Chamada para Submissões - Dossiê “Ideologias e projetos políticos no Brasil republicano”

2024-05-16

A história política da República é, ainda hoje, um dos campos de pesquisa mais dinâmicos no conjunto da historiografia brasileira. Embora o dogma positivista do distanciamento temporal entre historiador(a) e objeto tenha, por muito tempo, interditado o estudo de experiências recentes (FERREIRA, 2018), a partir da década de 1970 surgiu uma combinação de fatores que impulsionaram a produção acadêmica sobre a história nacional do século XX. Num primeiro momento, ainda sob o predomínio de análises oriundas da Ciência Política, houve um amplo esforço para explicar a atuação de partidos políticos, intelectuais e as particularidades das principais ideologias em voga no país, sobretudo entre as décadas de 1930 e 1960. Assim, apareceram reflexões importantes a respeito dos comunistas, liberais, anarquistas, integralistas, trabalhistas, dos ideólogos e regimes autoritários, ajudando a compreender a longevidade do autoritarismo e os caminhos da cidadania (MEDEIROS, 1978; BENEVIDES, 1981; CHILCOTE, 1982; GOMES, 2019). Em seguida, a partir da década de 1990, com a renovação da história política e a crise dos paradigmas totalizantes da área de Humanas, especialmente, do marxismo e do estruturalismo, a historiografia brasileira passou a enfatizar as trajetórias individuais (AARÃO REIS, 2014), a dimensão simbólica e cultural presente nas relações de poder (MOTTA, 2000; SOTANA, 2019), bem como aspectos relativos aos conceitos e discursos políticos (ZAMPA, 2018; FERREIRA, 2023). Deste modo, o leque de temáticas foi ampliado, destacando-se um crescente diálogo interdisciplinar, o desenvolvimento de metodologias específicas para lidar com fontes orais e o amadurecimento de discussões no que tange às relações entre história e memória, tudo isso em convergência com demandas sociais de explicação do tempo presente (FERREIRA, 2018). Com base nessas questões, o objetivo deste Dossiê é promover discussões sobre ideologias e projetos políticos no Brasil Republicano, incluindo análises a respeito de grupos, associações, intelectuais, periódicos, partidos, entre outros personagens, e sua relação com o poder. São bem-vindos artigos que versem sobre expressões do socialismo, liberalismo, integralismo, comunismo, fascismo, trabalhismo, catolicismo, entre outras ideologias correntes na história republicana brasileira, incorporando análises empíricas e/ou conceituais desenvolvidas na curta, média ou longa duração. Em síntese, pretende-se criar um espaço de diálogo aberto e plural no qual pesquisadores e professores possam divulgar suas pesquisas, perspectivas teórico-metodológicas e/ou experiências em arquivos.

 

Bibliografia

AARÃO REIS, Daniel. Luís Carlos Prestes: um revolucionário entre dois mundos. São Paulo: Companhia das Letras, 2014.

BENEVIDES, Maria Victoria de Mesquita. A UDN e o udenismo: ambiguidades do liberalismo brasileiro (1945-1965). Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981.

CHILCOTE, Ronald H. O Partido Comunista Brasileiro. Rio de Janeiro: Edições Graal, 1982.

FERREIRA, Fabrício. Liberalismo e democracia em Carlos Lacerda (1950-1955). Revista Ágora, Vitória, v. 34, n. 2, p. 1-20, 2023.

FERREIRA, Marieta de Moraes. Notas iniciais sobre a história do tempo presente e a historiografia no Brasil. Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 10, n. 23, p. 80 ‐ 108, jan./mar. 2018.

GOMES, Angela Maria de Castro. A invenção do trabalhismo. 8 reimpr. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2019 [1988].

MEDEIROS, Jarbas. Ideologia autoritária no Brasil, 1930-1945. Rio de Janeiro: ed. Fundação Getulio Vargas, 1978.

MOTTA, Rodrigo Patto Sá. Em guarda contra o "perigo vermelho": o anticomunismo no Brasil (1917-1964). 2000. Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2000.

SOTANA, E. C. João Goulart nas páginas d´O Estado de Mato Grosso (1961-1964). Tempo e Argumento, Florianópolis, v. 11, n. 26, p. 402-430, 2019.

ZAMPA, Vivian. Efemérides e discursos políticos nos Boletins da Polícia Militar do Rio de Janeiro (1964-1969). Intellèctus, Rio de Janeiro, v. 17, n. 2, p. 157-173, 2018.