"Escrava que fui, deixo esse meu testamento"

alforrias em Belém na segunda metade do século XIX

Autores

  • Debora Linhares da Silva UFC
  • José Maia Bezerra Neto UFPA

Palavras-chave:

escravidão negra; alforria; liberdade; testamento

Resumo

Este artigo realiza uma breve análise dos processos de alforria ocorridos na cidade de Belém/PA entre 1850 e 1880. Para cumprir essa tarefa, propomos um diálogo entre a obra O Cortiço(1890), de Aluísio Azevedo, o livro Um Naturalista no Rio Amazonas(1848), de Henry Walter Bates, e os documentos pesquisados no Arquivo Público do Estado do Pará e no Arquivo do Tribunal de Justiça do Estado do Pará. Ademais, objetivamos os aspectos relevantes no que se refere ao “domínio senhorial” e às diferentes estratégias utilizadas pelos escravos para conseguirem suas alforrias. Além da tessitura entre as diferentes fontes documentais, o diálogo com algumas pesquisas realizadas em Belém (PA) e com as obras literárias mencionadas evidenciam numerosos matizes e peculiaridades da temática da escravidão negra no Brasil. A partir desse cenário é possível vislumbrar as diferentes modalidades de alforria, além de demonstrar como ex-escravas(os) conseguiram adquirir bens, alforriaram parentes e pessoas próximas e tiveram condições de deixar herança, circunstâncias que revelam o lugar histórico-social de “escravo que fui”. 

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Publicado

2019-06-21

Como Citar

LINHARES DA SILVA, Debora; BEZERRA NETO, José Maia. "Escrava que fui, deixo esse meu testamento": alforrias em Belém na segunda metade do século XIX. Faces da História, [S. l.], v. 6, n. 1, p. 12–38, 2019. Disponível em: https://seer.assis.unesp.br/index.php/facesdahistoria/article/view/1207. Acesso em: 29 mar. 2024.