleceria, o sociólogo francês Maurice Halbwachs pretendia publicar uma síntese em torno do seu principal eixo de reflexão: a memória coletiva. Tratava-se de precisar o papel da mesma na configuração das sociedades modernas. Segundo Halbwachs, a memória coletiva só poderá ser revelada por meio do estudo dos «arquivos coletivos», aspecto que, entretanto, só abordou de modo implícito. Eu definiria este termo de maneira ampla, ou seja, os documentos – escritos, orais e também os gestuais – e os monumentos ou espaços, objetos de apropriação coletiva por parte de um grupo, uma comunidade, uma nação. No entanto, será que este laço entre «memória coletiva» e «arquivos públicos» é assim tão nítido? Será que um único indivíduo com uma experiência singular também não poderia revelar aspectos da memória coletiva?
Sem recorrer a casos tão extremos, vale questionar em que medida os acervos pessoais, tão procurados pelos historiadores por sua capacidade de revelar as sensibilidades de uma pessoa e, por extensão, de um grupo, poderiam colaborar para a obtenção de um entendimento mais agudo dos fenômenos de memória coletiva. Como nasce, inventa-se ou se desfaz a memória coletiva que, tal como a tradição, também é uma invenção? Eis algumas questões que gostaríamos de discutir nesta conferência.

Biografia do Autor

Laurent Vidal, Universidade Estadual Paulista UNESP

Formado em ciência política pelo Institut d'Etudes Politiques de Grenoble (1984-1987), possui licenciatura e mestrado em história - Université de Grenoble II (1987-90), e doutorado em história - Université de Paris III (Sorbonne-Nouvelle) (1995). Possui "Habilitation à Diriger des Recherches" em história (EHESS - 2005). Atualmente é professor (Classe Excepcional) de história contemporânea da universidade de La Rochelle (Faculté des Lettres Langues, Art et Sciences Humaines - FLASH) e diretor de pesquisa em história do Brasil no "Institut des Hautes Études de l'Amérique Latine" (Université de Paris III Sorbonne Nouvelle). É diretor-adjunto do "Centre de Recherche en Histoire Internationale et Atlantique", que reúne 50 pesquisadores das universidades de Nantes e La Rochelle e 100 doutorandos. Foi diretor da pós-graduação em história da universidade de La Rochelle (Relations Internationales et Histoire du monde Atlantique) entre 2007 e 2013. 

Referências

AMIEL, Henri-Frédéric. Du Journal intime. Bruxelles: Éditions Complexe, 1987.

BLANCHARD, Pascal; BANCEL, Nicolas; LEMAIRE, Sandrine (dir.). La fracture coloniale: la société française au prisme de l’héritage colonial. Paris: La Découverte, 2005.

BLOCH, Marc. Mémoire collective, tradition et coutume. À propos d’un livre récent. Revue de synthèse, t. XL, déc. 1925, p. 73-83.

BORGES, Jorge Luis. Funes el Memorioso. In: _____. Ficciones. Buenos Aires, 1944.

GINZBURG, Carlo. L’historien et l’avocat du diable: entretien avec ILLOUZ, Charles et VIDAL, Laurent. Genèses, n. 53, déc. 2003, p. 113–148; n. 54, mars 2004, p. 112-129.

HALBWACHS, Maurice. La mémoire collective. Paris: PUF, 1950.

HALBWACHS, Maurice. Les cadres sociaux de la mémoire. Paris: Félix Alcan, 1925.

HOMÈRE. Illiade, Odyssée. Paris: Gallimard, Pléiade, 1955.

KERTÉSZ, Imre. Être sans destin. Paris: Actes Sud, 1998.

LÉVI, Primo. Les naufragés et les rescapés: quarante ans après Auschwitz. Paris: Gallimard, 1989.

LORAUX, Nicole. La cité divisée: l’oubli dans la mémoire d’Athènes. Paris: Payot, 1997.

NORA, Pierre. Les lieux de Mémoire. Paris: Gallimard, Coll. Bibliothèque illustrée des histoires, 3 tomes, 1984-1992.

POLLAK, Michael. Memória, esquecimento, silêncio. Estudos Históricos, Rio de Janeiro, v. 2, n. 3, 1989, p. 3-15.

PROUST, Marcel. À la recherche du temps perdu. Paris: Gallimard, Coll. La Pléiade, 3 v.

ROUSSO, Henry. Vichy: l’événement, la mémoire, l’histoire. Paris: Gallimard, 2001.

Downloads

Publicado

30-05-2007

Como Citar

Vidal, L. (2007). ACERVOS PESSOAIS E MEMÓRIA COLETIVA: ALGUNS ELEMENTOS DE REFLEXÃO. Patrimônio E Memória, 3(1), 3–13. Recuperado de http://seer.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/3942