Estratégias das primeiras psiquiatras brasileiras na consolidação de suas carreiras

a centralidade da psicanálise para o avanço profissional (1941-1970)

Autores

Palavras-chave:

Mulheres psiquiatras, Psicanálise, Psiquiatria, Paradigmas, Jornais, Carreiras

Resumo

O artigo propõe analisar as seleções teóricas de clínica e prática profissional das primeiras mulheres psiquiatras que atuaram no Brasil, entre 1941 e 1970. Para contar essa história, mobilizamos o Correio da Manhã, Jornal do Brasil e Jornal do Commercio, disponíveis na Hemeroteca Digital. O estudo desse material possibilitou verificar a visibilidade pública das psiquiatras, os métodos terapêuticos que utilizavam, suas publicações e participações tanto em eventos científicos como políticos, o que permitiu articular a reflexão sobre as escolhas científicas que fizeram e suas atuações sociais na carreira e na política. A hipótese central que perseguimos demonstrou que as psiquiatras que se aproximaram da psicanálise ganharam maior visibilidade científica e notabilidade política quando comparadas às demais. Assim, entendemos os mecanismos e estratégias que incorporaram, se apropriaram e redelinearam para concretizar trajetórias socioprofissionais que se projetaram e foram, frequentemente, exitosas.

Referências

ABRÃO, Jorge Luís Ferreira. Marialzira Perestrello: mulher de vanguarda e pioneira da psicanálise. Memorandum: Memória e História em Psicologia, v. 30, p. 38–62, 2016.

BIROLI, Flávia; MIGUEL, Luís Felipe. Gênero, raça, classe: opressões cruzadas e convergências na reprodução das desigualdades. Mediações, v. 20, n. 2, p. 27–55, 2015.

BRAGA, André Luiz de Carvalho. O Serviço Nacional de Doenças Mentais no governo JK: a assistência psiquiátrica para o Distrito Federal. 2013. 184 p. Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, 2013.

CÂMARA, Fernando Portela. A contribuição de Nise da Silveira para a psicologia junguiana. Psychiatry Online Brazil, v. 9, n. 3, p. 1–4, 2004.

CARVALHO, Carolina; MATHIAS, Cátia; MARCONDES, Sérgio. A divulgação da psiquiatria brasileira na imprensa (1930–1940). Journal of Science Communication, v. 16, n. 3, p. 1–15, 2017.

CASTRO, Rafael; FACCHINETTI, Cristiana. A psicanálise como saber auxiliar da psiquiatria no início do século XX: o papel de Juliano Moreira. Culturas Psi, v. 4, p. 24–52, 2015.

CHAPEROT, Christophe. Théorisations, modélisations et enseignements: les transferts de travail des héritiers de Freud et leurs formes respectives. In: CHAPEROT, Christophe. Formes de transfert et schizophrénie. Toulouse: Érès, 2014. p. 45–61.

CHARLE, Christophe. La prosopographie ou biographie collective: bilan et perspectives. In: CHARLE, Christophe. Homo historicus: réflexions sur l’histoire, les historiens et les sciences sociales. Paris: Armand Colin, 2013. p. 98–102.

FACCHINETTI, Cristiana ; et al. No labirinto das fontes do Hospício Nacional de Alienados. História, Ciências, Saúde-Manguinhos, v. 17, n. 2, p. 733–768, 2010.

FACCHINETTI, Cristiana. História das psicoterapias e da psicanálise no Brasil: o caso do Rio de Janeiro. Estudos e Pesquisas em Psicologia, v. 18, n. 4, p. 1106–1117, 2018.

FACCHINETTI, Cristiana; MUÑOZ, Pedro Felipe Neves de. Emil Kraepelin na ciência psiquiátrica do Rio de Janeiro, 1903-1933. História, Ciências, Saúde - Manguinhos, v. 20, n. 1, p. 239–262, 2013.

FERRARO, Alceu Ravanello. Analfabetismo e níveis de letramento no Brasil: o que dizem os censos? Educação & Sociedade, v. 23, n. 81, p. 23–47, 2002.

FERREIRA, Jorge; GOMES, Angela de Castro. 1964: o golpe que derrubou um presidente, pôs fim ao regime democrático e instituiu a ditadura no Brasil. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.

FERREIRA, Marieta de Morais. Partido Trabalhista Brasileiro (1945-1965). Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro. Rio de Janeiro: CPDOC. Disponível em :

http://www.fgv.br/cpdoc/acervo/dicionarios/verbete-tematico/partido-trabalhista-brasileiro-1945-1965 Acesso em : 28 out. 2021.

