ESPIANDO DE SOSLAIO
O OLHAR DA SENZALA AO RÉS-DO-ALPENDRE
DOI:
https://doi.org/10.5016/msc.v21i0.23Palavras-chave:
Carolina; Diário de Bitita; Mucambo; Memória narrativa.Resumo
Para fins de análise, julgamos que, em Diário de Bitita, é descrita a experiência de vida levada longe da sombra do alpendre3, expressão que se consagrou a partir da publicação da obra Casa-Grande & Senzala do ensaísta brasileiro Gilberto Freyre, no ano de 1933. A intenção de se fazer referência a essa obra icônica da formação da cultura brasileira está no fato de que a ideia de uma pretensa democracia racial, ainda vigora nos campos da ideologia nacional, fortalecendo a figura do homem branco como herói civilizador. Acreditamos que em Diário de Bitita (1986) de Carolina Maria de Jesus se verifique uma nova perspectiva. A observação que pretendemos averiguar nessa obra se fixa em instaurar o ponto de vista da senzala, do mucambo, da choça, do terreiro e de seus sobreviventes tomados em espaços significativos nos quais se dinamizavam outras vivências, que em geral não foram reverenciadas por narrativas legitimadas pela cultura nacional. Nessas memórias narrativas o objetivo é adotar a perspectiva do elemento negro, tomado como sujeito da enunciação, buscando uma discussão com o pensamento de Gilberto Freyre, a partir da interlocução estabelecida por Roberto DaMatta. O intuito dessa análise reforça a ideia de que o pensamento freyreano é absorvido de forma acintosa pela cultura e ideologia nacionais, mesmo muito tempo depois de sua publicação.