Materialidade e deslocamento

A hipótese de inserção tardia do frontispício no códice da Irmandade do Bom Sucesso de Vila Nova da Rainha do Caeté (1717)

Autores

Palavras-chave:

Manuscrito iluminado;, Codicologia;, Exames materiais;, Análise científica;, Conservação-restauração.

Resumo

Este artigo apresenta uma análise codicológica e material do Livro de Compromisso da Irmandade de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Vila Nova da Rainha do Caeté, datado de 1717 e atualmente sob custódia do Arquivo Público Mineiro. A investigação concentra-se no frontispício do manuscrito, cuja inserção posterior ao corpo original do códice é sugerida a partir de indícios materiais e estruturais. A hipótese é sustentada por uma abordagem interdisciplinar, que articula leitura historiográfica, estudo codicológico e análise científica de bens culturais, com a aplicação de exames laboratoriais como a microfluorescência de raios X (m-XRF). A comparação dos resultados dessas análises entre diferentes partes do manuscrito (frontispício, gravura e corpo principal) valida a hipótese da inserção posterior do frontispício e da gravura, sugerindo um fólio produzido pelo mesmo “Calígrafo das Aves Douradas”, que teria sido adaptado para integrar o manuscrito. Além disso, a identificação de materiais distintos à sua paleta na gravura indica a participação de outro artífice em áreas localizadas da sua ornamentação. A pesquisa contribui para a compreensão dos processos de produção e transformação de códices no contexto colonial luso-brasileiro, destacando a análise material como ferramenta interpretativa para a reconstituição de trajetórias documentais.

Biografia do Autor

Rodolpho Antonio Pereira Zanibone, Universidade Federal de Minas Gerais

Doutorando em Artes, com ênfase em Preservação do Patrimônio Cultural, pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGArtes/EBA/UFMG). É mestre em Artes (2024) e bacharel em Conservação e Restauração de Bens Culturais Móveis (2021) pela mesma universidade, além de bacharel em Arquitetura e Urbanismo pelo Centro Universitário Barão de Mauá (2015).

Márcia Almada, Universidade Federal de Minas Gerais

Professora Associada da Universidade Federal de Minas Gerais, atuando no Curso de Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes e no Programa de Pós-Graduação em Artes da mesma universidade. É doutora, mestre e licenciada em História pela Universidade Federal de Minas Gerais, com pós-doutorado na Universidade de Campinas e na Universidade Federal Fluminense. Foi professora visitante na University of West Attica (Grécia). Recebeu bolsas de estudos da FAPEMIG e da Capes para estágio de doutoramento no exterior. É especialista em livros raros e preservação de acervos artísticos e históricos, com experiência na área de História, com ênfase em Arte e Cultura.

Luiz Antonio Cruz Souza, Universidade Federal de Minas Gerais

Possui graduação em Química pela Universidade Federal de Minas Gerais (1986), mestrado em Química — Ciências e Conservação de Bens Culturais pela mesma instituição (1991), com trabalho experimental realizado no IRPA (Institut Royal du Patrimoine Artistique, Bruxelas, Bélgica), e doutorado em Química também pela UFMG (1996), com trabalho experimental desenvolvido junto ao Getty Conservation Institute, em Los Angeles, EUA. Foi bolsista CAPES Sênior em estágio pós-doutoral na Universidade de Perugia, no Centro SMAArt — Scientific Methodologies Applied to Art and Archaeology, sob a coordenação do Prof. Antonio Sgamellotti (2014). É professor permanente do PPGArtes — Programa de Pós-Graduação em Artes (mestrado e doutorado, Escola de Belas Artes, UFMG) e do PACPS — Programa de Pós-Graduação em Ambiente Construído e Patrimônio Sustentável (CAPES Interdisciplinar, mestrado e doutorado, Escola de Arquitetura, UFMG). Coordena o LACICOR — Laboratório de Ciência da Conservação, vinculado ao CECOR e ao curso de graduação em Conservação-Restauração de Bens Culturais Móveis da Escola de Belas Artes da UFMG, onde atua como professor titular.

Referências

Referências Bibliográficas

Fontes Manuscritas

ARQUIVO PÚBLICO MINEIRO. Compromisso de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Vila Nova da Rainha do Caeté. Coleção Avulsos da Capitania. Código de referência: BR-MGAPM-AVC-003, [1717].

Livros, Artigos e Teses

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Publicado

05-09-2025

Como Citar

Zanibone, R. A. P., Almada, M., & Souza, L. A. C. (2025). Materialidade e deslocamento: A hipótese de inserção tardia do frontispício no códice da Irmandade do Bom Sucesso de Vila Nova da Rainha do Caeté (1717). Patrimônio E Memória, 21(1), 1–34. Recuperado de https://seer.assis.unesp.br/index.php/pem/article/view/3857

Edição

Seção

Artigos Livres