A Paisagem Como Testemunho

solastalgia e a elaboração do trauma em espaços alterados pela mineração em Minas Gerais.

Autores

DOI:

https://doi.org/10.5016/pem.v21.e4034

Palavras-chave:

Mineração, Trauma, Solastalgia, Patrimônio Difícil, Minas Gerais

Resumo

Este artigo explora a intrínseca e multifacetada relação entre o estado de Minas Gerais e a atividade minerária, concebendo-a como sua gênese e um trauma permanente. Evidencia-se que a busca por riquezas minerais moldou a paisagem e o desenvolvimento do estado, mas também gerou profundas cicatrizes socioambientais e humanas. A análise abrange desde a supressão de comunidades indígenas e a exploração de mão de obra escravizada até as catastróficas rupturas de barragens, como as de Mariana (2015) e Brumadinho (2019), que transformaram o Brasil no país com o maior número de mortes em acidentes dessa natureza. O texto introduz o conceito de Solastalgia — a dor existencial sentida pela transformação intrusiva dos ambientes — como chave para compreender a dimensão emocional desse trauma contínuo na paisagem mineira. Propõe-se um "olhar arqueológico" para os espaços de trauma, inspirado em Didi-Huberman, defendendo a aceitação das ruínas e alterações como testemunho, em vez de sua ocultação. Por fim, o conceito de "patrimônio difícil" é apresentado como um caminho para reconhecer esses locais como sítios de memória coletiva, possibilitando a elaboração do trauma e a construção de um futuro mais justo e sustentável, onde as cicatrizes da terra ensinam e promovem uma nova relação com o território.

Biografia do Autor

Lucas Marques Tarabal, UFMG - Escola de Arquitetura

Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais, onde desenvolveu pesquisa sobre experiência do espaço e cinema ficcional, é bacharel em Arquitetura e Urbanismo pelo Instituto Federal de Ciência e Tecnologia de Minas Gerais - Campus Santa Luzia. Atualmente atua como Arquiteto Urbanista do corpo técnico da Gerência de Projetos e Obras, Diretoria de Conservação e Restauração, do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais - IEPHA-MG.

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Publicado

23-12-2025

Como Citar

Marques Tarabal, L. (2025). A Paisagem Como Testemunho: solastalgia e a elaboração do trauma em espaços alterados pela mineração em Minas Gerais. Patrimônio E Memória, 21(1), 1–25. https://doi.org/10.5016/pem.v21.e4034