ACERVOS PESSOAIS E MEMÓRIA COLETIVA
ALGUNS ELEMENTOS DE REFLEXÃO
Resumo
Poucos meses antes de sua deportação para o campo de Buchenwald, onde faleceria, o sociólogo francês Maurice Halbwachs pretendia publicar uma síntese em torno do seu principal eixo de reflexão: a memória coletiva. Tratava-se de precisar o papel da mesma na configuração das sociedades modernas. Segundo Halbwachs, a memória coletiva só poderá ser revelada por meio do estudo dos «arquivos coletivos», aspecto que, entretanto, só abordou de modo implícito. Eu definiria este termo de maneira ampla, ou seja, os documentos – escritos, orais e também os gestuais – e os monumentos ou espaços, objetos de apropriação coletiva por parte de um grupo, uma comunidade, uma nação. No entanto, será que este laço entre «memória coletiva» e «arquivos públicos» é assim tão nítido? Será que um único indivíduo com uma experiência singular também não poderia revelar aspectos da memória coletiva?
Sem recorrer a casos tão extremos, vale questionar em que medida os acervos pessoais, tão procurados pelos historiadores por sua capacidade de revelar as sensibilidades de uma pessoa e, por extensão, de um grupo, poderiam colaborar para a obtenção de um entendimento mais agudo dos fenômenos de memória coletiva. Como nasce, inventa-se ou se desfaz a memória coletiva que, tal como a tradição, também é uma invenção? Eis algumas questões que gostaríamos de discutir nesta conferência.
Referências
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