Os Templos do Rosário dos Homens Pretos:

territórios demarcados de resistência

Resumo

O artigo apresenta o estudo dos livros de compromissos das irmandades de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos da Capitania de Minas Gerais, com o objetivo de evidenciar o protagonismo das comunidades africanas e afrodescendentes convertidas ao cristianismo no período colonial. Esses estatutos, considerados fontes históricas fundamentais, revelam a luta por autonomia, pela liberdade dos escravizados e pela preservação cultural desses povos em um contexto marcado pela violência da escravidão. As confrarias edificaram e decoraram seus próprios templos, onde construíram redes de solidariedade e formas de sociabilidade que se configuraram como territórios demarcados de resistência – pacífica e não violenta – ao domínio colonial. Desse modo, procuramos identificar as estratégias adotadas pelos irmãos e irmãs pretos e pretas do Rosário para conquistar sua autonomia e liberdade, ressaltando os sentidos sociais, culturais e espirituais implicados em suas práticas devocionais. Assim, pretendemos compreender se a apropriação das iconografias canônicas e a substituição dos santos dominicanos pelos santos do catolicismo negro no Brasil, verificadas nesses templos, podem ser interpretadas como uma forma de resistência por meio das imagens.