GARCIA, Maria Lúcia Teixeira; LEAL, Fabíola Xavier; ABREU, Cassiane Cominoti. A política antidrogas brasileira: velhos dilemas. Psicologia & Sociedade, v. 20, n. 2, p. 267–276, 2008.

GOMES, Angela de Castro. População e sociedade. In: ABREU, Marcelo de Paiva; DUTRA, Eliane de Freitas; FAUSTO, Boris; GOMES, Angela de Castro; PINHEIRO, Letícia. Olhando para dentro (1930-1964). História do Brasil nação: 1808-2010. Rio de Janeiro: Objetiva, 2013. p. 41–89.

GULLAR, Ferreira. Nise da Silveira: uma psiquiatra rebelde. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1996.

KUHN, Thomas. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2018.

LAMB, Susan. Pathologist of the mind: Adolf Meyer and the origins of american psychiatry. Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2014.

LIMA, Elizabeth; PELBART, Peter Pàl. Arte, clínica e loucura: um território em mutação. História, ciências, saúde - Manguinhos, v. 14, n. 3, p. 709–735, 2007.

LUCA, Tânia Regina. A grande imprensa na primeira metade do século XX. In: LUCA, Tânia Regina; MARTINS Ana Luiza. História da imprensa no Brasil. São Paulo: Contexto, 2012. p. 56–66.

MAGALDI, Felipe Sales. A Unidade das Coisas: Nise da Silveira e a genealogia de uma psiquiatra rebelde no Rio de Janeiro. 2018. 426 p. Tese (Doutorado em Antropologia Social) - Museu Nacional/Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2018.

MAGALDI, Felipe Sales. A arqueologia da psique: Nise da Silveira e o Grupo de Estudos C. G. Jung no Rio de Janeiro. Praxis y Culturas Psi, v. 33, n. 1, p. 56–79, 2020.

MARTINS, Y.; MERCIER, V. Considerações sobre as primeiras mulheres psiquiatras no Brasil: formação, atuação e estratégias de integração (décadas de 1920, 1930 e 1940). Seminário apresentado em Santé et intégration au Brésil: s’approprier les politiques publiques pour exister (1920-1980). Paris, 2020. Disponível em: <http://labcite.fflch.usp.br/sites/labcite.fflch.usp.br/files/inline-files/Programme%20S%C3%A9minaire%20Sant%C3%A9%20ARBRE.pdf>. Acesso em: 9 jul. 2021

MARTINS, Y.; MERCIER, V. Consolidating careers: the importance of networks for brazilian women psychiatrists (1941 – 1970). Seminário apresentado em Governing Science and Technology, Governing through Science and Technology : What was at Stake for Women ? (From the late 19th to the early 21st Century). Moscou, 2021. Disponível em: <https://gst2020.sciencesconf.org/?forward-action=index&forward-controller=index&lang=en>. Acesso em: 9 jul. 2021

MELLO, L. C. Nise da Silveira: caminhos de uma psiquiatra rebelde. Rio de Janeiro: Automática Edições, 2014.

MELLONI, Maria Teresa. O movimento psicanalítico no Rio de Janeiro (1937-1959): um processo de institucionalização. 2009. 137 p. Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz/FIOCRUZ, Rio de Janeiro, 2009.

MELO, Walter. Casa das Palmeiras: Dicionário Histórico de Instituições de Psicologia no Brasil. Rio de Janeiro: Imago, 2011.

MERCIER, Valentine. Mouvements féminins et Parti Communiste au Brésil: des sociabilités militantes à la politisation des femmes (1945-1961). Paris: Éditions de l’IHEAL, 2020.

MINARD, Michel. La psychanalyse en Amérique. In: MINARD, Michel. Le DSM-ROI: la psychiatrie américaine et la fabrique des diagnostics. Toulouse: Érès, 2013. p. 46–79.

MOURA, Vanessa de Almeida. Marialzira Perestrello: a trajetória profissional de uma médica e psicanalista carioca (1934-1962). 2019. 125 p. Dissertação (Mestrado em História das Ciências e da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz - Fiocruz, Rio de Janeiro, 2019.

MUÑOZ, Pedro Felipe Neves de. À luz do biológico: psiquiatria, neurologia e eugenia nas relações Brasil-Alemanha (1900-1942). 2015. 356 p. Tese (doutorado em História das Ciências e da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz – Fioruz, Rio de Janeiro, 2015.

PICCININI, Walmor. Iracy Doyle Ferreira (1911-1956). Psychiatry On-Line Brazil, v. 15, n. 2, 2010.

ROUDINESCO, Elisabeth.; PLON, Michel. Dicionário da Psicanálise. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.

RUSSO, J.; VENANCIO, A. T. A. Classificando as pessoas e suas perturbações: a “revolução terminológica” do DSM III. Revista Latinoamericana de Psicopatologia Fundamental, v. 9, p. 460–483, 2006.

SCOTT, J. Gênero: uma categoria útil de análise histórica. Educação & Realidade, v. 20, n. 2, p. 71–99, 1995.

SILVA, M. S. DA. A invenção da inversão: ciência e o desejo entre mulheres. 2016. Dissertação (Mestrado em Educação) - Universidade Federal do Rio Grande, Rio Grande do Sul, 2016.

SILVEIRA, N. Casa das Palmeiras: a emoção de lidar (uma experiência em psiquiatria). Rio de Janeiro: Alhambra, 1986.

STONE, L. Prosopography. Daedalus, v. 100, n. 1, p. 46–79, 1971.

THE EDITORS OF ENCYCLOPEDIA. Adolf Meyer Encyclopedia Britannica. Chicago: Britannica, 2021. Disponível em: <https://www.britannica.com/biography/Adolf-Meyer>

TOLEDO, E. A circulação e aplicação da psicocirurgia no Hospital Psiquiátrico do Juquery, São Paulo: uma questão de gênero (1936-1956). 2019. Tese (Doutorado em História das Ciências e da Saúde) - Casa de Oswaldo Cruz / Fiocruz, Rio de Janeiro, 2019.

Fontes:

À MEMÓRIA DE IRACY DOYLE. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ed. 00281, 12 de Abril de 1956.

ASSOCIAÇÕES científicas. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 14382, 21 de Setembro de 1941.

BILHETES de Jânio. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 20897, 11 de Maio de 1961.

CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, ed. 13829, 3 de Dezembro de 1939.

CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, ed. 13835, 10 de Dezembro de 1939.

CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, ed. 13847, 24 de Dezembro de 1939.

CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, ed. 14793, 23 de Janeiro de 1943.

CORREIO DA MANHÃ, Rio de Janeiro, ed. 17533, 14 de Maio de 1950.

CURSOS do Serviço Nacional de Doenças Mentais. Correio da Manhã, ed. 20981, 17 de Agosto de 1961.

DECRETOS do Presidente da República. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 14817, 20 de Fevereiro de 1943.

DESPACHOS presidenciais. Correio Braziliense, Brasília, ed. 00051, 19 de Junho de 1960.

DRA EURYDICE Borges Fortes. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 13748, 10 de Setembro de 1967.

ELAS PROMETEM… . A casa, Rio de Janeiro, ed. 0272, 1947.

ENCERRADA ontem a semana antialcoólica. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 18898, 2 de Novembro de 1954.

FUTURAS professôras ouviram uma preleção antialcoólica. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 00255, 31 de Outubro de 1958.

INICIA-SE amanhã a semana antialcoólica. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 15025, 24 de Outubro de 1943.

MÉDICA diz alcoolismo é cancro social. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 22567, 28 de Outubro de 1966.

NOTAS médicas. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 20517, 13 de Fevereiro de 1960.

NOTAS médicas. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 21776, 1 de Abril de 1964.

NOTAS médicas. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. B21850, 28 de Junho de 1964.

NOVOS professores para os cursos do D. N. de Saúde. A Noite, Rio de Janeiro, ed. 14139, 7 de Julho de 1952.

SEMANA antiálcool inicia e quer bar fechado mais cedo. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 22564, 25 de Outubro de 1966.

SEMANA anti-alcoólica. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 14104, 25 de Outubro de 1940.

SEMANA anti-alcoólica. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. A14715, 21 de Outubro de 1942.

SEMANA Antialcoolismo dá prêmios a redações. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 24124, 2 de Dezembro de 1971.

SOARES DE ANDRADE Maria Rita. Jornal do Brasil, Rio de Janeiro, ed. 00257, 4 de Novembro de 1956.

U. CATÓLICA. Diário de Notícias, Rio de Janeiro, ed. 12287, 7 de Dezembro de 1962.

UM GESTO nobre de uma médica paulista. Correio Paulistano, São Paulo, ed. 26556, 4 de Outubro de 1942.

UMA SUGESTÃO de Juliano Moreira contra o alcoolismo. Correio da Manhã, Rio de Janeiro, ed. 17404, 11 de Dezembro de 1949.

Downloads

Publicado

2021-12-22

Como Citar

MARTINS, Ygor; MERCIER, Valentine. Estratégias das primeiras psiquiatras brasileiras na consolidação de suas carreiras: a centralidade da psicanálise para o avanço profissional (1941-1970). Faces da História, [S. l.], v. 8, n. 02, p. 165–186, 2021. Disponível em: https://seer.assis.unesp.br/index.php/facesdahistoria/article/view/2134. Acesso em: 3 jul. 2024.